Nas palavras de Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz de 1986,
“…não relembrar o Holocausto significa assassinar as vítimas pela segunda vez; tornar-se cúmplice do inimigo.
Por outro lado, relembrar significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições.”
Agradeço o convite para estar hoje aqui, representando o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e em seu nome cumprimento o presidente de honra, Benjamin Steinbruch, o presidente do Conselho Consultivo, Breno Krasilchik, e todos os responsáveis que tornaram este museu possível.
Hoje, o Museu da Imigração Judaica inaugura a ala O Memorial do Holocausto, setor que expõe um sórdido episódio da nossa História, com certeza um dos mais sombrios, em que seis milhões de judeus, verdadeiros mártires e heróis, foram exterminados pelos nazistas durante a Segunda Grande Guerra.
A missão é preservar a memória das milhões de vidas que foram brutalmente interrompidas durante a Segunda Guerra Mundial em prol da ideologia política nazista.
Estima-se que somente em Auschwitz, o mais destacado dos campos de concentração, na Polônia, mais de um milhão e quinhentas mil pessoas tenham sido exterminadas no período. No total, cerca de seis milhões de judeus e milhares de outras vítimas, como ciganos, homossexuais, deficientes e mais outras minorias foram mortas, tudo para atender aos anseios étnicos da supremacia nazista, episódio historicamente denominado Holocausto.
Essa época estarrecedora da humanidade lesou também mais milhares e milhares de pessoas, que tiveram que largar tudo o que tinham porque o antissemitismo mostrou sua cara nefasta em outros países também. Na França do Marechal Petáin, sua conivência com esta política nazista fez com que milhares de judeus fossem arrancados de suas casas e levados ao inferno.
Na Itália de Mussolini, as leis restritivas contra os judeus eram da mesma ordem que as alemãs.
Posso dizer isso com autoridade porque milha família foi testemunha pessoal desta desordem no mundo.
Em 1939, minha doce avó Gabriella (Nella) Cohen Pesaro, meu avô Umberto Pesaro e meu pai Giorgio tiveram que abandonar sua identidade italiana e tudo o que tinham, para fugir do antissemitismo, já temendo a possibilidade de viverem com o que de pior o fascismo e o evidente antissemitismo iriam causar.
Meus parentes chegaram ao Brasil em Maio de 1939, para então buscar uma relação de identidade porque a que tinham lhes havia sido roubada pelos fascistas de Mussolini.
Assim, manter viva essa memória, além de fazer o Holocausto chegar ao conhecimento de muitas pessoas, judeus e não-judeus, é fundamental para que todos se deem conta das atrocidades que foram cometidas em nome do antissemitismo.
Ainda que jamais tenha sido feita justiça a todos os extermínios ocorridos nos campos de concentração, podemos refletir acerca dos perigos da discriminação racial e sobre a observância dos direitos humanos. Se milhões de judeus e outros tiveram negados todos os seus direitos e garantias fundamentais por questões étnicas e religiosas diferenciadas, uma questão nos fica clara: não podemos admitir, nos dias atuais, qualquer espécie de conduta antissemita.
Não podemos nos esquecer que a dignidade humana e os direitos à liberdade e à igualdade constituem uma das bases sólidas do Estado Democrático e Social de Direito. O infame episódio do Holocausto em muito contribuiu para a materialização dos direitos fundamentais em várias constituições pelo mundo.
A memória tem uma influência grandiosa para o povo hebreu e alguns valores que não podem ser esquecidos: somos todos iguais e irmãos. Já nos textos cardeais do judaísmo, a importância da memória e a necessidade de transmitir sua história para todas as gerações é uma obrigação do povo do livro
Pois aqui, no Memorial se guarda a memória do passado e se mostra o seu significado para as gerações futuras. Uma instituição como o Memorial da Imigração judaica tem a importante missão de resgatar e contar a jornada de todos esses judeus e outras minorias, fazendo-nos mais próximos de nossos antepassados.
Nem todos presenciaram o Holocausto, mas os sobreviventes da tragédia e todos os cidadãos de bem devem manter vivas suas consequências em prol do aprimoramento das relações humanas. Ódio e discriminação não podem mais tomar conta de nosso cotidiano. Jamais traremos de volta as vidas que foram suprimidas, mas podemos fortalecer as bases humanistas que devem nortear as relações humanas, independentemente de raça, cor ou crença religiosa.
Infelizmente, nestes nossos dias, assistimos o ressurgimento desta visão racista e o antissemitismo mostra mais uma vez sua cara m vários países do mundo.
Assim, a importância do Memorial se torna ainda mais admirável para que possamos educar crianças, adolescentes e adultos sobre as consequências nefastas destas teorias.
O grande general americano, Eisenhower disse, quando liberaram o campo de concentração em Buchenwald:
“Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota vai se erguer e dizer que isto nunca aconteceu'.
Muito obrigado!
Floriano Pesaro
Secretário de Estado de Desenvolvimento Social
Deputado Federal