Neurologia e a Alma

Neurologia e a Alma

magal53
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Por Yaakov Brawer
 
Uma pergunta feita com frequĆŖncia Ć© se hĆ” conflitos entre TorĆ” e ciĆŖncia. Na verdade, nĆ£o hĆ” conflitos entre ciĆŖncia e TorĆ” desde que a ciĆŖncia em discussĆ£o seja verdadeira ciĆŖncia, e nĆ£o a pseudo-ciĆŖncia popularizada que Ć© comumente lanƧada sobre um pĆŗblico nĆ£o-discriminador e confiante.

De fato, conclusƵes vindas de autĆŖntica e completa investigaĆ§Ć£o cientĆ­fica invariavelmente concordam com a TorĆ”. O fato de que a maioria das conclusƵes cientĆ­ficas sejam incompletas e improvisadas pode levar alguĆ©m a acreditar equivocadamente que a TorĆ” diz coisas que a ciĆŖncia nĆ£o confirma. Quando consideramos esses supostos conflitos mais cuidadosamente, no entanto, vemos que devido a dados inadequados ou insuficientes, a “conclusĆ£o” cientĆ­fica nĆ£o Ć© realmente uma conclusĆ£o – mas sim apenas uma hipĆ³tese.

Devemos ter em mente que a ciĆŖncia estĆ” constantemente evoluindo e se desenvolvendo, ao passo que a TorĆ” Ć© completa. Ɖ natural, portanto, que muitos fenĆ“menos discutidos na TorĆ” nĆ£o possam ser tratados cientificamente atĆ© que a disciplina cientĆ­fica apropriada esteja avanƧada o suficiente para permitir as necessĆ”rias observaƧƵes. Por outro lado, quando observaƧƵes suficientes permitem uma conclusĆ£o logicamente vĆ”lida, invariavelmente concorda com aquilo que a TorĆ” diz sobre o mesmo assunto. Isto nĆ£o Ć© realmente notĆ”vel. Como existe apenas uma realidade, meios vĆ”lidos diferentes de examinar a realidade deveriam produzir conclusƵes semelhantes e complementares.

ExistĆŖncia da Alma
Um bom exemplo disso Ć© a existĆŖncia da alma. A TorĆ” nos informa inequivocamente que vida e consciĆŖncia sĆ£o fornecidas por uma entidade espiritual que se reveste e Ć© a operadora da sofisticada mĆ”quina computadorizada que chamamos de corpo. A TorĆ” estĆ” repleta de informaĆ§Ć£o sobre a natureza das almas. Interessante, a existĆŖncia de uma entidade consciente nĆ£o-material responsĆ”vel por operar o corpo material tambĆ©m foi demonstrada cientificamente. As observaƧƵes sobre as quais esta conclusĆ£o estĆ” baseada sĆ£o numerosas, e algumas um tanto complicadas.

Talvez as observaƧƵes mais simples e mais importantes fossem aquelas de Wilder Penfield 1, o fundador do Instituto NeurolĆ³gico de Montreal e um dos mais notĆ”veis neurocientistas que jĆ” existiram. Penfield explorou a funĆ§Ć£o do cĆ©rebro estimulando eletricamente diferentes regiƵes do cĆ³rtex cerebral em pacientes conscientes passando por cirurgia (com anestesia local) em busca de problemas de apoplexia focalizados. Penfield descreveu a ativaĆ§Ć£o do cĆ³rtex motor, uma Ć”rea no cĆ©rebro responsĆ”vel por transmitir todo o movimento consciente voluntĆ”rio para os nĆ­veis adequados do cĆ©rebro e do cordĆ£o espinhal.

Quando ele aplicou uma corrente elĆ©trica fraca Ć  regiĆ£o “mĆ£o” deste cĆ³rtex o paciente comeƧou a mover a mĆ£o (no lado oposto do corpo) para a frente e para trĆ”s. Quando Penfield perguntou ao paciente por que ele estava movendo a mĆ£o, o paciente respondeu que nĆ£o estava provocando o movimento, mas sim Penfield o estava causando com o eletrodo. Quando Penfield estimulou a Ć”rea motor ativando a laringe, o paciente balbuciou uma sĆ­laba. Quando foi indagado sobre isto, o paciente respondeu que ele prĆ³prio nada tinha a ver com o som, e que Penfield o tinha provocado.

