Nazismo é inevocável
Noemi Jaffe
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2601200912.htm
TENHO OUVIDO insistentemente, na imprensa, entre meus alunos e também entre alguns amigos, comparações entre a ação recente de Israel na faixa de Gaza e o Nazismo.
"Estado nazissionista", montagens de fotos justapondo terrores do nazismo com aparente correspondência exata aos horrores sofridos pelos palestinos. Tudo isso é absolutamente inaceitável e, creio, revelador.
Não quero aqui me posicionar sobre a ofensiva israelense que é, certamente, controversa sob muitos pontos de vista, mas falar sobre esse frenesi comparativo entre o nazismo e Israel. O que quero, essencialmente, dizer, é que nada, nada, é comparável ao nazismo.
A não ser que surja uma nova campanha nacional e continental contra uma raça, simplesmente pelo fato de ela ser uma raça e não outra; a não ser que haja uma ação consensual, coletiva e institucional, de eliminação sumária e calculada de um povo inteiro, das formas mais cruéis e sádicas possíveis, perpetradas por um exército que parecia gozar no exercício de seus pequenos poderes (campeonatos para ver quem mata mais prisioneiros com um tiro só, troca de fetos por ratos, inserção de órgãos doentes no lugar de órgãos saudáveis etc.), a não ser que haja um certo silêncio da parte de outros países em relação a práticas ocultas mas também ostensivas, da extinção de um povo inteiro, a não ser que isso aconteça novamente, nunca, e repito, nunca mais se pode chamar qualquer outra ofensiva de nazista.
Em primeiro lugar, por mais que se discorde do argumento israelense, não há como estabelecer uma ordem comparativa entre um argumento político e um argumento racista. Ambos podem ser condenáveis, mas suas naturezas são diferentes.
Já atingimos um certo estágio da civilização, pós-iluminista, em que os argumentos de ordem política e territorial têm mais plausibilidade do que argumentos ideológicos, religiosos e, principalmente, raciais. Não importa o grau de verdade contida no argumento. Não se trata de messianismo, direito histórico ou sagrado. Trata-se de algo passível de discussão.
Em segundo lugar, a pergunta central é: por que a comparação é feita exatamente com o nazismo e não com outras ofensivas terríveis que já ocorreram ao longo da história, perpetradas por outros países?
Acredito que aí é que esteja a parte reveladora desta comparação que, na minha opinião, é mais sádica do que qualquer outra coisa. Comparar Israel com o nazismo é como dizer: "eles não aprenderam a lição; estão praticando exatamente aquilo que sofreram".
Ou seja: comparar a ação de Israel com o nazismo é usar o próprio argumento racista do nacional-socialismo: "os judeus merecem o sofrimento" ; é justificar subconscientemente os acontecimentos da segunda guerra e é, também, livrar-se da culpa que todos sentimos pelo que aconteceu.
Comparar o nazismo à ação de Israel é, na verdade, uma prática antissemita, racista e ignorante. Uma ignorância orgulhosa, vingadora e recalcada, como talvez todas as grandes ignorâncias sejam, culpadas pela perpetração de barbaridades atrozes e injustificáveis.
Encontre seu par judaico:
http://jewishfriendfinder.com/go/g866036
Caro senhor autor deste blog, resolvi usar esta parte do seu blog para conversar com você após ver a mensagenzinha aqui abaixo dizendo: "A moderação de comentários foi ativada. Todos os comentários devem ser aprovados pelo autor do blog.", portanto ela serve como um testimonial temporário de orkut, um recado oculto para você.
ResponderExcluirTive muito interesse na tradução neste blog do estatuto do Hamas que, em minha ignorante opinião (não sei árabe), foi muito bem feita. Portanto gostaria de sugerir que você coloque entre cochetes [] as suas intevenções e entre parênteses o que não for intervenção sua mas que seja necessário para a tradução do árabe ao português, para que eu possa identificar o texto em si entre as suas muitas (e valiosas, em vários sentidos) intervenções. Imagino que não seja fácil fazê-lo pois, ao que me parece, ou o árabe é uma língua que não tem muita compatibilidade com o português ou o estatuto foi escrito sem muita preocupação linguística, deixando espaços em que se tornam necessárias as suas intervenções. De qualquer forma, caso eu possa ajudar, mesmo não entendendo nada de árabe, coloco-me à disposição no meu e-mail: guibelisario@yahoo.com.br
Quero também comentar o artigo O NAZISMO É INEVOCÁVEL feito por Magal, e até o farei logo após te mandar este recado, mas gostaria de entrar em contato direto com ele para aprofundar mais este e outros assuntos. Portanto, pesso que você lhe passe meu e-mail (caso ele não seja você) ou simplesmente me ajude a entrar em contato com ele de alguma maneira.
