Eles bancam o Hezbollah |
Famílias libanesas em Rio Preto injetam R$ 40 mil por mês na facção, mistura de partido político, entidade assistencialista e guerrilha |
Pelo menos 300 famílias libanesas que residem em Rio Preto injetam recursos no atual conflito no sul do Líbano. O grupo contribui financeiramente para o Hezbollah, mistura de partido político libanês com milícia xiita armada. A remessa de dinheiro começou há cerca de oito anos, e, conforme apurou o BOM DIA, é acompanhada de perto pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Por mês, são enviados cerca de R$ 40 mil de Rio Preto para o movimento armado libanês. Estima-se que 10% da população da cidade, cerca de 40 mil habitantes, seja formada por libaneses ou descendentes. "Eu tenho enviado ajuda, como artigos médicos, insumos para cirurgias. E tenho mandado dinheiro também. Eu quero é mais mandar para o Hezbollah. No meu caso, estou alimentando o Hezbollah", diz o médico Elias Kassis, rio-pretense cujos pais são da Síria, na fronteira com o Líbano. O médico visitou pela primeira vez as bases do Hezbollah no Líbano em 1999, junto com o industrial aposentado libanês Fadl Al-Haj, residente em Rio Preto desde 1947. Ambos elogiam o trabalho social desenvolvido pela milícia no sul do país. "As mulheres abandonadas pelos maridos são sempre amparadas pelo movimento", diz Kassis. "Eles estão sendo muito mais valentes do que todo o povo árabe junto", compara. Todas as cidades do Brasil com forte presença de libaneses possuem uma pessoa responsável por captar os recursos e enviar ao Líbano. É o chamado "coletor". O de Kassis é um parente dele em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Em Rio Preto, quem exerce a função é um libanês naturalizado, ex-funcionário do Banco do Brasil. Ele não será identificado nesta reportagem porque nega exercer a função, embora admita que tenha uma relação muito próxima com a comunidade libanesa rio-pretense. Conexão Uruguai Até há cinco anos, as remessas eram feitas pelo Banco do Brasil até Montevidéu, no Uruguai. De lá, o dinheiro seguia para contas bancárias do Hezbollah no Líbano, Síria e Irã. Atualmente, porém, os recursos são enviados diretamente para o Oriente Médio, sem escalas no país vizinho. Com uma comunidade libanesa de aproximadamente 40 mil pessoas, Foz do Iguaçu, no Paraná, é a cidade brasileira que mais contribui para os xiitas do Hezbollah, o que é objeto de preocupação constante do governo norte-americano. Enviar recursos para a milícia não é considerado crime no Brasil, segundo o juiz e presidente do IBGF (Instituto Brasileiro Giovanni Falcone), Walter Maierovitch. Isso porque, apesar da pressão dos Estados Unidos, o Brasil ainda não tipificou o terrorismo como crime. "Essa ainda é uma questão polêmica durante as discussões na ONU", afirma. Segundo o juiz, não há ilegalidade nenhuma no envio, porque o destinatário geralmente são associações beneficentes ligadas ao Hezbollah. "O problema é quando parte do dinheiro é destinado à milícia terrorista", diz. 'Terrorista é o Bush' Um dos entusiastas da contribuição ao Hezbollah é o padre da Igreja Ortodoxa de Rio Preto, Nicolas Ferzoli. "O Bush [presidente norte-americano] diz que o Hezbollah é terrorista. São defensores da pátria, das famílias, das crianças libanesas. Terrorista é Bush, que atravessa os oceanos para guerrear. O sangue para ele é água", afirma. Ferzoli não revela o valor da sua contribuição, mas confirma a remessa financeira para, segundo ele, o governo libanês. Perguntado se o dinheiro não poderia ser direcionado ao Hezbollah, a resposta do padre vem pronta. "Se vai para o Hezbollah, eles também são libaneses." |
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