Panorama Histórico
POR LEONARDO CALDERONI
Rosh Chinuch de São Paulo
SURGIMENTO E A PRIMEIRA GUERRA – 1903-1920
Surgimento dos primeiros movimentos juvenis
Embora seja a mais antiga das tnuot que existem hoje em dia, o Hashomer Hatzair não foi o primeiro movimento juvenil judaico. Ainda no século XIX, surgiram alguns movimentos tanto judaicos quanto não-judaicos na Europa.
Diferentes idéias que fervilhavam na época como as iluministas, nacionalistas e socialistas, entre outras, inspiraram esses novos movimentos. Os processos de modernização provenientes da revolução industrial, com a grande migração para os grandes centros urbanos deram as possibilidades objetivas para que eles fossem criados.
Nessa época surgiram dois movimentos não-judaicos muito importantes: na Inglaterra, o Scout (Movimento Escoteiro de Baden Pawell) e na Alemanha, o Wandervogel (“O Pássaro de Nur”). O primeiro é conhecidíssimo e existe até hoje, com força em muitos países. O segundo, acabou em 1933, mesmo ano em que Hitler e os Nazistas tomaram o poder na Alemanha. Sua importância reside no fato de ser considerado o primeiro movimento juvenil clássico. Tinha uma ideologia nacionalista e acreditava que o futuro da sociedade estava na mão dos jovens e não dos adultos. Seu lema era “Libertar a juventude”.
No caso dos judeus, o anti-semitismo e os grandes dilemas de identidade provenientes da emancipação também foram fatores que os influenciaram fortemente a criar movimentos juvenis. Além disso, foi nessa época também que o movimento sionista começou a ganhar força entre os jovens judeus.
Tzerei Sion e HaShomer
Em 1903, surge na Polônia um movimento judaico-sionista chamado Tzerei Sion, organizado por um grupo de educadores fortemente influenciados pelas idéias de Hertzl que acreditavam que a juventude era a força para o ideal sionista.
Esses jovens tinham grandes dilemas de identidade, pois eram descendentes de judeus emancipados e sofriam discriminações da sociedade geral. Embora se vissem como poloneses, estes muitas vezes ainda os viam apenas como judeus. Os principais objetivos do movimento eram fortalecer as idéias de Hertzl na juventude judaica polonesa e criar um espaço para discutir e refletir sobre os conflitos judaicos.
Por oferecer uma alternativa aos jovens poloneses que não queriam os estudos religiosos, mas não tinham muito espaço na sociedade geral e buscavam um espaço judaico, esse movimento teve uma grande repercussão na juventude judaica.
Em 1910, na Galícia, um grupo de jovens judeus de uma escola secundária polonesa não pôde participar do movimento escoteiro polonês e por isso decidiram criar o seu próprio movimento escoteiro. Unindo-se a jovens universitários judeus (dos quais muitos participavam do Tzeirei Sion), eles criaram então o seu próprio movimento escoteiro judaico: o HaShomer. Na verdade, já existia o “escotismo judeu”, mas foi essa organização que o revolucionou ao relacionar de forma muito clara o ideal do escotismo com o sionismo. Tinham como objetivos a aliá com o lema “a volta à natureza será a volta às raízes dos Judeus em Eretz Israel” e também “criar um jovem judeu forte, orgulhoso, saudável física e espiritualmente”. Caracterizavam-se por uma forte ideologia juvenil de autonomia em relação ao mundo adulto (“jovens educam jovens”) e também pela prática de esportes.
O HaShomer passa a crescer de forma surpreendente na Polônia e, assim como o Tzerei Sion, desempenha um papel de grande repercussão na juventude judaica. Inclusive, parte de seus jovens e suas lideranças participavam ativamente dos dois movimentos. Os fundadores do HaShomer eram membros ativos do Tzerei Sion. O grande ponto em comum dos dois movimentos era o ideal sionista bastante chalutziano. A maior diferença entre eles residia em suas diferentes metodologias: o Tzerei Sion tinha como prática educativa a intelectualidade, o estudo de texto e a discussão ideológica enquanto o HaShomer tinha a vivencia, o trabalho físico, o esporte e a vida em grupo.
Com tanto em comum, com as pessoas cada vez mais freqüentando os dois movimentos e com coisas a acrescentar um ao outro, o processo natural era a sua unificação. Ela se concretizou dando origem ao movimento Shomrim Tzerei Sion que mais tarde seria chamado de Hashomer Hatzair. Oficialmente foi fundado em 1913, porém é dito que na prática a fusão aconteceu em 1914, estimulada pelo caos da Primeira Guerra e suas dificuldades.
As grandes dificuldades dos primeiros anos do Hashomer Hatzair
O movimento não pôde realizar quase nenhuma atividade durante muito tempo em razão da guerra, o que, contudo, não implicou no seu fim. Tanto é assim que, mesmo com as conturbações da época, o novo movimento criou um plano educacional que previa: grupos de estudos sobre sionismo, judaísmo e história de Israel, trabalho em grupos por idade, hebraico obrigatório (sendo que as reuniões de hanagá eram feitas somente em hebraico), chagim práticos (primeiros socorros, higiene, cartografia e machanot) e estudos práticos sobre natureza e sobrevivência.
Todavia, ainda haveria transformações ideológicas significativas. Em 1917, ocorrem dois fatos muito importantes: a Declaração de Balfour, onde a Inglaterra mostrava-se simpática à criação de um estado judeu na Palestina e a Revolução Russa. Assim, a tnuá mergulhou num complexo dilema ideológico.
Será que a solução para os judeus seria a revolução socialista, que tinha judeus como alguns de seus líderes? Ou será que o reconhecimento da criação de um estado judeu pela grande potência da época era sinal de que o caminho estava mesmo no sionismo? Essas duas idéias poderiam se relacionar?
Em uma das discussões, um dos líderes do movimento, Yakov Hazzan, define o dilema como “contradição trágica”, já que acreditava que era impossível ser 100% sionista e 100% socialista simultaneamente. Com este conceito, ganha força a idéia de que “Sion é a resposta”. De que “em Sion vamos fazer nosso Moscou”. O movimento estava dividido e ainda havia outros dilemas complexos para lidar como qual era o papel da aliá, se ela seria a única realização, o que fazer depois do ciclo tnuati, entre outros. As discussões se arrastaram por muito tempo. Em 1919 foi feito um Kenes Bogrim na Galicia, mas não houve uma definição. Em 1920, porém, finalmente a tnuá se define. A aliá vira a única forma de realização dentro do marco do movimento, com a construção de colônias agrícolas (o que se chamaria kibutz) sendo a máxima manifestação do sionismo socialista. No mesmo ano, 600 chaverim fazem aliá e marcam uma nova fase do movimento.
Embora a influência da Revolução Russa ainda fosse visivelmente forte como a idéia da revolução internacional, estava claro a partir de agora que a prioridade, ou pelo menos o começo de tudo, seria em Israel. O socialismo na tnuá não se expressaria separado do sionismo e sua manifestação estaria na construção dos kibutzim. Por ter vivido os horrores da Primeira Guerra, a tnuá também adquiriu um forte caráter pacifista, que fazia de certa forma uma contraposição com o espírito corajoso, desbravador e disposto a defender a nova terra.
Dessa forma, surgiu o movimento que deu origem a um dos grandes movimentos Kubitzianos de Israel. Foram 17 anos de muitos acontecimentos históricos fortes, idéias e necessidades que fizeram dois movimentos surgirem na Polônia, crescerem e se juntarem para tornar-se uma tnuá que se espalharia pelo mundo.
SEGUNDA GUERRA E A CRIAÇÃO DE ISRAEL – 1939-1948
A destruição da comunidade judaica polonesa e o Levante do Gueto
A Polônia era um grande centro judaico até a Segunda Guerra Mundial. A comunidade judaica era numerosa e o país era também o grande centro do Hashomer Hatzair. Mesmo com o grande número de aliot, a Palestina ainda não desempenhava o papel de centro para a tnuá. Tudo mudou com a Segunda Guerra Mundial. A Polônia virou o grande centro da indústria de extermino nazista e a comunidade judaica polonesa foi completamente destruída.
