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O dom das segundas possibilidades

 Arte de Sefira Lightstone

Por Susan T.
O dom das segundas possibilidades

Nós em recuperação sabemos sobre segundas chances. Não importa onde estivemos, ou quão baixo temos caído, com a ajuda de D'us, pudemos olhar para nós mesmos, fazer reparações e começar de novo. Às vezes, repetidas vezes.

Um feriado judaico pouco conhecido celebra o conceito da segunda chance: Pêssach Sheni (Segundo Pêssach). Não se trata de fazer uma profunda limpeza no lar e estabelecimentos, nem cozinhar ou permanecer sentado durante o seder todo. Não é uma semana festiva onde somente comemos matsá. É uma celebração de um dia no qual D’us nos deu a habilidade de chamá-Lo. É a Sua mensagem para nós de que nunca é tarde demais.

No passado, o povo judeu foi ordenado a trazer uma oferenda de Pêssach em um tempo determinado ao Templo Sagrado de Jerusalém. No primeiro ano após o Êxodo, um grupo de pessoas que não puderam trazer o sacrifício se queixou a Moshê: "Por que deveríamos ser deixados de fora?" D’us ouviu seu desejo de se aproximar Dele e instituiu Pêssach Sheni. Ele nos deu a mensagem eterna de que temos uma segunda chance.

Às vezes nossas segundas chances vêm como incidentes pequenos durante dias alternativamente sem intercorrências. Pronunciamos palavras que machucam, nos arrependemos e pedimos desculpas. Ou, perdemos um prazo importante, e, posteriormente, é concedida uma extensão.

Em minha vida, experimentei dois episódios de segunda chance muito profundos. A primeira ocorreu dezoito anos atrás, quando fui atingido por um carro enquanto andava de bicicleta. Meu capacete rachou pelo impacto. Eu claramente poderia ter sido morto. Recuperando a consciência enquanto eu era transportado por uma ambulância, lembro-me de ter respirado aliviado: “D'us salvou a minha vida.” Mais tarde fiquei intrigado: “Por que, então, Ele quase a tirou de mim?” Uma árdua recuperação física me colocou em um caminho espiritual. Eu encontrei fundamento e cura na minha herança judaica. Comecei a aprender sobre minha fé e passei a adotar um estilo de vida judaico observante. Minhas crenças e práticas espirituais me mantiveram ao longo dos anos construindo uma família e lidando com alguns desafios da vida.

Minha segunda grande segunda chance ocorreu a menos de dois anos, quando uma avalanche destruidora arrasou o meu lar. Décadas de disfunção e negação foram de repente e dolorosamente desarraigadas. Eu e meu cônjuge e alguns dos nossos filhos mais velhos foram catapultados em recuperação. D'us tem Suas maneiras de nos despertar. Acho que ainda estava adormecido. Tenho outra chance de encontrá-lo. A recuperação me levou a lugares no meu relacionamento com D'us que eu nunca tinha experimentado anteriormente. Comecei a explorar quem eu sou e como devo servir a D'us.

Sou filho de sobreviventes do Holocausto. A vida de meus pais estava repleta de segundas chances. Minha mãe perdeu toda a sua família, mas ela foi capaz de perseguir seu sonho e tornar-se uma médica. Meu pai sobreviveu a numerosos encontros dramáticos com a morte ao longo de seus 77 anos. Ele faleceu em Pêssach Sheni, há cinco anos.

Hoje eu me maravilho: meus pais sobreviveram em segundas chances, mas não conseguiram me oferecer (ou aos meus irmãos) o mesmo. O perfeccionismo governou nossa casa. Erros não eram uma opção. O cumprimento era a sobrevivência. A crítica era a linguagem das canções de ninar; fui nutrido pela negatividade.

Hoje eu tenho compaixão. Eu sei que meus pais não poderiam ter feito diferente. Com sua dor, eles construíram as melhores vidas que podiam. Eles suportaram horrores inimagináveis. Faltou-lhes o dom da fé. Eles atribuíam sua sobrevivência ao acaso ou ao bom senso; decisões extremas tomadas ao se confrontar com o perigo e a morte. Eles devem ter sentido que qualquer erro teria custado suas vidas. Essa distorção me foi transmitida.

Na época em que Pêssach Sheni foi instituído, o povo judeu que se queixava, "Por que deveríamos ser deixados de fora?" eram ritualmente impuros (muitos de nós certamente contaminamos nossos corpos) ou "em um caminho distante" (nós também estávamos a milhas e anos-luz de nosso verdadeiro eu). Em seu pedido de uma segunda oportunidade para trazer a oferta da Páscoa, nossos antepassados expressaram nossas próprias verdades internas: só porque herdamos traços e adotamo crenças que não nos servem bem, por que deveríamos perder as alegrias da vida? Nós também queremos plenitude, riqueza e serenidade em nossas vidas, verdadeira proximidade em nossos relacionamentos.

Os dons de recuperação provêm de nossa conexão com o nosso Criador. Biblicamente, trazer ofertas era sobre aproximar-se de D'us. Em nossos dias, nós também trazemos nossas ofertas como uma maneira de nos aproximarmos de D'us. Apresentamos nossos defeitos de caráter. Oferecemos nossos vícios, nossas paixões, nossos hábitos. Pedimos a D'us para remover os obstáculos para podermos alcançar o bem estar físico, espiritual e emocional.

Muitos grupos de recuperação estudam o Quinto Passo neste mês. Admitimos a D'us, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata de nossos erros. Este é Pêssach Sheni, trabalhar a Segunda Chance! Ao admitir nossas falhas dessa maneira, temos outra oportunidade de renovar nosso relacionamento com D'us. Podemos nos familiarizar com nosso verdadeiro eu. Podemos reparar relações tensas. Os dons de recuperação provêm de nossa conexão com o nosso Criador.

O Sexto Rebe de Chabad, Rabino Yosef I. Schneersohn afirmou: "O tema de Pêssach Sheini é que nunca é tarde demais. Sempre é possível promover o conserto. Mesmo se alguém estivesse ritualmente impuro, ou estivesse distante, e mesmo num caso em que essa impureza era deliberada - no entanto, ele poderia corrigir as falhas."

Embora Pêssach Sheni ocorra uma vez por ano, podemos levar sua mensagem maravilhosa conosco todos os dias de nossas vidas. Nós que procuramos recuperação e crescimento pessoal nos esforçamos para avaliar a nós mesmos diariamente, levando inventário pessoal e prontamente admitindo quando estamos errados. Temos permissão para cometer erros. Recebemos segundas chances.

Nós comemoramos esse dia comendo matsá mais uma vez, mas sem termos que remover o chamêts de nossas casas. Nos apresentamos D'us exatamente como somos – com defeitos e tudo mais. Não importa quantos anos temos, o quanto estamos perdidos ou onde estamos hoje em nossas vidas. Pedimos-lhe que nos dê uma segunda chance. Ele aceita e nos acolhe. Que presente incrível.

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