
A procura pela identidade primeira, representada
pela ancestralidade original, tem mobilizado milhares de pessoas em várias
partes do mundo interessadas em encontrar respostas a uma série de sentimentos
reprimidos e a incontáveis dúvidas existenciais. Com o intuito de ajudar
a essas pessoas especiais a encontrar as suas raízes, foi fundada em 2004 a
organização SHAVEI ISRAEL (Retorno a Israel), com sede em Jerusalém. A
instituição está presente em quatro países, além do Brasil. Seu dirigente,
Michel Freund, acredita que existam 13 milhões de descendentes de judeus que
ainda guardam alguma prática judaica de seus antepassados, 500 anos depois da
tragédia e das fogueiras da Inquisição.
Pelo
retorno de um povo: A missão mais que possível.
Michael Freund, 43
anos, é um novaiorquino formado em Finanças pela Columbia University e
Política Internacional pela de Princenton. Vivendo em Israel há mais de de uma
década, ele também percorre meio mundo para descobrir e ajudar os “judeus
perdidos” a reencontrarem a sua herança milenar. Fundador da Organização SHAVEI
ISRAEL , com sede em Jerusalém, Freund mantém contato com as várias
comunidades de descendentes dos chamados “falsos cristãos” ou “bnei anussim”
(filhos dos forçados – descendentes daqueles que foram convertidos à força ao
catolicismo, durante a Inquisição), na Europa, América do Sul, África e Ásia.
Organizando seminários
e instalando centros de estudos e de apoio para atender a todos que têm um real
interesse em recuperar as suas origens, o SHAVEI ISRAEL conta com um grupo de
prestigiados educadores e rabinos que realizam as conversões sempre de acordo e
com a aprovação do Rabinato de Israel.
Em 2005, Freund se
encontrou com pessoas de Burma, Espanha, Peru, Índia, Colômbia e Japão que
tinham feito o “monumental passo de formalmente se unir ao povo judeu”. Eram
biólogos, tradutores, professores e até mesmo um ex-padre católico. “Nesta época em que tantos jovens judeus
abandonam as suas raízes judaicas, ver este despertar, sem precedentes,
acontecendo sob os nossos olhos, com pessoas batendo a nossa porta, com
sinceridade, suplicando para entrar, é emocionante e inspirador”, enfatiza.
Os judeus perdidos do Nordeste
No Brasil, os
emissários do SHAVEI já criaram um núcleo em Recife. Historiadores
acreditam que o nordeste do Brasil abriga uma das maiores concentrações de bnei
anussim do mundo. Em 2008, 45 famílias que descobriram as suas raízes
judaicas (30 de Pernambuco e 15 da Paraíba) estudavam as leis, os costumes
religiosos, as festas, o calendário e o significado do retorno. Segundo o
rabino Eliezer Sabba que ministrava o curso, os bnei anussim podem ser
encontrados principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do
Norte. Também existem judeus perdidos no Ceará, sertão da Bahia e norte de
Minas Gerais.
Na
reportagem para o Jornal do Comércio de Recife, o rabino explicou que muitos dos chamados cristãos-novos (judeu convertido à fé cristã)
fugiram de Portugal para o sertão brasileiro porque era mais fácil manter as
práticas judaicas. Embora a Inquisição também tenha chegado ao Brasil, a
perseguição era menor.
Sobre as diversas maneiras de se reconhecer as raízes
judaicas das pessoas, as mais importantes são o sobrenome e os hábitos
familiares. Os sobrenomes estão geralmente associados a árvores, animais ou ao
local onde viviam. Por exemplo, Matos e Selva, no interior do estado, e da
Costa, no litoral. Bezerra é outro nome que identifica um cristão-novo. Quanto
aos costumes, o rabino disse que conversou com pessoas que não comiam carne de
porco, mas não sabiam explicar o motivo. Outras tinham aprendido com a família
a acender velas todas as sextas-feiras para o anjo da guarda, sem fazer
vinculação com o sábado dos judeus. Outro costume mantido no interior
semelhante ao ritual judaico seria a forma de enterrar os mortos, enrolados
numa mortalha e direto na terra.