Os movimentos juvenis poloneses tiveram o mesmo fim. Mas foi um fim heróico. Seus últimos anos de existência no Gueto de Varsóvia, construído pelos nazistas para reunir os judeus poloneses com o fim de facilitar o seu posterior extermínio, mostraram a importância que eles tiveram. Ainda que a situação fosse extrema, suas atividades continuavam funcionando na medida do possível. Participavam também de atos clandestinos para contrabandear armas e alimentos para o Gueto.
Muitos membros dos movimentos conseguiram escapar do gueto através de ações clandestinas. E destes, muitos escolheram voltar para morrer lutando contra os nazistas. Em 1943 já não havia nem 10% dos judeus que outrora viveram no gueto (quase todos haviam sido mandados para o Campo de Treblinka). Neste ano, líderes dos movimentos juvenis, o mais famoso deles Mordechai Anilevitch, chaver do Hashomer Hatzair, lideram o famoso Levante do Gueto de Varsóvia. A resistência foi uma surpresa aos nazistas, que tiveram muito trabalho para contê-la.
Não havia como escapar da morte e, sabendo disso, eles resolveram morrer lutando. Mordechai Anilevitch virou uma lenda e o Levante do Gueto entrou para a história como um grande símbolo de resistência ao Nazismo.
Dessa forma, o Hashomer Hatzair desapareceu da Polônia junto com a sua comunidade judaica. Isso não implicou, contudo, no fim do movimento. Ele resistiu, mesmo tendo perdido seu grande centro. Curiosamente, no mesmo ano em que acabaria a Segunda Guerra (1945), o movimento surgiria no Brasil.
Palmach e a criação de Israel
Enquanto a guerra deixava um assombroso número de mortos na Europa, a Palestina, que ainda vivia sob o mandato britânico, tampouco tinha dias de tranqüilidade. A situação era muito tensa, tanto por conflitos internos entre as diferentes etnias que ali estavam, quanto pelo temor de que a luta na Europa chegasse até lá.
Por causa desse temor, os ingleses resolveram equipar e treinar um grupo de judeus para que lutassem contra os nazistas caso fosse necessário. Assim surgiu o Palmach. Quando ficou claro que os nazistas não chegariam à Palestina, os britânicos tentaram dissolver o Palmach, mas os seus integrantes não aceitaram a idéia e a organização continuou a existir com o objetivo de defender os judeus que viviam na Palestina e lutar contra a ocupação inglesa, inclusive fazendo atos de sabotagem. O Palmach e outras organizações paramilitares deram origem mais tarde ao Exercito de Israel. Tiveram papel central na vitória na Guerra de Independência em 1948.
O que nem todos sabem é que o Hashomer Hatzair teve um forte vinculo com tal organização. Muitos de seus chaverim participaram do Palmach e inclusive aliot eram feitas com tal intenção. Criou-se até o habito de se cantar o hino do Palmach nos mifkadim do Hashomer em outras partes do mundo ou quando um chaver fosse fazer aliá. Dessa forma, o Hashomer Hatzair teve papel marcante na criação do Estado de Israel não apenas pela criação dos kibutzim (cuja importância também foi muito grande).
O movimento, a princípio, foi contra a partilha da ONU de 1947 (que dividia a Palestina em um território judeu e outro árabe), pois era a favor de um estado binacional (árabe e judeu) crendo que assim haveria a solução dos conflitos étnicos do país. Tal posição foi revista e mudou nos anos 1950.
Com o fim da comunidade judaica polonesa e com a criação de Israel, o centro do movimento passou a ser o novo país. A aliá como única realização e o kibutz como máxima realização da ideologia sionista socialista ganharam força e o movimento começou a se expandir pelo mundo para cumprir seus objetivos.
