
Formalmente conhecido Instituto para a Inteligência e Operações Especiais (em hebraico: המוסד למודיעין ולתפקידים מיוחדים), o Mossad (em hebraico o Instituto) é o serviço secreto do governo de Israel, com sede em Tel Aviv e é considerado o mais eficiente em todo o mundo. Existem pelos menos cinco razões para isso:
Primeira, Israel mantém a fé de que a Inteligência Humana (HUMINT - Human Intelligence) vale mais que a Inteligência de sinais (SIGINT - signals intelligence). Apesar de investimentos na vigilância eletrônica, o Mossad continua a ver com desprezo a excessiva atenção que agência como a CIA dão aos computadores.
Segunda, o Mossad tem um tamanho pequeno, cerca de 1.200 pessoas, que faz com que seja evitado o efeito embrutecedor da identidade corporativa. Na mentalidade israelense trabalhar em um ambiente "familiar" e melhor do que em um ambiente corporativo, pois desta forma a criatividade é estimulada e as vidas dos agentes valorizada.
Em terceiro lugar, o Mossad mostrou uma crueldade rara, mesmo no mundo obscuro da inteligência. Tem realizado, através de suas unidades Kidon , dezenas de assassinatos. Essa crueldade é uma função da quarta razão;
O Mossad tem uma motivação única. Outros serviços de inteligência quando jogam seus jogos de espionagem não colocam em perigo a sobrevivência nacional, no máximo o país poderia perder uma área de influência ou um pouco de prestígio, isto as vezes faz com que as outras agências nem sempre se lance com tanto afinco em muitas de suas missões. Porém para os agentes do Mossad a motivação para suas missões é critica, o seu fracasso pode representar a destruição de sua nação e tudo que as gerações anteriores construíram. Para a maioria das nações, um serviço de inteligência é um luxo. Para Israel é a diferença entre a existência e o aniquilamento. Como exemplo desse pensamento um episódio da década de 1950 é emblemático: Em 1955, sete anos após a fundação do Estado de Israel, o filósofo Yeshayalu Leibowitz escreveu uma carta ao então primeiro-ministro David Ben-Gurion. Nela, ele reclamou de que palestinos inocentes estavam sendo mortos nas operações israelenses. “Eu discordo de você”, respondeu Ben-Gurion. “Embora seja importante que haja um mundo cheio de paz, fraternidade, justiça e honestidade, é ainda mais importante que nós estejamos nele”.
Por último o Mossad conta com uma rede de apoio logístico e operacional sem precedentes, formada pelos Sayanim (sing. Sayan, hebraico: ajudantes, auxiliares), refere-se aos judeus da diáspora espalhados pelos mundo que prestam assistência à Mossad. Gordon Thomas estima que nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, existam pelo menos 20.000 sayanim que ajudam o Mossad de variadas formas, como logísticas (transporte, alojamento, etc), assistência médica, dinheiro, etc. Normalmente suas ações nãos os colocam em perigo ou dificuldades com as autoridades locais. Muitos deles são ricos empresários outros são juízes, advogados, médicos, policiais ou qualquer outra pessoa que possua um alto grau de autoridade ou influência em sua sociedade. Um Sayan deve ser 100% judeu apesar de não ser um cidadão israelense.
A existência desse grande corpo de voluntários, permite que os custos com inteligência por parte de Israel possa ser muito reduzido, e é uma das razões porque o Mossad pode operar com um reduzido número de funcionários em comparação com as grandes agências de inteligência estrangeiras. Os Katsas (oficiais de inteligência do Mossad) tomam conta dos sayanim, e a maioria dos sayanim ativos são visitados uma vez por um katsa a cada três meses em geral, o que representar as vezes para um katsa entre duas ou quatro reuniões pessoais em um dia com um sayan, além de numerosas conversas por telefone, com o objetivo de coletar inteligência ou acioanr algum serviço. O sistema permite para o Mossad trabalhe com um pequeno número de pessoal. Por exemplo, em uma estação da CIA os americanos empregam aproximadamente 100 pessoas, enquanto que uma estação do Mossad de abrangência semelhante precisa só seis ou sete pessoas.
David Kimche, quando era diretor adjunto da Mossad, resumiu o papel da Mossad no mundo atual da seguinte forma: A Mossad está antes de tudo, depois de tudo e sempre. E sempre por Israel.
