O dia 5 de setembro de 1972 ficou marcado na história pelo atentado terrorista nos Jogos de Munique, na Alemanha. Na ocasião, o grupo Setembro Negro entrou armado na Vila Olímpica e fez membros da delegação de Israel de reféns. Ligados à OLP (Organização para a Libertação da Palestina), os terroristas queriam a libertação de 234 palestinos que estavam presos em Israel.
O triste episódio da história esportiva ainda entristece Luiz Cláudio Menon 45 anos depois. Ele foi o porta-bandeira da delegação brasileira nos Jogos de Munique. “Essa Olimpíada me traz uma ambiguidade de sentimentos. Fui indicado para ser o porta-bandeira, uma honraria rara, para poucos atletas, e conseguir isso foi uma emoção muito grande para mim. Mas poucos dias depois houve aquele atentado que tirou o brilho da Olimpíada”, explicou.
Na época, o drama foi enorme porque a polícia alemã não divulgava detalhes do que aconteceu. “Evidentemente que não foi só para nós da delegação brasileira esse temor, todos os atletas sentiram muito aquela manifestação terrorista contra atletas judeus, que foram assassinatos”, disse. No total, 17 pessoas foram mortas, incluindo judeus, palestinos e até um policial alemão.

Dentro do alojamento, os terroristas usavam uniforme da delegação israelense e traziam nas mochilas granadas e fuzis Kalashnikov. Conseguiram chegar no local onde estava parte da delegação de Israel e mataram dois atletas, fazendo outros de reféns. A partir daí, começou uma longa negociação e o pedido de libertação de prisioneiros teria de ser atendido até às 9 horas da manhã caso contrário os reféns seriam mortos.

Tudo isso acabou com o clima festivo dos Jogos de Munique. “A morte de vários atletas judeus deixou a gente muito aborrecido. A alegria foi substituída pela tristeza”, contou. Menon lembra que o impacto chegou até no time de basquete, que era candidato à medalha. “Todos nós ficamos muito aborrecidos e nos ajudamos na tentativa de resolver aquela situação de angústia e tristeza. A equipe não estava bem em termos de relacionamento e esse fato talvez tenha ajudado um pouco na união do grupo. Tínhamos chance de medalha, mas os resultados foram pífios. Claro que, com esse episódio, as coisas se agravaram e não foi suficiente para ir ao pódio”.
Na época dos Jogos de Munique, Menon estava no segundo ano de residência em medicina. Por causa disso, não pôde viajar junto com a delegação brasileira e teve de ir para a Alemanha um pouco depois. Chegando lá, um carro com motorista esperava por ele e passaram o recado que o major Sylvio de Magalhães Padilha, chefe da delegação e presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) na época, queria falar com ele.
“Cheguei lá e ele me disse que eu tinha sido escolhido por unanimidade para ser o porta-bandeira da equipe. E me falou algo que nunca esqueci: que eu tinha sido escolhido não apenas pelo que eu representava como atleta, mas porque eu sabia exatamente o que estava carregando. Conto essa história e me arrepio só de lembrar. Fiquei atônito e agradeci pela honra de ser o porta-bandeira”, revelou.
Menon explica que a Olimpíada de Munique foi a primeira com televisionamento ao vivo. Então sua família ficou feliz em vê-lo como porta-bandeira, mas depois preocupada com os ataques terroristas. “A alegria foi substituída pela tristeza”.