27/11 - 21:17 - Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel
Nahum Sirotsky, em Jerusalém – Annapolis, num certo sentido, foi um sucesso. Claro que não resolveu nenhuma das questões que separam israelenses e árabes. Como justifiquei em nota anterior, andaram exagerando no noticiário.
Imaginar que num só dia se pudesse resolver questões que desafiam a diplomacia há 60 anos, desde a criação do estado de Israel, foi falta de assunto ou de conhecimentos. Aqueles que foram a Annapolis acharam conveniente atenderem ao convite do presidente americano ou não poderiam perder oportunidade de demonstrarem o quanto se preocupam com os perigos da instabilidade do Oriente Médio.
Bush conseguiu que Ehud Olmert, chefe do governo israelense, e Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, assinarem declaração emocionante, redigida, com certeza, por profissionais da palavra, redatores de discursos bonitos que nada dizem. Uma especialidade que pode ser lida num espaço próprio do iG.
Nela assumem eles o compromisso de se empenharem ao máximo por meio de intensificação de negociações na solução do conflito entre os seus povos até o fim de 2008. O espetáculo de Annapolis foi um sucesso.
Negociar não é garantia de se resolver coisa alguma. Os lados prometem, mas vai ser duríssimo para Olmert e Mahmud Abbas se permanecerem no poder. Além de idéias que resolvam diferenças, ambos terão de obter o apoio das respectivas infra-estruturas políticas internas e opinião pública, o que exigirá extrema habilidade. E as chamadas organizações extremistas prometem atrapalhar ao máximo.
Em dezembro, em Paris, haverá reunião dos países-doadores de recursos para a Autoridade Palestina para que possa pagar salários e aliviar a miséria de muitos. A área palestina não produz para seu sustento, não tem uma economia.
Mas em Paris, Tony Blair, ex-primeiro-ministro inglês que vem trabalhando em silêncio no planejamento de instituições para a criação de um Estado Palestino, submeterá suas primeiras propostas com estimativas de custos. Serão para "reunir suficiente apoio financeiro internacional para a construção de uma Palestina viável e próspera", explica declaração do Quarteto – Estados Unidos, Rússia, Nações Unidas e vários dos mais importantes funcionários da União Européia.
É provável que sejam convidados ao encontro representantes da Liga Árabe, a comissão especial que segue de perto o trabalho do grupo Blair. O Quarteto "pretende continuar envolvido no processo."
Assim se faz a conta. Blair é o enviado especial do Quarteto para ajudar os palestinos a criarem instituições essenciais ao funcionamento do futuro estado, processo que a Liga Árabe acompanha por meio de uma comissão especial. O Hamas declara que o que Mahmud Abbas resolver, não terá validade. E promete continuar seus ataques diários de mísseis e morteiros a centros israelenses. Israel previne que não aceitará isto por mais tempo. Mahmud Abbas condena as ações do Hamas.
Olmert e Mahmud Abbas devem iniciar reuniões quinzenais no processo de intensificação das negociações. O presidente Bush está selecionando uma alta e experiente personalidade americana para acompanhar de perto as negociações entre israelenses e palestinos.
A conjunção dos fatores citados consiste num contexto de pressões permanentes para que israelenses e palestinos se entendam. Pode ser que acabe dando certo. É o que em inglês se chama de "wishful thinking", tradução de dicionário: ilusão, literal, pensamento desejoso.
E há um detalhezinho que pouco se comentou. Israel disse ao secretário-geral das Nações Unidas que não se conformará com a hipótese de um Irã nuclear. Se a comunidade internacional nada fizer, algo terá de ser feito.
Os antigos chineses amaldiçoavam desejando dias interessantes. São os que estão vindo aí.
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Magal
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