Basta de escrever por agora, agradeço, e aguardo sua resposta.
Guilherme
Me parece interessante ver alguém trazer este assunto sob esta perspectiva. Já ouvi muitas coisas sobre as ofensivas de Israel, mas nunca tinha ouvido esta comparação. Concordo com o autor do artigo ao dizer que não é uma comparação a ser feita, uma acusação totalmente descabida, feita por alguem que, do conflito nascido junto com o estado de Israel, leu e ouviu pouco ou nada, e geralmente um pouco já bastante parcial.
ResponderExcluirNão entendo é porque a parcialidade é justamente contrária aos israelitas. Pois eu seria contra, mas poderia entender que em geral as pessoas tivessem uma opinião que fosse contra os palestinos e a favor de Israel. Afinal, as demonstrações anti-humanas e pró-ideologia, a qualquer custo, se vêm muito mais do lado dos ditos fundamentalistas muçulmanos, não só do Hamas.
Agora, analizemos por partes a ofensiva Israelita. Vi muitas vezes na TV e ouvi da boca de muita gente que a ofensiva foi desproporcional e não consigo entender o porquê de tal frase. Então se o Hamas ataca com mísseis leves de fabricação caseira, sem precisão e sem poder de fogo, o exército de Israel deve fazer o mesmo? O que é esta tal "proporcionalidade"? Guerra é guerra. Se o Hamas não consegue atacar com tanques e aviões é por incapacidade militar deles. Se Israel consegue matar muitos sem nem mandar um soldado pra frente de batalha, ótimo. É para este lado que a nossa tecnologia militar tem convergido: o mínimo de mortes possível.
Também ouvi falar em injustiça e terror dos ataques que, em grande parte, mataram civis. Eu não li muito sobre o assunto, e vi, como muitos devem ter visto, no jornal da noite, grande parte do que sei sobre isso. No entanto, ao invés de só ver um pouco e já sair de lá com minha opinião velha pré-formada, eu soube ver a parte em que falaram do equipamento de guerra e da política de combate do Hamas: usam mísseis de fabricação caseira, que podem ser lançados de uma base que se monta em qualquer lugar (no lar de qualquer civil palestino) em minutos e se desmonta em outros poucos. Ora, numa situação assim, em que não há um exército para se combater, é quase impossível evitar um número alto de baixas civis. O que se deveria fazer então? Evitar a guerra? E por quanto tempo não ouvimos falar de ataques Israelitas à faixa de Gaza? E neste período quem pode me dizer com certeza que não houve ataques de mísseis lançados pelo Hamas contra civis israelitas? (porque com certeza mirar bem é que eles não conseguem, nem se preocupam em fazê-lo).
Vocês comparam Israel à Alemanha Nazista? Pois vamos conversar sobre o estatuto do Hamas. Quem o ler verá lá, publicado e escrito por eles, como se fosse algo de bom e honrável, nada além de um totalitarismo e uma vontade de extermínio não dos judeus, mas pior, de qualquer um que não seja Muçulmano. E quem souber lê-la verá nesta declaração do Hamas a constituição (é isto que eles a consideram, pelo que está escrito no próprio estatuto) de um estado totalitário, muito aos moldes do estado Nazista. E, como se sabe, tendo a consituição, construir uns guetos, umas câmaras de gás e uns campos de concentração é apenas uma questão de tempo e poder.
Claro que matar pessoas do comboio da ONU é outra coisa e que o impedimento da ajuda humanitária é algo a se levar em conta. Isso sim seria interessante discutir, apesar de que provavelmente o governo "democrático" do Hamas não distribuiria, creio eu, esta ajuda igualmente entre os não militantes que necessitassem. Mas antes de podermos discutir isso temos que sair desse nível baixo de conhecimento sobre o assunto que nos leva até a acusar Israel de Nazista.