Hamas é oportunidade para Israel | ||
Calev Ben-Dor* Jerusalem Post
JERUSALÉM. Apesar da inclinação inicial de Israel em ver com desespero uma vitória militar do Hamas sobre a Fatah em Gaza, o movimento de controle completo dos extremistas sobre a Faixa de Gaza pode não ser tão ruim quanto tememos. O fato é que isso pode oferecer a melhor oportunidade em anos para que Israel volte a negociar com o governo palestino - a Fatah, com endereço na Cisjordânia - e promover um processo político que possa um dia levar à paz.
A reforma na Lei Básica Palestina, que criou o cargo de primeiro-ministro capaz de equilibrar os poderes do então presidente Yasser Arafat, tornou-se um estorvo desde janeiro de 2006, quando o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas. A reforma levou a uma disfunção constitucional devido a disputa de poderes entre o presidente Mahmoud Abbas, da Fatah, e o governo, controlado pelo Hamas.
Sem meio legal de se livrar desta crise até as próximas eleições palestinas, em 2010, Israel foi forçado a "dar um tempo", esperando que um boicote ao Hamas fosse mudar o rumo das coisas. Enquanto o apoio internacional ao boicote erodia e o desastre humanitário nos territórios palestinos entrava em cena, as escolhas de Israel se tornaram mais escassas.
Agora, a lei da Constituição palestina que abriu espaço para um golpe militar pode trabalhar a favor de Israel. Com uma clara maioria da Fatah na Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Abbas pode usar a batalha para desatar o nó constitucional e anular a Lei Básica para, então, centralizar o poder na Cisjordânia sob sua liderança.
Este novo cenário poderá, com efeito, criar duas unidades políticas-territoriais vizinhas a Israel: Gaza será o "Hamastão" e a Cisjordânia, a "Fatahlândia".
Em vez de não ter nenhum líder palestino claro com o qual negociar, Israel passa a ter duas possibilidades. Óbvio que ninguém vai comemorar a presença oficial de um "Hamastão" a poucos quilômetros da cidade israelense de Sderot. Mas a divisão de facto entre Gaza e Cisjordânia vai permitir que Israel mantenha seu boicote em Gaza e aproveite a ascensão de um parceiro político na Cisjordânia.
Neste contexto, Israel vai fortalecer Abbas com a transferência de mais fundos e renovar o comércio livre entre este território palestino e o Estado judeu.
Para o Hamas, a vitória sobre a Fatah é só o começo dos problemas. O grupo terá de lidar diretamente com uma hostil comunidade internacional, com a tensão com o Egito, a divisão ideológica interna e a falta de infra-estrutura da população de Gaza. Assim como o rei Pirro - cuja vitória sobre os romanos foi tão custosa que mais tarde seu Exército foi derrotado - o Hamas vai descobrir que ganhou a batalha, mas perdeu a guerra.
Não devemos pensar que o caminho a frente será fácil e acreditar na utopia da paz no estilo Suíça. O Hamas não vai desaparecer tão cedo. Os membros da Fatah não se transformarão em sionistas. E a habilidade da sociedade israelense em defender seu território ainda será amplamente testada. Mas se quisermos manter Israel como um Estado judeu democrático e evitar um escorregão à anarquia e o isolamento internacional - resultado possível da ocupação contínua - precisamos encontrar um meio de ter um interlocutor palestino capaz de implementar a solução de dois Estados - um palestino e um judeu - convivendo lado a lado.
* Analista político do Instituto Reut
http://jbonline.terra.com.br/editorias/internacional/papel/2007/06/15/internacional20070615001.html
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Hamas é oportunidade para Israel / Expansão do Hamas em Gaza dissolve governo de união
sexta-feira, junho 15, 2007
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