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Gaza amanheceu sob controle total do Hamas
O quartel-general da Segurança Preventiva, principal símbolo de poder do Fatah em Gaza, foi capturado pela milícia Ezzedine Al-Qassam, braço armado do Hamas. Ao menos 29 pessoas morreram na região ontem - 18 delas membros do Fatah. Desde o início dos confrontos, há seis dias, mais de 100 pessoas morreram devido à violência área de conflito.
A milícia também tomou o prédio do serviço de inteligência do Fatah. Para completar a captura de Gaza, o Hamas ainda tentou tomar o complexo presidencial de Gaza, provocando a reação da Guarda Presidencial. Pela primeira vez desde o início dos combates, Abbas ordenou a seus policiais de elite que reagissem à ofensiva do Hamas e não mantivessem apenas uma posição defensiva como vinha fazendo.
Membros do Fatah tentaram revidar à ofensiva do Hamas, na Cisjordânia, ferindo um homem do grupo rival perto de Ramallah e seqüestrando outros integrantes do grupo em Jenin e em Nablus, onde também invadiram um escritório do Hamas e atiraram computadores pela janela.
A reação, no entanto, não foi suficiente para conter o avanço do grupo islâmico, que também tomou Rafah, segunda grande cidade da Faixa de Gaza agora controlada pelo grupo. Com a captura de Rafah, o Hamas detém agora o controle da região de fronteira com o Egito, principal passagem de armas contrabandeadas para o grupo. O Hamas tomou ainda os meios de comunicação do Fatah. Emissoras de rádio e TV saíram do ar.
"Gaza está perdida", admitiu um assessor do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, em conversa com diplomatas. Uma vitória militar do Hamas em Gaza provocará uma divisão dos territórios palestinos por meio da qual o grupo islâmico terá o controle da área litorânea enquanto o Fatah dominaria a Cisjordânia.
Execuções
Combatentes do Hamas caçaram e executaram membros do grupo rival. Segundo testemunhas, os militantes mataram a sangue-frio membros do grupo rival capturados ou que se renderam após horas de combates. Amjad, um palestino que mora em um prédio diante do complexo da Segurança Preventiva, disse ter visto os combatentes executarem diante de mulheres e crianças pelo menos sete rivais que se haviam entregado.
"Eles estão executando um a um", assegurou Amjad. "Eles carregaram um dos presos nas costas, o colocaram no chão e atiraram", disse, acrescentando que os combatentes ignoraram os apelos dos moradores.
Imagens de uma TV do Hamas mostrou imagens de membros do Fatah abandonando o prédio da Segurança Preventiva com as mãos para o alto, alguns apenas com roupas íntimas. Um médico do Hospital Shifa, que examinou os corpos de alguns dos 18 mortos no prédio, disse haviam levado tiros na cabeça a curta distância.
Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, negou que seu grupo esteja realizando execuções. "Qualquer um que foi morto morreu nos combates", assegurou. Mas a milícia Ezzedine al-Qassam, braço armado do Hamas, divulgou um comunicado dizendo que havia "executado" Samih al-Madhoum, das Brigadas Mártires de Al-Aqsa, aliado do chefe das forças de segurança do Fatah, Mohamad Dahlan.
Segundo moradores de Gaza, os militantes desfilaram nas ruas com o corpo de Madhoun. Alguns líderes religiosos do Hamas divulgaram uma lista de membros do Fatah que estão "condenados à morte". O governo dos EUA acusou o Hamas de cometer "atos do terror".
Vitória
Ontem foi um dia de vitória para o Hamas e seus patrocinadores no Irã e na Síria, e de devastadores reveses para o Fatah, apoiado pelo Ocidente. Integrantes do Hamas foram às ruas para celebrar a tomada do complexo do Fatah. Atiraram para o alto e entregaram chocolates para a população, em comemoração.
O Hamas declarou vitória na Faixa de Gaza de tomar o principal complexo de segurança do partido rival na cidade de Gaza. Bandeiras verdes do Hamas foram hasteadas no telhado do centro de segurança, em um ato que simboliza a vitória do grupo nos confrontos, que mataram quase 100 pessoas, em seis dias.
