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Judeus sefaraditas - Coisas Judaicas |
Crônicas dos sucesso sefardita no novo mundo ( 1492-1820)
Joseph Abraham Levi
Este
estudo tomará em consideração a dispersão dos Sefarditas por algumas partes do
Novo Mundo, nomeadamente: o Brasil, as Caraíbas e os futuros Estados Unidos da
América, deixando de lado a América de língua e cultura espanholas/hispânicas
assim como o Canadá. Em particular, analisar-se-ão as rotas
geográfico-comerciais que os Judeus Ibéricos traçaram a partir da sua expulsão
em 1492/1496-97 até às primeiras duas décadas do século XIX, época a qual viu,
aliás muito infelizmente, o surgir e a dominação de uma outra etnia judaica da
Diáspora, ou seja, os Ashquenazim.
A
dispersão do Povo de Israel, sobretudo após a instituição da Inquisição na
Península Ibérica, neste caso em Portugal (1), viu uma fuga de cérebros para o
resto do mundo de então, inclusive as ilhas e as colônias portuguesas de
além-mar. No Novo Mundo, um dos lugares favoritos foi o Brasil, para onde,
sobretudo depois da segunda metade do século XVI, muitos cristãos-novos
decidiram deslocar-se, especialmente graças à sua educação — a abranger todos
os ramos do saber humano — e aos seus meios econômicos, ambos muito vastos. Em
caso de falta de recursos financeiros, o elevado nível de instrução dos Judeus
dava-lhes, assim, potencial para subir rapidamente na escala econômico-social
da jovem colônia portuguesa da América do Sul.
A
história da diáspora judaica nas Américas começa com o êxodo de 1492 e continua
com a expulsão de Portugal, 1496-98. Durante mais de um século, cartógrafos,
cosmógrafos e cientistas judeus foram indispensáveis para fundar as bases dos
dois impérios ibéricos nas Américas. Eles serão os alicerces dos descobrimentos
europeus, da África às Américas (2). Com a expulsão dos Judeus do solo ibérico
e com as atrocidades da Inquisição as futuras potências coloniais ibéricas não
só perderam uma importantíssima parcela intelectual, indispensável ao
crescimento econômico nacional, mas também, e mormente, limitaram ou até
atrofiaram os seus contactos com o resto da Europa, financeiramente em mãos dos
Judeus. Isto aplica-se sobretudo a Portugal, com um império a cobrir todos os
continentes (3).
Durante
a primeira metade do século XVII quase dois milhões de Judeus habitavam o
Hemisfério Oriental: pouco mais de um milhão na Europa e o restante espalhado
pelo Magrebe, o antigo império otomano e a Ásia. Um grande número de Sefarditas
expulsos encontrou refúgio em Amsterdã (4); outros acharam amparo em algumas cidades-estados
e/ou repúblicas italianas (5); os demais foram para a África do Norte e o
império otomano: dos Balcãs à Palestina. Muitos conseguiram chegar a um nível
elevado de vida, sobretudo dando-se ao comércio. A maioria da população
judaica, ao invés, ainda vivia em péssimas condições, em guetos e com pouca
instrução, quer secular quer religiosa (6). Com certeza o único lugar na Europa
onde os Judeus gozaram mais liberdades, ou pelo menos foram mais tolerados, foi
a Holanda.
Em
1579, com a Paz de Utreque, os Países Baixos liberaram-se do jugo espanhol.
Judeus e cripto-judeus ibéricos (7), já a residirem há quase um século em solo
holandês, foram de fato instrumentais na vitória holandesa contra os inimigos
espanhóis. Sem dúvida o ódio contra o inimigo comum facilitou a tolerância
holandesa face à questão judaica no seio da sua população, quase toda de adesão
protestante. No giro de poucos anos Amsterdã tornar-se-á no principal centro judaico
europeu, primeiramente sefardita e depois, gradualmente, também ashquenazi
(8).
Já
em meados do século XVII, Amsterdã se
encontrava portanto no auge da sua vida político-cultural, na Europa assim como
além-mar: nomeadamente, nas Américas e no Extremo Oriente. O pequeno estado
neerlandês passou a dominar as praças comerciais europeias, americanas e
asiáticas. De fato, em pouco tempo o império colonial holandês estendia-se de
Nova Amsterdã, as Caraíbas, Suriname e o Brasil a Samatra, no Oceano Índico.
Os
Judeus, mesmo se não completamente cidadãos holandeses perante a lei,
contribuíram à formação deste império. No decorrer de dois anos, 1657-58, os
Estados Gerais da Holanda estenderam-lhes plena cidadania holandesa. Mesmo se
isto não implicava compartilhar plena igualdade jurídica com os seus
compatriotas holandeses, pelo menos foi um reconhecimento do valor socioeconômico
dos Judeus e, mormente, da sua contribuição à expansão holandesa (9).
A
chegada de Judeus, Sefarditas e Ashquenazim, nas Américas será, em teoria, uma
fase do movimento da diáspora judaica do Leste — nomeadamente: o Velho Mundo, a
África e o Médio Oriente — para o Oeste, o Novo Mundo, do norte para o sul e,
quase concomitantemente, do sul para o norte. Pela primeira vez na história do
Povo de Israel, a emigração foi do Leste para o Oeste. Aos poucos, e só através
de muitos sofrimentos, os Judeus conquistarão o seu lugar na extensão europeia
no Hemisfério Ocidental, do Canadá ao Brasil. Os judeus ibéricos, então, serão
os alicerces das futuras comunidades israelitas americanas (10).
Finalmente,
ao entrarmos na história da diáspora sefardita nas Américas durante os séculos
XVII-XVIII, podemos observar que estamos perante uma história entrelaçada,
inscrita como um elo ininterrupto o qual, sobretudo no início, do sul
gradualmente ascende para o norte. Do Brasil, do Suriname, da Guiana Britânica
e da Guiana Francesa, o Povo de Israel continuará assim a sua viagem para a
liberdade parando nas Caraíbas e, finalmente, encaminhando-se para as colônias
norte-americanas e o Canadá.
Como
consequência das expulsões peninsulares ibéricas, (1492; 1496-98), uma grande
multidão de Sefarditas iniciou uma nova diáspora, enviando refugiados às
cidades-estados da península italiana (11), o Magrebe, o norte da Europa,
sobretudo a Holanda, e o império otomano, ou seja, dos Balcãs à Terra Santa.
Aqueles que decidiram permanecer, disfarçados de cristãos-novos, também não
estavam livres da Inquisição. O Novo Mundo, sobretudo o território luso, deu a
estes últimos uma nova esperança: acreditava-se, assim, que pondo distância
entre a Península Ibérica e o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição eles
pudessem viver livremente e, desta vez, voltar à sua antiga fé sem medo de
represálias (12).
Em
outras palavras, a expulsão da Península Ibérica do Povo de Israel, a sua
dispersão por quatro continentes, e, para aqueles que permaneceram in situ, a
sua forçada conversão ao Catolicismo, assim como a consequente formação do
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, serão um preâmbulo necessário para a
iminente colonização da América portuguesa.
No
Brasil os cristãos-novos, quer direta quer indiretamente, contribuíram com as
suas visões modernas, sobretudo no campo econômico-comercial, para a formação e
prosperidade da futura colônia portuguesa. A posição subalterna dos
cristãos-novos, sempre ameaçados com aprisionamentos e confiscação dos seus
bens, era contrabalançada por uma supremacia econômica (13). Gradualmente,
quando Franceses, Holandeses e Ingleses começaram a estabelecer os próprios
impérios no Novo Mundo, os Sefarditas, por seu lado, iniciaram a
auto-declarar-se como tais. Muitos Marranos deslocaram-se para o México e o
Peru.
Consequentemente,
em 1570, a Inquisição foi implantada na América espanhola e, obviamente, o
Judaísmo voltou a ser praticado clandestinamente. No Brasil, ao invés, mesmo se
as condições não fossem ideais, a Judeus e Marranos ora era-lhes interdito o
ingresso no(s) território(s), ora eram-lhes abertas as portas, tacitamente,
sobretudo por necessidades econômicas. Os suspeitos de heresia eram porém
enviados à Metrópole para ser julgados pelo Tribunal (14). Todavia, a história
dos Judeus nas colônias portuguesas é sobretudo a história dos judeus
brasileiros. Gaspar de Lemos, de origem polaca e braço direito de Vasco da Gama
(15) será o primeiro judeu na história da América do Sul. Entre os primeiros
portugueses na colônia portuguesa americana encontramos o cristão-novo Fernão
de Loronha, também grafado Noronha. Em 1501-1502, com um grupo de marranos o
comerciante português deixou Lisboa a bordo da Judea para formar uma nova colônia.
Fundaram-na no sul do Brasil numa baía denominada Cananea.
O
pacto com El rei era de estabelecer um forte e permanecer in situ pelo menos
três anos (16). Em 1503, os cristãos-novos ergueram Cabo Frio, o primeiro forte
português em solo brasileiro. A 24 de Junho do mesmo ano Noronha descobriu o
arquipélago que depois terá o seu nome. No ano seguinte, D. Manuel (1495-1521)
nomeou-o donatário das ilhas (17). O contrato foi renovado em 1506, 1509 e
1511, cada vez com algumas modificações, com a última extensão concedida até a
1515. No começo do século XVI, então, os Judeus, disfarçados sob
"vestes" cristão-novos, "helped establish the new Portuguese
colony in Brazil," mesmo se, durante quase um século, não conseguiram
viver abertamente como tais (18).