A Ćŗnica conclusĆ£o vĆ”lida dessas observaƧƵes Ć© que a vontade de mover e o movimento em si nĆ£o sĆ£o o mesmo. A vontade consciente de mover emana de algo que Ć© alheio ao cĆ©rebro e Ć© capaz de observar objetivamente a operaĆ§Ć£o daquilo que nada mais Ć© que um computador feito de carne.

Existe um “Eu” (como em “Eu nĆ£o provoquei o movimento”) que, quando tem acesso ao computador (cĆ©rebro) pode programar movimentos. Se outra pessoa tiver acesso ao computador, no entanto, o “Eu” estĆ” plenamente consciente de que a mĆ”quina estĆ” sendo operada por outra pessoa. O “Eu” e o cĆ©rebro nĆ£o sĆ£o, portanto, a mesma coisa. O “Eu” deve ser uma entidade consciente nĆ£o-cerebral, i.e., uma alma.

Em outros experimentos, Penfield conseguiu evocar notĆ”veis experiĆŖncias de memĆ³ria semelhantes Ć  vida, estimulando o lobo temporal doente em pacientes sofrendo de tremores no lobo temporal. Os pacientes ficaram surpresos por serem capazes de reexperimentar eventos ocorridos hĆ” muito tempo. PorĆ©m, eles estavam igualmente conscientes do fato de que estavam no momento passando por cirurgia no Instituto NeurolĆ³gico de Montreal. Obviamente, o “Eu” que estava engajado nessas experiĆŖncias era um outro e alguĆ©m distante do cĆ©rebro que era estimulado a “reviver” essas experiĆŖncias do passado. A experiĆŖncia de consciĆŖncia e memĆ³ria dos pacientes nĆ£o era a mesma, mas sim o “Eu” estava vendo a atividade do cĆ©rebro. Penfield relatou que nĆ£o hĆ” local no cĆ³rtex cerebral onde estimulaĆ§Ć£o elĆ©trica vĆ” fazer um paciente acreditar, decidir ou desejar. Essas nĆ£o sĆ£o funƧƵes do cĆ©rebro, mas do “Eu” ou alma.

Estudos sobre como o cĆ©rebro analisa informaĆ§Ć£o sensorial leva Ć s mesmas conclusƵes.2 As reaƧƵes elĆ©tricas das cĆ©lulas nervosas nas Ć”reas visuais do cĆ©rebro a vĆ”rios estĆ­mulos visuais tĆŖm sido extensivamente estudadas. CĆ©lulas Ganglion na retina respondem a padrƵes visuais altamente especĆ­ficos. CĆ©lulas no cĆ³rtex visual que recebem conexƵes da retina (por meio de corpo geniculado lateral) reagem a complexos dos padrƵes que ativam a retina.

CĆ³digo Complexo
Assim, cada estĆ”gio sucessivo no sistema visual sintetiza e integra os padrƵes aos quais o estĆ”gio anterior reage. Toda informaĆ§Ć£o visual Ć©, portanto, codificada em sequĆŖncias complexas de reaƧƵes elĆ©tricas no nĆ­vel mais alto do cĆ³rtex visual. Aqui estĆ” a pegadinha. O cĆ©rebro somente Ć© capaz de codificar informaĆ§Ć£o visual. Precisa haver um “Eu” distinto e distante do cĆ©rebro fĆ­sico que interpreta o cĆ³digo. Quando olhamos para um objeto, percebemos o objeto. NĆ£o percebemos sequĆŖncias de mudanƧas elĆ©tricas. NĆ£o “vemos” nem sequer estamos conscientes dos potenciais de aĆ§Ć£o, correntes de sĆ³dio e outros componentes do CĆ³digo Morse do cĆ©rebro. Existe, portanto, uma entidade nĆ£o-cerebral que traduz padrƵes de mudanƧas elĆ©tricas em percepĆ§Ć£o consciente. O argumento de que talvez uma outra Ć”rea do cĆ©rebro (ex., cĆ³rtex associaĆ§Ć£o) estĆ” fazendo a traduĆ§Ć£o Ć© insustentĆ”vel, visto que essas outras Ć”reas tĆŖm as mesmas propriedades fĆ­sicas e biolĆ³gicas do cĆ³rtex visual, e portanto tambĆ©m sĆ£o somente capazes de codificar informaĆ§Ć£o em sequĆŖncias de atividade elĆ©trica.

