Hot Widget

Type Here to Get Search Results !

As ruas de Israel

Sheila Sacks

 

 

 

A Yanir Gandelsman, que não voltou

 

As ruas de Israel estão desertas.

O dia acorda, escova os dentes e se apresenta.

Mas ninguém comenta, ninguém se prepara, se enfeita, festeja.

O dia hoje não é presente,

é armadilha de gente.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Nem o passarinho postado no galho desmente.

 No alto, encravado como uma espinha de face amarela,

o sol se aponta e desponta:

broto. girassol, cogumelo.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Não se vê crianças, jovens, velhos.

O dia já se vestiu e de capacete e fuzil

faz da continência

usual gesto.

Pelas ruas,

solitário pedestre,

só o quente vento das dunas

aparece.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Do riso das crianças,

nem sombra,

da alegria  dos jovens,

nem traço.

Em casa o choro é guardado

no armário do quarto.

No templo a reza é amuleto

que vale dobrado.

Outra vez, filho pródigo,

o flagelo da guerra

está de volta.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Do canto, da dança,

nem lembrança.

O som agora é outro,

haja ouvido para tanto.

Da veste colorida, fantasia,

fita na testa,

nem vestígio.

No figuro da guerra não cabe

camiseta, tênis, chinelo.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Quanta tristeza, quanta dor!

Foram-se meus meninos levados,

inquietos rapazes das praças e bares.

Garotos alegres que enchiam de risos

as noites e esquinas dos bairros.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Só restou, marcado nas pedras,

o silêncio pesado das coisas passadas.

Psiu... falem baixo,

quero ouvir nas calçadas,

o som da saudade.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Do outro lado da terra,

o locutor de paletó e gravata

fala de uma guerra de tanques e aviões.

 Usa jargão de jornal, impessoal,

mas eu sei que soldado

tanto é filho como pai.

 

As ruas de Israel estão desertas.

Nos gabinetes e salões

a diplomacia fervilha em debates e sanções,

sem ao menos entender 

que hoje, como antes,

carbono do que foi,

do que era,

meus meninos estão na guerra.

 

 

(Publicado no suplemento Campus, do jornal Resenha Judaica, em agosto de 1982, durante a guerra de Israel com as forças da OLP no Líbano)

 

 

 

 



--
Magal
Encontre seu par judaico:
http://jewishfriendfinder.com/go/g866036

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Top Post Ad

Below Post Ad

Ads Section