Encontramo-los
envolvidos na cultivação da cana-de-açúcar não só no Brasil mas também no resto
das Américas, sobretudo nas Caraíbas (19). De fato, da Madeira e, em 1542, de
São Tomé, Judeus e cristãos-novos introduziram a cana-de-açúcar assim como as
técnicas açucareiras primeiro no Brasil e daí para o resto do Novo Mundo (20).
Gradualmente porém, com a transferência do capital da Europa para as Américas,
cristãos-novos e Judeus abertamente a professar a própria religião — estes
últimos sobretudo nas Caraíbas, no Suriname e, ora sim ora não na Guiana
Francesa e na Guiana Britânica — conseguiram acumular riquezas e a
estabelecer-se no seio da população, contribuindo à prosperidade da colônia.
Isto implicava sobretudo ser proprietários terreiros, ser donos de plantações
e, óbvia e tristemente, ser donos de escravos africanos. Infelizmente, então,
de opresso o Povo de Israel nas Américas, uma vez ambientado, tornou-se
opressor. Nisso não havia nenhuma diferença entre eles e as suas contrapartidas
de fé católica a residirem nas Américas. Foi sobretudo por esta razão, pelo fato
de os Judeus/cristãos-novos terem um interesse econômico na prosperidade do
Brasil que as autoridades coloniais, mesmo se com certa relutância, lhes deram
cargos administrativos. A Metrópole sabia que iam defender os seus interesses econômicos.
Desde
meados do século XVI o Brasil tornar-se-á assim num receptáculo para
Sefarditas, quer abertamente a professar a sua fé atávica quer mascarados de
cristãos, a escaparem às inquisições ibéricas. Temos de enfatizar, então, que o
papel dos Judeus e, mormente, dos cristãos-novos na formação e no
desenvolvimento — econômico assim como cultural — das colônias europeias no
Novo Mundo, no nosso caso, o Brasil, foi fundamental, extremamente decisivo
para o sustentamento e o progresso económico-comercial do território e dos seus
habitantes (21).
A
primeira cidade a cair nas mãos holandesas foi Salvador da Bahia. Durante um
ano os Judeus da Diáspora fizeram desta cidade o seu amparo. Com a captura do
Recife em 1631, os Holandeses asseguraram-se a parte setentrional do Brasil.
Imediatamente começou a imigração judaica e marrana, sobretudo da Bahia, agora
sob posse portuguesa. Em poucos anos o comércio local estará em mãos
israelitas.
O
número de Judeus chegou a ser o dobro do dos cristãos. De fato o Recife será
também denominado Ha-Kahal Kadosh, isto é, "A Sagrada Congregação." A
história do Brasil holandês encontra-se ligada a eventos histórico-políticos do
tempo, sobretudo à história da diáspora sefardita na Holanda e no resto da
Europa, incluindo a África do Norte e o Médio Oriente, assim como à última
guerra hispano-neerlandesa, 1621-48. Quanto à primeira questão, temos de
salientar que nas primeiras décadas do século XVII Amsterdã era a capital sefardita mundial, com a maioria
dos Sefarditas sendo de origem portuguesa. Os seus liames comerciais uniam-nos
a outros centros mercantis espalhados pelo mundo de então.
Todavia,
dado que Portugal ainda pertencia à Espanha, 1580-1640, a Holanda não podia ter
contactos comerciais com Portugal e as suas colônias, mesmo se estas últimas
conseguiram guardar a sua "autonomia portuguesa" durante os nefastos
sessenta anos de anexação. A única solução para ter relações comerciais com o
Brasil, grande produtor de açúcar, então, era para a Holanda apoderar-se desta
fonte de capital. Em 1624 as tropas da Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais conseguiram derrotar as forças coloniais portuguesas. Em pouco tempo
Salvador da Bahia passou assim à posse holandesa. Infelizmente no ano seguinte
a Bahia foi reconquistada pelos Portugueses. Um lustro mais tarde, em 1630, os
Holandeses contra-atacaram: desta vez foi à vez das capitanias de Pernambuco,
Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Com
a ocupação holandesa do Brasil, 1624-54, também veio à lei a garantir plena
liberdade de expressão religiosa a judeus espanhóis e portugueses assim como
aos povos indígenas. Uma grande imigração de Sefarditas — ou talvez seja melhor
dizer, uma nova diáspora sefardita, desta vez voluntária — chegou de Amsterdã e outras cidades holandesas ao Brasil
holandês. Este novo êxodo é também devido ao fato da formação da Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1638, a qual, graças à sua abertura
do tráfico comercial entre a Holanda e a sua nova colônia sul-americana, atraiu
muitos sefarditas holandeses ao Novo Mundo.
Também
temos de lembrar que entre os membros da Companhia havia alguns Judeus, cujos
bens econômicos contribuíam à própria existência da dita empresa (22). Em 1642,
mais de seiscentos Sefarditas deixaram Amsterdã para o Brasil holandês, sobretudo o Recife,
entre os quais encontramos o rabi Isaac Aboab da Fonseca e Moses Rafael de
Aguilar. De Amsterdã também chegaram
Ashquenazim e outros Judeus da Diáspora, estabelecendo-se primeiro em Salvador
da Bahia e, depois da reconquista portuguesa, no Recife e zonas limítrofes.
Em
pouco tempo a comunidade judaica brasileira, a primeira congregação israelita
do Novo Mundo, chegará a ter um número muito elevado, a ser ultrapassado só um
século e meio depois (23). Com Maurício de Nassau, 1604-79, governador do
Brasil holandês, 1637-44, começou uma nova época, onde tolerância e liberdade
de expressão religiosa reinavam sublimes. Durante a sua administração, a qual
favorecia a livre circulação de ideias, não só no campo religioso e político, mas
também no científico, muitos cripto-judeus voltaram abertamente ao Judaísmo sem
medo de represálias (24). Num giro de poucos anos o Recife tornou-se num centro
importante de vida judaica, com duas sinagogas e centros de estudos.
O
primeiro lugar de adoração, Zur Israel, foi inaugurado em 1636 e o segundo,
Maguen Abraham, viu a luz no ano seguinte na ilha de António Vaz. Outros
centros judaicos surgiram em Penedo, cidade fluvial no futuro estado de
Alagoas, e na Paraíba. Muitos destes Judeus eram comerciantes e negociantes a
mercadejar entre as Caraíbas e Amsterdã . Além destes também encontramos
advogados, donos de plantações de açúcar e indivíduos envolvidos na refinação
de açúcar com os próprios engenhos (25). A maioria dos imigrantes Judeus era
bilíngue ou possuía um conhecimento cursivo da língua portuguesa suficiente
para assim poderem entabular relações comercias com a região. Desde a sua
chegada, então, a população judaica — quase todos Sefarditas — tornou-se
indispensável para as autoridades holandesas: o fato de conhecer a língua e a
cultura portuguesas tornava-os elementos chaves para a prosperidade econômica
da jovem colônia holandesa sul-americana, sobretudo no campo da produção e
exportação de produtos açucareiros. O tráfico de escravos, estritamente ligado
à cultivação da cana-de-açúcar e ao seu fabrico, será de fato uma das razões
pelas quais os Judeus eram bem-vindos ou tolerados no seio da colônia
holandesa: dada a sua riqueza, o povo de Israel podia permitir-se de vender
escravos africanos a crédito aos outros colonos. Entre 1645-54, ou seja em vésperas da reconquista definitiva dos
Portugueses, o número de Judeus a residirem no Brasil flutuava por volta de
mais de mil pessoas, talvez mil e quinhentas (26). O rabi-mor de Amsterdã ,
Saul Levi Morteira, 1597?-1660, sefardita diaspórico da comunidade de Veneza,
na sua obra inédita, a Providencia de Dios con Ysrael, y Verdad, y Eternidad de
la Ley de Moseh y Nulidad de los demas Leyes, baseando-se em relatos de
primeira mão, afirma que, com a expulsão de 1654, o número de Judeus reduziu-se
a pouco mais de seiscentos (27).
No
começo do século XVII, o Brasil era o maior produtor de açúcar do mundo, quer
sob domínio português quer sob influência holandesa. Infelizmente, com a
primeira guerra anglo-neerlandesa, 1652-54, os Holandeses não conseguiram
proteger o Recife, o qual foi capturado a 23 de Janeiro de 1654. Além do
Recife, também as cidades vizinhas de Mauritestad, Paraíba, Itamaricá e Seara
caíram em mãos portuguesas.
A
partida dos Holandeses marcará, pelo menos temporariamente, o fim da comunidade
judaica brasileira (28). De agora em diante o Judaísmo voltará a ser praticado
clandestinamente. Os Portugueses imporão um ultimato: todos os Judeus deverão
partir entre o espaço de três meses, começando, assim, uma nova diáspora. As
autoridades portuguesas também prometeram ao povo de Israel uma anistia, porém
os termos desta absolvição eram muito vagos, abertos a interpretações e,
sobretudo, à intolerância. Muitos Judeus voltaram a Amsterdã , capital
intelectual dos Judeus da Diáspora, Sefarditas assim como Ashquenazim.
Se
considerarmos os Judeus da Diáspora em solo brasileiro, observamos que, dadas
as suas diversas origens, se bem que quase todos fossem Sefarditas, eles não
podiam constituir um grupo homogêneo e compacto capaz de organizar-se contra o
inimigo comum: os Portugueses. Além disso, e mormente, muitos destes Judeus
tinham nascido no Brasil e portanto já estavam acostumados à cultura local,
mesmo se colonial e, quanto à tolerância religiosa, muito intransigente e
chauvinista (29). O centro do Catolicismo permanecerá Salvador da Bahia, também
quartel-general dos Jesuítas e da Inquisição (30).
