Melanie Phillips
Durante 60 anos, a Grã-Bretanha comemorou o final da II Guerra Mundial e lembrou dos sacrifícios feitos para obter a vitória sobre o fascismo. Neste ano, a cerimônia foi realizada sob as densas sombras das atrocidades cometidas em Londres no dia 7 de julho - a terrível manifestação de um tipo de ameaça muito diferente.Agora enfrentamos um inimigo que não tem país, nem uniformes, nem aparência visível, consistindo somente de uma associação vaga de grupos espalhados pelo mundo, unidos apenas pela sua causa.
O problema é que, diferentemente do que ocorreu há 60 anos atrás, nossos líderes evitam chamar essa ameaça pelo seu nome correto. Eles a descrevem como ""terrorismo''. Mas, na realidade trata-se de nada menos que uma guerra mundial que está sendo travada em nome da religião - sendo o terrorismo sua arma de ataque - cujo objetivo é emascular o poder e o alcance da cultura ocidental e substituí-la pela hegemonia do islã.
Os soldados rasos desse exército religioso camuflaram a si mesmos em meio aos cidadãos do mundo. O resultado na Grã-Bretanha, conforme documentos governamentais que vazaram, é que até 16.000 muçulmanos britânicos seriam simpáticos ao terrorismo. Além disso, segundo Lord Stevens, ex-chefe da Polícia Metropolitana, até 3.000 pessoas nascidas na Grã-Bretanha ou que vivem aqui passaram por campos de treinamento da Al Qaeda nos últimos anos.
Sem dúvida, a vasta maioria dos muçulmanos é composta de cidadãos decentes, ordeiros e pacíficos. Mas, como basta que um só homem-bomba tenha sucesso para causar morte e destruição, essas estatísticas, evidentemente, são motivo de profundo horror.
Diante dessa ameaça, entretanto, o primeiro-ministro Tony Blair está confuso. Ele afirmou que as causas do terrorismo são a perversão do islã e o extremismo, o fanatismo e as formas agudas de pobreza em um continente, que poderiam espalhar seu veneno através do mundo.
Ele estava certo quanto ao extremismo e fanatismo, mas errado no que se refere ao resto. A questão não é a pobreza. Muitos terroristas islâmicos são abastados; a maioria das pessoas pobres não recorre ao terrorismo. A raiz dessa ameaça é uma religião em cujas tradições dominantes, durante os últimos doze séculos, tem sido pregada e praticada, em diferentes épocas e graus de intensidade, a guerra santa contra os infiéis.
A maioria dos muçulmanos britânicos ficou chocada com esses ataques. Na verdade, eles mesmos correm risco idêntico de se tornarem vítimas desse terrorismo indiscriminado. E muitos deles desejam reconciliar os elementos indubitavelmente pacíficos da sua fé com os princípios da sociedade ocidental.
Ao mesmo tempo, entretanto, eles e outros - do primeiro-ministro britânico para baixo - estão se contradizendo ao afirmarem que o islã é uma religião pacífica e que, conseqüentemente, os que cometem tais atos não são verdadeiros muçulmanos. Pelo contrário, esta guerra contra o Ocidente não apenas está sendo realizada em nome do islã, mas todos os seus objetivos, para não dizer todas as suas táticas, têm sido toleradas por incontáveis países islâmicos e autoridades religiosas muçulmanas, sendo aprovadas por milhões de maometanos em todo o mundo.
Nossos líderes estão muito amedrontados para dizer isso, temendo ofender a comunidade muçulmana. Desse modo, baseado numa análise profundamente incorreta, o governo britânico tem produzido uma estratégia irremediavelmente mal-orientada.
Seu objetivo é oferecer amplas concessões aos muçulmanos britânicos, na esperança de que elas reduzirão o rancor dos mais extremistas. De acordo com o secretário permanente do Home Office, Sir John Gieve, as raízes do extremismo muçulmano na Grã-Bretanha residem na ""discriminação, falta de oportunidades e exclusão''. O remédio, portanto, seria reduzir a discriminação e promover a integração. Isso explica, por exemplo, o apoio ministerial à lei contra o incitamento do ódio religioso, a introdução de hipotecas que estejam de acordo com a sharia (lei islâmica) e as sugestões da Receita de que a poligamia deveria ser reconhecida para fins de cobrança do imposto sobre heranças.
