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Sylvia Schwartz e as canções contra o pesadelo nazista

Sylvia Schwartz e as canções contra o pesadelo nazistaSylvia Schwartz, neta de um diplomata espanhol que, tal como o português Aristides de Sousa Mendes, salvou centenas de judeus, reaviva a memória dos campos de extermínio no ciclo Bailando sobre o Vulcão

Neta de Juan Schwartz Díaz-Flores, que foi embaixador de Espanha em Viena durante os anos do horror nazista e salvou do extermínio centenas de judeus, a soprano Sylvia Schwartz dá agora voz a canções de embalar que as vítimas do Holocausto cantavam no campo de Terezin (atual República Checa) para aliviar a espera da morte. Obras que deram origem agora ao ciclo Bailando sobre o Vulcão, que ontem à noite se estreou no Auditório Sony da Fundação Albéniz, em Madrid. Um espetáculo dirigido por Gustavo Tambascio, com textos de Juan Mayorga e a participação da atriz Blanca Portillo.

Em declarações ao jornal El País, Sylvia Schwartz recordou a figura inspiradora do seu avô, que tem uma história a fazer lembrar a do embaixador português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes: "À porta do consulado formavam-se filas que davam a volta ao quarteirão. O meu avô, tal como alguns dos seus colegas diplomatas, aproveitou-se de um decreto obsoleto para poder emitir passaportes espanhóis a judeus sefarditas, e, na realidade, a qualquer judeu que lhe aparecesse à porta."

No espetáculo, a sua voz vai impor-se nas canções que embalavam a morte. A soprano admitiu que ainda hoje sente o impacto emocional de cada vez que vai a Viena de Áustria. "Quanto estou em Viena leio nomes no solo de famílias mortas na totalidade em Auschwitz. Já conhecia estas evocações comemorativas das ruas de Berlim. Sempre me fizeram questionar qual dos seus vizinhos os denunciaram, ou então imaginava-os tranquilos, seguros, saindo da porta de casa com um cesto de compras e uma criança pela mão, iludidos, alegres, iguais aos demais. Na minha imaginação, quando eu cantar não vão ter estrelas amarelas sobre o casaco". Sylvia sente-se cercada por sombras quando mergulha no reportório de músicas que se cantavam e tocavam em campos como o de Terezin. Obras de reclusos como Pavel Haas, Viktor Ullmann, Hans Krása, Adolf Strauss, notas que a soprano entoa neste espetáculo como uma forma de exorcismo.

"Emitiam vários passaportes com o mesmo número para assim poder salvar muitas mais vidas do que as permitidas. E depois rezavam para que as patrulhas das SS não pedissem os papéis a dois deles que tivessem o mesmo número."

Na realidade as pessoas faziam qualquer coisa para salvar a vida. "Uma senhora quis dar umas joias ao meu avô, esperando dessa forma conseguir o cobiçado passaporte espanhol. Podemos todos imaginar e dar nome ao que sentiam. Medo, raiva, tristeza, desespero, humilhação. Mas não é só isto o que se extrai desta música", avisa a soprano. Também evocam "a valentia e a vida, que seguem em frente".

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