Nenhuma pessoa foi detida na Argentina nem em outro país por este caso, investigado há 12 anos e que ainda permanece num beco sem saída. Graves acusações judiciais de acobertamento pesam, no entanto, em nível local contra funcionários do governo do então presidente Carlos Menem (1989-1999). Os oito andares da mutual israelita Amia, no coração do bairro comercial judaico de Buenos Aires, foram derrubados com 300 kg de explosivos, transportados por um suposto carro-bomba, que, segundo investigadores independentes, teriam sido colocados dentro do prédio.
A Amia, fundada em 1894, desenvolvia um importante trabalho de assistência na comunidade judaica, com um amplo programa de seguridade social, voltado, sobretudo, para os grupos mais vulneráveis, como os idosos e desempregados. Na sede da Amia, funcionava a entidade-mãe, a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (Daia), e uma das maiores bibliotecas em hebraico da América-Latina, que também era uma das maiores do mundo com obras em ídiche.
Na hemeroteca, estava o original do famoso texto "Iosl Rakover fala com Deus", do escritor judeu-lituano Zvi Kolitz, sobrevivente do Shoa (o Holocausto), que se referia ao testamento de um combatente do Gueto de Varsóvia pouco antes de cair junto com seus companheiros sob o fogo nazista. A comunidade judaica da Argentina teve cerca de 400.000 membros nos anos 70 e chegava a pelo menos 300.000 no dia do ataque.
Na mesma sede, funcionavam outras instituições culturais e sociais da comunidade, salas de reuniões e escritórios. O carro-bomba, com uma carga estimada de 300 a 400 kg, estava sendo, supostamente, dirigido pelo ativista libanês do Hezbolá Ibrahim Hussein Berro. Duas testemunhas garantiram ter visto a caminhonete Trafic usada como carro-bomba.
Investigadores independentes, como Horacio Lutzky, ex-porta-voz da Amia, e o jornalista Juan Salinas, concordaram sobre o fato de que há indícios de que os explosivos foram colocados na porta ou dentro do edifício. A versão, contrária à oficial, também aponta que uma das testemunhas, uma enfermeira ligada à polícia, declarou à Justiça que foi extorquida para dizer que viu a caminhonete na esquina antes da explosão.
A deflagração levou apenas alguns segundos para destruir o prédio. Das 85 vítimas fatais, 67 morreram no edifício e 18 na rua e nos arredores. No momento da explosão, calcula-se que havia mais de 100 pessoas dentro do imóvel, e outras centenas estavam na rua Pasteur. No local do atentado, construiu-se o novo edifício da mutual, um bunker de ferro e aço, onde também foi erguido um Monumento de Homenagem e Lembrança das Vítimas do Atentado, obra do artista plástico israelense Yaacov Agam.
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Magal
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