Shabat Shalom M@il

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A CULPA Ɖ DOS OUTROS – PARASHƁ SHEMINI 5770 (09 de abril de 2010

"Um poderoso rei vivia sendo cobrado por seus sĆŗditos, que eram muito exigentes e queriam uma cidade perfeita. O rei entĆ£o quis testar seus sĆŗditos para saber se eles eram tĆ£o exigentes consigo mesmos como eram com os outros. Colocou uma grande pedra no meio da rua principal e ficou escondido, observando se as pessoas se preocupariam em desobstruir a rua ou passariam como se nĆ£o tivessem visto a pedra.

Durante todo o dia as pessoas que passavam pela rua viram a grande pedra ali, obstruindo o caminho, mas nĆ£o fizeram absolutamente nada. Elas sentiam que nĆ£o era obrigaĆ§Ć£o delas fazer nenhum esforƧo, pois entendiam que a culpa era do rei. Elas preferiam apenas desviar da pedra e continuar seus caminhos. Muitas pessoas olhavam a pedra e, alĆ©m de nĆ£o fazer absolutamente nada, ainda praguejavam o rei, pois achavam que ele nĆ£o estava se esforƧando para manter as ruas limpas. Outros pensavam que havia muitos moradores naquele reinado e, portanto, outra pessoa certamente se esforƧaria para retirar a pedra. O resultado foi que, quase no final do dia, a pedra ainda estava ali, no meio do caminho, sem que nenhum morador tivesse se preocupado em retirĆ”-la.

Chegou entĆ£o um homem que carregava um enorme pacote de vegetais nas costas. Ele viu aquela enorme pedra no meio do caminho, que obrigava todos a se desviarem do caminho. Ele tinha todos os motivos para deixar para que os outros fizessem o serviƧo, afinal, ele carregava algo realmente pesado nas costas. Ele tinha todas as razƵes para falar mal do rei e reclamar da sua mĆ” administraĆ§Ć£o. Mas ele nĆ£o fez nada disso, pois ele sentia que se a pedra estava ali, no meio da rua pĆŗblica, entĆ£o tambĆ©m era sua obrigaĆ§Ć£o tirĆ”-la dali. Ele calmamente colocou seu pesado fardo no chĆ£o e empurrou a pedra com toda a sua forƧa. ApĆ³s muito esforƧo ele finalmente conseguiu mover a pedra.

Quando estava colocando de volta seu fardo nas costas, ele viu que havia algo no meio da rua, exatamente no lugar onde anteriormente estava a pedra. Parecia uma sacola, e estava cheia. Abriu a sacola e viu que ela continha centenas de moedas de ouro e um envelope. Era um bilhete escrito e selado pelo prĆ³prio rei. O bilhete dizia:

- Todo este ouro pertence ao cidadĆ£o que encontrĆ”-lo. Pois Ć© o cidadĆ£o que entendeu que, para que nosso reinado seja um lugar realmente melhor, cada um deve receber sobre si a responsabilidade de melhorĆ”-lo, ao invĆ©s de colocar a culpa dos problemas nos outros"

Nesta semana lemos a ParashĆ” Shemini, que descreve um momento Ćŗnico do povo judeu: a inauguraĆ§Ć£o do Mishkan (Templo MĆ³vel). Em cada um dos sete dias iniciais de inauguraĆ§Ć£o MoshĆ© montou o Mishkan inteiro, fez sozinho todo o serviƧo sagrado e no final desmontou o Mishkan. No oitavo dia (Shemini, em hebraico) Aharon e seus filhos foram consagrados como Cohanim (sacerdotes). Daquele dia em diante apenas os Cohanim estavam aptos a fazer os serviƧos do Templo. MoshĆ© entĆ£o comandou Aharon, o Cohen Gadol (Sumo-sacerdote) a fazer todos os serviƧos, como estĆ” escrito: "E MoshĆ© disse: 'Ɖ isso que D'us ordenou a vocĆŖs. FaƧam e entĆ£o a presenƧa de D'us aparecerĆ” para vocĆŖs" (VayikrĆ” 9:6).

