Shemini Atseret

10 de Outubro de 2009/ 22 de Tishrê de 5770

Um barco viajava calmamente. Dentro dele inúmeros viajantes, cada um transportando a sua riqueza.
De um lado do barco um rico banqueiro levava barras de ouro. Havia também um mercador que transportava seus tecidos, um outro com bebidas, um com móveis, e assim por diante.
Porém um dos viajantes, Daniel, chamava a atenção de todos. Daniel viajava sozinho, não transportava nenhuma riqueza. Carregava apenas um livro.

Um dos viajantes não conseguiu conter a curiosidade e se dirigiu até Daniel perguntando:
- E você? Onde estão os seus bens?
Daniel, apontando para o livro, respondeu:
- Está aqui. Esta é a única riqueza que eu tenho.
De repente, uma grande tempestade atingiu a região e virou o barco. Tudo o que havia lá foi lançado ao mar. Felizmente todas as pessoas sobreviveram, mas nenhum bem dos viajantes foi resgatado.

Chegando na cidade mais próxima, os viajantes ficaram desesperados. Como tinham perdido todas as riquezas que possuíam, teriam que começar uma vida nova, do zero.
Mas Daniel não se preocupou. Perdeu aquele livro que levava na viagem, mas não perdeu os ensinamentos dos outros livros que lera durante sua vida. Daniel logo encontrou um bom emprego e pôde ajudar aos outros viajantes a reconstruírem suas vidas.

A sociedade moderna passa por uma profunda crise de valores. Os bens materiais e os ricos são valorizadas enquanto que o ensinamento e os intelectuais desprezados.
Este fenômeno é mundial e pode ser constatado com bastante facilidade no nosso país.
Vejam o exemplo dos professores, a classe profissional que mais deveria ser valorizada vive lutando por condições dignas de trabalho e sustento.

Os jovens da nossa comunidade que já encabeçaram listas de aprovação de faculdades de primeira linha, contentam-se hoje com faculdades privadas que vendem diplomas e pouco se preocupam com o saber.
Poucos bacharéis em direito terem foram aprovados nos últimos exames da OAB devido a baixa qualidade da maior parte dos cursos superiores. E isto também se aplica em cursos como medicina, engenharia e publicidade com o agravante de não haver exame que impeça o ingresso desses pseudo-profissionais no mercado de trabalho. Gente que vai construir nossos prédios e receitar remédios a nossa família.

Quando nos deslocamos ao campo do ensino judaico a situação é ainda mais difícil. O descaso de muitos pais em relação as escolas da comunidade fez com que estas passassem a buscar soluções conjuntas para continuarem a existir.
Sábado a noite será Simchát Torá. Estaremos comemorando o final de mais um ciclo da leitura da Torá. Mais um ano se passou e esse livro sagrado foi lido, nas sinagogas do mundo todo, mais uma vez.

Parece incrível. Mais de 3 mil anos se passaram e a Torá continua viva. Continua nos trazendo lições modernas e úteis para o mundo em que vivemos. O Homem da “aldeia global” continua aprendendo com o Homem do “Gan Êden”.
A Torá é o livro mais lido do mundo, interpretada nas mais diversas línguas e discutida das mais diversas formas.

Precisamos investir no estudo da Torá e na educação judaica.

O nosso povo passou, em seus quase 6 milênios de existência, por muitas dificuldades. Já profanaram nossos cemitérios, já destruíram sinagogas e até rolos da Torá já foram incendiados.

Mas a nossa riqueza é indestrutível. O conhecimento que adquirimos através dos anos e o sentimento de judaísmo que habita nossos corações jamais poderá naufragar, por mais forte que seja a tempestade.

Sissu Vesimchú Beshimchát Torá Utnú Kavod Latorá
Sábado a noite estaremos dançando com a Torá aqui na nossa sinagoga. Venham participar desta importante festa e tragam seus filhos e netos.
Vamos valorizar e cuidar com carinho da nossa Torá. Não precisamos esperar a tempestade para reconhecer que este é o nosso mais valioso tesouro.

Shabat Shalom e Chag Sameach!!!
Rabino Michel Schlesinger

*A parashá da semana é acompanhada por uma ilustração original da aquarelista Rosália Lerner.