Pilar Rahola
Confesso. Eu ia titular este artigo da forma mais contundente e explícita: "A esquerda fascista". Mas me freou o sensato artigo de Lluís Foix, no La Vanguardia de ontem. Certamente, e como eu mesma escrevi em ocasiões, temos que ter muito cuidado com o uso de alguns grandes conceitos que pintaram de horror o passado da Europa.
Foix fala do uso perverso do termo genocídio para atacar a incursão militar de Israel. Eu, que concordo com ele, cometeria o mesmo erro se usasse o termo fascista para definir os setores que tenho a intenção de analisar. O fascismo é um fenômeno ideológico com um longo histórico de violência e morte e não é equiparável a nada. E si é a expressão extrema e trágica das idéias de direita, não podemos esquecer que também existe a versão extrema e trágica das idéias de esquerda. Do fascismo ao comunismo, todos convergem no mesmo gosto em tiranizar e matar. Deixemos, pois, as ideologias totalitárias para a memória obscura da história.
Como parece evidente, no entanto, que atualmente existem setores da esquerda que apresentam alguns tiques inequivocamente intolerantes, e cujo dogmatismo fanático impede a dissidência, às vezes de forma violenta, também parece fácil considerá-los fascistas de esquerda. Não cairei na armadilha, e tentarei considerá-los somente intolerantes, incapazes de assumir duas atitudes fundamentais da cultura da liberdade: o direito à dissidência e o direito de não ser suspeito por exercê-la.
Certamente, escrevo pela ferida, não em vão tenho a duvidosa honra de ser alvo, junto com alguns outros colegas, das iras de setores organizados que, com a desculpa da defesa do povo palestino, estão demonizando nosso direito de pensar diferente. Guardiões zelosos do pensamento único, e escravos de seu medo de pensar em liberdade, disparam contra o pianista para impedir qualquer possibilidade de reflexão crítica.
Sobre o conflito da Palestina não se debate. Impõem-se argumentos camuflados de solidariedade e pacifismo, e qualquer análise que esteja fora da ortodoxia progressista é enviada aos infernos da maldade e da cumplicidade assassina. Com certeza, tudo bem alinhado com campanhas difamatórias, insultos em todos os foros possíveis, e algumas belas ameaças.
Estes mesmos que se manifestam aos gritos nas ruas, levantando bondosas bandeiras de solidariedade, são os mesmos que nos atiçam com essas bandeiras, numa tentativa grosseira de fazer-nos calar porque pensamos diferente. Sua intolerância chega até o ponto de tentar monopolizar, não só a verdade do conflito, mas também a defesa da paz. Ou seja, não só negam o debate, como também se acreditam no direito de considerar-se "os bons" da tragédia vivida na Terra Santa, num exercício pueril de maniqueísmo. Bons palestinos e maus israelenses e resumem em branco e preto um conflito que já dura 60 anos.
Seguramente aqueles que têm opiniões mais complexas sobre o quebra-cabeça do Oriente Médio são rotulados de genocidas, cúmplices da matança, e outras belezas do uso. E se parecesse que para defender a paz, se necessita um pensamento mais complexo? E se os inimigos da paz estivessem nas fileiras que defendem? E se alguns palestinos tivessem isso mais claro que os católicos europeus que dizem defendê-los? E se Israel fosse a única alternativa real que resta ao povo palestino, quando se libertar das ideologias que os oprimem? Nem contemplam a possibilidade de pensar isso, imbuídos de uma pretendida superioridade ética que lhes permite negar toda opção que não seja a de sua verdade bíblica. A superioridade ética da intolerância.
Neste processo de demonização da dissidência, chegou-se a momentos de pura loucura. Por exemplo, as manifestações de Madri e Barcelona, onde os gritos de Allah Akbar, os gorros com as aberturas só para os olhos e narizes, os revólveres, os vivas ao Hamas, as queimas das bandeiras israelenses e americanas e os grupos islâmicos se manifestavam na boa companhia da 'L'estaca', com os progressistas em exercício e com os pacifistas de toda a vida. E com o próprio chanceler do Interior, em um dos atos mais vergonhosos da história desta Chancelaria.
Como dizem alguns policiais, como vão receber informação sobre islamismo radical por parte de outros serviços de inteligência, se seu próprio chanceler se manifesta em tamanha companhia?
Dizem que se manifestaram a favor da paz, mas foram ouvidos gritos de guerra. Dizem que se manifestaram a favor da solidariedade, mas na manifestação foram distribuídas revistas onde seis cidadãos catalães — Joan Culla, Vicenç Villatoro, Lluís Bassat, Miquel Sellarès, Pilar Rahola e Jaume Renyer —- eram assinalados com a marca da maldade e da suspeita. Eles apontam, e talvez outros disparem? Com certeza, receberão a querela pertinente.
E finalmente, dizem que se manifestaram a favor de Palestina, e só ouvimos o ruído ensurdecido do ódio contra Israel. De tolerância, nada. De solidariedade, com o olho torto. E de liberdade, só o grito, usado para impor o pensamento único, e calar as bocas dissidentes.
Tradução: Szyja Lorber
Magal
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