As mulheres acorrentadas da comunidade judaica ortodoxa

As mulheres acorrentadas da comunidade judaica ortodoxa

magal53
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  'Meu marido se recusou a me dar o divĆ³rcio por nove anos': 'as mulheres acorrentadas' da comunidade judaica ortodoxa

  • Sima Kotecha e Ellie Jacobs
  • Newsnight
Rifka Meyer
Legenda da foto,

Rifka Meyer finalmente obteve divĆ³rcio religioso no ano passado

Rifka Meyer tinha 32 anos quando se casou. Dois anos e meio depois, ela se tornou o que Ć© conhecido entre judeus ortodoxos como uma "esposa acorrentada".

Estava presa a um casamento religioso com homem que se recusava a dar a ela o divĆ³rcio.

"VocĆŖ se sente desesperada e muito sozinha", disse ela ao programa Newsnight, da BBC. "VocĆŖ se sente como se estivesse gritando sem ser ouvida."

Levaria quase 10 anos para que Meyer obtivesse o divĆ³rcio religioso.

Mas mais de 100 mulheres da comunidade judaica Charedi continuam presas a casamentos religiosos no Reino Unido, segundo o deputado Jonathan Mendelsohn, que integra uma comissĆ£o parlamentar formada para ajudĆ”-las.

"O que me chocou Ć© que eu estou sendo contatado diretamente por vĆ”rias pessoas desde que levantei essa questĆ£o", diz ele. "Dezenas de casos, incluindo vĆ”rias membros da comunidade judaica em que eu vivo."

Lei judaica exige autorizaĆ§Ć£o para divĆ³rcio

Sob a lei do judaismo ortodoxo, o marido precisa dar Ć  esposa um documento chamado get, que autorize o divĆ³rcio.

Sem isso, para os membros da comunidade, ela permanece casada mesmo sendo divorciada legalmente.

As mulheres presas a esses casamentos religiosos sĆ£o conhecidas como agunot ou "esposas acorrentadas".

Meyer diz que, sem o get, nĆ£o poderia ter outro parceiro. "VocĆŖ estĆ” presa. Eu nĆ£o poderia pensar em encontrar outra pessoa, namorar ou seguir em frente com a minha vida."

"NĆ£o tem comunicaĆ§Ć£o ou apoio para te ajudar nesse processo. VocĆŖ se sente desesperada e muito sozinha. Ɖ uma jornada muito solitĆ”ria."

Meyer, que mora em Londres, finalmente recebeu o documento do marido no ano passado. Agora ela gerencia uma ONG chamada Gett Out, para ajudar outras mulheres na mesma situaĆ§Ć£o.

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O que acontece se o divĆ³rcio Ć© recusado pelo marido?

  • A mulher fica proibida de se casar de novo, porque isso seria considerado adultĆ©rio
  • Ela nĆ£o pode ter filhos com mais ninguĆ©m. Se tiver, a crianƧa Ć© chamada de mamzar, sendo excluĆ­da da comunidade
  • A Corte Judaica, chamada de Beth Din, pode anular o divĆ³rcio se considerar que o homem foi pressionado a assinar o documento
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Uma emenda Ć  legislaĆ§Ć£o sobre violĆŖncia domĆ©stica do Reino Unido agora prevĆŖ que a recusa a conceder o divĆ³rcio religioso seja considerada uma forma de abuso domĆ©stico.

Ou seja, nĆ£o dar o get, agora Ć© enquadrado como comportamento coercitivo e controlador, e o homem pode ser processado e atĆ© preso, se for condenado.

A expectativa Ć© que as mulheres tenham mais poder para denunciar seus ex-maridos se eles nĆ£o estiverem aceitando dar o divĆ³rcio religioso.

Mas a FederaĆ§Ć£o de Sinagogas, um grupo que representa judeus ortodoxos, diz que qualquer documento de divĆ³rcio "concedido sob pressĆ£o, seja devido a ameaƧas fĆ­sicas, econĆ“micas ou de prisĆ£o, Ć© absolutamente invĆ”lido" sob a lei judaica.

"O casal continuarĆ” casado, apesar da concessĆ£o do documento", diz a carta.

A federaĆ§Ć£o acrescentou que qualquer mulher que use as proteƧƵes da legislaĆ§Ć£o sobre violĆŖncia domĆ©stica terĆ” "atado as mĆ£os" da Corte Judaica, jĆ” que "claramente, nessa situaĆ§Ć£o, o marido estarĆ” agindo sob pressĆ£o."

Eli Spitzer
Legenda da foto,

Eli Spitzer, um professor que integra a comunidade ortodoxa em Londres, diz que alguns rabinos acreditam que mulheres que procurarem ajuda na legislaĆ§Ć£o terĆ£o iniciado 'processo irreversĆ­vel'

Eli Spitzer, um professor que integra a comunidade ortodoxa em Londres, diz que alguns rabinos acreditam que mulheres que procurarem ajuda na legislaĆ§Ć£o "terĆ£o iniciado um processo irreversĆ­vel".

"O marido nĆ£o estarĆ” mais em posiĆ§Ć£o de dar o divĆ³rcio Ć  esposa por vontade prĆ³pria, porque ele estarĆ” em risco de ser processado. Portanto, os rabinos estĆ£o dizendo que isso prejudica a essĆŖncia de um divĆ³rcio judaico, que precisa ser dado por livre e espontĆ¢nea vontade", diz ele.

Mas Mendelson, que Ć© judeu tambĆ©m, acredita que nĆ£o hĆ” conflito entre as legislaƧƵes religiosa e nĆ£o religiosa, e questiona as intenƧƵes dos rabinos que dizem que hĆ”.

"Eles escolheram criar um conflito onde nĆ£o existe. NĆ£o sei o motivo disso, mas suspeito que seja porque sintam que estĆ£o perdendo o controle de parte do processo", diz.

"Mas em qualquer situaĆ§Ć£o onde uma minoria religiosa existe numa democracia, vocĆŖ precisa equilibrar as coisas. Acho que eles tĆŖm que entender a situaĆ§Ć£o e perceber que esse Ć© o Reino Unido, o Reino Unido em 2021."

Alguns judeus ortodoxos disseram ao Newsnight que eles acreditam que o Torah (lei judaica) nĆ£o pretendia permitir que mulheres ficassem presas a casamentos infelizes. Mas hĆ” receios na comunidade ortodoxa de que o secularismo esteja atropelando a religiĆ£o, apagando tradiƧƵes centenĆ”rias e uma lei praticada por milhƵes.

Meyer diz que, apesar de a legislaĆ§Ć£o contra violĆŖncia domĆ©stica do Reino Unido ajudar as mulheres, Ć© preciso "trabalhar em conjunto com os rabinos tambĆ©m".

"As mulheres se sentem desesperadas e farĆ£o de tudo para conseguir o get", diz ela. "Ɖ uma vida inteira dessas mulheres presas num casamento que morreu. "




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