Por
esta razão, então, nunca houve uma comunidade judaica em quanto tal, também
devido ao fato que desde 1625 a Bahia ficou nas mãos dos Portugueses (31).
Durante toda a ocupação holandesa do Brasil, 1624-54, ambas as potências
europeias promulgaram decretos-lei a vedar o comércio entre as duas zonas sob
controle alheio, isto incluía a Bahia e o Recife. Portanto os Judeus que
deixaram o Recife em 1654 foram para o norte, dirigindo-se sobretudo para a
Paraíba, e não para o sul, inclusive o Salvador da Bahia (32).
Os
diaspóricos continuaram a sua peregrinação para o norte, com paragens na Guiana
Britânica, na Guiana Francesa, no Suriname, nas Índias Ocidentais, na Nova
Neerlândia, ou seja a futura Nova Iorque, ou até voltaram para a Europa,
nomeadamente: Amsterdã e Londres.
Salvador da Bahia, Pernambuco e o resto do nordeste brasileiro foram as primeiras
zonas geográficas a serem colonizadas pelos portugueses. Não é de estranhar,
então, que a grande concentração de Judeus/cristãos-novos também se encontrava
nesta área. Não obstante a falta de documentos sobre as origens
étnico-religiosas dos colonos portugueses no Brasil, o estudioso José António
Gonçalves de Mello Neto, após investigações rigorosas em mérito, constatou que
em 1593, os cristãos-novos deveriam representar 14% da população
europeia/branca de Pernambuco, ou seja, novecentos pessoas entre um total de
sete mil habitantes (33).
Segundo
a estudiosa brasileira Anita Novinsky, oito lustros mais tarde, em Salvador da
Bahia, os Judeus formavam quase 20% da população branca (34). É inevitável,
então, que, dada a impossibilidade de distinguir os cristãos-novos do resto da
população branca/europeia, o Povo da Diáspora conseguiu integrar-se no resto na
população, do norte, mais sedentário, ao sul, mais fluido e móvel (35).
Durante
o resto do século XVII, assim como por grande parte do século XVIII, a Inquisição
continuou as suas investigações, aprisionando, confiscando bens e enviando os
"culpados" à Metrópole, onde, se não podiam "provar a sua
inocência," heréticos, Judeus, cristãos-novos e judaizantes eram até
condenados à fogueira (36). Só com o advento do governo pombalino, 1750-77, é
que finalmente assistimos ao fim das persecuções anti-semitas, não só em solo
brasileiro, mas também no resto do Império.
Durante
a primeira metade do século XVII, ou seja, no começo da colonização europeia,
pouco mais de mil Sefarditas residiam nas Caraíbas, sobretudo nas ilhas sob
posse britânica. O século seguinte viu um declino na população judaica nesta
área, especialmente devido à emigração para outras zonas, circunvizinhas e não,
como no caso das três Guianas, as colônias norte-americanas, incluindo o
Canadá, e a Europa, nomeadamente Londres e Amsterdã . Contudo, mesmo se breve,
a cobrir metade dum século, e exígua em número, a presença destes Judeus foi
decisiva e fundamental, quer no campo comercial quer na produção agrícola das colônias
europeias desta região. Muito seguramente, o Povo de Israel contribuiu à
transformação radical das Caraíbas: dum estado "natural" passar-se-á,
assim, para uma economia açucareira.
Os
Judeus provenientes do Brasil, devido à sua experiência no campo açucareiro,
trouxeram capital, escravos e ideias novas às Antilhas37 e ao resto da região,
como no caso das três Guianas. De fato, encontramos presença judaica em
cemitérios da ilha de Nevis (38), assim como em sinagogas em Barbados e na
Jamaica. As origens destes Judeus, obviamente, encontrar-se-ão no Brasil, donde
estes últimos escaparam às persecuções religiosas dos Portugueses (39).
Nem
todos os Judeus do Brasil holandês voltaram à Holanda. O 1654 será portanto o
começo duma diáspora colonial holandesa. Em outras palavras, a dispersão
dirigiu-se às três Guianas, nomeadamente: a Guiana Ocidental, a Guiana Francesa
e a Guiana Holandesa, ou seja, o Suriname. As ilhas das Antilhas também serão o
receptáculo do Povo de Israel, a prescindir da bandeira sob a qual se
encontravam no momento. Alguns comerciantes estabeleceram-se em Curaçau, na
Martinica e em Guadalupe (40).
Outros,
graças à sua experiência no campo açucareiro e, infelizmente, na economia
escravocrata, escolheram a Jamaica e Barbados. O deslocamento para Curaçau e o
Suriname foi talvez uma escolha político-econômica, dado que estes dois
territórios pertenciam aos Holandeses e, portanto, já contavam com presenças de
comerciantes judeu-portugueses no seu meio (41). Apesar da existência
esporádica de alguns Judeus durante a primeira metade do século XVII, o 1654
pode ser considerado como o começo da presença judaica nas Caraíbas (42).
A
reconquista portuguesa do Brasil será um momento decisivo não só para a
história das Américas mas também para a história das comunidades diaspóricas
neerlando-brasileiras. As migrações destes refugiados abriram novos caminhos,
novas possibilidades para futuras residências onde, após muitas dificuldades e
lutas — ora mais ora menos, segundo o lugar e a bandeira sob a qual se
encontravam — conseguiram não só ser tolerados mas também receberam todos os
direitos, cívicos e religiosos, perante as leis do território que habitavam.
Durante
o período holandês no Brasil a América do século XVII só conhecia um centro
organizado de vida judaica, devidamente ligado às comunidades europeias,
sobretudo as de Amisterdã e Londres. Com
a diáspora de 1654, ao invés, assistimos a uma ruptura: devido à saída do
Brasil holandês de agora em diante teremos inúmeros centros israelitas,
espalhados por outros tantos inúmeros territórios, das vizinhas Guianas à Nova
Holanda e ao Canadá, todos independentes entre si, salvo os esporádicos
contactos entre algumas comunidades menores em contínuos e mútuos laços de
amizade e assistência. Obviamente, com o desmembramento da comunidade judaica
holandesa e o consequente fracionamento das comunidades israelitas espalhadas
pelas Américas, também veio uma parcial ou completa separação ou até um certo
afastamento dos cânones judaicos.
Não
obstante alguns insucessos iniciais (43) — sempre recomeçando em outros lugares
vizinhos, longínquos ou, depois de alguns anos, até novamente tentando no mesmo
lugar inicial — a presença judaica nas Caraíbas permanecerá ininterrupta até
aos nossos dias.
A
reconquista do Brasil pelos Portugueses marca o início da expansão judaica nas
Américas. Longe de ser uma derrota, a expulsão dos Judeus do Recife foi um
impulso motor à autodeterminação no Novo Mundo. Consequentemente, durante as
primeiras décadas do século XVII, a diáspora judaica prosseguiu para o Suriname
(44), as futuras Guiana Francesa e Guiana Britânica, as Caraíbas, as colônias
anglo-americanas, o Canadá, e a Europa, nomeadamente Londres e Amsterdã . O
Povo de Israel foi entre os primeiros colonos europeus a estabelecer-se no
sistema colonial das plantações. Na secunda metade do século XVI os Judeus já
constituíam a primeira colônia permanente nas Américas e a única colônia de Europeus
que tenha conservado a sua identidade étnico-religiosa (45).
Uma
das mais antigas fontes de informações sobre a presença judaica no Suriname é o
Essai historique sur la colonie du Surinam, publicado em 1788, o qual, mesmo se
não sempre acurado, menciona o fato de que, logo depois da Paz de Breda, 1667
(46), duzentas mil pessoas foram para a Jamaica e daí, junto com o lorde
William Willoughby, emigraram para o Suriname (47). Todavia, temos de ressaltar
que já em 1639 o Suriname contava com uma pequena comunidade judaica e que a
segunda imigração aconteceu em 1644, ou seja, dezoito anos antes de lorde
William Willoughby receber autorização do rei Carlos II, 1630-85, rei de
Inglaterra, 1660-85, para estabelecer em Paramaribo uma colônia britânica. Porém,
em 1652, Willoughby, na sua segunda viagem ao Suriname, levou consigo só
algumas famílias judaicas, as quais contribuirão para a formação da comunidade
israelita da capital, Paramaribo. Em breve o rabi Isaac Neto ser-lhes-á enviado
para ser o seu líder religioso. Aos olhos do lorde inglês não havia distinção
entre Judeus e gentios, todos eram iguais perante as leis da colônia sob sua
administração (48). A maioria destes Judeus dos primórdios a residirem no
Suriname escolheu viver na capital, Thorarica. Este fato está a indicar que,
pelo menos nesta altura, o campo agrícola não era muito cobiçado por estes
Judeus da Diáspora, quer voluntária quer forçadamente (49). A expulsão dos
Judeus do Brasil em 1654 foi portanto o início de uma diáspora que levará o povo
israelita para outras zonas americanas assim como europeias, sobretudo Amsterdã
o. Um lustro depois, da capital holandesa, alguns destes judeus americanos
receberam da Companhia das Índias Ocidentais plena autorização para formar uma colônia
em Caiena, já sob posse holandesa desde o 1656. Também receberam liberdade
religiosa, civil e pública. Em outras palavras, os Judeus estavam livres de
praticar a sua religião abertamente e, se bem que tivessem que pagar algumas
taxas, eles eram governados pelas próprias leis. Contudo, em 1664, devido à
dissolução da colônia holandesa em Caiena, assistimos a uma diáspora
voluntária, uma emigração para o vizinho Suriname — assim como para Essequibo e
Pomeroon, zona outrora chamada Nova Zelândia —, quando a França finalmente
tomou controle do território (50). Mesmo se o tratado franco-holandês de Maio
de 1664 garantia plena liberdade de culto, os Judeus não se sentiam protegidos
e até desconfiavam, e com razão, da sinceridade dos Franceses, sempre prontos a
pôr restrições religiosas contra Protestantes e Judeus (51). Estabelecida sob
os Ingleses, a comunidade judaica prosperou sob o domínio holandês, 1657,
sobretudo graças aos inúmeros privilégios em prol do povo eleito. Obviamente as
razões para os admitirem no seio neerlandês encontravam-se mais em motivos
económicos do que em meras predilecções religiosas (52). Em outras palavras, a
magnanimidade dos Holandeses face à questão judaica provinha de similares
concessões liberais oferecidas aos seus súbditos na vizinha colônia da Guiana,
território onde se encontravam em competição com uma outra potência europeia,
nomeadamente, a Inglaterra. Os Judeus, então, eram indispensáveis pelos seus
talentos na produção e no comércio da cana-de-açúcar, sobretudo a níveis
transatlânticos (53). Os principais centros judaicos encontravam-se ao longo da
costa, especialmente em Paramaribo e, dez milhas mais no interior, em Juden
Savanne, ou seja, a Savana dos Judeus, e nas comunidades circunvizinhas (54). A
Inglaterra tratou os seus súbditos Judeus muito favoravelmente, sobretudo
devido ao fato de muitos deles serem abastados, possuírem escravos e por serem
espertos no campo das plantações, técnicas que tinham aprendido no Brasil (55).