Ontem, os combates resultaram em pelos menos mais 20 mortes - 18 de membros armados do Hamas. Vários integrantes do Fatah tentaram resistir, mas foram rendidos e levados do local. Segundo o Fatah, sete de seus integrantes foram atingidos por tiros na cabeça em frente ao prédio de segurança.
Comunicado
Em um comunicado, o representante do Hamas Sami Abu Zuhri afirmou em Gaza que "o que ocorreu no centro de segurança foi a segunda liberação da Faixa de Gaza, a primeira foi a retirada das tropas e dos colonos de Israel da região, em setembro de 2005".
"Estamos dizendo ao nosso povo que a era do passado acabou e não irá voltar", disse Islam Shahawan, porta-voz do Hamas, à rádio do grupo. "A era da Justiça e da lei islâmica chegou". Zhuri disse que os milicianos foram obrigados a lutar com o Fatah porque os serviços de segurança eram corruptos e estavam criando uma situação caótica. "Nada será alterado no cotidiano social e cultural de nosso povo", assegurou Abu Zhuri.
"Não haverá diálogo com o Fatah, apenas a espada e as armas", afirmou Nezar Rayyan, um dos líderes do grupo, à rádio do Hamas. "Se Deus quiser, nós lideraremos a oração de sexta-feira no escritório do presidente (Abbas), e transformaremos o complexo de segurança (da cidade de Gaza) em uma grande mesquita".
ONU negocia criação de força multinacional
A Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou ontem negociações preliminares para a constituição de uma força internacional de segurança. O Hamas já havia anunciado que rejeita o envio, declarando que tal medida será considerada uma forma de ocupação.
O grupo islâmico afirmou ainda que a decisão de Abbas de dissolver o governo de união nacional, e de destituir o primeiro-ministro Ismail Haniyeh carecem de valor prático. "O Hamas rejeita as decisões de Abbas. Em termos práticos essas decisões são inúteis. O primeiro-ministro Haniyeh continua sendo o chefe de governo, ainda que tenha sido dissolvido pelo presidente", disse Sami Abu Zuhri, um funcionário de alto escalão do Hamas.
Moussa Abu Marzouk, vice líder político do Hamas na Síria, disse não haverá nenhuma mudança no status de Gaza e nenhum governo islâmico será declarado no território ocupado pelo movimento islâmico. Descartou também a possibilidade de o Hamas separar Gaza da Cisjordânia.
A legislação palestina não tem nenhum item sobre a convocação de eleições parlamentares antecipadas. Funcionários do Fatah dizem que Abbas pode convocá-las por decreto, mas os do Hamas dizem que a medida é ilegal.
Os decretos não reverterão a captura de Gaza, mas poderão fortalecer o controle de Abbas sobre a Cisjordânia. Israel, EUA e países árabes, como a Jordânia, temem que a violência se espalhe para a Cisjordânia, algo que poderia desestabilizar a região.
Combatentes do Fatah lançaram ofensiva contra o Hamas na Cisjordânia, detendo mais de 30 ativistas da facção rival em Nablus, Jenin, Jericó, Ramallah e Belém. Chefes de segurança ordenaram uma reação para impedir o Hamas de tomar posições também na Cisjordânia, reduto do Fatah.
Ajuda internacional
Diante da possibilidade de se estabelecer um governo liderado pelo Hamas na Faixa de Gaza, o premier israelense, Ehud Olmert, afirmou que o envio de uma força internacional para a fronteira com o Egito deveria ser considerado.
A Comissão Européia (CE) suspendeu o envio de ajuda humanitária para Gaza."A situação humanitária é catastrófica, tivemos que suspender nossas operações", afirmou o comissário para a Ajuda Européia e o Desenvolvimento, Louis Michel, em Bruxelas.
O chefe de política externa da União Européia (UE), Javier Solana, afirmara na quarta-feira que a participação de uma força internacional está sendo analisada pela UE. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também havia admitido a possibilidade de envio de uma força internacional à região durante almoço entre membros do Conselho de Segurança. (Com Folhapress)
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Magal
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