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O que a Al Qaeda está fazendo no Líbano?



http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2205200703.htm

ARTIGO

O que a Al Qaeda está fazendo no Líbano?

ROBERT FISK DO "INDEPENDENT"
EM AABDEH, NORTE DO LÍBANO

Há algo de obsceno em assistir ao cerco de Nahr al Bared. O velho campo de refugiados palestinos -que abriga 30 mil almas perdidas- estende-se sob o sol mediterrâneo, depois de laranjais dourados. O Exército libanês, tendo retomado suas posições na rodovia principal para o norte, passa seu tempo fazendo hora sobre seus velhos veículos. E nós, representantes da imprensa mundial, estamos sentados, igualmente ociosos, no alto de um prédio, curtindo o sol no pequeno jardim.
Então vêm os disparos de fuzil e uma saraivada de balas sai do campo. Um tanque dispara um morteiro em resposta, e sentimos uma onda de choque vinda do campo. Quantos morreram? Não sabemos. Quantos estão feridos? A Cruz Vermelha ainda não pode entrar para averiguar. Estamos novamente assistindo a uma dessas trágicas peças teatrais que caracterizem o Líbano: o cerco a palestinos.
Só que desta vez temos combatentes muçulmanos sunitas no campo, em muitos casos atirando em soldados sunitas que estão num povoado sunita. Foi um colega libanês quem resumiu a situação: "A Síria está mostrando que o Líbano não precisa ser cristãos contra muçulmanos ou xiitas contra sunitas. Pode ser sunitas contra sunitas. E o Exército não pode invadir Nahr al Bared. Isso seria um passo muito maior do que este governo é capaz de dar".
É aí que está o problema. Para poder enfrentar o grupo sunita Fatah al Islam, o Exército teria que entrar no campo. Por isso o grupo continua tão forte. Sim, é difícil deixar de sentir a influência clara da Síria hoje.
O governo de Fuad Siniora, cercado em sua "zona verde" no centro de Beirute, está vendo seu poder ser drenado. Cada vez mais é o Exército que tem comandado o Líbano -com dificuldade, pois ele contém os sunitas, xiitas, maronitas e drusos do Líbano. Que divisões e pressões maiores poderiam ser impostas a esse pequeno país, enquanto Siniora implora para que a ONU julgue os responsáveis pelo assassinato do premiê Rafiq Hariri em 2005?
Lemos uma lista dos nomes dos mortos do Exército. A maioria parece ser sunita. E olhamos para onde fica a fronteira síria, a pouco mais de 16 quilômetros. Não é difícil chegar a Nahr al Barad desde a fronteira e reabastecer os combatentes. A geografia faz esse tipo de sentido político aqui. Perguntamo-nos se não estaremos catalogando a triste desintegração deste país. O Exército está nas ruas de Beirute para defender Siniora, nas ruas de Sidon para prevenir distúrbios sectários, nas estradas do sul para vigiar a fronteira israelense e, agora, aqui no extremo norte, cercando os pobres e derrotados palestinos de Nahr al Bared e o perigoso grupúsculo que pode -ou não- estar recebendo ordens de Damasco.
A viagem de volta a Beirute agora é cheia de barreiras militares, e até a capital voltou a ser perigosa. Em Achrafieh, na madrugada, uma bomba matou uma mulher cristã. Não há suspeitos, claro. Nunca há.
Foguetes retumbaram sobre o campo antes de escurecer. Os soldados mal se deram ao trabalho de olhar. E, além dos laranjais e das ruas desertas de Nahr al Bared, repletas de cortiços, o mar brilha como se estivéssemos de férias, enquanto o país treme sob nossos pés.


Tradução de CLARA ALLAIN


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2205200702.htm

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Grupo radical é incógnita no xadrez libanês

GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NOVA YORK


Um grupo radical sunita, no norte do Líbano e longe da fronteira com Israel. Uma organização fundada em novembro que emerge como o mais novo complicador na miríade de forças do Líbano.
Pouco se conhece e muito se especula sobre o Fatah al Islam. O que se sabe é que, segundo o seu manifesto de fundação, o grupo é contra Israel e o Ocidente. Seu líder, Shakir al Abssi, é um veterano da causa palestina que no passado admirava Iasser Arafat, mas que se aliou ao islamismo radical.
Ele fundou há seis meses o Fatah al Islam, ao desmembrar-se do Fatah al Intifadah, outra organização palestina. Na Jordânia, o líder é procurado pela morte de um diplomata americano, em 2002.
Aos 51 anos, Abssi vem ganhando espaço na mídia. Em março, deu entrevista ao jornal "New York Times". Sem vínculos conhecidos com lideranças palestinas na Cisjordânia e em Gaza, comanda cerca de 200 homens.
A maioria fica em campos de refugiados palestinos em Trípoli. Esta cidade da costa norte libanesa é majoritariamente sunita. Tradicionalmente, os sunitas de Trípoli são leais a famílias seculares, como a Karami -sobrenome de dois ex-premiês libaneses.
Diferentemente do xiita Hizbollah, que é composto por libaneses, o Fatah al Islam é predominantemente palestino, com alguns membros libaneses, além de jihadistas de outras nacionalidades que entraram no Líbano nos últimos meses.
Em seu mais recente relatório de contraterrorismo, o governo americano aponta o Fatah al Islam como o responsável pela explosão de dois ônibus em uma área cristã perto de Beirute, em fevereiro deste ano.
No cenário político libanês, o Fatah al Islam é uma incógnita. O país hoje se divide em dois grupos. Um, do premiê Fuad Siniora, que é aliado dos EUA e da Arábia Saudita. O outro, do Hizbollah, ligado à Síria e ao Irã.
Em reportagem publicada em março na revista "New Yorker", o jornalista americano Seymour Hersh, considerado um dos mais bem informados dos EUA, afirmou que o Fatah al Islam faz parte de uma estratégia americana e saudita contra a emergência dos xiitas no Oriente Médio. O objetivo, diz Hersh, seria enfraquecer o Hizbollah e diminuir a influencia do Irã na região por meio de um grupo sunita no Líbano.
A outra hipótese é a de que o grupo seria ligado à Síria, que estaria apoiando o grupo para desestabilizar o Líbano com o intuito de voltar a dominar o pais, além de dificultar os trabalhos do tribunal da ONU para julgar os responsáveis pelo atentado que matou Rafik Hariri em 2005 -a Síria é a maior suspeita.
Sobra a Al Qaeda. A rede terrorista estaria colocando os pés no Líbano para combater o governo pró-Ocidente do premiê Fuad Siniora.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2205200704.htm

