de Hanukkah na mesma época em que os cristãos celebram o Natal. A
festa das Luzes celebra a purificação do Templo de Jerusalém, depois
da profanação selêucida. A luz e o nascimento são símbolos que
atravessam também o islão, o budismo ou o hinduísmo.
"Ao cair da noite, vem o pranto; e, ao amanhecer, volta a alegria.
Senhor, foste bom para mim e deste-me segurança; mas, se escondes a
tua face, logo fico perturbado."
(Salmo 30, lido quando se acendem as velas na festa de Hanukkah)
Os judeus iniciaram a festa de Hanukkah esta sexta-feira ao
pôr-do-sol. A Festa das Luzes ou da Dedicação é uma das mais
importantes do calendário judaico: durante oito dias, recorda-se a
reinauguração do Templo de Jerusalém, depois de este ter sido
profanado pelos selêucidas sírios.
Em 165 a.E.C. (antes da Era Comum), foi Judá Macabeu quem liderou uma
guerra de guerrilha contra a ocupação selêucida. A perseguição era
violenta: o rei Antioco Epifânio queria helenizar a Síria e a Judeia.
Proibiu a celebração do Sabat, a leitura da Bíblia e a circuncisão.
Duas mulheres que tinham circuncidado foram apanhadas e atiradas pela
muralha de Jerusalém. Pior ainda: o rei ordenou sacrifícios com porcos
no Templo de Jerusalém, colocando nele uma estátua de Júpiter.
Quando, depois da reconquista de Jerusalém, os judeus purificaram o
Templo, conta-se que foi encontrado um pote com azeite para acender a
chama sagrada durante um dia. Mas o azeite durou oito dias. Por isso,
em memória desse acontecimento, os judeus acendem anualmente (segundo
o calendário lunar), em cada um dos oito dias, uma lamparina do
candelabro de Hanukkah (e mais uma que é acesa todos os dias).
A festa é, essencialmente, familiar, explica Samuel Levy, conselheiro
para os assuntos religiosos da Comunidade Israelita de Lisboa. Há
doces e, em alguns casos, prendas para as crianças, tradição iniciada
talvez por causa do Natal. Tendo em conta a importância do azeite
nesta festa, os doces são sobretudo fritos, como as rabanadas ou os
sufganiot (leva farinha, açúcar e canela). A família reúne-se em volta
do hanukkiah, a lâmpada de Hanukkah. Reza-se uma bênção, recita-se o
salmo 30, canta-se uma das muitas canções da festa.
Se o renascimento do Templo é importante, o nascimento de grandes
figuras tem sempre dimensões extraordinárias. Samuel Levy recorda, no
judaísmo, os nomes de Moisés, Isaac e Samuel. Moisés é retirado das
águas, Isaac e Samuel nascem de mães que tinham sido estéreis até
muito tarde. "Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição
da tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua serva
e lhe deres um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor, por todos os
dias da sua vida", rezava Ana (I Samuel 1, 11), a futura mãe de Samuel
(cujo nome significa "Deus escutou").
Mais tarde, um outro judeu, Jesus, nasce de uma virgem, tal como
acontecera com Confúcio, recorda Levy. Também o Alcorão lê de forma
miraculosa o nascimento de Maria e de Jesus. "Assim será. Deus cria o
que quer. Quando decreta alguma coisa, diz apenas: 'Seja!', e é"
(Alcorão, 3, 47).
No budismo, a ideia do renascimento é central: "A vida começa como
acaba: com a luminosidade-base", escreve Sogyal Rinpoche (O Livro
Tibetano da Vida e da Morte, ed. Círculo de Leitores). E no hinduísmo
também o símbolo da luz é essencial: no Diwali, a festa das luzes,
celebra-se a vitória sobre a obscuridade e o mal, acendendo velas e
lâmpadas nas casas e nas ruas.
Na bênção inicial de Hanukkah, a família judaica reza: "Ó Eterno,
nosso Deus: acendemos estas velas por causa dos milagres, redenções,
grandes feitos, salvações, maravilhas e consolações que fizeste para
com os nossos antepassados."
Criação e recriação, um tema estético
A reflexão estética sobre a criação do mundo é um tema largamente
presente na história da arte, tomando, por exemplo, o ciclo de sete
dias proposto pela tradição judaico-cristã. Comum a todas as
religiões, incluindo as primitivas, a ideia da criação do mundo foi
elaborada no judaísmo depois da libertação da escravatura egípcia, e à
luz desse acto fundador. A ideia foi retomada no cristianismo dando à
criação e à salvação a unidade de um só acto. No islão, o Alcorão (55,
29) recorda que "todos os dias Alá cria qualquer coisa nova".
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Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha
intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata.
Magal
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