
A questão que mais se destaca é a crise de confiança entre Israel e os Estados Unidos. Mas há outros pontos, como as acusações dos palestinos no âmbito do direito internacional, o acordo nuclear com o Irã e as tensões com a Europa pela colonização na Cisjordânia.
A reeleição de Netanyahu, que busca o terceiro mandato consecutivo contra uma coalizão de centro-esquerda liderada pelo trabalhista Isaac Herzog, poderia resultar em mais dificuldades nesses temas, avaliam os especialistas.
A relação entre Netanyahu e Barack Obama, que já não era das melhores, piorou com o discurso do governante israelense no Congresso dos EUA. Na semana passada, o primeiro-ministro criticou o acordo entre as grandes potências e o governo iraniano no tocante ao programa nuclear do segundo.
"O preço que [Netanyahu] vai ter de pagar por expressar publicamente estas críticas e entrar no debate público é a perda de influência nas [reuniões] a portas fechadas", destaca Yigal Palmor, ex-porta-voz do Ministério de Relações Exteriores.
"Se Netanyahu permanecer no posto, será particularmente difícil para ele coordenar a diplomacia com os EUA", considera Eytan Gilboa. "E não apenas no que se refere ao Irã, mas também em todos os temas que o governo dos Estados Unidos costuma apoiar os israelenses", afirma Gilboa, consultor com especialização nas relações entre EUA e Israel, na Universidade Bar Ilan, próxima a Tel Aviv.
Entre os temas, figuram ações unilaterais para o reconhecimento do Estado Palestino por parte das Nações Unidas, bem como as reclamações que os palestinos pensam em apresentar contra Israel diante da Corte Penal Internacional.
Independentemente de quem for eleito, será preciso articular relações entre Israel e a União Europeia, seu principal parceiro comercial. A chefe da diplomacia na UE deseja passar a ter um papel mais ativo em relação a uma solução para o conflito palestino-israelense.
O bloco europeu começou a anular as isenções fiscais sobre certos produtos israelenses fabricados nos assentamentos de judeus ultraortodoxos na Cisjordânia, mas já anunciou que pretende mencionar a origem dos demais. Tais medidas vão demorar, dada a complexidade, mas também em função da iminência das eleições em Israel.
"Os europeus não querem dar a impressão de que estão interferindo no processo eleitoral", explica Sharon Padro, diretor do Centro de Estudos da Política Europeia da Universidade Ben Gurion, em Beer-Sheva. "As relações com a Europa serão reforçadas com uma mudança no governo".
"Se o próximo governo for composto de elementos que a Europa considera mais moderados, veremos menos precipitação por parte dos europeus [neste assunto] e mais vontade de manter contato com o [novo] governo".
O assunto mais espinhoso será, sem dúvida, as reuniões de paz com os palestinos, que fracassaram em abril de 2014.
"Pouco importa o nome do próximo chefe de governo, ele terá de aguentar a pressão da comunidade internacional para retomar as negociações", opina Dore Gold, ex-embaixador de Israel nas Nações Unidas. Ele foi conselheiro de Netanyahu sobre política exterior até o último mês de janeiro.
Enquanto Herzog indicou que a União Sionista tentaria retomar o processo de paz com a ajuda de aliados moderados na região, Netanyahu já deixou claro que não é o momento propício fazer concessões territoriais.
Segundo Palmor, mesmo que não sejam reiniciadas as negociações, Israel terá de se esforçar para reduzir as tensões com os palestinos.
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