Palestinos se unem contra grupo radical

Hamas e OLP, da qual faz parte o Fatah, apóiam o governo libanês; americanos e europeus se solidarizam com Beirute

Fatah al Islam é criticado até pela Síria, que diz ser caso de polícia; ONU e palestinos pedem que Exército poupe civis em suas intervenções

DA REDAÇÃO

Ao entrar em conflito com o Exército libanês, o Fatah al Islam conseguiu refazer a unidade palestina contra seus métodos violentos de atuação.
O representante no Líbano da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), Abbas Ziki, declarou que sua coalizão estava disposta a ajudar os militares libaneses a "erradicar o grupúsculo" acantonado no campo de refugiados de Nahr al Bared. A seu ver, essa questão "é um assunto interno libanês", espécie de sinal verde para que o grupo seja neutralizado.
O maior partido da OLP é o Fatah, liderado por Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. Os grupos que integram a OLP têm uma concepção laica da política e se opõem à islamização do projeto palestino.
Mesmo assim, o Hamas, partido religioso com maioria parlamentar na Cisjordânia e Gaza, também se dissociou do Fatah al Islam. Segundo o "Le Monde", em telefonema ao primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, o líder político do grupo, Khaled Meshal, exilado na Síria, disse que "não podemos permanecer de braços cruzados diante das agressões de que foi alvo o Exército libanês".
Tanto Meshal quanto Abbas Ziki insistiram, no entanto, para que as forças regulares do Líbano não bombardeiem indiscriminadamente, para evitar novas vítimas civis.

Reação da Síria
A Síria rejeitou ontem as acusações de integrantes do governo libanês de que estaria por detrás das ações do grupo palestino islâmico. "Estamos atrás deles, apelando até à Interpol [polícia internacional]", disse o chanceler, Walid Moualem. "Rejeitamos essa organização, que presta um desserviço a causa palestina e que não procura libertar a Palestina."
Uma das interpretações para a eclosão da violência nas imediações de Trípoli era o fato de o Conselho de Segurança ter em pauta a votação da criação de um tribunal especial para julgar os autores do assassinato, em 2005, do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, no qual o governo sírio é apontado como principal suspeito.
Para o ministro Moualem, no entanto, a iniciativa "é um instrumento dos Estados Unidos para solapar a [autoridade da] Síria" no Oriente Médio.

Unanimidade pró-Líbano
Todas as reações convergiram no apoio ao governo libanês e na condenação dos extremistas palestinos islâmicos.
Um dos porta-vozes da Casa Branca, Tony Flatto, disse que seu país "acredita na democracia libanesa e apóia o primeiro-ministro Siniora". No Departamento de Estado, o porta-voz Sean McCormack afirmou que o Exército libanês está atuando de um modo "legítimo" para garantir a segurança interna. Lembrou que um dos dirigentes do Fatah al Islam foi condenado à morte por contumácia, pelo assassinato de um alto funcionário americano.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou "os ataques contra a estabilidade e a soberania do Líbano" e apelou para que as partes envolvidas protejam os civis inocentes. Em Berlim, o governo alemão, que exerce a presidência rotativa da União Européia, reiterou o apoio ao premiê libanês e condenou os radicais que entraram em confronto com o Exército daquele país.
A França, importante por ter exercido até 1943 o protetorado do Líbano, disse confiar na capacidade do governo libanês de restaurar a ordem. O chanceler Bernard Kouchner telefonou ao premiê Siniora.
O comissário para questões diplomáticas da União Européia, Javier Solana, com viagem já marcada para o Oriente Médio, disse que reiteraria o testemunho de apoio do bloco europeu ao premiê Siniora.


Com agências internacionais



http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2205200705.htm

Frases

Foram ataques contra a estabilidade e a soberania do Líbano

BAN KI-MOON
secretário-geral da ONU


O Líbano procura proporcionar um ambiente seguro, diante de provocações e ataques de extremistas

SEAN MCCORMACK
porta-voz do Departamento de Estado




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