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Coisas Judaicas e o Fuagrá

Coisas Judaicas e o FuagráO “Fuagrá” – Temas de Kashrut


Pelo Rabino Ben Avraham Nissan


Nas leis da “dieta judaica”, há uma seção muito importante que é importante conhecer. Quando um animal é atacado por uma fera no campo, não se pode comer este animal, pois a Torá, no livro de Shemot diz “Não comereis a carne de um animal despedaçado por uma fera no campo; vós a deitareis aos cães” .

O Maimônides explica que não se trata de um animal que morreu por causa do ataque, uma vez que, neste caso, é claro que é proibido comê-lo, uma vez que este não foi devidamente abatido. Assim sendo, este verso refere-se a situação de que a fera causou ferimentos fatais no outro animal.

Essas feridas são aquelas que, de acordo com a tradição oral dos nossos sábios, levam a entender que o animal ferido não viverá, como o verso diz “vós a deitareis aos cães”, ou seja, que não tem chances de continuar a viver. E desta forma mesmo que o animal seja abatido corretamente antes de morrer, será proibido comer desta carne.

O Maimônides continua explicando que tanto o animal morto quanto aquele que está gravemente ferido, são proibidos, e que animal morto, não importa se morreu de causas naturais ou afogado, ou atacado por outro animal, assim como não há diferença entre um animal que está em perigo de morte por causa de um ataque feroz, ou por ter caído e quebrado a costela, ou por uma doença, etc. Em todos estes casos, é proibido comer a carne deste animal que foi gravemente ferido por uma fera. E, sendo que a Torá usa a palavra “eviscerado” (“Taref” em hebraico, ou “Trifá”, de acordo com os documentos catalães transcritos na Idade Média) é pelo fato de este costumar ser uma situação mais comum.

Mais adiante, nas leis do abate 5:2 e 10:9, é estabelecida uma lista de 70 tipos diferentes de feridas ou doenças que tornam a carne do anima “Taref”, gerados por oito situações gerais: pisado, furado, deficiente, privado, cortado, esgarrado, caído e quebrado. E dos capítulos 5 ao 10 é explicado as leis para cada um destes casos.

E nós sabemos que para poder comer a carne de aves e de mamíferos permitidos, é necessário matá-los antes. E enquanto este abate não for feito corretamente, está proibido comê-los, como se tivessem morrido de morte natural, e esta carne é chamada de ‘Nevelá’ (que significa “corpo”). Mas no vocabulário comum, ambos os termos são confundidos, e “nevelá” e “Taref” são usados com o mesmo sentido, indiferentemente.

Vimos que um destes casos é o animal ‘furado’, que inclui uma série de componentes internos caso o animal tenha um buraco, mesmo que pequeno, uma vez que não se poderia comer a carne deste animal. O Maimônides explica que quando o buraco é no esôfago, no lugar onde deveria ser abatido, o animal é considerado ‘nevelá’, e se for um pouco acima ou abaixo, este é considerado ‘Taref’. No entanto, vimos que os dois termos são usados indiscriminadamente, de modo que qualquer buraco em todo o sistema digestivo, desde a boca até o final do intestino, será considerado “Taref”.

No Talmud vemos a explicação que quando é encontrado um pedaço de azeitona ou de tâmara que tem uma extremidade pontuda no animal, e mais ainda quando é encontrada uma agulha em um lugar onde possa ter passado perfurando o intestino, ou o esófago, ou o estômago, é preciso verificar se existe qualquer furo, e, em certos casos, se houver uma gota de sangue, devemos suspeitar que existe um buraco que não pode ser visto.

E agora analisemos o que acontece quando nós alteramos a alimentação dos animais, engordando-os artificialmente, a fim de produzir o famoso “fuagrá”, ou “fígado gordo”.

Dizem que a técnica de dar comida aos patos e gansos vem dos antigos egípcios que descobriram que, quando essas aves migratórias do Delta do Nilo se preparam para sua viagens migratórias, seus fígados crescem de maneira substancial. Logo então desenvolveram o método de “engordá-los” também fora desta época, e assim se costumava fazer na necrópole de Mênfis, um baixo-relevo onde os escravos se ocupavam de engordar os gansos. Os romanos apreciavam muito este “fígado gordo”, principalmente de gansos amarelados, mas com a queda do Império Romano parece que tanto quanto o gosto, quanto a técnica, pelo fuagrá desapareceram.

Na verdade, os judeus mantiveram a técnica e o gosto por esses fígados na Europa Central e Oriental, de acordo com testemunhos do ano de 1562, mais ainda sobre a facilidade com que os judeus mais pobres tinham de conseguir esta comida a um bom preço.

Mas, nesse momento começou uma controvérsia rabínica sobre o fato de os gansos e patos serem “engordados”, pois estes ficavam de uma certa maneira “doentes” e não havia escolha a não ser matar os pássaros logo após serem engordados, antes que morram como resultado deste processo..

A técnica envolve inserir um tubo no bico da ave até atingir o local no qual a comida não pode entrar, voluntariamente. Este tubo muitas vezes pode danificar o esôfago, quando não se toma bastante cuidado, na hora de introduzi-lo. A comida que entra também pode causar ferimentos. Hoje, o problema é muito mais grave pois a máquina que inseri o tubo, em muitos casos, pode perfurar o esôfago sem que percebamos.

Uma ferida lá, como vimos, é muito problemática, e assim sendo, somente alguns rabinos ashkenazitas permitirem este processo, enquanto a grande maioria dos rabinos ashkenazitas e praticamente todos os rabinos sefaraditas, o proibem.

Vemos, assim, a halachá em dois problemas principais: em primeiro lugar, os danos no esôfago, e em segundo lugar, a vida de “quase-morte” dos animais engordados. A isso podemos acrescentar a dor que estes pássaros podem sentir. Para todos estes problemas podem ser encontradas desculpas, mas estas serão apenas isso: desculpas.

Portanto, os rabinos decretaram, já há muitos anos, que não se deve comer o “fuagrá”, e sua produção foi proibida em Israel em 2005, apesar de algumas melhorias terem sido feitas no processo, como o fato de agora utilizarem um tubo muito mais curto e um alimento mais suave. A controvérsia não foi encerrada e enquanto algumas autoridades dão o certificado de “Kasher” para o “fuagrá”, estes não recebem o certificado de excelência “Mehadrin”.

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