DinĆ¢mica de InteraĆ§Ć£o
Estudos mais recentes tĆŖm descrito a interaĆ§Ć£o entre o cĆ©rebro fĆ­sico (o computador) e seu operador nĆ£o-fĆ­sico, nĆ£o-cerebral. Algumas dessas descobertas atuais sĆ£o discutidas por Sir John Eccles 3, num excelente artigo sobre o assunto. Um experimento discutido neste livro Ć© aquele de Kornhuber e seus associados 4. Estes investigadores examinaram a atividade elĆ©trica cortical em seres humanos antes, durante e depois de um movimento consciente. As dificuldades em fazer tais registros e o mĆ©todo engenhoso para dominĆ”-los sĆ£o descritos no artigo.

Ɖ suficiente dizer que um ser humano foi ligado a eletrodos na cabeƧa e lhe disseram para flexionar seu dedo indicador direito Ć  vontade. Cerca de 800 milissegundos antes da flexĆ£o dos mĆŗsculos do dedo, uma grande Ć”rea da superfĆ­cie cerebral em ambos os hemisfĆ©rios exibiu um potencial negativo lentamente ascendente.

Esta foi uma descoberta um tanto surpreendente. A Ć”rea cortical transmitindo movimento consciente voluntĆ”rio ao nĆ­vel adequado da espinha Ć© uma regiĆ£o altamente restrita do cĆ³rtex motor. Como somente o dedo direito estava envolvido, o que se esperava era ver atividade elĆ©trica somente no cĆ³rtex motor esquerdo. Essa negatividade bilateral generalizada sobre Ć”reas extensas do cĆ³rtex cognitivo tanto tempo antes do movimento real foi interpretada como uma expressĆ£o da vontade de mover o dedo.

Isso confirma a observaĆ§Ć£o comportamental de Penfield, que a vontade de mover-se e o movimento em si nĆ£o sĆ£o idĆŖnticos. Eccles considera essa negatividade logo-generalizada como representando o “eu” nĆ£o-fĆ­sico dizendo ao cĆ©rebro fĆ­sico o que deseja fazer, ou seja, flexĆ£o do polegar direito. Esta conclusĆ£o estĆ” baseada no fato de que a negatividade generalizada nĆ£o tem causa eletrofisiolĆ³gica anteriormente observĆ”vel e, portanto, sua iniciaĆ§Ć£o deve refletir em Ćŗltima anĆ”lise a influĆŖncia de algo que nĆ£o o cĆ©rebro. Cerca de 50 milissegundos antes do movimento, o encefalograma mostra uma notĆ”vel focalizaĆ§Ć£o aguda e concentraĆ§Ć£o na atividade Ć  Ć”rea altamente restrita do “dedo” no cĆ³rtex motor Ć  esquerda.

O que dirige e focaliza a atividade elĆ©trica inicialmente generalizada para exatamente a regiĆ£o exata do cĆ³rtex para iniciar o movimento voluntĆ”rio? Mais uma vez, Eccles invoca o “Eu”, pois isso nĆ£o pode ser explicado com base nos eventos elĆ©tricos prĆ©vios (que sĆ£o largamente espalhados e nĆ£o-seletivos). Assim, Kornhuber e associados observaram o “Eu” nĆ£o fĆ­sico programando sua vontade para o cumputador cortical.

PercepĆ§Ć£o Sensorial
NĆ£o somente a “vontade” foi examinada eletrofisiologicamente, mas tambĆ©m a percepĆ§Ć£o sensorial. Num artigo recente, Roland Pucceti e Robert Dykes revisaram o que Ć© conhecido sobre o cĆ³rtex sensorial bĆ”sico 5. Os autores concluĆ­ram que embora seja claro e Ć³bvio a todos que ver, ouvir e sentir sĆ£o experiĆŖncias radicalmente diferentes, nĆ£o hĆ” base neuroanatĆ³mica ou neurofisiolĆ³gica para provar as diferenƧas. O cĆ³rtex que recebe conexƵes auditivas Ć© idĆŖntico em sua histologia, bioquĆ­mica e comportamento eletrofisiolĆ³gico ao cĆ³rtex que recebe o sistema visual ou o cĆ³rtex que recebe o sentido do tato.6

Puccetti e Dykes concluem, portanto, que as diferenƧas em nossa percepĆ§Ć£o consciente dessas modalidades (ex., quando um carro falha, ouvimos em vez de ver ou sentir isso) nĆ£o sĆ£o responsabilizadas pelas diferenƧas correspondentes nas regiƵes apropriadas do cĆ©rebro. A atividade das Ć”reas sensoriais do cĆ©rebro devem ser interpretadas como ver, sentir ou ouvir por algo que nĆ£o seja o prĆ³prio cĆ©rebro, mas sim algo alheio a ele. O artigo Ć© particularmente esclarecedor pois inclui uma variedade de crĆ­ticas de sua interpretaĆ§Ć£o e sua refutaĆ§Ć£o Ć  crĆ­tica.

