As ruas de Israel

As ruas de Israel

magal53
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Sheila Sacks

 

 

 

A Yanir Gandelsman, que nĆ£o voltou

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

O dia acorda, escova os dentes e se apresenta.

Mas ninguƩm comenta, ninguƩm se prepara, se enfeita, festeja.

O dia hoje nĆ£o Ć© presente,

Ć© armadilha de gente.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Nem o passarinho postado no galho desmente.

 No alto, encravado como uma espinha de face amarela,

o sol se aponta e desponta:

broto. girassol, cogumelo.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

NĆ£o se vĆŖ crianƧas, jovens, velhos.

O dia jĆ” se vestiu e de capacete e fuzil

faz da continĆŖncia

usual gesto.

Pelas ruas,

solitƔrio pedestre,

sĆ³ o quente vento das dunas

aparece.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Do riso das crianƧas,

nem sombra,

da alegria  dos jovens,

nem traƧo.

Em casa o choro Ć© guardado

no armƔrio do quarto.

No templo a reza Ć© amuleto

que vale dobrado.

Outra vez, filho prĆ³digo,

o flagelo da guerra

estĆ” de volta.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Do canto, da danƧa,

nem lembranƧa.

O som agora Ć© outro,

haja ouvido para tanto.

Da veste colorida, fantasia,

fita na testa,

nem vestĆ­gio.

No figuro da guerra nĆ£o cabe

camiseta, tĆŖnis, chinelo.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Quanta tristeza, quanta dor!

Foram-se meus meninos levados,

inquietos rapazes das praƧas e bares.

Garotos alegres que enchiam de risos

as noites e esquinas dos bairros.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

SĆ³ restou, marcado nas pedras,

o silĆŖncio pesado das coisas passadas.

Psiu... falem baixo,

quero ouvir nas calƧadas,

o som da saudade.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Do outro lado da terra,

o locutor de paletĆ³ e gravata

fala de uma guerra de tanques e aviƵes.

 Usa jargĆ£o de jornal, impessoal,

mas eu sei que soldado

tanto Ć© filho como pai.

 

As ruas de Israel estĆ£o desertas.

Nos gabinetes e salƵes

a diplomacia fervilha em debates e sanƧƵes,

sem ao menos entender 

que hoje, como antes,

carbono do que foi,

do que era,

meus meninos estĆ£o na guerra.

 

 

(Publicado no suplemento Campus, do jornal Resenha Judaica, em agosto de 1982, durante a guerra de Israel com as forƧas da OLP no Lƭbano)

 

 

 

 



--
Magal
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