A ParashĆ” entĆ£o descreve todo o serviƧo realizado por Aharon, entre eles o oferecimento de alguns KorbanĆ³t (sacrifĆ­cios). E assim a TorĆ” descreve o final do serviƧo no dia da inauguraĆ§Ć£o: "E entĆ£o ele (Aharon) desceu apĆ³s ter realizado as oferendas de pecado, as oferendas de elevaĆ§Ć£o e as oferendas de paz. MoshĆ© e Aharon vieram para a Tenda da AssinaĆ§Ć£o, e eles saĆ­ram e eles abenƧoaram as pessoas. E a presenƧa de D'us apareceu para todo o povo" (VayikrĆ” 9:22,23). Este versĆ­culo Ć© difĆ­cil de ser entendido por dois motivos. Primeiro, se os Cohanim jĆ” haviam sido consagrados para os serviƧos do Templo, por que MoshĆ© precisou entrar junto com Aharon? E segundo, por que quando Aharon terminou o serviƧo do Mishkan a presenƧa de D'us nĆ£o apareceu imediatamente, conforme MoshĆ© havia dito, tendo aparecido somente depois que MoshĆ© e Aharon entraram juntos no Mishkan, algum tempo apĆ³s a finalizaĆ§Ć£o do serviƧo?

Uma das caracterĆ­sticas mais comuns do ser humano Ć© se esquivar da culpa. Talvez para proteger nosso ego, constantemente jogamos a culpa dos nossos erros nos outros. Mesmo quando chegam sobre nĆ³s sofrimentos, o primeiro impulso Ć© questionar a bondade de D'us, ao invĆ©s de questionar os nossos prĆ³prios atos e procurar algum motivo para o sofrimento ter recaĆ­do sobre nĆ³s. E isso Ć© tĆ£o frequente que chegamos a pensar que este Ć© o normal e o desejĆ”vel ao ser humano.

Na ParashĆ” desta semana aprendemos que um dos maiores sinais de grandeza de um ser humano Ć© saber assumir a culpa pelos seus erros e aceitar as consequĆŖncias. Isso demonstra maturidade e, principalmente, humildade. Foi exatamente o que aconteceu com Aharon HaCohen. Explica Rashi, comentarista da TorĆ”, que quando Aharon terminou o serviƧo do Mishkan, a presenƧa de D'us realmente deveria ter aparecido imediatamente, mas nada aconteceu. O que qualquer um de nĆ³s faria? O natural seria colocar a culpa nos outros, atĆ© mesmo em D'us, que nĆ£o havia cumprido Sua "promessa". Mas nĆ£o foi o que Aharon fez. Imediatamente ele procurou MoshĆ© e disse: "MoshĆ©, eu sei que D'us estĆ” bravo comigo por causa da minha participaĆ§Ć£o na construĆ§Ć£o do bezerro de ouro. Ɖ por minha culpa que a presenƧa de D'us nĆ£o apareceu no Mishkan". MoshĆ© entĆ£o entrou no Mishkan junto com Aharon, rezou pela misericĆ³rdia de D'us e somente depois disso a presenƧa de D'us apareceu.

Mas Aharon, um grande Tzadik (Justo), realmente havia participado da construĆ§Ć£o do bezerro de ouro? Explicam nossos sĆ”bios que Hur, cunhado de MoshĆ©, tentou impedir os judeus quando eles comeƧaram a construir o bezerro e foi imediatamente assassinado. Aharon entendeu que se ele tentasse impedir, tambĆ©m seria assassinado, aumentando ainda mais a culpa do povo e o conseqĆ¼ente castigo. EntĆ£o ele teve a idĆ©ia de fingir que estava interessado na construĆ§Ć£o e tomou sobre si o comando do "projeto". Ele queria ganhar tempo atĆ© a volta de MoshĆ© e por isso pediu para o povo trazer suas jĆ³ias de ouro, na esperanƧa de que as pessoas se negariam a trazer as suas prĆ³prias jĆ³ias e o processo demoraria muito tempo. Infelizmente o povo estava tĆ£o obstinado na construĆ§Ć£o do bezerro de ouro que todos trouxeram rapidamente o seu ouro e o bezerro acabou realmente sendo construĆ­do, o que foi considerado, em certo nĆ­vel, responsabilidade de Aharon, apesar de suas boas intenƧƵes.

