Indicação de leituras básicas sobre a linguagem simbólica e mitológica de um imaginário religioso bíblico compartilhado com as culturas religiosas circundantes.
Mito do Oriente & Mito Bíblico
PORATH, Renatus. Fragmentos do diálogo inter-religioso na Bíblia Hebraica ou a absorção do imaginário ugarítico no culto jerusalemita. IN: Estudos de Religião 31. Revista Semestral de Estudos e Pesquisas em Religião. Universidade Metodista de São Paulo. Pós-Graduação em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985. p.12-33.
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O autor Renatus Porath aborda a literatura bíblica (Antigo Testamento) em diálogo e ou relação com as outras manifestações religiosas dentro e fora da sociedade israelita - a linguagem simbólica e mitológica de um imaginário religioso compartilhado com as culturas religiosas circundantes. Exemplo: os textos do ciclo de Ba´al e os salmos (sinais de absorção do imaginário ugarítico na Bíblia Hebraica). O autor observa que antes de criar seus próprios mitos, o antigo Israel incorpora no seu imaginário a herança cultural verbalizada em textos poético-míticos. Os mitos, segundo Porath, ganham novas dimensões nesse processo de apropriação, porque novos conceitos antropológicos, teológicos e históricos, elaborados por Israel, ajudam a ressignificar os textos herdados, sem destruí-los.
ARIAS, Juan. A Bíblia e seus segredos. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
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O autor Juan Arias realizando seu curso em Estudos Bíblicos, no Instituto Biblico de Roma, nos anos 50, comenta que "me dei conta de que usando alguns significados das raízes ugaríticas aplicados às raízes hebraicas era mais fácil interpretar algumas passagens bíblicas que, até então, eram consideradas de difícil tradução" (ARIAS, 2004: 55). Juan Arias realizou um estudo sobre o "substrato ugarítico" no livro de Rute quando estudava Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, seu trabalho não chegou a ser publicado. O autor observa que posteriormente, teve a satisfação de observar de que o estudo do "substrato ugarítico" em Rute foi generalizado para outros textos da Bíblia. O autor prossegue comentando que o estudioso Trebolle Barrera confirma a sua intuição presente anteriormente no seu trabalho sobre o livro de Rute e assume importância de analisar o substrato ugarítico na Bíblia. Arrias cita trecho do livro de Trebolle Barrera (A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã, p.74): "Textos ugaríticos paralelos aos textos bíblicos permitem reconstruir a forma ou so significado primitivo das palavras hebraicas mal copiadas ou mal interpretadas na tradução manuscrita. Isto permite propor novas e melhores traduções para numerosas passagens do Antigo Testamento". Conclui ARIAS (2004: 56) que "as novas traduções da Bíblia terão maior credibilidade científica se os especialistas conhecerem bem, além do hebraico, outras línguas semíticas e cananéias".
GREENFIELD, Jonas C. A bíblia hebraica e a literatura cananéia. IN: ALTER, Robert e KERMODE, Frank (org.). Guia literário da Bíblia. Trad. Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1997. p.585-600. (Prismas).
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O autor Jonas C. Greenfield aborda como os escritores bíblicos se apropriaram de vários modos e em vários graus, nas tradições literárias do mundo circunvizinho do Oriente Próximo, mesopotâmico, egípcio, hitita e cananeu. O autor destaca nessa interação literária, a cultura cananéia. Como um exemplo da relação dos autores bíblicos com as literaturas contíguas e antecedentes.
LEFTEL, Ruth. O Mito do Oriente Antigo - O Mito Bíblico. IN: Revista de Estudos Orientais 1. Revista do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Humanitas Publicações FFLCH/USP, 1997. p.25-32.
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A autora Ruth Leftel aborda os relatos bíblicos da criação do mundo e do dilúvio, que têm os mais surpreendentes paralelos com os mitos do Oriente Antigo A autora observa que a versão bíblica da criação deve muito às cosmogonias do Oriente Antigo, ms, simultaneamente, estes assuntos usados foram transformados, para serem veículo de transmissão de idéias completamente novas.
Um Salmo para Ishtar
MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história. O surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006. p.24.
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Há muitas semelhanças entre alguns dos Salmos em hebraico e cânticos encontrados em obras literárias de outras culturas antigas: egípcios, cananeus, babilônios e assírios. Os paralelos são, às vezes, tão flagrantes, que os estudiosos suspeitam que, antigamente, as pessoas pegavam canções de outras culturas e as adaptavam de acordo com as suas crenças.
Abaixo estão trechos do Salmo 13, citados da Nova Tradução na Linguagem de Hoje e comparados com trechos da Oração de Lamentação para Istar. Deusa da guerra, Istar era adorada pelos babilônios. A oração para lstar foi encontrada em um rolo que foí escrito alguns séculos depois de Davi. Uma observação no rolo afirma que a oração pertencia a um templo babilônico e que foi copiada de uma versão mais antiga. Estudiosos afirmam que a oração pode ter sido escrita várias séculos antes, talvez na mesma época de Davi.
Salmo 13
Ó SENHOR Deus, até quando esquecerás de mim?
