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Entregar Gaza aos palestinos não trouxe paz

Entregar Gaza aos palestinos não trouxe paz
Ex-moradora da colônia de Netzarim, na Faixa de Gaza, caminha com os filhos em
 Beni Netzarim, no Deserto de Negev israelense. Foto: Menahem Kahana/AFP
Paz ainda está distante 10 anos após saída de Israel de Gaza.

Em 16 de agosto de 2005, após um mês de planejamento, o exército israelense começou a executar o plano do governo de Ariel Sharon de desocupar a Faixa.
Khan Yunis (Territórios palestinos) - Dez anos após a retirada de Israel, o fim da ocupação em Gaza ainda provoca revolta entre os colonos israelenses e um debate sem-fim sobre as consequências da saída do Estado hebreu.

Para os habitantes de Gaza, este período iniciado em 15 de agosto de 2005, também não foi fácil. Sofreram guerras e violência, além de um bloqueio constante de Israel e semipermanente do Egito, com o consequente colapso econômico.

Naquele dia, após um mês de planejamento, o exército israelense começou a executar o plano do governo de Ariel Sharon de desocupar a Faixa. Primeiro as evacuações foram voluntárias, mas depois a maioria dos 8 mil colonos que ocupavam os territórios foram retirados à força.

As imagens dos colonos chorando por ter que abandonar suas casas, de soldados que derramavam lágrimas enquanto os expulsavam após 28 anos ocupando estas terras, em meio às escavadeiras que destruíam suas moradias, ficaram gravadas na memória coletiva dos israelenses.

Efrat Luzon, mãe de 10 crianças, ainda sente raiva quando lembra do que ocorreu. Ela e sua família foram "expulsos sem nenhum propósito, sem nenhuma preparação", afirma a partir de sua casa de Neta, um povoado localizado no deserto do Neguev, que foi criado em 2012 para acolhê-los após sua saída de Gaza.

Em meio a um período tenso, no qual se somaram a pressão diplomática e a segunda Intifada, Sharon defendeu um plano que foi muito polêmico em Israel. O ex-primeiro-ministro justificou sua decisão pela necessidade de proteger os colonos diante dos constantes ataques dos palestinos e da necessidade de mobilizar soldados em outras partes do território, além do alto custo de manter estas posições. 

Psicodrama

Para Sharon era um gesto unilateral, já que afirmava que não havia uma contraparte palestina para negociar a paz. Neste sentido, Jarim Bitar, especialista em Oriente Médio, afirma que Sharon queria mostrar, mediante o "psicodrama da evacuação", que nunca seria possível retirar os milhares de colonos dos territórios ocupados da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.

Como admitiu inclusive o principal conselheiro de Sharon, Dov Weisglass, esta retirada buscou congelar indefinidamente o processo de paz e matar o gérmen de qualquer possibilidade de que exista um Estado para os palestinos, afirma o especialista.

Na retirada, Israel destruiu tudo. Não restaram mais que alguns edifícios de pé, entre eles o da câmara de Gush Katif, que agora abriga a Universidade de Al-Aqsa de Khan Yunes. Nos arredores, as árvores crescem nas zonas onde antes os colonos viviam entrincheirados, conta Abderaahman al Najar.

Milhares de palestinos se instalaram na região. Após a retirada, os islamitas do Hamas, inimigos declarados de Israel, venceram as legislativas em 2006 e tomaram o controle da Faixa em 2007, provocando um conflito entre os palestinos, que quase se tornou uma guerra civil.

Ocorreram três guerras, separadas por períodos onde havia uma tensão permanente e episódios de violência. Em 2006 o sequestro do soldado israelense Gilad  Shalit pelo Hamas manteve Israel em um estado de angústia até sua libertação cinco anos mais tarde.

Acesso de loucura

Em relação às intenções reais de Sharon, resta a incerteza depois que sofreu um ataque em 2006, que o deixou em coma por vários anos até sua morte, em 2014. Dez anos depois, a ocupação e a colonização seguem em outros territórios palestinos e a paz ainda parece muito distante.

Para o atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a retirada de Gaza, de onde foguetes continuam sendo lançados contra Israel e onde segue latente o risco de que uma nova guerra ocorra, é uma mostra do que aconteceria se os territórios ocupados da Cisjordânia fossem abandonados. Netanyahu, na época ministro de Sharon, renunciou por sua oposição ao fim da ocupação.

"A retirada foi um acesso de loucura, um caso de epilepsia espiritual e um amargo fracasso", afirma Dror Arié, deslocado a Neta. Este professor de 40 anos tem 11 filhos e defende que é possível voltar a sua terra depois de 2.000 anos de exílio, não há nenhuma razão para não voltarmos a Gaza".

Segundo uma pesquisa publicada no fim de julho, 51% dos judeus israelenses são favoráveis à reconstrução de Gush Katif, mas segundo o analista do International Crisis Group Nathan Thrall, não há uma intenção política de voltar.

Nenhum membro da classe política "quer voltar à Faixa de Gaza. Todos estão mais felizes de ter saído dali. O próprio exército afirma que não tem nem os meios, nem a vontade de voltar à ocupação".

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