O Baal Shem Tov costumava reservar dezoito centavos para todo e qualquer visitante necessitado que viesse bater à sua porta.
Certa vez apareceu um senhor que se chamava Yossale, aos gritos:
- Já fui muito rico um dia, não aceito estes dezoito centavos somente, exijo cinqüenta rublos.
O gabai (tesoureiro da sinagoga) do Baal Shem Tov disse-lhe:
- Muitas pessoas que passam por aqui também já foram ricas, mas o Baal Shem Tov não é rico. Cada um recebe dezoito centavos. Se você não quer, não precisa aceitar.
Yossale começou a amaldiçoá-lo, provocando uma grande confusão.
Ao ouvir a confusão, o Baal Shem Tov saiu de seus aposentos e perguntou:
- O que está acontecendo?
O shamash (ajudante) respondeu:
- Este homem se recusa a receber os dezoito centavos, ele quer cinqüenta rublos, e diz que é porque um dia ele já foi muito rico.
O Baal Shem Tov virou-se para o pedinte e disse:
- Ao invés de pedir cinqüenta rublos, você deveria fazer uma pergunta: "Por que D's me castigou, fazendo com que eu perdesse todo o dinheiro que tinha?"
O homem, amargo, retrucou:
- Muito bem, então estou perguntando...
Disse-lhe o Baal Shem Tov:
- Entre e sente-se. Você se lembra que, no passado, você era a pessoa mais rica de sua aldeia? No dia de Yom Kipur, você passava de um em um, dando a cada pessoa da sinagoga um pouco de tabaco para cheirar. Um shmek (pitada) de tabaco. Durante o jejum, este shmek de tabaco de fato reanimava a alma! Na última vez, quando você tinha muito dinheiro, você passou de um em um novamente, só que bem lá no fundo da sinagoga, viu uma pessoa que não jejuava apenas no dia de Yom Kipur: Ele jejuava o ano inteiro... Simplesmente porque não tinha nada para comer... Ele havia ansiado por aquele shmek de tabaco o dia inteiro. Você julgou que estava abaixo da sua dignidade dirigir-se a este tipo de homem e dar-lhe um shmek de tabaco, e não o fez. Pois bem, esta pobre pessoa quase morreu. Houve uma grande comoção nos céus... Foi decidido neste momento que todo o dinheiro que você tinha não te pertenceria mais, e sim àquele pobre homem. E agora observe que hoje em dia ele é imensamente rico, e você perdeu tudo o que tinha.
Yossale relutava em aceitar este fato, e perguntou:
- Bem, se é assim, então como posso reaver meu dinheiro?
Respondeu-lhe mais uma vez o Baal Shem Tov:
- Quer saber como? Se ao pedir para ele um shmek de tabaco ele não lhe atender a este pedido, receberá seu dinheiro de volta.
O homem pensou: "Isso é fácil... posso tirar isso dele". E rodeado destes pensamentos, voltou para sua aldeia.
Ao chegar, lá estava ele, o novo rico, de pé durante a oração de Shmone Esrê. Ao concluir o Ossê Shalom, perguntou:
- O que você quer?
- Um shmek de tabaco.
Depois de repetidas investidas de Yossale, ele sempre respondia:
- Se você está pedindo, é porque precisa... – E lhe concedia o shmek de tabaco.
O novo rico foi convidado para subir à Torá, e Yossale ali parado, ao lado do púlpito, impedia que o fizesse.
Ele perguntou:
- O que você quer?!
- Um shmek de tabaco.
- Se você está pedindo, é porque precisa... – lhe concedia o shmek de tabaco. Por muitos anos Yossale incomodou o novo rico com seus constantes pedidos, mas este nunca negou um shmek de tabaco.
Yossale então pensou: "de uma vez por todas, tenho que fazer alguma coisa, algo impressionante."
O novo rico realizou o casamento de sua filha. Sua alegria era tanta que, tomando a jovem pela mão, pulou em cima de uma mesa e começou a dançar. De repente, o pobre Yossale tocou sua perna, pedindo-lhe:
- Quero um shmek de tabaco...
Desta vez, tinha certeza que o rico lhe diria: "Realmente, que audácia! No meio da dança com minha filha."
No entanto, ele era uma alma caridosa, e retrucou:
- Se você está pedindo, com certeza precisa...
O pobre então desmaiou.
Depois que o acordaram, o rico perguntou-lhe:
- Por que você desmaiou?
Ele respondeu:
- Você não se lembra de mim?! No passado eu era muito rico. O Baal Shem Tov disse que você recebeu dos céus, como privilégio, todo o dinheiro que era meu.
Então o novo rico declarou:
- Se o Baal Shem Tov afirmou que o seu dinheiro está em minhas mãos, lhe darei a metade. Com uma única condição: nunca diga não quando um pobre lhe pedir algo...
Vocês compreenderam, caros amigos? Quando alguém nos pede algo, não lhe fazemos favor nenhum ao atender o seu pedido. Fazemos o favor apenas a nós mesmos. O fundamento de todo judaísmo é: se um alguém lhe pedir uma caridade, jamais diga não.