Em
1661 Benjamin de Caseres, Henry de Caseres e Jacob Fraso pediram à cora inglesa
autorização para "live and trade in Barbados and Surinam." (56).
Obtiveram-na em 1662. A 17 de Agosto de 1665 o governador William Byam,
1623-70, concedeu amplos privilégios aos seus súbditos judeus e a todos os israelitas
da Diáspora que quisessem emigrar para o Suriname, em geral, e Thorarica, em
particular. Além de ser um convite para todos os Judeus, a oferta dirigia-se
particularmente à comunidade israelita de Caiena. Sem esta promessa os Judeus
de Caiena teriam optado para outras áreas sob domínio holandês, onde a presença
judaica era antiga, quase sempre tolerada e, como visto supra, até encorajada.
A
coroa inglesa tinha que garantir estes mesmos privilégios ou até oferecer
melhores condições daquelas propostas pelos holandeses, daí as concessões dos
Ingleses. De fato, esta será a primeira vez na história da Inglaterra e do
império britânico que plena liberdade de expressão religiosa e, mormente,
cidadania inglesa, foram dadas a Judeus residentes em solo britânico (57). Contrariamente
à situação em vigor nas colônias britânicas, sobretudo a Jamaica, os Judeus do
Suriname, salvo em casos de emergência, eram isentos do serviço militar aos
Sábados e dias feriados no calendário hebraico. Em 1667, um ano antes de o
Suriname passar definitivamente sob posse holandesa, 15 de Abril de 1668, o
Governador Abraham Crijnseeen, temendo que os plantadores judeus partissem,
arruinando, assim, a economia da inteira ilha, apressou-se a fazer
"several solemn declarations," para ambos os Judeus e os outros
estrangeiros, sobretudo ingleses, a morarem in situ (58).
Aos
Judeus prometeu-lhes os mesmos privilégios dados pelos Ingleses. Em 1668 o novo
governador, Philippe Julius Lichtenberg, continuou esta política de tolerância
e benevolência para com o Povo de Israel. De fato, este último pediu e obteve
ulteriores privilégios e garantias (59) A Paz de Westminister, que pôs término
à Guerra Anglo-Holandesa, 1672-74, autorizava os cidadãos ingleses a sair do
Suriname. Em 1675 muitos Judeus, talvez temendo pelo próprio destino, mesmo se
não existissem razões particulares para justificar tais acções de pânico,
decidiram não arriscar a sorte e optaram por seguir o caminho inglês em zonas
limítrofes. A Inglaterra queria-os, sobretudo porque isso significava comércio
e braços físicos, ambos necessários para o auto-sustentamento e para a
autonomia duma colônia, especialmente na sua fase de formação. O governador
Versterre primeiro concordou, porém, uma vez visto o número de colonos judeus
na lista — por um total de duzentas/duzentas e cinquentas pessoas — e, pensando
imediatamente na completa destruição econômica da ilha, recusou-se veemente a
deixá-los partir (60). Contudo, o Suriname continuava a flutuar entre as duas
potências e, obviamente, quem beneficiava disto eram os Israelitas. O primeiro
rabino e cabo espiritual da comunidade sefardita foi Isaac Nieto, enviado de Amsterdã
o em 1680.
Em
1682 três membros da comunidade de Amsterdã o chegaram ao Suriname: Aharon
Uziel Cardozo, Jahacob de Gabriel Nunes e Selomoh Mesiah. A sinagoga foi
oficialmente dedicada em 1685 pelo rabi David Pardo, o qual falecerá no
Suriname em 1713. O seu filho, Josiahu Pardo, será o rabino de Curaçau e da
Jamaica. Desde a sua chegada ao Suriname, a maioria dos colonos judeus era constituída
por donos de plantações. Houve ocasiões nas quais, assim como os seus colegas
cristãos, também os Judeus sofreram da falta de mão de obra, sobretudo devido à
fuga ou até a levantes de escravos, como a insurreição de 1690 (61). Em 1759
muitos Judeus de Amsterdã o chegaram ao Suriname.
As
migrações continuaram até ao 14 de Novembro de 1802, dia no qual Moses Gomes
Carvalho Júnior recebeu a sua passagem marítima (62). Entre os intelectuais
mais famosos do Suriname, David de Isaac Cohen Nassy, 1747-1806, é sem dúvida
qualquer o mais notável quer pela erudição quer pela sua participação nos
eventos político-sociais do seu tempo (63). David de Isaac Cohen Nassy foi
também o autor do supracitado Essai historique sur la colonie du Surinam, o
qual publicou anonimamente em 1788. Uma década mais tarde, de volta duma
estadia no estrangeiro, incluindo uma breve pausa na jovem república dos
Estados Unidos da América, Cohen Nassy publicou a Lettre
politico-théologico-morale sur les Juifs, na qual se manifesta em prol da
emancipação dos seus correligionários europeus (64).
Durante o século XVIII, quando o Suriname era
um importante centro judaico, a ilha contava com congregações sefarditas,
ashquenazim e mulatas. Como na região das Caraíbas a ela contígua, a comunidade
do Suriname declinou no século XIX, principalmente por motivos económicos.
Contudo, se considerarmos a presença judaica no Suriname das origens da sua
colonização até ao início do século XIX, podemos constatar que ao longo destes
três séculos o Povo de Israel não só continuou, ininterrupto, a prosperar, mas
também contribuiu para a prosperidade da colônia holandesa na América do Sul
(65).
Se
pusermos Amsterdã o no centro, notaremos que da capital holandesa irradiam
todas as ramificações que ligam as comunidades sefarditas, sobretudo
portuguesas, com o Novo Mundo. Amsterdã o será o ponto de partida para
destinações quase simultâneas ao Brasil, aas Caraíbas e, mais ao norte, às colônias
anglo-americanas assim como ao Canadá anglo-francês. Como consequência do êxodo
de 1654, também o Suriname e as duas Guianas verão uma presença judaica no seu
meio. Outros Judeus irão mais ao norte, para as ilhas atlânticas e à América do
Norte. O resto voltou para Amsterdã o e daí mais outros voltarão ao Novo Mundo,
sobretudo aas Caraíbas e à Nova Neerlândia, futura Nova Iorque. No hemisfério
ocidental, então, as Caraíbas parecem ser o fulcro das atividades sefarditas, o
ponto de contacto entre a Europa — Amsterdã o, Londres e Paris — e o resto do
continente americano, do Canadá ao Brasil (66).
A
vida judaica nas Caraíbas prosperava, com inúmeras colônias israelitas na
região, assim como no resto do mundo atlântico, todas ligadas entre si por
liames comerciais, para não falar do seu comum denominador, ou seja, o fato de
fazer parte da "Nação Portuguesa." A expulsão dos Judeus e
Protestantes da França em 1685, graças ao infame Code Noir (67), segundo o qual
era interdito aos Judeus estabelecerem-se nas suas colônias americanas, deu
início a uma reacção em cadeia a qual impulsionará uma nova diáspora para o
Oeste, e não só para a América do Norte mas também para o Brasil e as Caraíbas,
sobretudo as Baamas e a Jamaica.
Curaçau
pertencia à coroa espanhola desde 1527. Devido ao fato de ser rica em recursos
minerais e, mormente, por ser situada perto das costas sul-americanas, a ilha
despertou um interesse particular nas almas neerlandesas, as quais a cobiçavam
pela sua posição estratégica. O 29 de Julho de 1634, a Companhia Holandesa das
Índias Ocidentais finalmente tomou posse de Curaçau. Um dos intérpretes a bordo
do navio comandado por Johan Van Walbeeck era o judeu-português Samuel Cohen,
alcunhado de Coheno (68). Cohen será o primeiro judeu de Curaçau também a
representar a Companhia na ilha.
