Os olhos talvez sejam os órgãos sensoriais mais importantes.
A visão nos apresenta cores e formas – na verdade, o mundo todo que nos cerca. De certo modo, o ser humano é capaz de ouvir, cheirar, sentir sabores e apalpar com os olhos, que lhe proporcionam uma experiência sensorial disseminada que não pode ser reproduzida por nenhum outro órgão (ou seja, através da visão é possível imaginar mais prontamente a reação dos demais sentidos). A visão permite que se veja a maravilha e a beleza da criação física de Deus. Destituídos de visão, nós nos desligaríamos da realidade e seríamos privados do contato genuíno e nítido com o mundo. No âmbito espiritual, “ver” também significa olhar as coisas de maneira profunda com a finalidade de descobrir sua essência (ver Licutê Moharan I, 1:2-4). Sem uma boa “visão”, somos incapazes de perceber a presença de Deus a nossa volta.
Em nossa vida cotidiana, devemos ter cuidado para que nossos olhos não enxerguem apenas o que queremos ver, em contraposição ao que de fato existe. Interesses velados podem distorcer com facilidade a percepção, como indica a seguinte injunção da Torá (Êxodo 23:8; Deuteronômio 16:19): “Não tomarás suborno. O suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos.” Quando a faculdade de julgamento é turvada por motivos escusos, perdemos a capacidade de discernir entre o bem e o mal, entre “absolver o inocente e condenar o culpado” (Deuteronômio 25:1). Mesmo os justos correm o risco de ter suas “palavras pervertidas”. E se até os sábios, que possuem uma visão aguçada, podem errar na definição do que vêem, com certeza quem tem uma visão espiritual fraca deve ser especialmente cauteloso (ver Licutê Moharan I, 54:5).
A boa visão corresponde a um grau expandido de consciência, conhecimento e intelecto (ver Licutê Moharan I, 74:1). Em termos cabalísticos, os olhos são uma extensão do hemisfério direito do cérebro, que é associado à sefirá de Chochmá (ver Licutê Moharan II, 40:1). Portanto, devemos perguntar-nos: “Como usamos os nossos olhos?” Enxergamos a essência real do que vemos, ou julgamos as coisas pela aparência externa? (Lembre-se de que Chochmá écôach má, a essência da coisa; ver acima, capítulos 14 e 17.) De que maneira podemos alcançar esse “nível puro de Chochmá”, o foco e a concentração que nos habilitarão a perceber a essência íntima das coisas?
Quando os olhos se fixam num objeto, as pupilas se dilatam ou se contraem para regular a quantidade de luz que penetra. Esse movimento de dilatação e contração possibilita que os olhos funcionem adequadamente, sem causar danos à retina. De modo semelhante, quando saímos em busca de uma sabedoria espiritual profunda, é prudente que no começo nos limitemos a um nível mais baixo de intelecto. Nas etapas iniciais, convém que nos concentremos nos resultados parciais e não nos objetivos finais, para que o intelecto se “dilate e contraia” de forma natural e possa gradativamente atingir níveis mais elevados (ver Licutê Moharan I, 30:3).
O Rebe Nachman ensinou (Licutê Moharan I, 254; ib. 65:3):
Os olhos defrontam-se constantemente com visões deslumbrantes. Se purificassem seus olhos, as pessoas seriam capazes de ver muitas coisas magníficas apenas com base no que enxergam com a vista. Porém, as coisas passam diante dos olhos com tamanha rapidez que não há tempo para que eles se fixem nelas e apreendam tudo que vêem… No entanto, quem é digno pode alcançar um nível mais elevado de visão e tornar-se capaz de vislumbrar maravilhas de extraordinária beleza em toda parte. Como os olhos da maioria das pessoas não são puros, eles não formam o foco de modo adequado e são impedidos de perceber essas visões esplêndidas e admiráveis.
O Rebe Nachman refere-se aqui às visões que são descortinadas pelo olho da mente. Estas visões magníficas não estão reservadas apenas para ostsadikim, que purificaram seus sentidos e atingiram os níveis mais altos de consciência. Na verdade, elas estão sempre presentes em nossa vida, quando estamos acordados e quando dormimos. Os tsadikim conseguem prestar atenção a tudo que acontece porque eles purificaram e afinaram seus sentidos, de modo que podem perceber as coisas num comprimento de onda diferente. Por conseguinte, eles sabem “selecionar o canal” quando uma imagem poderosa ou um bom pensamento lhes vem à mente. Desta maneira, são capazes de “ver” e compreender o que passa diante do olho de sua mente antes que a visão se vá.
Os grandes tsadikim eram tão hábeis nisso – seus olhos eram tão puros – que, para onde quer que olhassem, enxergavam coisas fascinantes e entendiam verdades profundas. Como veremos, em muitos casos eles abriam os olhos para grandes verdades justamente quando os fechavam!

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