Safed a cidade sagrada

Safed a cidade sagrada

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 MĆ­stica Judaica

Baruch Hashem.

SAFED, A CIDADE SAGRADA



BerƧo da Cabala e do misticismo, Ć© centro artĆ­stico e sĆ­ntese harmoniosa entre passado e presente. Afastada dos principais centros turĆ­sticos de Israel, JerusalĆ©m e Tel Aviv, Safed tem uma importĆ¢ncia histĆ³rica fundamental no judaĆ­smo.



ReferĆŖncias BibliogrĆ”ficas:



1. M. Michalson, Y. Slomon, M. Milner, "Mekomot Kedoshim U Kivrei Tzadikim Be Eretz Israel". Defense Ministry, 1996.
2. Rabbi Moise Cordovero, "Le Palmier de Debora", collection "Les Dix Paroles", Verdier 1985
3. Laurent Cohen, "Safed: beautĆ© et l’esprit", Tribune Juive NĀŗ 1397, 6 mars 1997
4. EnciclopƩdia Judaica: Safed
5. E. Barnavi, M. Eliau Feldon, M. Opatowiski, "A Historical Atlas of the Jewish People", Schocken Books, New York
6. Michael Shapiro, "The Jewish 100", "Isaac Luria".
7. I. Gutwirth, "The Kabalah and Jewish Misticism".
8. Revista MorashĆ” No. 19, FundaĆ§Ć£o Safra.




Afastada dos principais centros turĆ­sticos de Israel, JerusalĆ©m e Tel Aviv, e relativamente pouco conhecida pelos turistas que visitam o paĆ­s, a cidade de Safed tem uma importĆ¢ncia histĆ³rica fundamental tanto como centro intelectual e religioso do judaĆ­smo, quanto como sede judaica prĆ©-sionista em Eretz Israel. Junto com JerusalĆ©m, Hebron e TibĆ©rias, Safed Ć© uma das quatro cidades sagradas de Israel.



Um viajante iemenita que a visitou em 1567 ficou impressionado com o intenso fervor espiritual que reinava na cidade naquela Ć©poca:



"Eu penetrava na cidade e via que a PresenƧa Divina estava estabelecida em seu seio, porque lĆ” vivia uma grande comunidade de 14 mil membros. Dispunha de 18 yeshivoth consagradas ao aprofundamento do Talmud. LĆ” vi a luz da TorĆ”, e para os judeus havia esplendor; eles ultrapassavam as outras comunidades, eram a glĆ³ria das glĆ³rias e tinham aberto uma brecha nas fronteiras da sabedoria: entre eles nĆ£o havia ignorantes."



Safed exerce atĆ© hoje este mesmo impacto sobre o visitante judeu. Em cada canto revivem memĆ³rias queridas ao nosso povo e repletas de esplendor espiritual.



JĆ” a estrada para alcanƧar a cidade, entre moshavim e kibutzim arborizados, casas bonitas e montanhas recobertas de oliveiras e videiras, inebria o coraĆ§Ć£o de tanta beleza: com o coraĆ§Ć£o aberto afloram Ć  memĆ³ria nomes e figuras dos mestres que lĆ” viveram, sinagogas e yeshivot em que rezavam, estudavam e ensinavam, tĆŗmulos em que descansam seus restos mortais. Conhecer estes lugares e defrontar-se com a memĆ³ria que evocam causa uma impressĆ£o profunda e marcante.



Safed Ć© indiscutivelmente o principal centro da Cabala, tornando-se depois um importante centro chassĆ­dico.



Ɖ a cidade principal da Alta GalilĆ©ia, situada em posiĆ§Ć£o privilegiada a 850 metros de altura, ao norte de TiberĆ­ades e ao leste de Acre. Tem por volta de 17 mil habitantes; sua economia Ć© baseada principalmente no turismo e lazer, explorando suas belezas naturais e seu clima montanhoso, deliciosamente seco e fresco durante os meses de verĆ£o.



Na Cidade Velha o pitoresco bairro dos artistas, onde residem, trabalham e expƵem numerosos pintores e escultores, Ć© uma grande atraĆ§Ć£o turĆ­stica com suas galerias e exibiƧƵes.



Passar um Shabat na cidade Ć© uma experiĆŖncia inesquecĆ­vel. Na sexta-feira hĆ” muita animaĆ§Ć£o e movimento nas ruas, as pessoas estĆ£o apressadas, o transito de Ć“nibus e carros e o barulho sĆ£o intensos e por todo lado hĆ” gente comprando flores, frutas e presentes para seus familiares.

