Benjamin
Mandelbaum
Quando se fala da
Cabalá prática associa-se imediatamente com a magia, feituras de amuletos
ou até do Golem, andróide místico guarda-costas.
Podemos, no
entanto, falarmos de uma prática da Cabalá, uma Cabalá do cotidiano, que ao
invés de magia, busca de controle enfatiza a recepção, Cabalá, dos milagres.
Esta palavra origina-se de miráculo, mirar, ver. A Cabalá considera a vida como
recebimento e a própria vida o maior dos milagres, o bem maior da existência.
É crer para ver, é
ver para crer. A vida é tanto interior vivenciada quanto
presenciada no
compartilhar com a vida que nos cerca.
A distinção entre
magia e milagre está presente no episódio de Moisés
em singelas
passagens do Êxodo, Shemot.
Uma é quando na
apresentação de Moisés ao Faraó há uma espécie de demonstração e competição
entre os poderes de Moisés com os dos magos-sacerdotes do Faraó, quando Moisés
lança o seu cajado ao chão e ele se transforma numa serpente, o mesmo fazendo
os magos transformando os deles também em serpentes, só que a serpente de Moisés
devora, engolindo as demais, indicando assim ser um poder, da ordem do
milagre,que é superior àquelas magias.
É este mesmo cajado que será levantado por
Moisés e clamado aos céus, com os nomes sagrados de D”S, no episódio do milagre
da abertura do Mar com a passagem do seu povo e o subsequente fechamento e
afogamento dos seus perseguidores. E é também, quando o povo,revoltado na
travessia do deserto, mais uma vez reclama das suas condições e pressiona Moisés,
que este mesmo cajado fere a pedra para jorrar dela a água sendo um ato de
magia terrena ao invés de clamar o milagre com o uso do nome e da palavra. Em
função desta impaciência, afinal o milagre demora um pouco mais que a magia,
que Moisés será impedido de entrar na Terra Prometida.
Praticar a Cabalá
é realizarmos a travessia do deserto existencial em direção à nossa Terra
Prometida miraculosamente. Nesta passagem temos o rumo que uma espécie de
bússola espiritual nos oferece. A Árvore da Vida é o diagrama que nos guia no
nosso dia-a-dia.
A PARNASÁ E O
GUISHEFT NA ÁRVORE DA VIDA.
MALKUT =
Realidade.

Tanto na
existência de nosso próprio corpo, com a relação com o fogo no calor da vida,
com a água no fluir dos humores emocionais, com o ar que nos
circula os
pensamentos e com a terra que nos sustenta, quanto na existência da realidade
do seu guisheft, negócio, na relação com os referidos elementos. Assim, o nosso
trabalho é quente ou frio, úmido ou seco, arejado ou abafado, terreno , aéreo,
líquido ou ígneo? Como equilibrá-los?
São sobrevivências
distintas conforme as diferentes estações, inclusive a profissional que também
tem a sua época de colheita e estiagem. No caminho do nosso sustento é preciso
estar atento e forte para não temer a morte. É estar presente, existente, para
poder responder a oportunidade como se fosse o próprio chamamento divino do
Eifo?, onde estás ?
É a pronta
prontidão da existência quando o chamado da oportunidade divina se presentifica
na própria natureza. Mesmo na realidade virtual se tem um endereço. Se você se
estabelece, precisa ter competência para ser sobrevivente, você tem um
estabelecimento, um domínio, um território, algo, o seu Malkut que lhe é dado e
que lhe cabe preservar, para dar o salto seguinte. A terra do nosso sustento
deve ser sagrada. Cuidado com o vício da Inércia de manter por manter.
YESOD =
Fundamento.
Em que se baseia a
nossa existência e a do estabelecimento do nosso sustento? Yesod identifica o
nosso fundamento e a do nosso trabalho de auto-sustentação.
Como está o
fundamento da nossa existência e a do nosso estabelecimento?
Saúde é o pronto
reestabelecimento.
O Fundamento do
sustento é a troca. Como está a nossa relação de troca com o mundo? Como se
estabelece a relação do nosso sustento com os 4 elementos, e as 4 estações? O
quanto nos gratificamos, tanto no sentido de prazer gratificante, quanto na
gratificação pecuniária $. Nos perguntamos então como vai o nosso meio de nos
sustentarmos?
Como nos
identificamos com o trabalho e a profissão que realizamos?
Nossa imagem tanto
pessoal, quanto profissional é agradável?
Como vai nosso
Marketing da imagem que se passa.
O Vício é do
narcisismo fundamentalista, confundir o meio como fim.
HOD = Glória.
Não basta que
nossa sustentação (parnasá) seja gratificante é preciso poder ter a honra e
dignidade preservadas no sucesso alcançado.