A GUERRA FRIA – até os anos 1990
Uma tnuá com dilemas, mas com uma missão muito clara
O mundo bipolar criado pela Guerra Fria influenciou intensamente a tnuá. Os acontecimentos de Israel e do mundo desta época direcionaram as discussões e posturas do movimento.
Um grande dilema da tnuá nessa época era relacionado ao regime soviético. A tnuá foi totalmente identificada com o regime russo até os anos 1950. Não apenas pela identificação natural com o comunismo, mas também pelo fato de o bloco comunista ter sido um dos primeiros a reconhecer Israel como um estado. Deles também vieram armamentos que os chalutzim usaram na Guerra de Independência.
Quando descobriram que os “boatos” sobre as atrocidades do regime stalinista na verdade não eram “boatos” ou “propaganda capitalista”, houve uma crise na tnuá. O movimento teve um racha e mudou sua linha. Aqueles que seguiram apoiando o stalinismo foram expulsos.
Outro grande dilema era em relação ao conflito árabe-israelense. A grande missão da tnuá era construir e lutar pela existência do estado judeu. Por outro lado, o movimento sempre teve uma posição de esquerda que considera muito a causa palestina. Às vezes as duas coisas entravam em conflito.
Depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, em que Israel derrotou de forma arrasadora os países vizinhos e surgiu a questão dos territórios ocupados, isto se mostrou de forma muito clara. O Hashomer Hatzair adotou uma posição extremamente favorável à devolução de territórios por paz. Foi o primeiro movimento a se manifestar por isso. Tal posicionamento implicou até em chaverim presos por se recusarem a servir (enquanto estavam no serviço militar) nesses territórios. Não foi por coincidência que os mais importantes movimentos pró-paz como o Brit HaShalom e o famoso Shalom Hashashav (“Paz Agora”) tiveram sua criação fortemente ligada ao Hashomer Hatzair.
Apesar de todos esses dilemas, a missão do movimento não entrava em questão. A união em torno da aliá chalutziana era muito forte e por mais sérios que fossem os problemas internos ou com as posturas do estado, estes não representaram a mesma dificuldade da “contradição trágica” até o final da Guerra Fria. A razão de existir do movimento era dogmaticamente clara. Em todos os lugares do mundo onde existia Hashomer Hatzair, todos sabiam qual era a missão da tnuá. Os chaverim sabiam que ao final do ciclo tnuati tinham duas opções: fazer aliá ou abandoná-la.
Crise do Movimento Kibutziano e das idéias socialistas
A independência do Estado de Israel foi proclamada por David Ben-Gurion, líder trabalhista que, embora não compartilhasse ideologicamente a visão shomrica, era um autêntico “kibuztink”. Os trabalhistas não saíram do poder tão cedo e comandaram o governo consecutivamente durante as primeiras três décadas de existência de Israel. Neste período, os kibutzim eram valorizados e favorecidos pelas políticas do governo.
Não obstante, Menachem Begin, líder do Likud e histórico opositor do trabalhismo, chega ao poder em 1977. Uma das grandes mudanças que seu governo promoveu no país foi na política econômica, que se tornou muito mais liberal que a anterior. E os kibutzim deixariam, a partir de então, de ter a valorização que tinham. Aí começou a crise progressiva do Movimento Kibutziano, que dura até os dias de hoje.
Os kibutzim passaram por um processo de “vida ou morte” e a maioria teve de se privatizar parcial ou totalmente, perdendo assim muito de seu caráter socialista. Ainda assim, a qualidade de vida (saúde, educação e bem-estar social) era muito melhor do que em outros lugares do país. Muitos adotaram sistemas de “imposto social”, que fazia com que os membros que ganhassem mais que um certo valor tivessem de pagar uma taxa proporcional à sua renda em beneficio dos que ganhassem menos. De qualquer maneira, o Movimento Kibutziano em si foi gradualmente se enfraquecendo e empobrecendo com o passar do tempo. Tal enfraquecimento foi acompanhado da crise das idéias socialistas de um modo geral no mundo. A queda do Muro de Berlim, simbolizando a derrota da URSS na Guerra Fria, ocorreu em 1989, 12 anos depois de que o Likud fosse eleito em Israel. Esses acontecimentos foram um golpe severo para as tnuot ligadas aos movimentos kibutzianos, já que estas foram gradualmente perdendo o seu apoio.
