
Como um insulto
levou ao crescimento
Por Miriam Hendeles
Você é a pessoa mais desprezível, mal-educada e grosseira que já vi!
Acho que precisa mudar sua atitude, e desejo-lhe sorte!” E então ela desligou o
telefone.
Uau! Ao ouvir a mensagem de voz de uma mulher que eu jamais conhecera,
senti-me incompreendida e injustamente atacada. Queria desesperadamente
explicar a ela sobre eu mesma e a minha posição. Procurei seu endereço de
e-mail para responder.
Piscando com as lágrimas, pensei no ensinamento dos sábios: aqueles que
são constrangidos e não constrangem que escutam seus defeitos e não devolvem o
insulto… são como o sol brilhando em sua glória (Talmud, Shabat 88 b). Respirei
fundo.
O telefonema fora aparentemente desencadeado por uma breve conversa que
eu tinha tido com essa mulher sobre um guemach (serviço de empréstimo gratuito)
que eu organizava para nossa comunidade. Ao saber do meu serviço, a mulher
tinha entrado em contato, querendo doar alguns itens – carrinhos de bebê,
berços e assentos para carro. Eu tinha dito a ela durante nossa conversa com
duração de 56 segundos que naquela hora eu não podia aceitar mais nada, porque
o quarto onde eu guardava os itens estava completamente cheio.
Durante aquela conversa de 56 segundos, a mulher me garantiu que seus
berços e assentos para carro estavam em perfeitas condições, e disse que não
podia entender por que eu não os estava aceitando. Comecei novamente a explicar
a ela sobre a falta de espaço no local, mas a mulher bradava: “Por que você
está gritando comigo?” e então desligou o telefone.
Eu não creio que meu tom de voz tenha subido, mas eu tinha tido a
conversa pelo celular, e você nunca pode estar certo do volume quando se trata
de um celular. E sim, eu realmente tenho uma voz alta. Apesar disso, a mensagem
dela parecia um tanto extrema –xingando-me com a voz furiosa.
Há um ditado afirmando que “é melhor ser amado do que estar certo… peça
desculpas.” Portanto, sentei-me ao computador (tinha encontrado seu endereço de
e-mail) e cuidadosamente compilei um e-mail expressando minhas desculpas por
não poder aceitar suas doações naquela hora, e meu reconhecimento a ela por
querer contribuir. Também informei a ela sobre uma conhecida minha que também
tem um guemach, e sugeri que talvez a pessoa aceitasse os objetos. Pedi
desculpas pela má comunicação e pela minha voz alta.
A resposta: “Miriam, não estou impressionada. Você está tentando
racionalizar sua grosseria desta manhã comigo. As pessoas estão doando por
bondade no coração, e você me tratou horrivelmente! Estou com um gosto amargo
na boca até agora, pela comunidade ortodoxa em geral! Não falarei com nenhum
dos seus amigos nem darei mais nada, mas sim a outros que tenham maneiras
decentes!”.
Escrevi outro e-mail breve para ela, explicando que este guemach é uma
organização não lucrativa que dirijo da minha própria casa. Porém, apareceu uma
outra resposta rápida na minha caixa de mensagens: “Por favor, não me envie
mais e-mails. Realmente não me importo com seu negócio nem como você o dirige.
Você foi grosseira e desagradável comigo esta manhã…”.
Aqueles que são constrangidos e não constrangem que escutam suas falhas
e não devolvem o insulto…
Talvez ela esteja certa. Talvez seja por isto que estou tão aborrecida.
Talvez eu realmente pudesse deixar seus insultos entrarem por um ouvido e
saírem pelo outro. Porém, as palavras da mulher ficaram soando em meus ouvidos
durante o dia inteiro, noite adentro.
Talvez ela esteja certa. Deve ser por isso que estou tão incomodada.