Além
dele, os primeiros documentos relativos à presença judaica na ilha remontam ao
1650, porém estes Judeus dos primórdios não permaneceram por muito tempo. A
maioria deles provinha do vizinho Brasil assim como da metrópole holandesa. No
mesmo ano doze famílias israelitas apresentaram-se ao governador de Curação,
Matthias Beck, junto com cartas do Conselho da Holanda, ordenando que lhes
fosse concedida autorização para residirem no seu meio e, além disso, que lhes
fossem dados terrenos, escravos africanos, cavalos e gado. A ideia era que
formassem uma colônia nas Índias Ocidentais Holandesas, dado que os colonos
holandeses, a residirem ali há mais de vinte anos, não mostravam nenhum sinal
de prosperidade (69). Não obstante a magnanimidade da oferta, as restrições
impostas não tardaram a chegar. Os Judeus eram tratados como se fossem
estrangeiros e, como tais, não se podiam encontrar dentro dos recintos da colônia
depois das nove da noite. O Povo de Israel queixou-se ao Governador Stuyvesant,
ameaçando de abandonar a colônia. Em Março do mesmo ano a Companhia Holandesa
das Índias Ocidentais, visto o problema e, mormente, dado o escasso lucro que
Curaçau trouxe durante mais de quinze anos, estava até a considerar o abandono
completo da ilha (70). Porém, o ano seguinte, em 1652, a Companhia deu ao
supracitado Joseph Nunes de Fonseca, igualmente conhecido como David Cohen
Nassy e Cristóvão de Távora, e outros judeus autorização para estabelecer uma
(segunda) colônia judaica em Curaçau. O marrano português João Ilhão, 1609-?,
foi o Patroon-Master, isto é, donatário terreiro, encarregado da operação (71).
As concessões eram todas a favor do Povo de Israel (72). No caso em que se
encontrassem cristãos no meio destes colonos judeus, o Patroon-Master não podia
forçá-los a trabalhar no "Sabbath of the Christians." Os directores
da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais fizeram esta concessão em guisa de
experimento, mesmo sabendo que talvez a derradeira meta destes Judeus fosse
aquela de estabelecer contactos comerciais com as outras ilhas das Caraíbas e
zonas limítrofes, para não falar dos liames com Amsterdã o e Londres. Esta foi
uma das primeiras cartas régias europeias a oferecer privilégios religiosos a
Judeus no Novo Mundo. Entre os primeiros emigrantes encontramos inúmeros Judeus
de Pernambuco e, obviamente, de Amsterdã o.
Contudo,
não obstante a liberalidade e a magnanimidade expressas em prol do povo
israelita, não poucas foram as dúvidas da Companhia a respeito do sucesso do
projeto, sobretudo devido à suposta índole dos Judeus, vistos como elementos
dos quais é sempre melhor desconfiar (73). E de fato no início o número de
imigrantes/colonos judeus era muito exíguo. Das propostas cinquenta famílias,
só dez chegaram à ilha. Quase uma década mais tarde, em 1659-60, a comunidade
local cresceu em número e, sobretudo, em importância econômica. A cabo destes
setenta Judeus, todos proveniente de Amsterdã o, encontrava-se o português
Isaac da Costa, sobrinho do filósofo Uriel da Costa, m. 1640. Eles serão os
antepassados dos judeus curaçanos.
Ao
chegarem a Curaçau os imigrantes receberam uma carta a garantir-lhes terras ao
longo da costa e, a reiterar quase todos os direitos conferidos à primeira
expedição israelita uma década antes, assim como plena liberdade de expressão
religiosa, sem mencionar o fato de serem isentos de muitos impostos e deveres
cívicos, sobretudo quando estes forem incompatíveis com os seus preceitos
religiosos (74).
Os
colonos também receberam a autorização de construir habitações próprias e o
direito de comprar escravos diretamente do assento (75). Assim, com terra,
escravos, oportunidades para estabelecer uma comunidade fundada no comércio
local e inter-caraíbico, os judeus curaçanos fundaram uma comunidade
completamente enraizada na cultura local, infelizmente escravista. Graças à
rede comercial que estabeleceram na inteira região, sobretudo com a Martinica,
onde residiam sucursais ligadas por liames de parentesco (76), estes primeiros
Judeus conseguiram inserir-se no meio da sociedade local, fator indispensável
para a própria subsistência da ilha. Além disso, já a partir do 1657 existiam
liames comerciais entre Amsterdã o e Curaçau.
Obviamente
o papel dos Judeus neste tráfico transatlântico de bens era fundamental,
essencial para ambas a Holanda e a sua pequena colônia nas Caraíbas. A chegada
dos judeus brasileiros, e com eles, de capital, necessário para a prosperidade econômica
da ilha, mudou, e dessa vez numa maneira favorável, a atitude colonial face à
questão judaica no meio da comunidade cristã, sempre pronta a pôr restrições
aos Judeus. Quanto a lugares de residência, foram-lhes portanto concedidas
plenas liberdades de escolha. Em breve tempo a comunidade israelita aumentou de
número e, sobretudo, de prestígio (77). Os antecedentes do primeiro lugar de
adoração têm origem nas primeiras presenças judaicas de 1654-56. Todavia, a
primeira sinagoga, Mikvé Israel, ou seja, a "Esperança de Israel,"
acompanhada por um cemitério, Beth Haim, é de 1659. Este ano coincide com a
chegada de refugiados do Brasil. Estes serão os verdadeiros fundadores da
comunidade israelita curaçana. Após discriminações e persecuções in terra
brasiliensis, "they had every right to place their hopes in a tolerant,
hospitable country." (78). Dado o seu passado de marranos, alguns deles ainda
guardavam uma camada cultural cristã/cristão-nova. O resto era formado por
antigos colonos já nascidos e criados no Novo Mundo: de Nova Amsterdã o e
Caiena a Tobago e Essequibo. Obviamente não faltavam os Asquenazim, (quase)
sempre prontos a cooperarem com os seus correligionários (79).
A
Mikvé Israel será o mais antigo lugar de adoração judaico da América do Sul com
serviços religiosos ininterruptos até hoje. A segunda sinagoga foi erguida em
1692. No cemitério Beth Haim encontram-se enterradas quase cinco mil pessoas. A
maioria das inscrições tumulares encontra-se escrita em Português, 361 em
Espanhol, oitenta e nove em Inglês, setenta e duas em ambos Espanhol e
Hebraico, quarenta em Hebraico, trinta e duas em Holandês, três em Francês e
uma, do século XX, em Iídiche (80).
O
primeiro rabino, Josiau Pardo, originário da comunidade de Amsterdã o, chegou a
Curaçau em 1674. Curaçau viu a sua população judaica crescer com a expulsão dos
Judeus da Martinica em 1685, quando uma onda de imigração se estabeleceu no
meio duma comunidade já florida (81). Contudo, as relações comerciais com a
Martinica continuaram ininterruptas durante todo o século XVIII. A primeira e
permanente comunidade judaica, fundada em 1659, tinha as suas raízes em Amsterdã
o.
Em
1693 quase noventa Judeus partiram para a colônia norte-americana do Rhode
Island (82). No mesmo ano um grupo de Italkim, ou seja, judeus italianos, junto
com Sefarditas emigrados em solo itálico, já residentes de Caiena, partiram de
Curaçau para a Venezuela onde estabeleceram uma pequena comunidade em Tucasas
(83).
Muitos
Judeus foram para o sector agrícola, destacando-se como donos de plantações.
Outros, ao invés, deram-se ao comércio, local e internacional. A comunidade
cresceu durante dois séculos. Graças às imigrações contínuas de Judeus,
Sefarditas assim como Ashquenazim, num espaço de tempo a abranger quase dois
séculos, muitas sinagogas foram erguidas, porém a mais famosa foi a Mikvé
Israel-Emmanuel, consagrada em 1732. O arquétipo usado foi a sinagoga de Amsterdã
o. No fim do século XVIII, assim como no começo do século XIX, a Mikvé
Israel-Emmanuel será a mais importante e, financeiramente falando, a mais
próspera comunidade judaica do Novo Mundo.
De
fato, a mãe das congregações americanas, como foi posteriormente alcunhada,
ajudou à formação das nascentes — e por isso ainda a necessitar de subsídio —
comunidades de Newport, no Rhode Island, Nova Iorque e Filadélfia à Jamaica, às
Ilhas Virgens, Santo Eustáquio e ao vizinho Suriname. A ajuda financeira dos
Judeus de Curaçau chegou até à Terra Santa, denominada "Pátria
Nossa," a sustentar pequenos grupos desejosos de continuar os seus estudos
religiosos em terra muçulmana (84). Nisso os judeus curaçanos seguiam o modelo
de muitas outras comunidades israelitas da Diáspora, de Amsterdã o ao Recife
(85). Devido a muitos factores externos, políticos assim como naturais, o fim
do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX marcarão o começo do
declino da importância econômico-social dos Judeus na ilha. As revoluções para
a independência do Haiti, 1804, e da Venezuela, 1811, e, sobretudo, a Guerra de
1812 entre a Inglaterra e os Estados Unidos, 1812-15, arruinaram a economia das
Caraíbas. Além disso, a English Navigation Act restringia os produtos
exportáveis para as suas possessões atlânticas.
As
epidemias de febre amarela de 1803, 1807 e 1812, assim como o furacão do 18 de
Outubro de 1807, deram o golpe de graça a colonos e comerciantes curaçanos,
Judeus assim como Gentios. Mais uma vez, a única solução foi a de emigrar. Mesmo
se não completamente decimada, a comunidade judaica de Curaçau e das ilhas
circunvizinhas viu o seu número diminuir de muito, de mais de mil e duzentas
almas, contadas em 1785, a pouco mais de 937 pessoas em 1826 (86).
