Hot Widget

Type Here to Get Search Results !

UMA AGÊNCIA DE ESPIONAGEM FRAUDOU PASSAPORTES: QUE HORROR!

Por Alan Dershowitz

As vozes indignadas de países europeus e da Austrália que acusam o
Mossad (serviço secreto de Israel) de fraudar passaportes para
realizar o assassinato de Mahmoud al-Mabhouh soam vazias e cheiram à
mais estampada hipocrisia. Quem quer que tenha matado Mahmoud
al-Mabhouh – seja o Mossad ou outra agência – certamente roubou ou
forjou passaportes para uso de seus agentes. O que há de novidade
nisto?

Qualquer boa agência de inteligência faz uso de passaportes roubados
ou forjados. Os ingleses são especialistas nesse tipo de espionagem.
Ora, nenhum país que use passaportes falsos para fins de inteligência
tem qualquer autoridade moral para protestar contra o suposto mau uso
de passaportes por Israel. Os únicos que têm o direito legítimo de
reclamar são as pessoas cujos passaportes foram mal usados sem seu
conhecimento.

Parece-me que faz parte do protocolo dos ministérios de relações
exteriores mundo afora reclamar publicamente quando outros países
fazem o que eles mesmos fazem secretamente. Afinal, a hipocrisia é a
homenagem que a falsidade presta à virtude. Isto me lembra da famosa
cena de Casablanca em que o oficial Renault diz, "estou chocado,
completamente chocado de saber que aqui se joga a dinheiro!" O caixa
então se aproxima de Renault e lhe entrega um chumaço de dinheiro:
"Aqui está o que o senhor ganhou".

Mas no caso presente a hipocrisia parece ainda mais gritante que de
hábito. Será porque é Israel o suposto culpado, e o mundo se acostumou
a usar dois pesos e duas medidas ao condenar Israel?

Logo após os ataques terroristas de Bali, em que grande número de
turistas australianos foram mortos, eu tive a oportunidade de me
encontrar com o primeiro ministro da Austrália. Eu estava escrevendo
um livro sobre ataques preventivos e lhe perguntei se ele autorizaria
um ataque preventivo contra o terrorista que tinha matado os turistas
australianos se tal ataque salvasse a vida daqueles turistas.  Sua
resposta foi que a Austrália faria qualquer coisa para evitar aqueles
ataques terroristas. Bem... qualquer coisa menos fraudar passaportes,
não é? Alguém acredita que a Austrália jamais usaria passaportes
forjados ou roubados para evitar os massacres de Bali? Se a
Grã-Bretanha precisasse fraudar passaportes para impedir o ataque ao
metrô de Londres, será que o MI6 desistiria da operação para não
violar o uso correto de passaportes? É óbvio que não. O mesmo vale
para a Espanha e os ataques em Madrid ou qualquer país que precise
evitar ataques terroristas. Assim, se o Mossad tiver de fato matado
al-Mabhouh, fê-lo para impedir a morte de seus civis inocentes.

Os israelenses são sempre acusados por seus inimigos, e às vezes
também por seus amigos, de agir "desproporcionalmente" para impedir
ataques terroristas. Mas o que pode ser mais proporcional que um
ataque cirúrgico, cuidadosamente planejado, contra um terrorista
confesso que se gaba abertamente de suas ações? Opa! Parece que
esqueci dos tais passaportes. Bem, deve então ser esta a ação
desproporcional de que reclamam. De um lado salvar a vida de
inocentes, do outro lado fraudar passaportes. Segundo alguns
ministérios de relações exteriores por aí, a mais correta e moral das
soluções é deixar as vítimas inocentes morrerem – contanto que morram
somente israelenses.

É curioso – e perturbador – que Israel seja mais criticado por
supostamente usar passaportes roubados do que por supostamente matar
um terrorista. Só pode ser porque nenhum país ocidental quer parecer
simpático a um terrorista confesso. As vítimas de fraude com
passaportes são civis inocentes, mas o prejuízo por eles sofrido é
mínimo se comparado aos ferimentos e mortes impedidos pela mais do que
merecida morte de Mahmoud al-Mabhouh.

Se a morte de um pequeno número de civis inocentes é tida como
"proporcional" ao assassinato de um terrorista confesso, então
certamente o desconforto de umas poucas vítimas inocentes de fraude
com passaporte também o é.

A grande indignação de alguns ministros de relações exteriores com os
passaportes roubados é pior que hipócrita. Ela atenta frontalmente
contra a guerra ao terrorismo.

É preciso que as democracias ocidentais se dêem conta do quão fácil é
usar passaportes forjados ou roubados. Dubai deveria sim investigar,
mas o foco da investigação deveria ser a facilidade com que aqueles
que usavam passaportes fraudados entraram no país. Afinal, a fraude de
passaportes é um expediente dos mais comuns usado por terroristas para
entrar nos países ocidentais, a partir do que eles organizam e
perpetram ataques em todo o mundo. Há milhares de passaportes
britânicos forjados ou fraudados circulando pelo mundo hoje, muitos
dos quais nas mãos de terroristas. Este deveria ser o foco de qualquer
investigação, e não o mau uso ocasional e controlado de passaportes
por agências de inteligência ocidentais no combate ao terrorismo.

Quem quer que tenha entrado em Dubai usando passaportes falsos fez o
favor a este país de alertá-los para a necessidade de um melhor
controle de passaportes. Da próxima vez pode ser um terrorista a
tentar entrar no país. Mas, só um instante! Não foi exatamente isto
que aconteceu quando al-Mabhouh passou pela segurança usando um
passaporte legítimo que continha o seu nome verdadeiro? Parece que
para entrar em Dubai não é preciso fraudar passaportes se você é um
terrorista. Mas se quiser neutralizar terroristas, aí sim é preciso
valer-se de fraude de passaportes – pelo menos este é o caso se o
terrorismo for contra Israel. Ao que tudo indica, Dubai não se importa
muito que terroristas entrem no país com passaportes legítimos, mas
sim que agentes anti-terror entrem no país com passaportes falsos. Que
mundo!

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Top Post Ad

Below Post Ad

Ads Section