Hot Widget

Type Here to Get Search Results !

Nacionalismos e separatismos

Top Post Ad

Nacionalismos e separatismos
Mapa da Ucrânia

por Maria João Tomás

Na semana em que o mundo lembra as vítimas do Holocausto nazi, as projeções de voto para as eleições europeias mostram uma subida dos partidos de extrema--direita. No dia 20 de abril, um pouco por todo o mundo - Japão, EUA, França, Alemanha e Suíça -, grupos de neonazis saíram à rua para festejar o aniversário do nascimento de Adolf Hitler. 

Na Ucrânia, o Governo provisório é também de extrema-direita, tendo sido frequentes, nas últimas semanas, notícias que dão conta da obrigatoriedade de registo dos membros das comunidades judaicas que, caso não o queiram fazer, terão de ser deportados. Apesar de já ter sido desmentido, o atentado que feriu com gravidade, nesta terça-feira, o presidente da Câmara de Kharkiv, Gennady Kernes, de origem judaica, mostra que os ideais do nacional-socialismo ainda estão bem vivos. Por outro lado, na Dinamarca ou na Polonia, o abate Korcher e Halal está proibido, enquanto na França as câmaras ganhas pelo partido de Marine Le Pen já anunciaram que vão passar a não disponibilizar às crianças judaicas e muçulmanas alternativas às refeições que incluem carne de porco.

Na Índia, nas eleições que ainda estão a decorrer, Narenda Modi, um nacionalista hindu, parece ser o favorito, deixando de sobreaviso a comunidade muçulmana que o acusa de ter incitado à violência nos confrontos de Gurajat, em 2002. No Afeganistão, apesar de o candidato mais votado, Abdullah, pertencer a uma etnia mista e ser conhecido por uma posição moderada, tendo colaborado com Ahmed Massoud, deverá perder as eleições na segunda volta para o candidato Ashraf Ghani, vindo de influentes famílias pashtun, a maior e mais poderosa etnia afegã, de onde vem a maior parte dos talibãs.

Na Turquia, por seu lado, Erdogan faz tudo o que pode para afastar o seu maior opositor, Fethullah Gulen, radicado nos EUA desde 1999, que controla o movimento Hizmet na Turquia através da internet - YouTube e redes sociais -, responsável, segundo o primeiro--ministro, pelas gigantescas manifestações contra o Governo e também pela descoberta dos escândalos de corrupção dentro do partido AKP. Os seguidores de Gulen são conhecidos como a Cemaat, ou a Assembleia, e reclamam a separação do islão da política, defendem o diálogo inter-religioso, a cooperação entre povos e credos, numa antítese do que têm sido os últimos anos do Governo de Erdogan.

Os separatismos, por seu lado, também estão a crescer, e as tentativas independentistas de minorias são uma constante, fazendo pensar que a constituição de novos países é uma solução mais fácil do que o federalismo. Da Ucrânia à Itália, Espanha e Reino Unido, de Donetsk, Veneza, a Vigo ou à Escócia, o desejo de fazer referendos para legitimar pretensões separatistas, tal como aconteceu na Crimeia, parece alastrar quão doença contagiosa, fazendo-nos perguntar como deveremos entender e aceitar a vontade de um povo à autodeterminação. O reconhecimento da língua falada, bem como o direito das minorias à sua cultura e religião, estão a ser sobrepostos por interesses políticos e econômicos externos, que incentivam as diferenças para acentuar fraturas e secessões, como aconteceu com a criação do Kosovo, um Estado artificial e ainda não plenamente reconhecido.

No Iêmen, a comunidade xiita ganha força e expressão, apoiada pelo Irão, que vê aqui uma boa forma de aumentar a sua influência regional. Na Líbia, as rivalidades das etnias são acentuadas pela luta pelos poços de petróleo, e no Iraque, em vésperas de eleições, sobrevive-se todos os dias aos ataques bombistas que pretendem desestabilizar ainda mais o país que tem o melhor crude do Médio Oriente. Resistem os países que mantêm a monarquia como fonte de estabilidade, como no Golfo, apesar de as contestações terem subido de tom e a agitação começar a ser cada vez maior. Na Argélia, Bouteflika ganhou de novo as eleições, apesar de ter tido um AVC, levando a pensar se não será melhor manter este regime a ter a instabilidade vivida noutros países vizinhos.

As manifestações de intolerância religiosa e étnica, aliadas ao crescimento dos partidos nacionalistas e de extrema-direita, são um fenómeno assustador que nos remete para fantasmas de um passado que parecia esquecido nos horrores de uma guerra que não queremos lembrar nem pensar em repetir.

*Investigadora no IEEI

Below Post Ad

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.