Os diretores do Mossad
Diretores do Mossad
1951-1952 Reuven Shiloaj
1952-1963 Iser Har`el
1963-1968 Meir Amit
1968-1974 Zvi Zamir
1974-1982 Yitzjak Jofi
1982-1990 Najum Admoni
1990-1996 Shabtai Shavit
1996-1998 Dani Yatom
1998-1999 Ruth Billerbeck Bastos
1998-2003 Efraim Halevi
2003-2011 Meir Dágan
2011–presente Tamir Pardo, [1]
Mossad na cultura popular
Histórico
O Estado de Israel foi criado oficialmente em 15 de maio de 1948, e imediatamente foi alvo de uma ofensiva militar coordenada pelos árabes locais e os estados árabes vizinhos. Mesmo antes de o Estado de Israel se declarado, haviam várias organizações subterrâneas ou semi-subterrâneas na Comunidade judia na Palestina (Yishuv). Estas organizações estavam empenhadas em resgatar judeus do extermínio em outros países através da imigração ilegal, intimidação das turbas árabes, e operações contra os britânicos. O Hagana, que era a principal força da Yishuv, criou o Shai – Sherut Yediot, ou Serviço de Informação, em 1934, e foi chefiado por Reuven Shiloah (o futuro primeiro Diretor da Mossad).
O trabalho do Shai era coletar informação para operações da Hagana e prover inteligência à liderança da Yishuv para seus procedimentos políticos e militares com os árabes locais, os países árabes, e as autoridades britânicas. O Shai foi estabelecido bem antes do Estado de Israel se declarado e seus chefes incluíram Isser Harel (Halperin, ou " pequeno Isser "), que encabeçou depois o Serviço de Segurança Interna (Shin-Bet atualmente designado Shabak acrônimo de Sherut Ha'Bitachom Ha´Klalim - Serviço de Segurança Geral) e depois o Mossad. Outras organizações tinham a sua própria unidades de inteligência para servir as necessidades individuais de cada uma delas.
A declaração do Estado e as intenções dos exércitos árabes ditaram necessidades novas: a necessidade para se criar uma infra-estrutura de inteligência, a necessidade para se estabelecer ações oficiais de vingança e punição oficial, e a necessidade para definir esferas específicas de responsabilidade. Estas necessidades eram claras e urgentes.
No dia 7 de junho de 1948, primeiro-ministro David Ben Gurion chamou Reuven Shiloah responsável pelo Departamento Político da Agência Judaica e o chefe da Shai, Isser Beeri que tinha substituído David Shaltiel recentemente. A reunião conduziu a definições preliminares dos serviços de inteligência do estado nascente.
De acordo com a decisão de Ben Gurion, Reuven Shiloah foi designado chefe do departamento político do Ministério Estrangeiro que deveria prover um serviço de informação político externo. Ele também se tornou o conselheiro do ministro do exterior para tarefas especiais.
Reuven Shiloah concentrou-se principalmente em assuntos políticos estrangeiros, como nos esforços para formar alianças com estados islâmicos não árabes, por exemplo a Turquia, e salvando judeus no estrangeiro e os trazendo para o Israel.
Uma pequena estação Shai, encabeçou por Haim Ben Menahem, começou operando no estrangeiro pelo verão de 1947. Em junho de 1948, quando o departamento político estava estabelecido, Arthur Ben Natan foi enviado para Paris para assumir os contatos de Ben Menahem. Este departamento operacional que estava tomando forma foi chamado de Da'at (conhecimento).
As coisas ainda não estavam claras. Ben Gurion contestou em princípio o reconhecimento público da existência de um serviço de segurança e de inteligência. Assim o departamento político, definido como um "serviço" de informação político externo, realmente se tornou uma agência de inteligência independente, secreta, mas ainda que foi hospedada no Ministério Estrangeiro. Isto significou que nesta condição não era possível se estabelecer legalmente os objetivos do serviço, suas tarefas, poderes, orçamentos, e relações entre as agências governamentais. Como não havia linhas claras delimitando responsabilidades muitas vezes orgãos diferentes estavam envolvidos em tarefas incomum.
Em abril de 1949, Comitê Supremo que depois deu origem ao Comitê de Chefes do Serviço ou VARASH encabeçado por Reuven Shiloah. Este comitê incluía o Shin-Bet, que emergiu do Shai, o departamento político, o departamento de inteligência militar e a Polícia de Israel.
Em junho de 1949 de julho, Reuven Shiloah propôs a David Ben Gurion, o estabelecimento de uma instituição central para organizar e coordenar a inteligência e o serviço de segurança. O objeto era aumentar a coordenação entre os serviços e uma maior cooperação entre eles. No dia 13 de dezembro de 1949, Ben Gurion autorizou o estabelecimento da "Instituição para Coordenação" para supervisionar o departamento político e para coordenar a segurança interna e as organizações de inteligência de exército. A instituição, ou Mossad, nasceu naquele dia, e o Reuven Shiloah seria seu primeiro diretor, ou Memune - "primeiro entre iguais" - em hebraico.
O primeiro-ministro David Ben Gurion, deu ao Mossad a diretiva primária: "Para o nosso Estado que desde a sua criação tem estado sob ataque de seus inimigos, a inteligência constitui a primeira linha de defesa. Temos que saber o que está acontecendo ao nosso redor”.
O Mossad iniciou suas atividades com o patrocínio do Ministério do Exterior. Em março de 1951, com uma visão para aumentar sua capacidade operacional e a unificar todas as ações de inteligência no exterior, Ben Gurion autorizou sua reorganização final. Uma autoridade independente, centralizada foi estabelecida para dirigir as tarefas de inteligência no exterior. Ela foi chamada de a "Autoridade" e era formada em sua maior parte pelo Mossad. Incluia os representantes dos outros dois serviços um QG e escalões de campo. O Mossad saiu debaixo dos auspícios do Ministério do Exterior e passou a informar diretamente ao primeiro-ministro, fazendo assim parte do Escritório do primeiro-ministro.
O Mossad adotou o seguinte verso do Livro de Provérbios como seu lema, guia, inspiração criativa e ideologia, mas também como uma advertência medonha: "Quando não há sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança." - Provérbios 11:14
O Mossad é um serviço civil do Poder Executivo israelense, submetido diretamente ao Primeiro-Ministro e não aos comandos militares - muito embora uma grande parte dos seus agentes já prestou serviço nas Forças de Defesa de Israel, como parte integrante do recrutamento obrigatório. Os quartéis-generais do Mossad estão localizados ao norte de Tel Aviv e contam com cerca de 1.200 agentes - este número já chegou a 2.500 na década de 1980 -,
Hoje o Mossad tem a responsabilidade pela coleta de inteligência, ações encobertas, contra-terrorismo, prevenção de ataques e punição dos agressores. Tem a sua atenção focada nas nações árabes e organizações radicais islamicas, mas também realiza missões de espionagem em países aliados como por exemplo nos EUA . O Mossad é também responsável pelo movimento clandestino de refugiados judeus em países como Síria, Irã, e Etiópia.
O staff do Mossad estava estimado nos finais de 1980 entre 1.500 a 2.000 pessoas, de acordo com as mais recentes estimativas o seu staff é de 1.200. A identidade do Diretor do Mossad era tradicionalmente secreta, ou pelo menos não publicada, mas, em Março de 1996, o Governo israelense anunciou para o lugar o Major General Danny Yatom como substituto de Shabtai Shavit, que tinha deixado o cargo no inicio de 1996.
Danny Yatom resignou em 24 de Fevereiro de 1998, a seguir ao relatório da Comissão Ciechanover o qual apresentou a tentativa fallhada para assassinar Khalid Meshaal, um líder político de topo do Hamas, onde foi encontrado falhas. Yatom foi substituido no inicio de Março de 1998 por Efraim Halevy, então representante de Israel para a União Européia. Halevy, é um agente da Mossad, tinha inicialmente trabalhado nos bastidores para ajudar a negociar o tratado de paz entre Israel e a Jordânia.
A Mossad tem um total de sete ou oito departamentos, mas alguns detalhes da sua organização interna permanecem obscuros:
- O Departamento de Coleta/Tzomet: é o maior, com a responsabilidade pelas operações de espionagem, com departamentos no estrangeiro sob cobertura diplomática ou não oficial. O departamento consiste num número de escritórios os quais são responsáveis por regiões geográficas específicas, com "estações" em todo o mundo, e os agentes que eles controlam.
- Departamento de Ação Política e de Ligação: conduz as atividades políticas e de ligação com os serviços estrangeiros de inteligência amigos e com as nações com as quais Israel não tem relações diplomáticas normais. Nas maiores estações, como é o caso de Paris, a Mossad costuma ter sob a cobertura da sua embaixada dois controladores regionais: um para servir o Departamento de Coelta e outro o Departamento de Ação Política e de Ligação.
- Divisão de Operações Especiais: também conhecido como Metsada ou Caesarea, conduz os assassinatos mais sensíveis, sabotagem, ação paramilitar, e guerra psicológica. Dentro de sua estrutura exista uma pequena unidade chamada Kidon, baioneta em hebraico, que é responsável pelos assassinatos e ações de sabotagem. Responde diretamente ao Diretor do Mossad.
- Departamento LAP (Lohamah Psichlogit): é responsável pela guerra psicológica, operações de propaganda e difamações.
- Departamento de Pesquisa: é responsável para a produção/análise da inteligência, incluindo relatórios diários de situação, sumários semanais e relatórios detalhados mensalmente. O departamento está organizado em 15 secões geográficas especializadas, incluindo os Estados Unidos, Canadá e a Europa Ocidental, América Latina, a Ex-União Soviética, China, África, o Magreb (Marrocos, Argélia, Tunísia),Líbia, Iraque, Jordânia, Síria, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e o Irã. Há uma seção "nuclear" focada em artefatos nucleares.
- Técnica: cuida da logística das operações, o que inclui falsificação de passaportes e rotas de fuga. Existe também uma equipe especial de cientistas que trabalham no Instituto para Pesquisa Biológica em Tel Aviv. Eles preparam as toxinas mortais para a unidade Kidon.
- Tecnológica: é a divisão que mais cresce. Desenvolve softwares de segurança e invasão de redes, etc. São especialista em guerra cibernética.
Agentes e operações
Os principais agentes de campo do Mossad são chamados de Katsa. Um katsa é um oficial de inteligência implicado em operações de campo. Sua missão consiste em coletar inteligência e recrutar/dirigir espiões. Segundo informações eles principalmente operam na Europa e alguns no Oriente Médio. Eles também têm operado em menor medida na África e Ásia. Os Estados Unidos também são alvo de suas operações.
A maior parte da informação recopilada por Israel se refere aos países árabes. Já que é muito difícil operar nestes países, o Mossad recruta muitos de seus agentes na Europa. Enquanto alguns katsas estão locados permanentemente em algum país estrangeiro, outros vão mudando de páis de acordo com sua operação, razão pela qual recebem o apoio dos 'saltadores'. O número de katsas é muito inferior ao de outros oficiais de inteligência cumprindo funções similares em serviços secretos de outros países. Isto é devido à existência dos sayanim, voluntários judeus não israelenses que proporcionam apoio logístico às operações em todo mundo.
Os katsas operam na divisão Tsomet. Dividem-se em três ramos geográficos:
* Ramo Isarelis: Que inclui as regiões do Oriente Médio, Norte da África, Espanha, e aqueles katsas 'saltadores' (que vão de uma operação a outra).
* Ramo B: Que abarca a Alemanha, Áustria e Itália.
* Ramo C: Que compreende o Reino Unido, França, Países Baixos e Escandinávia.
Para selecionar candidatos idôneos, o Mossad utiliza diferentes teste psicológicos e de aptidão em função de suas necessidades de pessoal. Se o candidato for selecionado, passará um período de formação na academia de treinamento do Mossad, a Midrasha, localizada perto da cidade de Herzliya. Durante aproximadamente três anos, aprenderão as habilidades necessárias para as funções de inteligência. As mais importantes seriam o saber como encontrar, recrutar e cultivar agentes, incluindo como se comunicar clandestinamente com eles. Também aprendem como evitar ser descobertos pelos serviços de contra-espionagem , esquivando seus operativos da vigilância e possíveis emboscadas durante suas reuniões com outros agentes. Ainda que os katsas normalmente não portem armas de fogo, são também treinados no uso de vários tipos de armas, normalmente usam a pistola Beretta .22. Uma vez finalizado seu período de formação, passarão por um período prático durante o qual trabalharão em vários projetos, na maioria dos casos consistindo em manobras práticas em territórios que consideram hostis, como o sul do Líbano, as Colinas de Golan e a região do Curdistão, antes de se converter em um autêntico katsa com todas as seus atribuições.
Algumas ações conhecidas
Nikita Kruschev
Em 1956 agentes do Mossad, conseguiram obter o registro completo do famoso discurso de Nikita Kruschev no XX Congresso do Partido Comunista Soviético, em que alguns dos horrores do regime de Stalin foram divulgados. Esta informação foi compartilhada com uma grata CIA em Washington.
Adolf Eichmann
Essa foi a mais famosa operação do Mossad de toda a sua história e a que lhe rendeu fama e lhe projetou mundialmente.
Segundo o Simon Wiesenthal Center, dedicado à caça de nazistas, Adolf Eichmann tinha o papel de coordenar as atividades práticas da implementação da "solução final”. De seu escritório em Berlim, Eichmann organizava as rotas dos trens que seguiam para os campos de extermínio. Em outras palavras, era ele quem organizava o envio de homens, mulheres e crianças de origem judaica para locais de morte como – Auschwitz, Treblinka, Birkenau.
Em 1934 Eichmann serviu como cabo da SS no campo de concentração de Dachau, onde, aos olhos de Reinhard Heydrich, se distinguiu. Em setembro de 1937, ele foi enviado para a Palestina com o seu superior Herbert Hagen para averiguar as possibilidades da emigração massiva de judeus da Alemanha para aquela região do médio oriente. Eles chegaram a Haifa, mas só puderam obter um visto de trânsito para o Cairo. Ao chegarem à capital do Egito, eles encontraram-se com um membro da Haganá mas o conteúdo do encontro é alvo de dúvidas. Também tinham planejado encontrar-se com líderes árabes na Palestina, incluindo o mufti de Jerusalém Amin al-Husayni, mas a entrada na Palestina foi-lhes recusada pelas autoridades britânicas. Hagen e Eichmann escreveram um relatório contrário à emigração de judeus em larga escala para a Palestina por razões econômicas e também porque contradizia a política alemã de impedir o estabelecimento de um estado judaico ali.
Eichmann participou na Conferência de Wannsee, ocorrida em 1942, na qual ele foi o responsável pela determinação de assuntos ligados à "solução final da questão judaica", por ordens de Reinhard Heydrich. Semanas após a conferência, ele recebeu a patente de SS-Obersturmbannführer, tornando-se o chefe do Departamento da Gestapo IV B 4, órgão responsável por toda a logística relacionada com os estudos e execução do extermínio em curso.
Em 1945 diante da queda do 3º Reich, antes de fugir, Eichmann deu à mulher Vera quatro cápsulas de veneno, para ela e cada um de seus três filhos – Klaus, Horst Adolf e Dieter Helmut. “Se os russos vierem, mordam as cápsulas. Se forem americanos ou britânicos, não precisa”, disse. Em Ulm, no sul da Alemanha, topou com um pelotão americano e foi levado para um campo de prisioneiros. Eichmann afirmou ser Adolf Barth, cabo da Força Aérea alemã. Foi transferido de campo várias vezes e sempre adotava um nome diferente. Após meses, conseguiu escapar com documentos que o identificavam como Otto Heninger. Ele acabaria em uma localidade rural chamada Eversen. Lá viveu alguns anos tranqüilo, criando galinhas.
No pós-guerra seu nome apareceu diversas vezes nas 16 mil páginas que compuseram a transcrição do julgamento de Nuremberg, em que 24 membros da cúpula nazista foram acusados de crimes de guerra. Dieter Wisliceny, ex-colega e amigo seu (era inclusive padrinho de Dieter, o filho caçula), foi testemunha em Nuremberg e tentou salvar a pele às custas de Eichmann. Em novembro de 1946, escreveu de sua cela uma carta pondo-se à disposição dos americanos para ajudar a encontrá-lo.
A Alemanha tornou-se pequena demais para Eichmann, e em 1950 ele decidiu deixar o país. Atravessando os Alpes, chegou à Áustria e depois à Itália. Lá encontrou a mesma rede de proteção que já havia permitido a outros criminosos nazistas escapar. Em nome da “ajuda humanitária”, a Igreja Católica oferecia abrigo em casas seguras, e a Cruz Vermelha fornecia documentos. Eichmann foi acolhido por uma comunidade franciscana enquanto aguardava o momento de partir. No dia 14 de junho de 1950, o consulado argentino em Gênova lhe concedeu um visto de entrada. De seu próprio bolso ele pagou uma passagem de segunda classe no navio Giovanna C. e, em 14 de julho, desembarcou em Buenos Aires como Ricardo Klement.
Na Argentina inicialmente hospedou-se por um tempo em um hotel de imigrantes até que pôde conseguir uma casa na zona de Oliveiras, província de Buenos Aires. Teve diversos trabalhos como na fábrica de produtos de gás em Orbis e a fábrica de Automóveis na Mercedes Benz. Eichmann trouxe toda sua família para viver na Argentina.
Em 1952 Simon Wiesenthal, reconhecido caçador de nazistas, recebeu uma carta de um amigo seu da Argentina, que escreveu na carta: "Tenho visto esse porco miserável, o Eichmann, vivendo nas cercanias de Buenos Aires e trabalhando na central de abastecimento de águas”.
Após receber essa informação o governo de Israel aciona o Mossad e envia uma série de agentes de inteligência para verificar essa informação. A primeira pista sobre o paradeiro de Eichmann surgira em 1957, por meio de Lothar Hermann, um descendente de judeus cujos pais foram mortos pelos nazistas. Ele morara em Buenos Aires e sua filha Sylvia ficara amiga de um rapaz chamado Klaus Eichmann. A esposa de Hermann era alemã, e para a sociedade argentina eles se mostravam como uma família alemã. O jovem visitara sua casa e, sem saber da ascendência da família, declarou ser “uma pena que Hitler tenha sido impedido de alcançar seu objetivo”. Hermann leu antigos jornais que continham notícias sobre os julgamentos em Nüremberg e pôde saber que Eichmann era um dos responsáveis pelo maior extermínio que se produziu na história do sésulo XX. Ele então entrou em contacto com pessoas próximas ao governo de Israel. Klaus dizia que seu pai havia sido oficial do Exército alemão e se recusava a dar seu endereço a Sylvia, mas ela acabou descobrindo com uma amiga: rua Chacabuco, 4.261.
O chefe e cérebro por trás desta operação de inteligência, foi o Isser Harel, um dos primeiros e antigos chefes que teve o serviço de inteligência israelita Mossad. Ele enviou para o agente Zvi Aharoni, que no dia 1º de março de 1960 chegou a Buenos Aires. Sua missão: identificar e preparar a captura de Adolf Eichmann. Viajando com nome falso e passaporte diplomático, Aharoni era agente do Mossad. Naquela época, qualquer embaixada israelense dispunha de um número de telefone que podia ser usado para contatar voluntários judeus dispostos a ajudar em um trabalho ou investigação, e o mais importante: sem fazer perguntas. Esses voluntários são conhecidos como Sayanim (sing. Sayan, hebraico: ajudantes, auxiliares), e esse termo refere-se aos judeus da diáspora espalhados pelos mundo que prestam assistência à Mossad.
Um funcionário da embaixada colocou uma relação de voluntários à sua disposição e na companhia de um deles, “Roberto” (os nomes são fictícios), Aharoni dirigiu até a rua Chacabuco. Com o pretexto de entregar um carta para Ricardo Klement, Roberto foi ao prédio e descobriu que o apartamento do térreo estava vazio, sendo pintado. Se ele tinha morado ali, já havia se mudado.
Porém a caçada continuava e Aharoni teve sorte em março de 1960, pois em uma oficina mecânica perto da rua Chacabuco trabalhava um rapaz de nome Dito, que tinha uma forte sotaque alemão. Nos dias seguintes o Mossad seguiu o rapaz discretamente, pois ele podia muito bem ser Dieter, filho mais novo de Eichmann. Após o trabalho Dito foi para a rua Garibaldi, localizada em uma área meio abandonada, sem água encanada ou energia elétrica. Como era muito importante confirmar a identidade do rapaz Aharoni acionou um sayan chamado “Juan”, para que ele fosse até a oficina. Juan voltou da oficina e disse a Aharoni que o sobrenome do garoto era não era Klement, e sim Eichmann. Aharoni precisou disfarçar a empolgação. O Mossad tinha encontrado o seu alvo.
Mas faltava achar Adolf Eichmann. Aharoni o viu pela primeira vez em 19 de março. Passando de carro em frente à casa, observou um homem de meia-idade, magro e calvo, que recolhia a roupa do varal. Perto dele, uma criança de cerca de 5 anos (Ricardo Francisco, filho de “Klement” e Vera, nascido na Argentina). Era ele, com certeza. O espião sacou, dissimuladamente uma máquina fotográfica e sem levantar nenhum tipo de suspeita, fotografou Eichmann e mandou-as as fotos para Israel para serem analisadas por um perito fotográfico. O perito encontrou muitíssimas semelhanças entre Ricardo Klement e o oficial das SS.
Em 24 de abril, começaram a chegar a Buenos Aires os agentes do Mossad que participariam da segunda etapa da “Operação Eichmann”: a captura e traslado para Israel. Além de Aharoni, agora identificado como um executivo alemão, vieram Avraham Shalom, Yaakov Gat e Efraim Ilani. Em outra leva, para não chamar a atenção, desembarcaram Yitzhak Nesher, Zeev Keren (responsáveis por alugar as casas que seriam usadas de esconderijo e os carros para o seqüestro), Zvi Malkin (um homem forte, a quem caberia a missão de segurar Eichmann), o chefe da missão Rafi Eitan, o diretor do Mossad, Isser Harel, mais o médico, identificado apenas como “Doutor”, encarregado de manter o prisioneiro saudável. Por último, chegou Shalom Dany, perito em documentos falsos.
Eles alugaram duas casas que serviriam como opções de esconderijo e o agente Keren construiu numa delas um pequeno quarto com uma porta secreta onde o prisioneiro ficaria em caso de visitas inesperadas. Eles compraram dois carros, uma limusine Buick preta e um Chevrolet. Ambos foram levados ao mecânico para uma revisão completa. Decidiu-se que Aharoni, que conhecia melhor a cidade, dirigiria a limusine – o carro onde Eichmann seria colocado.
O alvo da operação continuava sob constante vigilância. Os agentes descobriram que todo dia ele descia do ônibus vindo do trabalho às 19h40, hora em que a rua costumava estar vazia. Seria o momento certo de atacar. Faltava só combinar a data. A idéia era que o intervalo entre o seqüestro e a fuga fosse o menor possível; quanto mais tempo mantendo Eichmann prisioneiro em Buenos Aires, maior a chance de a polícia ser acionada. O transporte para Israel seria no vôo de volta de um avião comercial da El Al que traria o ministro do Exterior israelense Abba Eban para a comemoração dos 150 anos de independência da Argentina. De início, o ministro chegaria em 12 de maio, e a aeronave retornaria a Israel no dia seguinte. O seqüestro foi marcado para o dia 10. Quando se soube que o avião só chegaria no dia 19, o grupo resolveu adiar a operação por 24 horas. Todos estavam tensos e ansiosos para que tudo acabasse logo.
Em 11 de maio, na hora combinada, 19h25, Aharoni estacionou a limusine na rua Garibaldi. Malkin e Keren saíram do carro e o segundo se escondeu atrás do capô. Rafi Eitan ficou deitado no banco de trás. O Chevrolet, com Avraham, Yaakov Gat e o Doutor, parou um pouco mais longe. Se durante a fuga acontecesse algum acidente ou qualquer problema com a limusine, os agentes e o prisioneiro seriam levados para o Chevrolet. O relógio deu 19h40, mas nada de Eichmann. O combinado era esperar até 20h. Enquanto esperavam os agentes do Mossad simularam que havia problemas mecânicos com um dos veículos para não chamar a atenção. Um ciclista parou para oferecer ajuda, os agentes israelenses foram firmes em negar a ajuda.
Na verdade todos os dias Ricardo Klement tomava o coletivo 203. Justamente neste dia ele deixou passar dois ônibus desta linha. Quando subiu no ônibus, não percebeu que lá dentro tinha um suposto passageiro que se escondia dele usando um gorro. Este passageiro era um dos homens do serviço de inteligência israelense que tinha tomado o coletivo com a intenção o seguir até sua parada o que só aconteceu às 20:20, quando Eichmann desceu do ônibus da linha 203. Depois das 20:00, Avraham saiu do carro e vinha em direção à limusine, quando um ônibus parou no ponto e um homem saltou. Avraham correu de volta para o Chevrolet e acendeu os faróis. Era Eichmann.
Aharoni o observava com os binóculos quando ele pôs a mão esquerda no bolso. Seria uma arma? Com um sussurro alertou Malkin : “Ele está com a mão no bolso. Cuidado, pode ser um revólver”. Aharoni ligou o motor do carro. Mas Eichmann não estava armado – nem os agentes. Três segundos depois, Eichmann passou ao lado de sua janela e foi barrado por Malkin que disse “Un momentito, senor!” as únicas palavras que sabia em espanhol. Malkin saltou imediatamente contra o alemão e agarrou a sua mão direita. Ambos caíram no chão. Outro agente levantou os pés Eichmann e ele foi colocado no carro.
A limusine seguiu pela rua Avellaneda por 800 metros e então parou para que Zeev Keren descesse e trocasse rapidamente as placas do carro; em vez das chapas comuns, agora eles tinham novas, azuis, de carro diplomático, para combinar com documentos falsos de diplomata austríaco que Aharoni levava. O prisioneiro estava deitado no chão, com um cobertor em cima. Chegaram finalmente na casa. O carro estacionou na garagem e os ocupantes entraram pela porta que dava acesso direto à cozinha.