Com o aproximar-se do Shabat, o silĆŖncio e a paz descem sobre as ruas e sente-se no ar a chegada do dia de repouso. De repente, o silĆŖncio Ć© rompido e volta a haver movimento nas ruas.

As pessoas agora nĆ£o estĆ£o mais apressadas. A passos majestosos se dirigem Ć s sinagogas. Desfila uma multidĆ£o variada e heterogĆŖnea: chassidim vestindo chapĆ©us de pele e mantos pretos de seda, sabras usando camisas com o colarinho aberto, pais de famĆ­lia conduzindo seus filhos pela mĆ£o, turistas provenientes de vĆ”rios paĆ­ses. Todos se cumprimentam com um caloroso e cordial Shabat Shalom e seus rostos irradiam alegria.



Durante a reza de Cabalat Shabat o espĆ­rito de vĆ”rias geraƧƵes de sĆ”bios estĆ” presente no ar e todos participam dessa experiĆŖncia mĆ­stica.



No antigo bairro judeu, preservaram-se atĆ© hoje seis sinagogas antigas, duas de Rav Isaac Luria: a primeira, pertencente Ć  comunidade sefaradita, data do sĆ©c. XVI; a segunda, ashquenazita, foi restaurada apĆ³s o terremoto de 1837. Outras sinagogas famosas sĆ£o as de Rav Yosef Ha-Bannai, Rav Josef Caro e Rav Isaac Aboab.



AlĆ©m da visita das sinagogas, os tĆŗmulos dos grande mestres cabalistas enterrados em Safed sĆ£o lugar de assĆ­dua peregrinaĆ§Ć£o e fonte de constante inspiraĆ§Ć£o para os judeus de Israel e da diĆ”spora. Na cidade tambĆ©m encontram-se vĆ”rios banhos rituais que remontam a 200-500 anos atrĆ”s.



A cidade nĆ£o Ć© mencionada na BĆ­blia. Provavelmente se identifica com o povoado de Sepph citado pelo historiador Josephus. No Talmud Yerushalmi Ć© mencionada como um dos lugares altos dos quais eram acesas fogueiras para enviar sinais que anunciavam o Rosh Chodesh (Lua Nova) e as festividades durante o perĆ­odo do Segundo Templo. ApĆ³s a destruiĆ§Ć£o deste, lĆ” se estabeleceram algumas famĆ­lias de sacerdotes.



AtĆ© a Ć©poca das Cruzadas, nĆ£o temos mais notĆ­cias da cidade, que reapareceu em 1140, sob o nome de Saphet, como fortaleza construĆ­da pelo rei Fulk de Anjou. Em 1188 foi ocupada por Saladin. Reconquistada pelos Cavaleiros da Ordem dos TemplĆ”rios em 1240, passou das mĆ£os dos Cruzados Ć s do sultĆ£o Mameluk Baybars em 1266. Este aumentou suas fortificaƧƵes e nela estabeleceu o quartel-general de sua provĆ­ncia que se estendia Ć  GalilĆ©ia e ao LĆ­bano.



A presenƧa judaica em Safed Ć© documentada desde meados do sĆ©culo XI e continuou a florescer nos sĆ©culos seguintes sob a proteĆ§Ć£o do governo de Mameluk.



Seguindo a expulsĆ£o dos judeus da Espanha (1492), a cidade recebeu um fluxo notĆ”vel de refugiados e atraiu inĆŗmeros rabinos e intelectuais judeus.



Na Ć©poca da conquista otomana, em 1516, Safed contava 300 famĆ­lias judias de sefaradim (descendentes de judeus espanhĆ³is), ashquenazim(descendentes de judeus alemĆ£es) e italianos que viviam principalmente do comĆ©rcio de especiarias, azeite, queijo, frutas e verduras.



Em meados do sĆ©culo XVI a cidade viveu um grande florescimento espiritual, uma certa prosperidade econĆ“mica, e um crescimento da populaĆ§Ć£o judaica (716 famĆ­lias), tornando-se o maior centro do misticismo judaico.



Entre as figuras de maior destaque lembramos o Rabi Josef Caro (1488-1575), grande codificador, que redigiu o Schulchan Aruch, obra de referencia do judaƭsmo religioso. Caro foi tambƩm um grande cabalista, e nesse ponto se situa a especificidade de Safed, denominada "a cidade da Cabala", pois lƔ viveram os maiores mƭsticos de Israel.

Os cabalistas valorizavam uma experiĆŖncia mais Ć­ntima e mais profunda do judaĆ­smo, inalcanƧƔvel, a seu ver, pelo caminho da razĆ£o e do intelecto.



