
O drama da formação de um governo estável em Israel – uma narrativa que tem mais de um ano – está a deixar os israelitas em pânico: há decisões difíceis e urgentes a tomar, mas não há um governo capaz.
Num país em pânico com a progressão da pandemia de Covid-19, os líderes
políticos israelitas continuam a aumentar o descalabro político em que o país
está há mais de um ano, e que as últimas eleições não foram capazes de
resolver. Em cima da mesa está, há pelo menos duas semanas, a possibilidade de
os dois maiores partidos, o Likud de Benjamin Netanyahu e o Kahol Lavan de
Benjamin Gantz, criarem um governo de coligação.
A intenção não é antiga, mas são evidentes as dificuldades que uma
coligação deste gênero iria colocar – dada a enorme desconfiança que
aparentemente separa os dois líderes. Mas, se o ambiente já é mau, ambos fazem
tudo para o piorar: este fim-de-semana, Netanyahu disse que as equipas de negociação
dos dois partidos tinham assegurado a coligação – num quadro em que o próprio
Netanyahu assumia que Gantz o substituiria dentre de um ano e meio.
Os israelitas terão ficado espantados quando, pouco depois, Gantz
desmentiu que as negociações estivessem tão adiantadas que já fosse possível
avançar com a iminência da coligação. É que Gantz tem uma alternativa: a
criação de um governo por si liderado e apoiado por todos os partidos com
assento no Knesset, o parlamento isarelense, com a exceção do Likud.
Ninguém parece dar grande crédito a um governo criado na base de um
apoio parlamentar que precise de uma base de apoio que misturaria a direita
mais radical e dogmática em termos religiosos com os partidos israelitas árabes
– que praticamente não reconhecem a existência uns dos outros.
Desde a passada semana, e face à absoluta necessidade de Israel passar a
contar com um governo que lidere a investida nacional contra a pandemia, o
presidente do país, Rueven Rivlin, já colocou a hipótese de marcar novas eleições
– mas a verdade é que também ninguém acredita que um novo ato eleitoral seja
mais esclarecedor que o anterior, realizado no início do mês.
O país está em pânico – a primeira vítima foi um sobrevivente do
Holocausto com quase 90 anos – depois de um especialista israelita ter dito que
seriam de esperar cerca de 13 mil mortes no país. A Covid-19 já chegou também
aos territórios palestinos, onde as infraestruturas ligadas à saúde são um
dos principais problemas, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza.