Samuel Feldberg,
PESQUISADOR DO LABORATÓRIO DE ESTUDOS SOBRE A INTOLERÂNCIA DA USP
Quem não gostaria de fazer uma viagem ao Oriente Médio, voando em Classe Executiva e hospedando-se em acomodações de primeira, sem absolutamente nenhuma expectativa de ter que responder pelos resultados da viagem?
Pois é exatamente o que foi fazer nosso chanceler, Celso Amorim, em seu giro "humanitário" com o objetivo de promover a trégua entre israelenses e palestinos.
O embaixador visitou a Síria, onde hospeda-se um dos principais líderes do Hamas, Khaled Meshal, mas não se reuniu com ele para deixar claro que, se o Hamas não declarar explicitamente que aceita a existência do Estado de Israel (ainda que os israelenses há muito hajam deixado de se preocupar com quem aceita ou não a sua existência), a paz não será possível; e não haverá trégua, antes de o Hamas deixar de abastecer-se de armas munições e foguetes que permitam bombardear a população civil e sequestrar novos soldados israelenses.
A ministra israelense do exterior, Tzipi Livni, engajada na direção do confronto e no estágio final de uma acirrada campanha eleitoral foi gentil o suficiente para recebê-lo, reconhecendo o valor do Brasil como interlocutor.
Celso Amorim encontrou em Ramallah (linda cidade, quem não gostaria de conhecê-la?) membros da Autoridade Nacional Palestina que não têm absolutamente nenhuma capacidade de influenciar os acontecimentos em Gaza, tendo sido de lá expulsos pela força das armas do Hamas. Pelo contrário, se pudessem diriam ao nosso chanceler que não se meta já que, quanto mais enfraquecido sair o Hamas, mais benefício auferirá o Fatah.
Da Jordânia sairá o carregamento de mantimentos e remédios gentilmente doado pelo Brasil. É a única ligação com mais este destino da aventura diplomática, a não ser que o Itamarati pense em endossar a idéia, que já vem sendo discutida, de fazer voltar o relógio em quarenta anos e entregar a Cisjordânia novamente ao controle do herdeiro do rei Hussein.
Celso Amorim não se reunirá com a liderança do Hamas a quem poderia solicitar que limitassem o número de mortes de civis simplesmente evitando que seus membros se escondam no seio da população civil.
O Brasil tem sim uma vocação de mediador. Somos um país de integração, em que as populações árabe e judaica convivem fraternalmente e onde mesmo as manifestações e debates mantém um nível raramente encontrado em outros países. Mas as recentes manifestações do PT e do assessor internacional da Presidência da República sobre o conflito esvaziaram nossa isenção e nos colocaram no mesmo patamar dos Estados Unidos, se um mediador for contemplado.
Portanto, quanto antes nosso chanceler retornar ao país menor será o fiasco de uma missão desde o início impossível, poupando ainda o contribuinte de um desperdício absolutamente desnecessário, nos tempos de crise que se avizinham.
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Magal
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