Ódio antissemita preocupa os americanos
Episódios de violência e de propaganda contra judeus na internet fazem autoridades aumentarem segurança
Gilberto Scofield Jr.
Correspondente
WASHINGTON. O aposentado James Wenneker von Brunn, 88 anos — integrante de um grupo defensor da supremacia branca que matou com um tiro no peito, na tarde de quarta-feira, o guarda de segurança Stephen T.
Johns na entrada do Museu do Holocausto, em Washington — seguiu um rastro virtual e real de virulência antissemita que só vem crescendo nos últimos meses nos EUA.
No Hyundai do assassino, estacionado próximo ao museu, a polícia descobriu um caderno com alguns pensamentos de Von Brunn, que foi ferido e preso logo em seguida: “Você quer minhas armas — esta é a maneira que você vai tê-las”, escreveu o assassino. “O Holocausto é uma mentira... Obama faz o que seus donos judeus mandam ele fazer....
A Primeira Emenda está abolida — de hoje em diante”, completou ele, referindo-se à emenda à Constituição que garante a liberdade de religião, expressão, imprensa e reunião.
Um mês depois de a polícia de Nova York ter frustrado tentativas de ataques terroristas a duas sinagogas na cidade (o Centro Judeu e o Templo de Riverdale), o Departamento de Segurança Nacional e o FBI (a polícia federal dos EUA) decidiram ontem mobilizar as autoridades policiais das principais cidades do país com o objetivo de aumentar a segurança em sinagogas e universidades patrocinadas por grupos judeus.
FBI conhecia histórico antissemita de assassino
Mas nada espantou mais os americanos do que descobrir ontem que o FBI já conhecia o histórico de ódio e racismo de Von Brunn e nada fez. Afinal, o direito à livre expressão nos Estados Unidos é garantido na Constituição, ainda que a expressão em questão sejam mensagens de ódio racista e antissemita propagadas na internet.
Outro episódio de destaque na mídia americana esta semana foram as declarações do pastor Jeremiah A. Wright Jr.
— de cuja paróquia o presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a fazer parte antes de romper com o religioso radical — ao jornal “The Daily Press”. Ao ser perguntado pelo repórter se havia conversado recentemente com o presidente, o polêmico reverendo Wright respondeu: — Os judeus não vão deixá-lo falar comigo. Eu disse à minha pequena filhinha que eu só falaria com o presidente daqui a cinco anos, quando ele estiver em baixa, ou em oito anos, quando já não estiver no comando.
Num jantar para arrecadação de fundos dos Comitês Republicanos do Senado e da Câmara na segunda-feira, o ator Jon Voight fez um duro discurso contra Obama, acusando-o de ser um “falso profeta”, responsável por todos os problemas americanos atuais, e de tentar criar uma imagem de “monstro do passado” para o ex-presidente George W. Bush. E colocou o tema de Israel na discussão, dizendo que “Israel ainda é o paraíso da segurança para os judeus”, numa insinuação de que Obama poderia ser um presidente antissemita por criticar a ocupação israelense na Palestina.
O colunista do “New York Times” e prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, acusou ontem a mídia conservadora e o establishment político dos EUA de fomentarem o ódio em grupos de extrema-direita no país, exatamente como no início do governo de Bill Clinton, nos anos 90, um sentimento que culminou no ataque terrorista em Oklahoma City, que deixou 168 mortos.