Da selva peruana à China
pessoas regressam ao Judaísmo
Ainda na América do
Sul, Freund enviou, em 2006, um rabino para uma cidade na selva amazônica
peruana, a pedido da comunidade de Tarapoto, a 600 quilômetros ao norte de
Lima, capital do Peru. Conhecida como a cidade dos Salmos, ela possui algumas
centenas de descendentes de judeus marroquinos que conservam sobrenomes como
Ben-Zaken, Ben-Shimon e Cohen.
Outro grupo que o SHAVEI
tem dado assistência é aquele formado pelos descendentes da tribo perdida de
Menashé (7.200 membros) que vive no noroeste da Índia, nas cidades de Mizoran e
Manipur. Mil e quatrocentos deles já imigraram para Israel e outros 700 esperam
fazer o mesmo. Eles se declaram descendentes dos judeus exilados da terra de
Israel, pelos assírios, há 2.700 anos. Quatro dos cinco livro da Torá já foram
traduzidos diretamente do hebreu para a língua local – Mizo.
Na China, os judeus
da cidade de Kaifeng foram descobertos no século 17, e apesar da assimilação e
da pobreza da comunidade, alguns ainda conservam a sua identidade. Também os
judeus da Polônia e da Rússia, devido as guerras e ao regime comunista
esconderam as suas identidades judaicas e agora participam de um movimento de
retorno às suas origens.
Na Espanha e
Portugal, os países mais afetados pela Inquisição, muitos desses bnei
anussim conservaram a sua identidade judaica secretamente, por 500 anos,
como foi o caso dos judeus de Palma de Mallorca e de Belmonte. Nesta última
cidade, no norte de Portugal, 150 desses cristãos-novos que se
mantiveram leais às práticas do Judaísmo já foram formalmente reconhecidos por
uma Corte Rabínica de Jerusalém.
De braços abertos para os que retornam
Em 2007, fiz
algumas perguntas via email ao Sr. Freund que antes de se dedicar à causa dos
“judeus perdidos” trabalhou com o
Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no cargo de vice-diretor de
Comunicações e Planejamento Político do Governo (1996-1998). Freund também
escreve periodicamente para o jornal “Jerusalém Post” e o seu blog –
Fundamentally Freund – foi escolhido entre os três melhores de Israel, em 2005,
na categoria de política e negócios e de defesa dos interesses do país:
O que levou o senhor a fundar, em 2004, uma
instituição como o SHAVEI ISRAEL?
- Eu decidi lançar
o Shavei Israel porque percebi que o povo judeu encontrava dificuldades
em ajudar mais efetivamente os descendentes dos judeus ao redor do mundo que
desejassem investigar as suas origens judaicas. Em anos recentes, o fenômeno da
globalização surgiu e alcançou aqueles indivíduos e comunidades que tinham uma
conexão histórica com o povo judaico, e que começaram a manifestar um crescente
interesse em se reconectarem à sua herança judaica. Eu acredito que é
nossa responsabilidade, como judeus, adotar essas pessoas, estender-lhes a mão
e dar as boas-vindas em seu retorno ao lar.
Através dos séculos, como conseqüência de uma
cruel perseguição e exílio, muitos judeus foram forçados a se converterem a
outras religiões ou deixar de lado a sua identidade judaica. Tomemos, por
exemplo, Espanha e Portugal no século XV, quando centenas de milhares de judeus
foram obrigados a se converterem ao Catolicismo contra a sua vontade. Apesar
disso, muitos continuaram a seguir o Judaísmo em segredo preservando a sua
identidade judaica, mesmo conscientes do grande risco que esta prática
envolvia. Eles eram conhecidos como marranos ou bnei anussim, na
língua hebraica, que significa “aqueles que foram forçados”. Eles mantiveram a
sua identidade judaica secretamente, de geração em geração, e, atualmente, seus
descendentes podem ser encontrados em toda a parte do mundo onde se fala
espanhol e português, incluindo, logicamente, o Brasil, onde, talvez, esteja
localizado o maior número de descendentes de judeus, possivelmente uma cifra
que chega a milhões de pessoas. São exatamente estas pessoas que nós desejamos
alcançar.