O
1954 marcou o tricentenário da presença judaica no continente norte-americano.
Durante a primeira metade do século XVII havia pouco mais de vinte Judeus a
residirem nas colônias francesas, holandesas e inglesas da América do Norte.
Além deles também temos de lembrar os Marranos das províncias espanholas da
Flórida e do Novo México (87). Quando os primeiros Judeus chegaram na colônia
holandesa de Nova Amsterdã o em 1654 (88), o número de Europeus a viverem na
vertente atlântica, do Maine à Flórida, era muito exíguo: quase setenta e cinco
mil almas. Apesar de a ilha se encontrar em posse holandesa, a maioria dos
colonos era constituída por Ingleses. As zonas teocráticas ao norte de Nova Amsterdã
o, ao invés, de forte adesão protestante, como as de Plymouth e Massachusetts
Bay, pelo mesmo fato de serem comunidades religiosas, não continham Judeus no
seu seio. O Connecticut, por exemplo, terá os seus primeiros Judeus em 1635
(89).
Em
geral, podemos dividir a permanência do Povo de Israel nas colônias
anglo-americanas em quatro fases de imigração, nomeadamente: i. a ibérica, isto
é, as comunidades sefarditas de origem espanhola e portuguesa; ii. a ashquenazi
de língua alemã; iii. a ashquenazi da área eslavo-romena, moldava e/ou húngara;
iv. aquela judeu-americana, surgida em 1921, a qual foi considerada por Jacob
Marcus como "The Emerging American Jewish Community," a terminar o
seu período em "The Age of Fusion." Em outras palavras, estamos
perante "The Rise of the American Jew." (90).
A
primeira fase, a ibérica, a cobrir mais de um século e meio, nomeadamente,
entre 1654-1840, sempre segundo Marcus, é também vista como "the Rise and
Decline of Sephardic Jewry." De fato, uma das maiores diferenças entre as
comunidades diaspóricas das colônias norte-americanas e as suas contrapartidas
nas Caraíbas e na América do Sul reside no fato que estas últimas eram
completamente dominadas pelos Sefarditas — com poucas presenças ashquenazim.
Os
Judeus das colônias norte-americanas, ao invés, mesmo se (quase) todos de
origem sefardita, aos poucos viram a sua supremacia desafiada pelos
Ashquenazim, os quais, a partir dos meados do século XIX, serão líderes
incontestáveis da arena judaica norte-americana, lugar que, aliás muito
infelizmente, conservarão até aos nossos dias (91). O primeiro período é também
dividido em duas sessões: o Período Colonial, 1654-1776, — o qual pode até ser
subdividido no Período Holandês, 1654-64, e no Período Inglês, 1664-1776 —, e o
Primeiro Período Nacional, 1776-84.
O
Período Holandês, 1654-64, vê a primeira presença de Judeus da Diáspora em solo
norte-americano. Durante o Período Holandês a comunidade sefardita era o modelo
de Judaísmo na colônia holandesa, também adoptado pelos Ashquenazim, os quais,
como dito supra, gradualmente constituirão a maioria em solo americano. O Período
Inglês, 1664-1776, ao invés, começa com a ocupação britânica e termina com a
Declaração da Independência em 1776. Já durante as primeiras décadas do século
XVIII a componente étnica dos judeus norte-americanos se encontra mudada: de
agora em diante será ashquenazi, primeiro de fala e cultura alemã e depois
eslavo-romena, moldava e/ou húngara. Porém, o rito sefardita — quer em
Português quer em Espanhol ou até em Ladino —, pelo menos até aos meados do
século XIX, conservar-se-á em muitas sinagogas nova-iorquinas, sendo, assim, o
alicerce das comunidades judaicas locais (92). A segunda fase, aquela
ashquenazi de origem alemã, que começa em 1841 e termina em 1920, é, ao invés,
vista como "the Rise and Dominace of the German Jew."
Como
consequência das guerras napoleônicas na Europa, 1804-14, houve maciças
imigrações de ashquenazim alemães. Já em 1825 estes últimos se separaram da
Shearit Israel nova-iorquina para formar a B’nai Jerusalem, a primeira
congregação israelita de rito ashquenazi da cidade, a qual será o centro de
apoio para a comunidade judaica de língua alemã durante todo o século XIX (93).
A terceira — aliás quase concomitante com o segundo período e que persistiu
durante mais de seis lustros, nomeadamente entre 1852-1920 — vê a subida ao
poder dos Ashekanzim de origem eslavo-romena, moldava e/ou húngara seguida pelo
seu declino político, ou seja, "the Advent and Rise of the East European
Jew and his Challenge for Leardership of the Jewish Community in the United
States." (94).
O
1654 é dado como a data da primeira colonização do continente norte-americano,
a qual também incluía um grupo de judeus holandeses. A terra a ser colonizada
era a Nova Amsterdã o, futura Nova Iorque, colônia pertencente ao império
holandês (95). Alguns dias antes do 7 de Setembro de 1654 o navio francês St.
Cathrien, liderado pelo capitão Jacques de la Motthe, desembarcou na doca de
Nova Amsterdã o. Entre os refugiados holandeses encontramos vinte e três Judeus
— homens, mulheres e suas proles, todos provenientes do Recife (96). A
controvérsia sobre a origem deste navio permanece aberta, com estudiosos a
apoiarem uma ou a outra hipótese (97). Alguns anos depois da sua chegada na
América do Norte, em 1655, os filhos de Israel já se uniram aos seus
correligionários para formar a primeira comunidade judaica de Nova Amsterdã o.
Mesmo se protegidos pelas leis holandesas, sobretudo aquelas civis e políticas,
os Judeus não tinham nenhum direito a exercer publicamente a sua religião. Os
antigos preconceitos e prejuízos foram assim transplantados para o Novo Mundo.
Era-lhes
portanto interdito o culto de adoração, quer em sinagogas quer em assembleias
públicas (98). A Judeus e Portugueses (99) — talvez pelo fato de na altura os
dois termos serem quase sinónimos —, também era interdito ter relações
comerciais com Fort Orange, a hodierna Albany, capital do estado de Nova
Iorque, e South River, no actual Delaware.
Além
disso, os dois grupos "étnico-religiosos" não podiam exercer serviços
públicos nem serem retalhistas. As únicas concessões foram aquelas de poderem
praticar o próprio culto religioso em casa e o direito de construir uma
habitação em qualquer sítio de Nova Amsterdã o (100). Com certeza quase
absoluta podemos dizer que os primeiros Judeus que se estabeleceram em Nova
Neerlândia não provinham directamente do Brasil, mas antes, que chegaram do
Cabo de Santo António, muito provavelmente situado em Cuba.
Além
disso, existe a possibilidade do que um grupo, se não muitos, de Judeus
provenientes das Caraíbas, cansados de abusos e restrições comerciais
impostas-lhes pelos Europeus, também chegou às praias da Nova Holanda.
Finalmente, os refugiados brasileiros com muita probabilidade ou caíram em mãos
portuguesas no 15 de Janeiro de 1654 ou, entre os meses de Janeiro e Agosto do
mesmo ano, encontraram amparo em Gamonike, talvez a Jamaica, e daí finalmente
atingiram as costas da Nova Neerlândia (101). Porém estes judeus
"holandeses" não foram os primeiros em sentido absoluto. Antes deles
encontramos grupos esporádicos de Judeus na mesma Nova Amsterdã o (102) e nas colônias
anglo-americanas do Maine, Massachusetts, Maryland (103), Connecticut, Rhode
Island, da Virgínia e das duas Carolinas (104). Interessante reparar que o
Rhode Island tinha a forma de governo mais tolerante da altura. Por exemplo,
apesar da sua nacionalidade, todos eram bem-vindos e eram-lhes conferidos os
mesmos direitos e privilégios usufruídos pelos cidadãos ingleses
metropolitanos. De fato, garantia-se-lhes plena naturalização ao pisar o solo
da dita colônia.
É
por esta razão, então, que encontramos uma comunidade judaica em Rhode Island
já neste período dos primórdios. É graças a homens como Roger Williams,
1603?-83 (105), que os direitos religiosos dos residentes Judeus, assim como os
de qualquer outra denominação religiosa, foram garantidos. A constituição desta
colônia, promulgada em 1652, será de fato o alicerce da futura constituição
estado-unidense, com a liberdade de culto religioso e a separação da Igreja e
do Estado a reinarem sublimes (106). Os Judeus estabeleceram-se em Newport,
Rhode Island, então, já a partir do 1656. Em breve tempo Newport tornar-se-á
numa das mais importantes cidades das colônias norte-americanas, a ultrapassar
também Nova Iorque como porto e centro comercial. Em 1658 quinze famílias israelitas
chegaram da Holanda. Os primeiros documentos escritos, ao invés, são de 1678 e
relativos a uma acta de compra de terreno para um cemitério judaico. Esta
primeira comunidade provinha da ilha Barbados, donde os Judeus escaparam devido
às elevadas taxas sobre a produção açucareira. Entre os imigrados encontramos
Mordecai Campanall e Moses Pacheco (107). Com eles também chegou ao Novo Mundo
a Maçonaria, sobretudo a de rito escocês, fator que em breve tempo os ajudará a
estabelecer-se na comunidade, colocando-os entres os altos círculos da
sociedade.
