durante maior parte do ano, alimentando bolha imobiliária
Com 800 mil habitantes, cidade tem apenas 186 mil apartamentos;
escassez vira justificativa para construções polêmicas na parte
oriental
O interesse crescente de estrangeiros em adquirir imóveis em Jerusalém
provocou um fenômeno inusitado: algumas áreas da cidade mais disputada
do mundo ameaçam transformar-se em verdadeiros bairros-fantasma.
Preocupada com a tendência e suas consequências socioeconômicas, a
prefeitura da cidade enviou recentemente cartas a 9.000 proprietários
ausentes pedindo que ocupem ou aluguem seus imóveis.
Além de inflar a bolha que catapultou os preços dos imóveis em
Jerusalém, a existência de milhares de apartamentos vazios agrava a
decadência econômica da cidade mais pobre de Israel, reduzindo o
consumo e a coleta de impostos.
"Gostaria de parabenizá-los por terem comprado imóveis em Jerusalém, a
capital eterna do povo judeu", diz a carta assinada pelo prefeito de
Jerusalém, Nir Barkat, antes de alertar para o impacto causado pelos
residentes-fantasmas.
"Um apartamento vazio significa menos compradores nos mercados, menos
crianças nas escolas, menos frequentadores nos cafés e, mais
importante, menos imóveis para jovens casais e estudantes", diz
Barkat, que fez milhões no setor de tecnologia antes de ser eleito
prefeito, no ano passado.
A maioria dos apartamentos vazios pertence a judeus ortodoxos dos
Estados Unidos, do Reino Unido e da França, que passam apenas alguns
dias por ano em Israel, geralmente em festas religiosas ou familiares.
"É uma loucura", diz Kobi, por trás do balcão de sua pequena
mercearia, localizada a poucos metros da residência oficial do
presidente de Israel, uma das áreas mais valorizadas de Jerusalém.
"Enquanto tudo em volta ficava mais caro, os clientes foram sumindo."
O que motiva o investimento, além do retorno garantido, é a sensação
de ter um refúgio no caso de uma onda de antissemitismo em seus países
de origem. O resultado: prédios inteiros nas áreas mais exclusivas de
Jerusalém ficam vazios boa parte do ano, tornando a escassez de
imóveis na cidade ainda mais dramática.
"Para cada apartamento disponível, tenho pelo menos dez interessados",
conta o corretor de imóveis Eliran Haviv. "Bairros inteiros ficaram
supervalorizados, mas estão vazios. Os donos não querem vender, porque
esperam que os apartamentos valorizem ainda mais."
Nas áreas mais exclusivas da cidade, como Talbiye, Rehavia e Colônia
Alemã, os preços triplicaram nos últimos dois anos, e um apartamento
de dois quartos pode facilmente passar de R$ 800 mil.
Os números confirmam o fosso entre oferta e procura e explicam a bolha
imobiliária que alguns temem (e muitos torcem) estar perto de
estourar: segundo a prefeitura, há 186 mil apartamentos em Jerusalém,
para uma população de quase 800 mil pessoas.
Os altos preços e os novos e luxuosos projetos imobiliários destinados
a atrair investidores estrangeiros contrastam com a má situação
econômica de 3 em cada 10 moradores da cidade.
A grande concentração de ultraortodoxos e árabes, populações com altos
índices de pobreza, faz de Jerusalém a cidade de menor renda em
Israel. De acordo com dados divulgados no mês passado pelo Instituto
Nacional de Seguros, 32,3% dos residentes são considerados pobres.
A falta de acesso econômico aos bairros mais centrais de Jerusalém
força famílias de baixa renda, estudantes e jovens casais a buscar um
teto na periferia da cidade.
Esse êxodo acaba gerando tensões não só de caráter social, mas também
políticas, pois dá ao governo justificativa para ampliar bairros na
parte oriental da cidade, reivindicada pelos palestinos para ser a
capital de seu Estado independente.
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Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha
intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata.
Magal
http://twitter.com/magal