O MUNDO GLOBALIZADO E OS DESAFIOS DA ATUALIDADE
A globalização e a crise da tnuá
Conforme a Guerra Fria ia chegando ao fim, as coisas na tnuá iam ficando cada vez menos claras. Ainda nos anos 1980, começou um processo que ganharia mais força nos anos 1990 e 2000. A aliá começou a perder progressivamente sua força dentro dos movimentos juvenis sionistas.
Com o passar do tempo, a aliá foi se individualizando. Já não se via o sentido de formar uma kvutzá para fazer aliá e lutar por uma ideologia coletivamente. O conceito de aliá foi virando cada vez mais uma atitude pessoal ou uma forma de fugir de dificuldades financeiras.
Para todos os movimentos juvenis sionistas tal fato implicou em uma grave crise. Ao mesmo tempo em que as pessoas já não faziam aliá como antes, as direções dos movimentos tinham grande resistência em rever a posição da aliá como máxima ou única realização. As tnuot não conseguiam analisar adequadamente o processo pelo qual o mundo estava começando a passar e, assim, perderam muito do seu sentido de ser.
Tal processo se chamava globalização. O Muro de Berlim caiu em 1989 marcando formalmente o início de uma nova ordem mundial. A URSS deixou de existir e o capitalismo venceu. O socialismo internacional, que já não vinha bem, praticamente extinguiu-se do mundo. Era a hora e a vez do capitalismo global.O mundo passou a ser regido por uma cultura de consumismo, individualismo e competição cujo preço foi o agravamento e surgimento de graves problemas sócio-ambientais. Estes valores começaram a se difundir de forma avassaladora. Tal processo foi acentuado por avanços tecnológicos impressionantes nos sistemas de comunicação, com a criação da internet sendo o seu grande símbolo.
O mundo havia mudado muito e o Hashomer Hatzair parecia que não havia percebido ou não sabia muito bem o que fazer para combater os novos dilemas e desafios. A tnuá começava a parecer mais uma empresa ou uma prestadora de serviços recreativos do que um movimento ideológico. E nem como empresa teria uma vida longa, pois cada vez menos apoio recebia da comunidade judaica, suas instituições ou do Movimento Kibutziano.
A reciclagem
Estava claro que a tnuá estava com os dias contados se continuasse assim. Não poderia mais depender financeiramente dos kibutzim ou de outras instituições. Ao mesmo tempo, precisava mudar sua plataforma ideológica de maneira que se adequasse à nova realidade global. Fazê-lo sem perder a sua essência constituía um grande desafio.
Começou então um amplo processo de reciclagem de sua ideologia e missão que seria finalizado a nível mundial apenas em 2008. Ainda assim, há diferentes tendências e discussões dentro do movimento sobre seus pilares ideológicos (sionismo, socialismo, judaísmo e escotismo), com uma clara diferença de visão entre os distintos continentes.
De qualquer maneira, parece que em relação à missão há um consenso que implica numa mudança histórica. A aliá para kibutzim pela primeira vez na história do movimento deixou de ser considerada a única realização, embora sua importância ainda seja enorme. A idéia agora é criar em Israel e pelo mundo uma rede de Kehilat Bogrim (“Comunidades de Adultos”), que seriam comunidades alternativas, formadas por pessoas que terminaram o ciclo tnuati ou outras identificadas, que difundissem e levassem à pratica os valores do movimento. Dessa forma, abriu-se o caminho para diversos tipos de realizações shomricas. Basicamente, não há uma regra de funcionamento clara e definida como acontecia com os kibutzim. Kehilat Bogrim podem ser quase qualquer coisa, desde que estejam vinculadas ideologicamente de alguma maneira ao movimento.