Todavia,
devido ao fato de os Judeus não beneficiarem da indemnização inglesa, isto é, o
direito de negociar em qualquer produto, e dado que, na realidade, a
liberalidade com a qual foram tratados, era, no fundo, simples tolerância,
muitos deles mudaram-se para outras regiões geográficas norte-americanas (108).
O 24 de Agosto de 1694, outros refugiados sefarditas chegaram de Curaçau, entre
os quais se encontrava Joseph Nunez de Fonseca. Em pouco mais de quatro
décadas, nomeadamente em 1740, a cidade viu a sua população crescer sobretudo
graças à abertura do porto e da pesca à baleia (109).
Além
disso, durante as guerras franco-indianas, 1689-1763, Newport tornou-se num dos
principais centros de abastecimentos para as tropas inglesas destinadas ao
combate no território canadiano (110). Em 1763, baseando-se na construção de
1658, a comunidade judaica ergueu a Congregation Yeshuat Israel, ou seja,
"A Salvação de Israel," a mais antiga sinagoga do continente norte-americano.
Apesar
de o seu hazzan ser sefardita, Isaac Touro (111), a comunidade encontrava-se
igualmente dividida entre Ashquenazim e Sefarditas (112). Em 1760, Newport
contava com quinze famílias judaicas e, em 1774, segundo os boletins de
recenseamento, o número subiu a cento e vinte e um. Quase três séculos depois
das diásporas ibéricas os Sefarditas, coadjuvados pelos seus correligionários
Ashquenazim, conseguiram criar nas colônias anglo-americanas uma nova sociedade
baseada no comércio e na liberdade de expressão religiosa, mesmo se os seus
direitos civis e legais chegaram a ser garantidos mais tarde, gradual e (muito)
lentamente. Obviamente se tivessem permanecido em Portugal e na Espanha eles
não poderiam ter alcançado tais níveis, nem sequer disfarçados como Marranos.
Por
exemplo, a imigração portuguesa — quer cristã quer marrana — às colônias
norte-americanas continuou durante este período, intensificando-se sobretudo a
causa do grande terremoto de Lisboa, 1755. O Rhode Island foi o maior receptor
destes refugiados lusos, seguido pelo Massachusetts e pelas outras colônias
anglo-americanas da vertente atlântica (113). Em 1664, isto é, uma década
depois da primeira presença israelita na América do Norte, Nova Amsterdã o
passa sob o domínio inglês. A cidade de Nova Iorque continuará a oferecer aos
seus cidadãos judeus os mesmos benefícios do antigo regime. Em 1665 o duque de
Iorque, governador da cidade, vedou qualquer forma de discriminação dirigida
contra os Cristãos e, em 1674, a proibição estendeu-se para "all persons
of what Religion so ever." Isto incluía os Judeus, os quais, visto que
podiam finalmente praticar a sua religião abertamente, começaram a oferecer o
seu culto de adoração ao Senhor de "maneira visível." (114). Em 1682
iniciaram os preparativos para a construção de Shearith Israel, o mais antigo
templo israelita da América do Norte (115). Porém, gradualmente restrições
foram postas contra tais actos que a sinagoga teve de ser fechada. Em 1685 os
judeus nova-iorquinos redigiram uma petição demandando que lhes fosse
restituído o antigo privilégio. Todavia, o prefeito e os membros do Conselho
Municipal de Nova Iorque rejeitaram-na unanimemente.
O
ano seguinte, com a subida ao trono de Jaime II, 1633-1701, Rei de Inglaterra,
Irlanda e Escócia, 1685-88, a recusa do direito à liberdade de culto religioso
foi revogada e a sinagoga pôde finalmente abrir as suas portas ao público e ao
culto sem medo de infringir as leis locais (116). A sinagoga Shearith Israel
foi finalmente inaugurada em 1729 (117). Em 1715 a colônia de Nova Iorque
passou a Lei de Naturalização, segundo a qual os estrangeiros que se
estabeleceram naquela colônia antes do 1 de Novembro de 1683 podiam
naturalizar-se automaticamente.
Esta
lei não podia ser aplicada a Judeus de outras nacionalidades que chegaram
depois da dita data (118). Não obstante isto, as discriminações e os
sentimentos anti-semíticos continuaram ininterruptos por mais de um século. Por
exemplo, os Judeus não podiam herdar nem podiam ser testemunhas perante a lei.
A situação melhorou com o décimo terceiro aniversário do reinado do Rei Jorge
II, 1727-60, quando, o 1 de Junho de 1740, o monarca inglês ofereceu plena
igualdade a todos os seus súditos além-mar, inclusive as colônias
anglo-americanas (119). Duas subdivisões desta acta, nomeadamente os números II
e III, dirigiam-se especificadamente àqueles "who profess the Jewish
religion," os quais, devido à sua fé, eram dispensados do sacramento
cristão como acto preliminar à naturalização britânica; portando eles podiam
omitir a frase "upon the true faith of a Christian." (120).
Entre
os primeiros Judeus a beneficiar desta ata foi um grupo de duzentos
comerciantes originários da Jamaica. Nova Iorque crescia rapidamente, sobretudo
graças ao envio de deportados e cidadãos livres aos quais foram prometidos
terrenos e prospetivas para ter um melhor nível de vida (121). Todavia, apesar
da Ata de 1740, aos Judeus era ainda interdita a entrada em Nova Iorque.
Não
obstante isso, e duma maneira geral, a posição cívica dos judeus britânicos,
quer na Metrópole quer nas suas colônias do Novo Mundo, era ainda muito
favorável, sobretudo se comparada com os seus correligionários a residirem em
solo luso e, em medida menor, francês. De fato, William Penn, 1644-1718 (122),
comentou a favor da aceitação deste sistema de tolerância impulsionado pelo rei
Jaime II.
Mais
do que no norte, nas colônias anglo-americanas do sul a presença judaica foi
instrumental para o próprio desenvolvimento e sustentamento econômico. Dois dos
estados sulistas, a Geórgia e a Carolina do Sul, de fato viram a luz graças à
presença de Judeus que se estabeleceram nestes sítios (123). Na Geórgia, por
exemplo, durante o período pré-revolucionário, o Povo de Israel constituía um
terço da população. Em ambas estas colônias meridionais os Judeus formavam
quase metade da população judaica das treze colônias originais, quer antes quer
depois da Guerra da Independência. Em 1733, o médico Samuel Ribeiro Nunes,
Marrano a escapar o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa,
desembarcou à recém-nascida colônia da Geórgia, onde em pouco tempo chegou a
obter a completa gratidão dos colonos pela sua devoção altruística aos doentes
(124). Mesmo se recebeu ordens da capital londrina de não admitirem Judeus
(125), o general e governador da Geórgia, James Edward Oglethorpe, 1696-1785,
era de ideias contrárias. A liberdade de expressão religiosa era de fato
garantida a todos os cidadãos livres, com excepção dos Católicos.
Obviamente
predileção era dada aos Anglicanos (126). Nunes encontrava-se entre os
primeiros quarenta Judeus, todos Sefarditas, a desembarcar o 11 de Julho (127).
O ano seguinte doze famílias ashquenazim de língua alemã juntaram-se ao resto
da população e, antes do fim do ano, ergueram a primeira sinagoga, "Both
bands of settlers received equally liberal treatment, and they soon organized a
congregation (1734)" (128), denominada Mikva Israel, ou seja, a
"Esperança de Israel." Um novo lugar de adoração foi estabelecido
exactamente quatro décadas mais tarde, em 1774. Entre as contribuições
judeu-portuguesas à Geórgia encontramos a introdução da viticultura, 1737, e a
sericicultura. Esta última operação chegou a um nível de produção tão elevado
que o governo inglês enviou Joseph Ottolenghi, m. 1774, a supervisionar as atividades
comerciais.
Ottolenghi
não só conseguiu cumprir sublimemente o seu cargo mas também chegou a ser
eleito membro da Assembleia Geral da colônia, cargo que deteve entre 1761-65.
Também a viticultura foi muito profícua para a economia da nova colônia (129).
Infelizmente, porém, a viticultura e a sericicultura, mesmo se bem sucedidas,
não despertaram o interesse dos colonos georgianos. O cultivo do índigo, do
arroz e do milho eram mais profícuos. Mais tarde, no giro de poucos anos —
sobretudo devido à triste instituição do sistema da escravidão — as plantações
de tabaco e algodão revolucionarão completa e definitivamente o aspecto da
inteira região do sul dos Estados Unidos.
Segundo
a constituição da colônia da Carolina do Sul — esboçada pelo filósofo John
Locke, 1632-1704 (130), no fim do século XVII —, um grupo de sete pessoas
mínimo estava autorizado a formar uma comunidade religiosa (131). Dado que não
estava especificado o tipo de religião, os Judeus sentiram-se portanto livres
de estabelecer-se neste território. Consequentemente, não só puderam permanecer
na colônia mas também adquiriram o direito de cidadania. Aos poucos os Judeus
inserir-se-ão na prolífica rede comercial que unia a Carolina do Sul à ilha Barbados,
onde também havia uma colônia judaica.
Em
1740-41, devido ao êxodo de colonos de Savannah, Geórgia, Charleston recebeu
uma maciça imigração judaica (132). A primeira sinagoga a ser erguida na
Carolina do Sul, Bet Elohim, isto é, a "Casa de Deus," é de 1750,
logo seguida por uma outra congregação ashquenazi de língua alemã (133). Entre
os sefarditas londrinos a estabelecer-se na Carolina do Sul ante-bélica (134)
encontramos Isaac da Costa, rabi mor da sinagoga, Moses Cohen, 1709-62, Abraham
da Costa, Abraham Nunez Cardozo (135), David de Oliveira, Moses Pimenta e os
irmãos Joseph, 1648-1761, e Michael Tobias. Em 1756 chegou, sempre de Londres,
Moses Lindo, o qual foi instrumental na instalação da indústria anileira.