Porém, o extremismo muçulmano não é causado pela falta de integração; a falta de integração é que é causada pelo fato dos muçulmanos estarem sendo inflamados contra o Ocidente pelos pregadores radicais. Uma pequena minoria de jovens muçulmanos é vulnerável a esse processo porque, vacilantes entre as culturas profundamente opostas do islã e a completa liberdade ocidental, eles facilmente abraçam a mensagem ostensivamente legalista e idealista de que têm o dever de combater a decadência e a corrupção do Ocidente.
Algumas pessoas pensam que a guerra no Iraque, onde a Al Qaeda se reagrupou depois de ter sido dizimada no Afeganistão, incentivou profundamente o terrorismo islâmico e resultou em sua exportação para a Grã-Bretanha. A resposta imediata e mais básica a essa suposição é que os atentados de 11 de setembro precederam as guerras no Afeganistão e no Iraque. Na verdade, os EUA foram atacados pela al Qaeda durante uma década antes que as torres gêmeas fossem atingidas.
Realmente o Iraque é uma questão central, mas por uma razão diferente. A Al Qaeda deseja desesperadamente que as tropas da Coalizão se retirem do Iraque, onde as possibilidades de promover atos terroristas por todo o Oriente Médio são tão altas, e decidiu que o melhor meio de conseguir isso é fazer pressão sobre a opinião pública. Essa foi a razão dos atentados em Madri e, agora, em Londres, cujo objetivo era destruir a aliança com os EUA.
Portanto, os que argumentam que a guerra no Iraque tem colocado em perigo os países da Coalizão estão fazendo para os terroristas o trabalho da sua propaganda suja. Os espanhóis caíram nesse engano. Mas, apesar de terem retirado suas tropas do Iraque, isso não impediu que a Al Qaeda tentasse mais duas vezes cometer atentados contra o povo espanhol. Isso prova que para a Al Qaeda o Iraque é apenas uma questão secundária. Esse fato é demonstrado constantemente pelos seus ataques terroristas em todo o mundo, desde a Indonésia até o Cáucaso, inclusive nos países que se opuseram à guerra no Iraque - enquanto na Grã-Bretanha, como também na Alemanha e em diversos outros locais, ataques planejados foram descobertos e impedidos mesmo antes de 11 de setembro de 2001.
Apesar dessas evidências de ataques não-provocados a diversos países, os imãs radicais ensinam que a simples existência da influência ocidental é uma ato de agressão. Portanto, qualquer ação contra o Ocidente é considerada uma defesa legítima de princípios religiosos - e, assim, qualquer defesa real do Ocidente contra o terrorismo islâmico é apresentada, ao invés disso, como mais um ato de guerra a ser vingado.
Essa letal duplicidade de pensamento significa que a defesa contra o terrorismo realmente serviu, inadvertidamente, como incentivo ao recrutamento de terroristas. Entretanto, esse é o terrível dilema apresentado pelo terrorismo. Quando suas vítimas tentam defender-se, tomando medidas contra os terroristas (e Saddam foi um chefão terrorista), isso alimenta a vitimologia pervertida deles, recrutando mais adeptos para sua causa. Porém, seguir o caminho da não-resistência ao invés de retribuir sinaliza um derrotismo que incentiva os terroristas a avançarem em direção à sua vitória almejada e inevitável.
Em outras palavras, as opções são: tomar atitudes que poderão aumentar o problema imediato ou sofrer derrota total a longo prazo. Diante de tais alternativas, a única posição moralmente viável é combater o terrorismo com todos os meios à nossa disposição. Não há dúvida de que erros crônicos cometidos pelos americanos, que falharam em responder adequadamente à natureza e à intensidade da batalha no Iraque, exacerbaram o problema dos muçulmanos que são atraídos para a causa.
Entretanto, dizer que o combate ao fascismo religioso não deveria ser travado porque transforma em alvos aqueles que o estão realizando seria como afirmar que a única razão porque Londres sofreu os ataques aéreos alemães na II Guerra Mundial foi porque a Grã-Bretanha tinha declarado guerra à Alemanha.
Tanto hoje como naquele tempo, buscar o apaziguamento diante da agressão significa é suicídio cultural. Estaremos nisso por muito tempo - mas não devemos mais tentar fugir da verdade e dos meios que teremos de usar para vencer o horror que todos enfrentamos. (Daily Mail - publicado em português por .Beth-Shalom)