PorĆ©m, jĆ” que a participaĆ§Ć£o de Aharon na construĆ§Ć£o do bezerro de ouro foi algo tĆ£o secundĆ”rio, ao contrĆ”rio da maioria do povo, que realmente doou seu ouro e construiu o bezerro com alegria e entusiasmo, por que ele recebeu sobre si a culpa da presenƧa de D'us nĆ£o ter vindo para o Mishkan? Por que ele nĆ£o atribuiu o insucesso ao resto do povo, ficando com sua consciĆŖncia limpa e tranquila?

Isso nos ensina quem sĆ£o os grandes do nosso povo, que devem ser os nossos modelos de conduta em todos os tempos. Eles nos ensinam o que D'us realmente quer de nĆ³s e nos mostram que temos um grande potencial adormecido dentro de nĆ³s que, com muito esforƧo e dedicaĆ§Ć£o, pode ser alcanƧado. Aharon nos ensinou que quando chega sobre nĆ³s algum tipo de sofrimento ou dificuldade, ao invĆ©s de procurar o que o outro estĆ” fazendo de errado, tempos que antes de tudo procurar o que nĆ³s mesmos estamos fazendo de errado. E este conceito nĆ£o deve ser aplicado somente nos pequenos acontecimentos. Mesmo em grandes tragĆ©dias cada um de nĆ³s deve se sentir culpado pelas coisas que estĆ£o acontecendo no mundo. Explica o livro Messilat Yesharim (Caminho dos Justos) que quando o homem se eleva espiritualmente, o mundo inteiro se eleva junto com ele, mas quando o homem se corrompe, o mundo tambĆ©m se corrompe. D'us criou uma natureza perfeita e harmĆ“nica, mas quando o ser humano nĆ£o se comporta dentro dos limites que D'us impĆ“s, entĆ£o a natureza tambĆ©m avanƧa sobre seus limites e as catĆ”strofes acontecem.

Estamos em um momento Ć³bvio de "descontentamento" de D'us. Nos Ćŗltimos meses o nĆŗmero de catĆ”strofes "naturais" que ocorreram no mundo foi impressionante. Terremotos devastaram o Haiti e castigaram duramente o Chile. Chuvas em intensidades nunca antes registradas alagaram SĆ£o Paulo e Rio de Janeiro, causando centenas de vĆ­timas e muita destruiĆ§Ć£o. Tempestades de neve e ondas de calor castigaram diferentes lugares do globo. Tsunamis, que atĆ© poucos anos atrĆ”s eram palavras encontradas somente nos dicionĆ”rios, se tornaram constantes. SerĆ” tudo coincidĆŖncia? Especialistas sempre trazem explicaƧƵes naturais para estes fenĆ“menos. Por que tanto interesse em procurar respostas naturais? Pois Ć© mais fĆ”cil procurar culpados na natureza ou limpar a consciĆŖncia culpando o aquecimento global do que procurar a culpa em cada um de nĆ³s. As pessoas grandes nĆ£o fazem isso, elas nĆ£o procuram culpados fora. Elas param para refletir quando escutam sobre alguma tragĆ©dia e procuram as causas nos seus prĆ³prios atos.

Esta Ć© a decisĆ£o que temos que tomar em nossas vidas: viver uma vida de ilusĆ£o, onde sĆ³ os outros sĆ£o culpados de todos os problemas e nĆ³s somos sempre os injustiƧados, ou viver na realidade de que nĆ³s tambĆ©m cometemos erros e muitos dos sofrimentos que chegam atĆ© nĆ³s sĆ£o consequĆŖncias diretas dos nossos prĆ³prios erros.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm



"A grandeza requer atenĆ§Ć£o e esforƧo.
Lembre-se: o mato cresce sozinho, mas flores precisam de cultivo"
Magal

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