Judaismo: O Ano Novo Judaico – Rosh Hashaná
sábado, setembro 09, 2006
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O Ano Novo Judaico – Rosh Hashaná – celebra o nascimento do homem, que ocorreu no sexto dia da criação.
Na liturgia de Rosh Hashaná vemos que este é chamado "o dia do início de Tuas obras" (texto da prece para Rosh Hashaná). Por que é o "início de Tuas obras" quando, na verdade, Rosh Hashaná corresponde ao sexto dia da criação?
A resposta é fornecida pelos Rabinos: Visto que o homem é o supremo propósito e razão de ser de todos os âmbitos do universo e com a criação do homem, a criação inteira foi completada e realizada, o homem, com efeito, incorpora toda a criação como se, antes dele, nada tivesse sido criado.
Apesar disso, a pergunta deve ser feita. Como isso pode ser verdade quando há um mundo notável além do homem, um mundo impressionante e digno de nota, como declaram os Salmos: "Como são numerosas as Tuas obras, ó D'us", e "Como são notáveis as Tuas obras, ó D'us"?
Além disso, considerando a criação como um todo, vemos que a "espécie falante" – o homem – é numericamente muito inferior que a ordem dos animais e menor ainda que a ordem das plantas, e menos em comparação com a matéria inorgânica (terra, minerais, etc.).
A resposta – e este, na verdade, é um dos ensinamentos básicos de Rosh Hashaná no que diz respeito à toda a criação – é a seguinte: A ordem na escala de todas as coisas criadas onde substância inorgânicas excedem as plantas, as plantas superam em número os animais, e o homem é a menor espécie de todas, está baseada na consideração de quantidade. No entanto, quando se considera a qualidade, a ordem é invertida: matéria inorgânica, que não tem sinais de vida e locomoção, está na base da escala; acima dela vem o mundo das plantas, dotado de crescimento, mas sem vitalidade e o movimento dos animais; ainda mais acima está o reino animal que, como os animais não possuem intelecto humano, é inferior ao homem – a mais elevada de todas as criaturas. Pois, embora um animal tenha um intelecto todo seu, este não é um fim em si mesmo, mas um instinto, cuja função é servir às necessidades naturais do animal. No entanto, o intelecto humano – desde que a pessoa se conduza como um ser humano e não como um animal – é principalmente um fim em si mesmo. Além disso, o intelecto humano atinge seu objetivo e plenitude não quando serve de instrumento para a gratificação das necessidades físicas, como é o caso dos animais, mas sim quando todas as funções naturais como comer, beber e similares, se tornam servas do intelecto, para que a pessoa possa elevar-se ainda mais alto na busca intelectual e espiritual. Porém esta não é exatamente a verdadeira realização do ser humano. A verdadeira plenitude é atingida quando o intelecto o leva à percepção que existe algo mais elevado que o intelecto, para que o intelecto se renda por completo àquele ideal.
Em termos mais claros, a plenitude humana é atingida quando o intelecto reconhece que o homem, e com ele toda a criação, deve esforçar-se para atingir o reconhecimento e o apego a D'us, Criador do Universo e Mestre de tudo que nele existe.
Este conceito está diretamente relacionado, e deve permear, nossa vida diária como fica evidente também pelo fato de que o Salmo que começa com "D'us reina, Ele Se revestiu em majestade" – ter sido instituído como o "Salmo Diário" para o sexto dia de toda semana do ano. Isto é o que Adam, o primeiro homem, realizou quando reconheceu a soberania do Criador, elevando a si mesmo e toda a criação ao nível de reconhecimento de D'us.
A lição geral a ser deduzida de tudo isso é a seguinte: refletindo sobre si mesma, a pessoa verá que a maior parte da sua vida e a maioria dos seus esforços são despendidos com coisas que, à primeira vista, são materiais e mundanas, como comer, beber, dormir e similares. Fica evidente também que há um número maior de "homens do mundo" que de "homens de espírito". Em geral, vê-se mais pessoas imersas em assuntos materiais. Por isso, alguém poderia pensar erroneamente que talvez os aspectos físico e material da vida são os mais importantes no mundo.
Rosh Hashaná nos ensina que o oposto é o verdadeiro. Para certificar isso, tomou cinco dias e parte do sexto para criar todos os tipos de criaturas. Porém foi o homem, uma parte muito pequena da criação no tempo e no espaço, que era a essência e propósito de toda a criação. E no homem, também, o essencial não é o corpo, que é "pó da terra", mas a alma, o espírito vivo que D'us "soprou em suas narinas"; uma alma que é "realmente parte do D'us acima". Somente depois que o homem foi criado com a centelha Divina dentro dele, a criação inteira se tornou digna e completa. Assim, o homem pode ser corretamente descrito como o "início" da criação em todos os âmbitos, e Rosh Hashaná, o nascimento do homem, como "o dia do início de Tuas obras".