Ainda é uma idéia muito nova que está sendo construída e assimilada pelo movimento. Apesar disso, já existem alguns exemplos práticos do que podem ser Kehilat Bogrim. Começaram a surgir algumas experiências como a vivência em comunas, a criação de centros culturais, projetos educativos e de militância comunitária, entre outros. Israel é o lugar onde esse tipo de experiência tem e vem ganhado a cada dia mais força. Em outros lugares do mundo a idéia começa ainda a ganhar força, mas com muito menos exemplos práticos. As Kehilat Bogrim são a grande aposta do movimento para continuar existindo. Embora elas tenham de ser autônomas do movimento, está entre os seus objetivos ajudar a mantê-lo financeiramente. A partir de agora, o destino do Hashomer Hatzair estará cada vez mais vinculado ao sucesso ou ao fracasso da idéia. A tnuá, enfim, completa 95 anos concluindo um processo de ampla mudança e reciclagem de sua plataforma ideológica. O momento é ambíguo. Nunca faltaram tantos recursos e ao mesmo tempo, há muito tempo não se via tanta esperança. Em 2013, quando a tnuá completa 100 anos, as pessoas poderão estar comemorando o seu renascimento ou lamentando seus últimos dias. Só resta esperar.
Vocabulário:
Rosh Chinuch: Responsável pela educação.
Aliá: emigração a Palestina (antes de 1948) e a Israel (após 1948) (plural: aliot).
Tnuá: movimento (juvenil) (plural: tnuot).
Tnuatí: relativo ao movimento (ciclo tnuati é o ciclo do movimento).
Chalutz: pioneiro. (plural: chalutzim).
Chalutziano: pioneirista.
Kenes: Congresso/seminário/encontro/reunião.
Bogrim: Adultos.
Kenis Bogrim: encontro dos “adultos” (da liderança) do movimento para decidir coisas importantes.
Kibutz: tipo de organização comunitária socialista e agrícola criada em Israel (plural: kibutzim).
Kibutziano: relativo aos kibutzim (Movimento Kibutziano: movimento dos kibutzim).
Chaver: membro (plural: chaverim).
Palmach: milícia judaica da Palestina dos anos 1940.
Mifkad: assembléia dos membros (tradição escoteira adotada por movimentos juvenis judaicos). É feita para marcar o começo ou o fim das atividades do movimento, seja as de um dia, as de uma semana, um ano etc (plural: mifkadim).
Shomrico (a): relativo ao Hashomer Hatzair (visão shomrica é a visão do Hashomer Hatzair).
“Kibutiznik”: expressão usada para designar os “filhos dos kibutz” (aqueles que nascerem e foram criados em um kibutz).
Kvutzá: grupo.
Sionismo
Definição
O Sionismo do Hashomer Hatzair origina-se da crença de que todas as pessoas têm o direito à autodeterminação e que Israel é a expressão da autodeterminação judaica. A terra judaica deve ser o porto seguro para todos os judeus e o centro onde a cultura e a identidade judaica possam florescer.Nossa visão é criar e manter um equilíbrio autocrítico entre uma sociedade judaica socialista e um Estado pluralista, democrático e secular que garanta justiça social para todos. Nosso Sionismo consiste de uma relação mútua entre Israel e a Diáspora, incluindo diálogo e crítica.Como um movimento Sionista, acreditamos que temos uma grande responsabilidade em contribuir com o Aliyah, educando nossos Chanichim a fazer uma escolha consciente e pessoal sobre isso.
Prática Educacional:
Hashomer Hatzair educa seus/suas chanichim/ot a ter uma base de conhecimento para entender Israel hoje, a sua herança (patrimônio) e a relevância da sua conexão com isso. Os programas devem incluir diálogo, que é feito sob um ponto de vista pluralista e crítico.Nós encorajamos longas estadias e programas em Israel que sejam relevantes para a ideologia do movimento. Educamos nossos chanichim sobre o aliyah e os ajudamos em um caminho para uma escolha consciente e pessoal sobre seu futuro.
