Aprendemos a obrigação de recitar o Bircat Hamazon após as refeições acompanhadas de pão a partir do versículo “Veachaltá vessaváta uverachtá et Hashem Elokêcha”.
(8:10) – E comerás e te fartarás e louvarás o Eterno teu D’us.
Avraham Avínu, nosso primeiro patriarca, costumava receber hóspedes em sua casa, conforme diz o versículo: “Vayitá Avraham êshel Biv’er Sháva” (Bereshit 21:33) – Fez Avraham uma hospedagem em Beer Sheva. A palavra “êshel” é constituída pelas letras álef, shin e lámed. Álef é a primeira letra da palavra “achilá” – alimentação, shin é a primeira letra da palavra “shená” (ou “shetiyá”) – dormir (ou bebida), e lámed é a primeira letra de “levayá” – acompanhamento. Ou seja, Avraham hospedava os transeuntes dando-lhes alimentação, moradia para pernoitarem e depois acompanhava-os mostrando-lhes o caminho certo pelo qual deveriam seguir.
O midrash nos relata que Avraham pedia que seus hóspedes, após comerem, agradecessem ao Todo-Poderoso, pois a Ele pertence a Terra e tudo o que ela contém. Assim, Avraham foi acostumando os idólatras de sua geração com a idéia da existência de um Ser Poderoso e Único.
Nossos sábios, por sua vez, instituíram-nos as bênçãos antes da alimentação, como: “Borê peri haets” sobre os frutos das árvores,“Borê peri haadamá” sobre os frutos da terra, “Hamotsi lêchem min haárets” sobre o pão, “Borê minê mezonot” sobre bolo, biscoitos e massas em geral, “Borê peri haguêfen” sobre o vinho e “Shehacol nihyá bidvarô” sobre água, sucos, carnes, peixes, ovos, queijo e leite.
O Talmud questiona o fato de que dois versículos do Tehilim (Salmos) aparentemente se contradizem. Um versículo diz: “Lashem haárets umloáh” – Ao Todo-Poderoso pertence a Terra e tudo o que ela contém, e o outro: “Vehaárets natan livnê adam” – E a Terra foi dada pelo Todo-Poderoso aos homens. Então a pergunta é a seguinte: A Terra pertence a D’us ou foi dada aos seres humanos?
O Talmud responde, que o primeiro versículo se refere aos momentos nos quais a berachá ainda não foi recitada. O segundo versículo refere-se a após a devida bênção ter sido pronunciada. Portanto, antes de recitarmos a berachá, tudo pertence ao Todo-Poderoso, e após pronunciarmos a berachá, passa a pertencer ao ser humano.
A berachá é uma espécie de licença que pedimos ao Criador, para podermos usufruir do Seu mundo. Nossos sábios disseram que todo aquele que tem proveito deste mundo sem recitar uma berachá é como se estivesse lesando o Todo-Poderoso e a Congregação de Israel. Entendemos facilmente que lesamos o Todo-Poderoso, se não fizermos as berachot, pois usufruímos de algo que pertence a Ele sem termos pedido Sua permissão. Mas por que estamos lesando também a Congregação de Israel? Nossos sábios nos explicam que, quando fazemos uma berachá, atraímos shêfa (fartura) ao mundo. Portanto, se não recitamos a berachá, impedimos a entrada da fartura que viria ao mundo e beneficiaria a todos.
Por tudo o que foi exposto acima vemos a importância magna das berachot e o poder que elas têm de atrair shêfa para o mundo.
Da Revista Nascente