Projeto da TorĆ”
Embora a TorĆ” e a ciĆŖncia indiquem que a essĆŖncia da vida humana consciente seja a alma nĆ£o-material, nĆ£o-cerebral, a qualidade da informaĆ§Ć£o fornecida por cada uma dessas fontes difere consideravelmente. A ciĆŖncia pode apenas confirmar que as almas existem mas nĆ£o pode dar informaĆ§Ć£o sobre a sua natureza. AlĆ©m disso, a ciĆŖncia nĆ£o pode explicar como uma entidade nĆ£o-material pode interagir com um cĆ©rebro fĆ­sico. A ciĆŖncia, devido Ć s suas limitaƧƵes inerentes, somente pode lidar com o exterior da realidade.

A TorĆ”, por outro lado, Ć© o projeto para a realidade, pois como nos diz o Midrash (Bereshit Rabba), “D'us olhou na TorĆ” e criou o mundo.” Portanto, a TorĆ” revela a natureza essencial da alma, e a pessoa deve voltar-se para a TorĆ”.

Notas 

1. Penfield, W. “O MistĆ©rio da Mente”, New Jersey: Princeton University Press, 1975.
2. Veja qualquer texto padrĆ£o sobre Neurofisiologia.
3. Popper, K. R. E Eccles, J.C. “O Ser e Seu CĆ©rebro”, New York: Springer-Verlag, 1977
4. Kornhuber, H.H. “CĆ³rtex Cerebral, Cerebelo e Ganglio Basil: Uma IntroduĆ§Ć£o Ć s Suas FunƧƵes Motoras” em Schmitt e Worden (eds.) 1974, pĆ”gs. 267-280.
5. Puccetti, R. E Dykes, R. “CĆ³rtex Sensorial e o Problema” Ciencias Comportamentais e do CĆ©rebro 3, pĆ”gs. 337-375.
6. Uma excelente descriĆ§Ć£o das observaƧƵes e conclusƵes de Penfield Ć© particularmente Ćŗtil para o leigo inteligente e pode ser encontrado em “O MistĆ©rio da Mente” por Wilder Penfield (Princeton University Press, Princeton, New Jersey, 1975). Este texto apresenta um artigo curto e bastante legĆ­vel da obra de Penfield e o desenvolvimento de seu reconhecimento da existĆŖncia da “mente” em oposiĆ§Ć£o ao cĆ©rebro. O livro fornece a origem e o raciocĆ­nio para as seguintes questƵes: pĆ”g. 73: O desafio que chega a todo neurofisiologista Ć© explicar em termos de mecanismos do cĆ©rebro tudo que os homens passaram a considerar o trabalho da mente, se ele puder. E isso ele deve fazer livremente, sem preconceitos filosĆ³ficos ou religiosos. Se ele nĆ£o conseguir explicar, usando fatos provados e hipĆ³teses razoĆ”veis, entĆ£o chegarĆ” a hora, como aconteceu comigo, de considerar outras explicaƧƵes possĆ­veis. PĆ”g. 114: No final concluĆ­ que nĆ£o hĆ” boa evidĆŖncia. Apesar dos novos mĆ©todos: como emprego de eletrodos estimulantes, o estudo dos pacientes conscientes e a anĆ”lise de ataques epilĆ©ticos, que o cĆ©rebro sozinho pode fazer o trabalho que a mente faz. Talvez os melhores artigos sobre integraĆ§Ć£o neuronal e anĆ”lise no sistema visual sejam as seguintes: Hubel, D.H., e Wiesel, T.N. “Campos Receptivos e Arquitetura Funcional do CĆ³rtex Estriado do Macaco.” O Jornal de Fisiologia, vol. 195, nĀŗ 2, nov. De 1978, pĆ”gs. 215-244. Hubel, D. H. E Wiesel, T. N. Ferier Lecture: “Arquitetura Funcional do CĆ³rtex Visual do Macaco” ,Procedimentos da Royal Society de Londres, SĆ©ries B, vol. 198, 1977, pags 1-59. 
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