Graças ao seu labor, a produção do índigo tornar-se-á numa das principais atividades
econômicas da colônia (136). Charleston guardará a sua supremacia como maior
centro judaico das colônias anglo-americanas também após a revolução, 1776,
sobretudo devido ao influxo de muitos Judeus provenientes de Nova Iorque (137).
Entre
os Judeus que participaram na revolução para a independência americana,
1775-83, encontramos Abraham Sasportas, português originário de Bayonne, onde
terminou os seus dias, e talvez Joseph Rodrigues Bernal (138). Muitos destes
israelitas eram de origem ibérica, com raízes em Londres, Amsterdã o ou nas
possessões centro/sul-americanas destas duas potências. Quase todos eram
influentes mercadores envolvidos no comércio local ou transatlântico (139). Por
isso deveríamos pressupor que estivessem interessados por proteger os
interesses coloniais. Porém, o número de judeus lealistas — ou seja,
partidários leais da Mãe Pátria — era muito pequeno.
Quase
todos juntaram-se aos revolucionários americanos, mesmo se a sua posição civil
e jurídica nas ditas colônias estava longe de ser igual. Entre os meios com os
quais o Povo de Israel contribuiu à derrota inglesa em solo americano
encontramos: recusa de comprar produtos ingleses ou de vender mercadorias aos
Ingleses, alistar-se nas milícias revolucionárias ou pelo menos assistir estes
últimos de qualquer maneira possível (140). Com a nova república
norte-americana os Judeus podiam contar com uma nova vida e, gradualmente, com
uma plena participação na vida político-econômica do país. Entre o espaço de
tempo que cobre um século, primeiro a nível federal e depois seguidos aos
vários níveis estatais e locais, os direitos aos cidadãos Judeus serão assim
completamente garantidos (141).
Infelizmente
a Revolução pôs um termo à próspera cidade de Newport e, consequentemente, à
sua comunidade judaica. Com o aumentar das hostilidades entre os rebeldes e as
tropas britânicas a cidade portuária perdeu a liderança no sector comercial.
Gradualmente, com os seus negócios destruídos, os Judeus deslocaram-se em
outros sítios, Nova Iorque, Filadélfia, Charleston, na Carolina do Sul, e
Savannah, na Geórgia (142). O rabino Isaac Touro, 1738-83, voltou à Jamaica,
onde passará o resto da sua vida. Aarão Lopez, 1731-82, e muitos outros
comerciantes judeus transferiram-se para Leicester, Massachusetts.
Em
1791 a sinagoga Shearith Israel foi finalmente fechada, só para reabrir quase
um século mais tarde, em 1883, quando o rabi Abraham Pereira Mendes, 1825-93,
tomou oficialmente cargo do templo até à sua morte (143). Os efeitos da
Revolução deixaram o seu impacto também em cidades como Nova Iorque. Quando
este porto foi tomado pelas tropas inglesas, 15 de Setembro de 1776, muitos
judeus nova-iorquinos migraram para Filadélfia, o Conneticut ou outras zonas
limítrofes. Depois da guerra, já em 1780, a maioria deles voltou para Nova
Iorque, inclusive o rabino Gershom Mendes Seixas, 1746-1816 (144). O número de
Judeus no resto das treze colônias originais era neste tempo muito exíguo, com
presenças esporádicas espalhas do norte para o sul, do Novo Hampshire (145) ao
Delaware e à vizinha Nova Jérsia. Este último estado, por exemplo, apesar da
sua proximidade de ambas Nova Iorque e Filadélfia, "had very few real
Israelites in Colonial times" e, mormente, nenhum judeu foi naturalizado
antes da Revolução (146).
O
terceiro parágrafo do Artigo VI da Constituição dos Estados Unidos, atesta que
"no religious test shall ever be required as a qualification to any office
or public trust under the United States." (147). Todavia, isto resolve a
questão a nível federal, ou seja, qualquer ocupação a cobrir encargos federais.
Quanto aos governos locais e estatais, cada estado podia resolver o problema
religioso na própria maneira. Obviamente, as antigas leis britânicas eram
gradualmente ratificadas e emendadas segundo as exigências do momento e do
lugar. Por exemplo, no estado da Virgínia, o debate verteu sobre a mudança de
"tolerância" ao pleno direito de escolha religiosa, ou seja, segundo
a consciência religiosa do indivíduo (148). Porém, em 1784 os virginianos
passaram a pagar uma taxa-contributo para o mantimento do Cristianismo ou de
qualquer outra denominação cristã.
O
ano seguinte, em Outubro de 1785, graças aos infatigáveis esforços de James
Madison, 1761-1836, o Commonwealth da Virgínia finalmente passou a ata a
garantir a liberdade de religião para todos os seus cidadãos, cristãos e não
(149). Quase o mesmo aconteceu na Carolina do Norte, onde os sentimentos
protestantes, sobretudo episcopais, eram também muito fortes. Aos alvores do
século XVIII, em 1701, a Igreja Episcopal tornou-se, de fato et de jure, a
igreja oficial do estado da Carolina do Norte (150). Obviamente, Católicos,
Judeus e todos aqueles que não pertenciam a nenhuma denominação de adesão
protestante — inclusive os Quacres e os Mórmones — ainda não beneficiavam dos
mesmos direitos dos seus compatriotas. Só em 1868, Judeus e "outros,"
finalmente receberam completa emancipação perante as leis da Carolina do Norte
(151).
Quanto
à vida religiosa destes judeus americanos durante os séculos XVII-XVIII temos
de salientar que durante o período colonial todos os súbditos, Judeus assim
como gentios — entre estes últimos encontramos fundamentalistas, separatistas,
deístas e teístas —, olhavam à Bíblia como guia na sua vida quotidiana (152).
Apesar de os primeiros núcleos religiosos verem a luz em cidades portuárias
onde o comércio dominava sublime, estes Judeus dos primórdios conseguiram
manter a sua entidade religiosa.
Quase
todos permaneceram fiéis às leis mosaicas, iam ao culto religioso, quase sempre
de rito ibérico, e à escola dominical (153), onde aprendiam Hebraico e matérias
seculares como Aritmética, Inglês e Literatura, sobretudo de autores
anglo-americanos. Assim como no Velho Mundo, também na América do Norte o
centro da vida comunitária era a comunidade local. Isto continuará até o fim do
século XVIII (154). Umas das características dos séculos XVII-XVIII é que
muitos Judeus chegaram em núcleos familiares: a família era o centro da vida
judaica, o alicerce da comunidade e o elo que permitia a transferência da
cultura judaica à nova geração. Sinagogas e cemitérios apartados do resto da
população foram os primeiros direitos pelos quais lutaram, junto com as
contendas para a igualdade cívica e religiosa perante as leis, quer a nível
federal quer, e mormente, aos vários órgãos estatuais e locais. Neste respeito,
assim como em outros, os Judeus comportaram-se como qualquer outro grupo
étnico-religioso, europeu e não, a pisar o solo norte-americano (155).
Em
outras palavras, a história dos Judeus nos Estados Unidos faz parte integrante
da história dum território onde, durante os seus primeiros quatrocentos anos de
história, se deslocaram mais de sessenta milhões de Europeus para o Novo Mundo,
trazendo consigo os próprios ideais, as próprias tradições e culturas. O
resultado será uma nova civilização e um novo povo, o Americano, por definição
religioso, de maioria cristã, mas por tradição capaz, quase sempre, de dividir
a Igreja do Estado. A plena liberdade de religião é portanto garantida a todos
os cidadãos, Judeus e gentios (156).
Em
resumo podemos dizer que os Judeus da Diáspora Sefardita nas colônias
norte-americanas partilham a mesma história com os seus compatriotas gentios.
Encontramos Judeus desde o primeiro impacto europeu em solo norte-americano, do
norte para o sul, primeiro na vertente atlântica e depois, progressivamente, no
interior daquilo que será a futura República. Contrariamente às primeiras colônias
judaicas que surgiam ao redor das originais treze colônias norte-americanas, as
imigrações do Povo de Israel para o Oeste serão caracterizadas por pequenos e
isolados agrupamentos, de poucos indivíduos ou núcleos familiares.
Além
disso, devido a esta falta de coesão ou, mormente, de sentir-se parte integrante
dum grupo étnico-religioso diferente do resto da população (157), muitos destes
judeus dos primórdios a habitar no Oeste americano assimilaram-se à cultura
americana mais do que os seus correligionários da costa atlântica, perdendo
assim completamente as próprias raízes. Por esta razão, apesar de esporádicos
episódios de intolerância, como no caso de alguns judeus condenados à fogueira
no antigo território francês da Luisiana, a situação dos Judeus no Oeste pode
ser considerada pacífica (158).
Mesmo
se não numerosos, a presença dos Sefarditas, sobretudo de origem portuguesa,
foi muito importante no desenvolvimento econômico das Américas, do Canadá ao
Brasil, passando pelas colônias anglo-americanas e as Caraíbas. Durante os
primeiros trezentos anos de permanência europeia no Novo Mundo, os Sefarditas —
Judeus assim como e, mormente, Cristãos-novos — foram assim instrumentais em
estabelecer as bases econônicas das respectivas metrópoles nas Américas.
Rhode
Island College