Nosso sustento é
louvado tendo recebido o poder de crescer e multiplicar cumprindo assim, a
missão de prosperar. Tanto em nível de espiritualidade no caminho da ascensão
da Árvore da Vida, quanto em materialidade prazerosa
da existência
precisam ser honrosamente compartilhadas com nossos irmãos,
repartindo a
prosperidade alcançada. O pensamento que glorifica o poder gozar a vida também
está presente na reflexão sobre a falta realizando previsões, mantendo
provisões distintas com as 4 estações, analisando tendências, tomando
providências a serem realizadas em Malkut.
Se a virtude é a
Glória o vício é a vã glória de se vangloriar esquecendo o Altíssimo.
NETZACH = Vitória.
Aqui é o
sentimento que se presentifica tomando posse da minha vida e a do meu sustento.
Todos os sentimentos estão presentes necessariamente em nosso trabalho de
sustentação, tais como o medo e a raiva.
Tomar posse de sua
energia para lutar ou fugir, mas sempre em direção à vitória. Tal como o
triângulo da personalidade reflete o indivíduo podemos perceber qual a
personalidade que caracteriza o nosso negócio colocando-o no tripé
Yesod-Netzach-Hod meditando no prazer, na posse e no poder que interagimos com
o nosso sustento. Verificar as vitórias alcançadas para efetivamente
glorificar-se depois. Cuidado com a síndrome do coelho vangloriado com a
tartaruga, esta vitoriosa no seu devagar e sempre. O sucesso do negócio,
profissão, empreendimento, investimento tem a constância do perseverar,
distinto da teimosia pretensiosa da mula. A Vitória tripudiada sobre a
concorrência gera o vício da Luxúria possessiva.
TIFERET = Beleza.
É a Alma do
negócio, a intuição verdadeira de sua essência. O ‘feeling’, o faro, o tino
para aquele negócio, profissão, empreendimento, investimento. Instância
superior da escolha amorosa, é a essência verdadeira da nossa escolha pessoal,
o amor específico àquela profissão vocacional, voz interior que é nossa missão
ouvir a voz do coração. Só o nosso sacerdócio faz suportável os ossos do nosso
ofício. Tiferet é a beleza da nossa profissão.
Equilíbrio entre
tensões que se desenrolam no nosso caminho profissional.
Uma certa
suavidade na condução de nossos negócios, endurecendo se preciso for mas não
perdendo a ternura. A virtude é a autenticidade e o vício é o orgulho.
GUEVURÁ =
Fortaleza.
Como o rigor se
manifesta na nossa atividade. Quais as restrições disciplinares, com as leis,
interiores e exteriores, superiores e inferiores.
Qual o sentido de
justiça, Tsedaká, no sustento. Que excessos e desperdícios deve-se tirar. Rigor
na coerência da proposta que nutrirá os pensamentos de Hod. Indo dos impostos
aos fiscais. O vício é a rigidez, onde qualquer vício é uma rigidez, até o da
“esperteza”.
HESSED=
Benevolência.
Dons e talentos
são graças recebidas para serem compartilhadas. A misericórdia é o dom de lidar
com as imperfeições dos outros e nossas com benevolência.
Contatar com a
Fonte gera generosidade no trabalho e nutrirá a vitória que é Netzach. Qual a
consistência do meu trabalho. Que oportunidades de negócios me são dadas,
gratuitamente. Estas 3 sefirot compõem os aspectos éticos e estéticos de sua
atividade. Vício é confundir o bom com bobo.
DAAT=
Conhecimento.
É o invisível que
perpassa toda a experiência íntima presente em qualquer atividade. Conhecimento
sentido pelo experimentar e saborear que amadurecem a própria experiência com
seus frutos. Vício é a esterilidade.
BINÁ= Compreensão.
É o “know-how” a
tecnologia superior do como fazer é algo que transcende o próprio experimentar
, acima do conhecimento corresponde a herança espiritual. Compreender a
inserção cósmica de sua parnassá e a dos outros, na
relação com o
universo.
CHOCHMÁ=
Sabedoria.
Ela é superior e
anterior a própria compreensão, mas só se revela nela. Que nossas obras sejam
feitas à imagem e semelhança com a do Criador, todas feitas com muita
sabedoria. Sábio é quem aprende com todos.
KETER= Coroa.
Coroação do
conjunto, é a consagração do casamento do Rei com a Schechiná que se manifesta
em Malkut. Integração perfeita e harmônica das 10 virtudes sefiróticas,
possibilitando sua Árvore da Vida e a do seu negócio cresça e apareça.
Fonte: Texto
" A Cabala do Cotidiano" de Benjamin Mandelbaum
Congregação Judaica do Brasil