Será para sempre?
Por quanto tempo esconderás de mim
o teu rosto?...
Até quando os meus inimigos me vencerão?
Oração de Lamentação para Istar
Até quando, á minha Senhora, estarás enfurecida,
desviando de mim o teu olhar?
Até quando, ó minha Senhora, os meus adversários
estarão me encarando?
Na verdade e na inverdade eles estarão planejando
o mal contra mim.
Os meus perseguidores e aqueles que exultam
sobre mim haverão de se enfurecer
contra mim?
Os mitos Enuma Elish e Atra-Hasis para detectar o ideário mesopotâmico sobre a criaçao do homem e da cosmologia babilônica
Dica de Leitura:
BOUZON, Emanuel. Gn 2,4b-24 e os relatos mitológicos do Antigo Oriente. IN: MÜLLER, Ivo (org.). Perspectivas para uma nova Teologia da Criação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. p.133-151.
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O Professor Emanuel Bouzon faz a exegese de Gn 2,4b-24, onde evidencia os relatos mitológicos do Antigo Oriente sobre a criação. Bouzon parte do relato pré-sacerdotal, perpassando os relatos sumérios e os babilônios. Em seguida analisa as cosmogonias egípcias, enfatizando os sistemas heliocêntrico, hermopolitano e o menfítico. O Professor Bouzon demonstra que não há um paralelo perfeito entre os relatos do Oriente Antigo e o relato bíblico, porém meras semelhanças entre os mesmos. Bouzon observa que há sem dúvida, motivos e temas nesses mitos de origem que são aproveitados, também, no relato bíblico. Isto leva a Bouzon concluir que o relato bíblico nasceu em um determinado contexto literário e ideológico que deve ser levado em conta, quando se estudam os relatos bíblicos da criação. Atualmente, os estudiosos são unânimes quando afirmam que o relato pré-sacerdotal da história primeva com a criação, queda, dilúvio etc., segue o esquema do mito Atra-Hasis.
Segundo Bouzon, o versículo 5 de Gn 2 segue o modelo das introduções cosmogônicas dos mitos sumérios. O versículo 7 segue o motivo do deus oleiro que forma o homem a partir da argila, comum aos mitos sumérios e aos poemas babilônicos. O mesmo motivo do deus oleiro aparece no Egito nas concepções de criação ligadas ao deus Chnun. Bouzon observa nos versículos 18-22, que apesar da originalidade do relato bíblico, a finalidade da mulher era completar o homem, fazer dele um ser social, introduzi-lo no convívio social.
Relatos sumérios de criação - entre os textos sumérios já publicados não se encontrou até o momento nenhum mito que trate direta e exclusivamente das origens do mundo. Há, contudo, alguns mitos e poemas sumérios que apresentam curtas introduções cosmogônicas, que mostram como os sumérios concebiam a origem do universo e do homem.
Relatos babilônicos de criação - o poema Atra-Hasis é o mais antigo escrito acadiano a tratar da criação do homem.
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O tema presente no relato bíblico encontra paralelos nos textos do Antigo Oriente. Tomamos como referência a Epopéia de Gilgamesh, onde Enkidu, o homem selvagem criado pela deusa Aruru da argila, entra no convívio da civilização urbana por meio de uma mulher, a prostituta sagrada Sanhat. Bouzon finaliza o seu artigo assinalando que o relato da criação do texto sacerdotal de Gn1 apresenta a concepção de um Demiurgo que domina o caos primitivo, representado pelo tehom (oceano primitivo) envolvido pelas trevas, e que organiza o universo dominando o oceano primordial, tem influências dos antigos sistemas egípcios de Heliópolis e de Hermópolis e da epopéia Enuma Elish.
A Bíblia e o Antigo Oriente
Dica de Leitura:
FRAILE, Pedro Ignácio. Noé: a pluralidade do arco-íris. IN: Personagens do Antigo Testamento. Trad. Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Loyola, 2002. v.1. p.39-51.
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Epopéia Gilgamesh
ZILBERMAN, Regina. "Nos princípios da epopéia: Gilgamesh". IN: BAKOS, Margaret Marchiori e POZZER, Kátia Maria Paim (orgs.). III Jornada de Estudos do Oriente Antigo: Línguas, escritas e imaginários. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. p.57-72. (História, 20).
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A autora Regina Zilberman aborda a obra literária mais antiga da humanidade, a Epopéia de Gilgamesh: a origem e formação do poema, a narrativa e os temas.
Na Suméria, o Ciclo de Gilgamesh é composto por vários poemas, contendo narrativas diferentes. É provável que o poema tenha sido constituído e recitado oralmente muito tempo antes de registros escritos. Os babilônios reuniram esses poemas e, entrelaçando suas histórias, compuseram a Epopéia de Gilgamesh.
(CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A Epopéia de Gilgamesh. )
Algumas semelhanças que podem ser encontradas nos poemas de criação, estão relacionados à herança cultural que os semitas receberam ao invadirem e conquistarem a Suméria. Cita-se como exemplo, a quantidade de deuses correspondentes entre essas duas civilizações - Inanna em sumério e Ishtar em babilônico: deusas da guerra e da fertilidade. Ainda: An, sumério e Anu, babilônico - ambos deuses do Céu; e assim por diante. Outra familiaridade que pode ser percebida (e isso em muitos outros mitos de criação) é a gênese cósmico proveniente de "águas primordiais", responsáveis pelo nascimento de seres divinos que criariam posteriormente todo o resto.
(CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Conclusões: mito e história. )
Referências Eletrônicas
CLOUGH, Brenda W. A short discussion of the influence of the Gilgamesh Epic on the bible . Disponível em:
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Mitos Cosmogônicos: Suméria e Babilônia. Disponível em:
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A Epopéia de Gilgamesh.
Disponível em:
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A cosmologia dos sumérios.
Disponível em:
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Enuma Elish: o poema de criação babilônico. Disponível em:
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Conclusões: mito e história. Disponível em:
FOLLMANN, Eric Thomas. A influência da epopéia de Gilgamesh na escrita do Gênesis. Disponível em:
LOPES, Fabiano Luis Bueno. Exílio e retorno dos judeus na Babilônia. Disponível em:
SUBLETT, Kenneth. Epic of Gilgamesh. Disponível em:
SUBLETT, Kenneth. Links. Disponível em:
Leituras Básicas
A CRIAÇÃO E O DILÚVIO segundo os textos do Oriente Médio Antigo. Vários autores. São Paulo: Paulinas, 1990. (Documentos do Mundo da Bíblia, 7).
BARUCQ, A. Caquot et alii. Escritos do Oriente Antigo e Fontes Bíblicas. São Paulo: Edições Paulinas, 1992. (Biblioteca de Ciências Bíblicas).
ISRAEL E JUDÁ. Textos do Antigo Oriente Médio. Vários autores. São Paulo: Paulus, 1985. (Documentos do Mundo da Bíblia, 2).
TREBOLLE BARRERA, Julio. Bíblia e Antiguo Oriente. Literatura bíblica comparada y Religiones del Antiguo Oriente. Departamento de Estudios Hebreos y Arameos. Facultad de Filología. Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2004.
Disponível em:
Acesso em 03/11/2006.
Indicação de bibliografia básica em:
Estudos Comparados - Estudos Bíblicos & Estudos do Antigo Oriente Próximo
01) A CRIAÇÃO E O DILÚVIO segundo os textos do Oriente Médio Antigo. Vários autores. São Paulo: Paulinas, 1990. 120 p. (Documentos do Mundo da Bíblia, 7.).
Comentário: Textos abordando sobre as origens do homem e do universo segundo as fontes do Oriente Próximo (Mesopotâmia, Egito e Ugarit). Dica: comparar esse material com a narrativa de Gênesis .
02) BARUCQ, A. Caquot et alii. Escritos do Oriente Antigo e Fontes Bíblicas. São Paulo: Paulinas, 1992. 336 p. (Biblioteca de Ciências Bíblicas).
Comentário: Estudo das fontes literárias e não literárias da cultura do Antigo Oriente Médio - desde a escrita, sua origem, evolução, as línguas e seu uso, as atividades, instituições e os lugares onde foram preservados todos esses escritos.
03) BRIEND, J. et alii. Tratados e Juramentos no Antigo Oriente Próximo . São Paulo: Paulus, 1998. 136 p. (Documentos do mundo da Bíblia, 12).
Comentário: Estudo dos tratados hititas, egípcios e assírios servindo de base para compreensão do material bíblico. O presente trabalho instrumentaliza o estudo sobre em que medida o Deuteronômio herda os formulários dos tratados e onde está sua originalidade.
04) GREENFIELD, Jonas C. A bíblia hebraica e a literatura Cananéia. IN: ALTER, Robert & KERMODE, Frank (org.). Guia literário da Bíblia. Trad. Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1997. p.585-600. (Prismas).
Comentário: Estudo comparado do texto bíblico e a literatura cananéia.
05) HAMMRABI, Rei da Babilônia. O Código de Hammurabi. Petrópolis: Vozes, 1976. 116 p. (Textos clássicos do pensamento humano, 4.).
Comentário: Material legislativo elaborado por Hammurabi, que viveu entre 1728 e 1686 a.E.C.
06) ISRAEL E JUDÁ. Textos do Antigo Oriente Médio. Vários autores. São Paulo: Paulus, 1985. 99 p. (Documentos do Mundo da Bíblia, 2.).
Comentário: Documentos extrabíblicos que de algum modo oferecem informações históricas sobre o país de Canaã e seus habitantes. Esses documentos mostram uma sincronia com os acontecimentos e personagens citados no Tanach.
07) PRECES DO ANTIGO ORIENTE. Vários autores. São Paulo: Paulinas, 1985. 89 p. (Documentos do Mundo da Bíblia, 1.).
Comentário: Material sobre as preces do Antigo Oriente visando o conhecimento das manifestações religiosas dessas culturas. Podemos encontrar o Hino ao deus Sol, que o faraó Akenaton compôs 100 anos antes de Moisés e que inspirou o autor do Salmo 104.
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shalom