Contudo, eu
precisaria acrescentar que o Judaísmo não é uma religião missionária e nós não
somos uma organização missionária. Em vez disso, nós trabalhamos com pessoas
que não apenas têm uma ligação biológica com o Judaísmo e os judeus, mas também
uma natural identificação e que estejam interessadas em fortalecer esta conexão
mais adiante.
Israel e o povo
judeu defrontam-se com um imenso desafio demográfico. Nós somos um pequeno povo
– apenas 13,5 milhões de judeus em todo o planeta! – e nossos números não
crescem como seria desejável. Por conseguinte, indo ao encontro de nossos irmãos e irmãs perdidos e trazendo-os de
volta para a congregação, nós poderemos nos fortalecer, tanto espiritualmente
como numericamente.
Quais
são as grandes vitórias do SHAVEI ?
- A instituição tem
se expandido de forma extraordinária nesses anos, e nós estamos presentes,
agora, em oito países ao redor do mundo, incluindo Espanha, Portugal, Brasil,
Índia, Peru, Rússia, Polônia e China. Na Índia, nós temos dois centros
educacionais para os “Bnei Menashé”, um grupo de descendentes de uma Tribo
Perdida de Israel.
Em março de 2005, o Rabino Chefe Sefaradit de
Israel, Rabbi Shlomo Amar, reconheceu formalmente os bnei Menashé como
descendentes de Israel, e então nós organizamos a ida de uma Corte Rabínica
(Beit Din) à Índia, em setembro do mesmo ano, onde foi possível converter 200
membros da comunidade que retornaram ao Judaísmo.
Na Espanha, Portugal e Brasil, nós temos
emissários atuando em Palma de Mallorca, na cidade do Porto e Recife, onde trabalham com os rabinos para a comunidade
local e ao mesmo tempo realizam serviço
voluntário com os bnei anussim em diversas áreas. Nós organizamos
seminários e simpósios, várias vezes ao ano, e temos publicado um bom número de
livros e folhetos em espanhol sobre a história judaica, sua cultura e
tradições. Também em Jerusalém nós mantemos o Instituto “Machon Miriam”, de
língua espanhola, para conversão e “retorno”, onde estudantes se preparam para
submeter-se à conversão formal ao Judaísmo.
Nós trabalhamos, ainda, com os descendentes
dos judeus da comunidade de Kaifeng, na China, com os judeus de Subbotnik, na
Rússia, e com os “judeus secretos” da Polônia. Igualmente patrocinamos uma
variedade de cursos profissionalizantes para os novos imigrantes que chegam a
Israel, providenciando bolsas de estudo e computadores para os estudantes
carentes e fornecendo ajuda de custo nos primeiros meses de sua chegada ao
país. Todo o nosso trabalho é conduzido de acordo com a Lei Judaica e sob a
supervisão contínua da Chefia do Rabinato de Israel.
De
que forma as pessoas podem ajudar o SHAVEI ISRAEL?
- Um de nossos
objetivos também é formar uma consciência entre a comunidade Judaica acerca da
existência de grupos como os do bnei Menashe” e do bnei anussim.
As pessoas precisam entender que estes grupos não existem apenas em livros de
história – eles estão bem vivos e estão clamando ao povo judeu para que os
ajudem e apoiem. Pessoas interessadas em conhecer um pouco mais sobre o nosso
trabalho podem visitar o nosso site www.shavei.org, onde
encontrarão informações em inglês, espanhol, português e catalão. Também podem
enviar e-mail , no endereço spanhish@shavei.org.
Todos serão muito bem-vindos. O Shavei Israel também está no facebook.
Nota:
Em 2010 emigraram para Israel 1.320 judeus da Etiópia. Da América do Sul e
Central foram 1.360 judeus, sendo 330 da Argentina, 240 do Brasil, 160 do México,
140 do Peru, 120 da Venezuela e 90 do Uruguai. Ao todo escolheram residir em
Israel, nos últimos doze meses, quase 18 mil judeus de várias partes do mundo,
sendo 7.400 da ex-União Soviética e mais de 5 mil de países como Estados
Unidos, África do Sul, França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e outros.
Em 27 de dezembro
de 2011