Vendado com óculos de motociclista cobertos com fita adesiva, Eichmann foi levado até o segundo andar, onde um quarto tinha sido preparado para ele. No lugar das janelas, colchões tornavam o ambiente à prova de som. Deitaram-no na cama, despiram-no, e o Doutor examinou seu corpo em busca de cápsulas de veneno. Vestiram-no com pijamas e a perna esquerda foi algemada à cama. O interrogatório começou às 21h15. Aharoni fazia as perguntas. Qual era o nome do prisioneiro? “Ricardo Klement”. E como ele se chamava antes? “Otto Heninger”. A resposta deixou Aharoni intrigado; ele não sabia que Eichmann adotara identidade de Otto Heninger na Europa. Mas as perguntas seguintes tiveram a resposta esperada. Quando era sua data de nascimento? “19 de março de 1906”. Local de nascimento? “Solingen”. E qual foi seu primeiro nome? “Adolf Eichmann”. Aharoni esticou a mão para cumprimentar Avraham, do outro lado da cama.
Em 20 de maio, o prisioneiro foi avisado de que era hora de partir. Vestido com uma roupa semelhante à da tripulação da El Al (camisa branca e gravata preta), Eichmann foi sedado. A droga o impediria de falar, mas com ajuda poderia se locomover quase normalmente. Partiram às 21h no avião Bristol Britannia de prefixo 4X-AGE da El Al.
O aeroporto estava vazio, não havia outros vôos programados para aquele dia. O carro parou perto do ônibus da companhia – cujos verdadeiros tripulantes não tinham idéia do que se passava. Yaakov e o Doutor, também vestidos como tripulantes da companhia aérea, ajudaram Eichmann a subir a escada e entraram no avião com ele. Para todos os efeitos, eram dois membros da tripulação amparando um colega doente. O Doutor sentou atrás de Eichmann e até a decolagem manteve uma seringa espetada em seu braço. Aharoni, Isser Harel e o resto da equipe aguardavam a hora de embarcar, mas o tempo foi passando e nada de eles serem liberados. Pouco antes da meia-noite apareceu um funcionário esbaforido pedindo desculpas pelo transtorno. Com todos finalmente a bordo, o avião decolou à 0h04. A aeromoça perguntou se Zvi Aharoni gostaria de alguma coisa para comer. “Não, obrigado. Mas quero um uísque. Duplo.” Às 7h20 da manhã de 22 de maio, a aeromoça avisou: senhoras e senhores, estamos entrando em espaço aéreo de Israel.
Adolf Eichmann foi julgado em Israel, num processo que começou a 11 de Abril de 1961. Foi acusado de 15 ofensas criminosas, incluindo a acusação de crimes contra a Humanidade, crimes contra o povo judeu, e de pertencer a uma organização criminosa.
Foi condenado a todas as acusações e recebeu a sentença de morte (a única pena de morte civil alguma vez levada a cabo em Israel) a 15 de Dezembro de 1961 e foi enforcado poucos minutos depois da meia-noite de 1 de Junho de 1962, na prisão de Ramla, perto de Tel Aviv. Foi a única exceção aberta pela lei israelita, a qual não prevê a pena de morte.
Membros do Mossad que participaram da missão:
* Isser Harel: chefe do Mossad e responsável máximo pela operação.
* Rafael Eitan: líder da unidade operativa. Viajava em um dos automóveis que foram usados para capturar a Eichmann.
* Peter Malkin: viajava no primeiro automóvel. Foi o primeiro que imobilizou Eichman.
* Amos Manor: diretor do Shin Bet. Foi um dos que sugeriu a busca de Eichmann. Planejou a operação.
* Abraham Shalom: Um dos captores no segundo automóvel.
* Yaacob Crus: subdiretor do Mossad. O primeiro que informou o governo da captura.
* Zvi Aharoni: Captor. Descobriu onde vivia Eichmann em Buenos Aires.
* Emanuel Talmor: Viajou no no avião da El Al levou a Eichman. Foi um dos que o transportou drogado.
* Yaacob Meidad: o homem a cargo da logística para a captura. Alugou casas e conseguiu automóveis. Nos 9 dias em que Eichmann esteve cativo, ele providenciou alimentos e medicamentos ao grupo.
* Yudith Nasiahu: integrante do Mossad. Viveu na casa em que esteve cativo Eichman simulando ser casada com um dos captores.
* Abraham Kaler: ajudou a localizar a Eichmann na Argentina.
* Simón Wiesenthal: caçador de nazistas. Deu os indícios para capturar a Eichmann.
* Tuvia Friedman: fez o mesmo que Wiesenthal.