O/A Shomer/et deve expressar ativamente sua opinião em assuntos relacionados a Israel
Socialismo
Definição
O Socialismo do Hashomer Hatzair se baseia na crença de que os humanos são seres livres e criativos, que merecem viver em uma sociedade que os permita se desenvolver ao seu potencial máximo. Tomamos como valores centrais: igualdade social, econômica e política e justiça.Acreditamos que o Capitalismo e outras forças opressivas criem modos de produção fundamentalmente desiguais, exploradores e alienantes que geram pobreza, guerra, ignorância, destruição ecológica, falta de liberdade e impedem as pessoas de se realizarem em seus potenciais máximos. Vemos o socialismo não apenas como uma alternativa a este tipo de sociedade, mas como uma sociedade inteiramente nova e revolucionária que pode se sustentar por si própria.Visualizamos um mundo de comunidades pequenas e cooperativas, feitas de indivíduos e grupos que pratiquem relações espontâneas, livres, igualitárias e íntimas. Nós acreditamos que estas comunidades tenham que ter um equilíbrio entre o individual e o coletivo- e que o coletivo é, na verdade, a força que libertará o indivíduo.Acreditamos em uma sociedade onde as pessoas como um todo possuem a habilidade de controlar suas vidas, trabalhar livre e criativamente e participar em uma sociedade igualitária e democrática. Vemos o socialismo como uma ferramenta e um modo de vida que permite as pessoas viverem vidas verdadeiramente humanas.
Prática Educational:
O Hashomer Hatzair educa em direção à generosidade e a nos tornarmos seres responsáveis, críticos e ativos. Ensinamos os Chanichim a viver de acordo com os valores do socialismo humanista, tanto dentro do movimento como fora dele, promovendo o tratamento justo das pessoas.Exigimos de nós mesmos que sejamos críticos da sociedade, não temendo ser contra o pensamento predominante e, conseqüentemente sustentando estas opiniões.Devemos ser socialmente responsáveis em todos os aspectos. Para alcançar isto, colocamos ênfase na educação sobre outras culturas, o papel do consumo e superconsumo, tanto como no funcionamento da política nacional e global.Para estes fins, usamos ferramentas tais como ação comunitária política (Avoda Kehilatit), educação através da experiência, trabalho em grupo, símbolos (como a Chulzah e a Kuppah), organização em Kvutzot e o formacion dos Chanichim.
Judaísmo : Definição
O Judaísmo do Hashomer Hatzair é baseado na Cultura Judaica e na abordagem humanista. Colocamos o indivíduo no centro da nossa visão de mundo judaica. Nossa moral deriva primariamente do nosso senso de responsabilidade e respeito à humanidade. Acreditamos e praticamos uma forma ativa de judaísmo que encoraja a todos a dar um significado pessoal ao seu Judaísmo dentro da comunidade Shomérica.Nosso Judaísmo explora a vibrante cultura, tradição, história e legado do povo Judeu e nos conecta à nossa herança. Vemos as fontes judaicas como inspiração e abertas a interpretação crítica.Nossa abordagem resulta de um entendimento completo do Judaísmo e do desenvolvimento de um modo contemporâneo e significativo de expressar o nosso Judaísmo.
Prática Educational:
Damos aos nossos Chanichim a oportunidade de encontrar seu próprio acesso e abordagem em direção ao Judaísmo e nos esforçamos para moldar indivíduos confiantes que encontraram seu lugar no Judaísmo e se sentem conectados à sua herança cultural.O Hashomer Hatzair estende o conhecimento da herança judaica, Literatura judaica clássica e moderna e ensina sobre história, cultura e tradições judaicas. As atividades shoméricas se encaixam no ciclo judaico de vida, incluindo as tradições. Os membros do Hashomer Hatzair irão constantemente revisar e, se necessário, renovar as tradições judaicas, segundo a atual filosofia dos Chaverim. Nosso Judaísmo é aberto a qualquer pessoa que se sinta parte dos ideais e esteja disposta a participar dele. Todo comportamento que não siga os princípios do Judaísmo secular pode ser mantido com a condição de não contrariar a organização e o progresso das atividades.