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Ascensão e Emigração do capital judeu no NE


  Ascensão e emigração do capital judeu no período holandês
    Artigo de Raimundo Pereira do Amaral Neto


    É no período holandês (1630-1654) que os judeus definitivamente deixariam seus principais legados em termos de inserção econômica no panorama financeiro brasileiro. Socialmente serão reconhecidos enquanto judeus e vivendo integrados em comunidades cada vez mais sólidas e consistentes, colocando o Nordeste brasileiro como base precursora do judaísmo na América Latina. Vale destacar as cidades do Recife, Olinda e Salvador como grandes centros do judaísmo brasileiro no período holandês.

    Por mais que os judeus ingressassem em atividades, como, por exemplo, a concessão de empréstimos de dinheiro, a natureza comercial que marcou a sua ocupação econômica no Nordeste brasileiro vinha aflorar na medida em que o açúcar era utilizado como moeda de troca nas principais transações de dinheiro e capital via empréstimos. Com isso, os emprestadores judeus assumiam sua condição de comerciantes do açúcar nordestino. De fato, ao emprestar dinheiro estavam eles emprestando o seu poder de compra naquele momento, e, como retorno, recebia o seu poder de compra inicial mais a valorização financeira do mesmo via comercialização vantajosa do açúcar nordestino nos melhores mercados do mundo. Isso tudo arraigado nas mais refinadas práticas comerciais da escola do mercantilismo ocidental e na retenção desse poder de compra, de acordo com o movimento especulativo do preço do açúcar no mercado europeu.

    A cotação do açúcar nos melhores mercados era um dispositivo valioso para assegurar grande margem de lucros aos comerciantes, alimentada através da conexão de famílias de judeus sefardins nos principais pontos de articulação envolvendo todo o mecanismo da comercialização do açúcar nordestino. A cadeia de informações minimizava as incertezas e os riscos de futuras investidas em territórios distantes. De acordo com Mello (1996, p. 15), “É merecedor de atenção o estudo de famílias cristãs-novas cujos membros localizavam-se estrategicamente em pontos importantes do comércio açucareiro”.

    Foi justamente nesse período que se deu a formação e a consolidação de uma ativa comunidade israelita em terras tropicais, sob o domínio holandês. Criaram-se no Nordeste do Brasil as condições favoráveis à eclosão de uma sólida comunidade judaica com vida coletiva de características próprias, dentre elas;

    - Liberdade de culto: Já quando de sua organização, a Companhia das Índias Ocidentais havia declarado que toda e qualquer crença seria respeitada na Nova Holanda. A promessa do conde Maurício de Nassau ao assumir o governo, posta em prática parcialmente, tornou-se realidade.

    - Suficiência numérica e concentracional: A tolerância religiosa, embora indispensável, não era condição bastante. Fator complementar, da maior importância, foi o crescimento numérico suficiente da população judaica, tendo a cidade do Recife como centro. Temos então duas circunstâncias essenciais para que um grupo étnico ou cultural conseguisse conservar as características próprias, sem se deixar absorver pelo meio dominante.

    Havia judeus em tamanho número que, à primeira vista, se tinha a impressão de uma cidade (Recife) puramente judaica. Esse crescimento populacional dos judeus do Brasil resultou principalmente da intensa imigração que se operou naquele período, vindo para o Brasil – qual para uma terra da promissão – judeus de vários países, sobretudo Holanda, especialmente do porto de Amsterdã de onde partiam continuamente naus carregada de judeus e conversos, sendo que só de uma leva, em 1642, embarcaram 600 judeus. A intensidade da emigração de judeus dos Países Baixos para o Brasil ressalta de uma nota escrita por Francisco de Souza Coutinho, embaixador de Portugal na Holanda, em 1644, ao conde de Vidigueira: “Esta terra é a mãe dos cristãos-novos, e daqui vão para o Brasil”.

    Somados aos imigrantes do estrangeiro, cabe ainda acrescentar os judeus de outras partes do próprio Brasil, que em Pernambuco buscavam liberdade religiosa. Não se sabe exatamente o número de judeus no Brasil holandês, inclinando-se a maioria dos historiadores para a elevada cifra de 5000. Ainda que esse número seja exagerado – parecendo mais prudente adotar o de 1500 – o certo é que, no apogeu do desenvolvimento da comunidade judaica da Nova Holanda, os judeus representavam cerca de 50% de toda a população civil flamenga, que então orçava em 3000. Estima-se um núcleo israelita de 1500 almas, bastando lembrar que a própria comunidade judaica de Amsterdã, no seu pleno funcionamento, não era mais numerosa.

    - Continuidade imigratória: É o chamado fator supletivo, de grande ação anti-assimilatória. E o que se verificou, durante mais de dois decênios de domínio holandês, foi justamente – em vez de um restrito número de imigrações maciças – uma constante e gradual estrada de judeus, fortalecendo permanentemente o espírito de grupo dos judeus já aqui residentes.

    Uma larga experiência comercial na bagagem, principalmente provinda da Europa do Norte, e o domínio de idiomas, como o holandês, francês, espanhol e o dialeto ladino (mistura de hebraico com espanhol) serviram também para atender as imposições psicológicas do invasor flamengo no trato dos negócios no Brasil, antes aliar-se ao inimigo a ser degredado por ele.

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