Os principais cabalistas de Safed sĆ£o Rabi MoisĆ©s Cordovero (1522-1570), escritor dos mais ricos e fecundos de toda a literatura judaica, que fez um grande trabalho de sĆ­ntese do sistema cabalista do seu tempo, e a grande figura de Rabi Isaac Luria Askenazi (1534-1572), denominado Ha-Ari, cujo sistema filosĆ³fico complexo era destinado a um pequeno cĆ­rculo de iniciados.

Ele introduziu no universo da mĆ­stica judaica o conceito de Tzimtzum (contraĆ§Ć£o da Luz Divina no momento do ato da criaĆ§Ć£o), quem sabe uma espĆ©cie de termo cabalista que antecipa a teoria do "Big Bang" do sĆ©c. XX.



Os ensinamentos de Luria, que nĆ£o deixou nada escrito, foram transmitidos atĆ© nĆ³s atravĆ©s da obra do seu maior discĆ­pulo, Rabi Chaim Vital, com seu Sefer Etz Ha-Hayim (Livro da Ɓrvore da Vida). Este trabalho foi muito divulgado na Europa durante todo o sĆ©culo XVII e foi traduzido tambĆ©m para o latim.



TambĆ©m foi em Safed que em 1573 os irmĆ£os ashquenazim estabeleceram a primeira tipografia de livros judaicos nĆ£o sĆ³ de Israel como do Oriente MĆ©dio todo. Eles trouxeram consigo da cidade de Lublin seus aparelhos de imprimir, suas chapas, seus tipos e suas decoraƧƵes.



Durante o sĆ©culo XVII, com o declĆ­nio gradual do governo turco, as condiƧƵes econĆ“micas da comunidade judaica comeƧaram a se deteriorar. Inicialmente a queda do padrĆ£o de vida nĆ£o afetou o nĆ­vel espiritual e a cidade contava com 21 sinagogas e 18 escolas.

Mas a decadĆŖncia avanƧou rapidamente no final do sĆ©c. XVII, agravada por uma epidemia e um terremoto que dizimaram a populaĆ§Ć£o da cidade. ApĆ³s o desastre, grande parte dos sobreviventes partiu.



A situaĆ§Ć£o da comunidade judaica de Safed sĆ³ melhorou no final do sĆ©culo XVIII, com o estabelecimento de um governo mais estĆ”vel na GalilĆ©ia e com uma nova onda migratĆ³ria originĆ”ria da Europa Oriental.

Em 1778 se estabeleceram em Safed 300 chassidim, discĆ­pulos do Rabi Israel Ben Eliezer Baal Shem Tov e liderados pelo Rabi Menachem Mendel de Vitebsk, e em 1810 vieram os discĆ­pulos de Rabi Eliahu Gaon de Vilna. As lutas entre os beduĆ­nos e uma nova epidemia causaram um outro ĆŖxodo de judeus, especialmente rumo a JerusalĆ©m.



Durante o sĆ©culo XIX a populaĆ§Ć£o de Safed conheceu vĆ”rios altos e baixos, que culminaram com o terremoto de 1837 em que morreram cinco mil pessoas, delas quatro mil judeus. A comunidade judaica, que contava 1.500 pessoas em 1839, viu-se reduzida a meras 400 pessoas em 1845. Em seguida o governo turco beneficiou a cidade e novos imigrantes afluĆ­ram levando a populaĆ§Ć£o judaica a 2.100 pessoas em 1856, 6.620 em 1895 e onze mil em 1913.



Com a Primeira Guerra Mundial a cidade, que vivia da ajuda que recebia da Europa, viu-se cortada de sua fonte de sustento e a populaĆ§Ć£o foi dizimada pela fome e pelas doenƧas. Em 1918 foi ocupada pelas tropas britĆ¢nicas do general Allenby.

Durante o mandato britĆ¢nico as condiƧƵes dos judeus de Safed se deterioraram novamente e eles passaram a ser menos de dois mil dos doze mil habitantes da cidade.ApĆ³s a Guerra de IndependĆŖncia, em 1948, a cidade foi ocupada pelas forƧas do Palmach e a populaĆ§Ć£o Ć”rabe se retirou.



Safed se torna desde entĆ£o uma cidade judia que recupera rapidamente sua identidade espiritual e mĆ­stica. A memĆ³ria judaica de quase mil anos que a cidade preserva, volta a viver graƧas Ć  forƧa e ao valor do estudo e da fĆ©.

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  1. Viva! Estou a preparar uma exposiĆ§Ć£o de pintura e gostaria de ter imagens da cidade de safed, onde poderei encontrar?!...HĆ” algum livro especifico onde poderei visualizar imagens da cidade?...Obrigada e parabens pelo artigo de "Safed".

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