Sim, sou muito abrupta. Preciso abaixar a voz. Talvez eu deva encontrar o
endereço residencial dela e enviar-lhe um pedido de desculpas pelo correio.
Talvez eu não esteja dirigindo corretamente o guemach? Talvez eu devesse
desistir de vez? Talvez esta seja uma mensagem para mim…
E assim começou meu processo de acertar o errado. Não, eu não entrei
novamente em contato com a mulher; no entanto, fiz um balanço espiritual dentro
de mim mesma. Comecei o processo pensando por que eu começara o guemach em
primeiro lugar, há vários anos.
Uma amiga minha, uma mulher muito boa que mora do outro lado da cidade,
tinha administrado o guemach até então. Agora ela estava deixando de lado, e
pediu-me para aceitar seus objetos. Fiquei inspirada pela mulher e outras como
ela; sempre pareciam ter tempo suficiente para todos, e estavam sempre levando
alegria ao próximo. Eu também queria fazer isso. E por este motivo disse sim
para minha amiga.
Comecei a estocar, emprestar às pessoas, e aceitar doações de várias
categorias de objetos para bebês. As pessoas pediam emprestado por períodos
longos, outras por pouco tempo. Meu telefone tocava constantemente com aqueles
que precisavam de meu guemach, e eu me sentia gratificada por fornecer o
serviço.
Mas talvez – apenas talvez – eu estivesse agora me cansando daquilo?
Talvez estivesse cansada de fazer o bem, e portanto me tornando cansada e
frustrada… e deixando isso aparente, também, talvez até pelo telefone?
Como acredito que nada acontece à toa, e os eventos são orquestrados lá
do Alto, após esse incidente comecei a modificar meu “negócio” de ajudar os
outros. Fiz algumas mudanças nas minhas políticas e parâmetros. Os passos a
seguir me ajudaram a impedir estresse e mal-entendidos entre meus “clientes” e
eu.
Estabelecer limites e fronteiras: comecei a estabelecer (e fiquei
firme!) horas específicas durante a semana (relacionadas em minha secretária
eletrônica) quando eu estaria disponível para responder a perguntas sobre o
guemach. Nada mais de 24 horas por dia, seis dias por semana.
Controlei o estilo de comunicação: arrumei minha secretária eletrônica
para informar as pessoas sobre meu e-mail e website, para que elas pudessem
contactar-me facilmente para perguntas rápidas. Também coloquei informação como
regras e políticas, aquilo que o guemach faz e o que aceita para doações etc.,
no site, eliminando, assim, a necessidade de telefonemas.
Lembre-se – essa é uma atividade adicional: para lembrar-me disso,
decidi que as mensagens na minha secretária seriam retornadas à noite ou no dia
seguinte, mas não necessariamente de imediato. Isso permitiria que esse serviço
comunitário se encaixasse no tempo que eu tinha reservado para isso.
Um Nome Significativo: adicionei ao nome já existente, para dar ainda
mais significado e propósito àquilo que eu estava fazendo. “Coisas de Bebê”,
recebeu o nome adicional de Yad Aliza (A Mão da Alegria), em memória de minha
filha, Aliza Leah, de abençoada memória, bat Chaim Shlomo, que morreu na
infância há 25 anos, poucos dias antes de Yom Kipur. Parecia adequado dar ao
guemach um nome significativo.
Atenção: decidi que ao falar ou enviar mensagens a pessoas que usam o
guemach eu prestaria mais atenção e seria mais amigável o tempo todo, da melhor
maneira possível.
Quando nos tornamos finos demais, não ajudamos ninguém. Ao cuidar das
próprias necessidades, e dando-nos tempo, poderemos não apenas prover os
outros, mas fazê-lo com alegria. E este, certamente, é o melhor ato de bondade.
POR MIRIAM HENDELES
Miriam Hendeles é musicoterapeuta de Los Angeles e autora do
livro: “Mazal Tov! É uma Bobe!” reproduzido aqui com a permissão do editor.