Governo alemão anuncia criação de comissão para reexaminar massacre nos Jogos Olímpicos de 1972, quando um ataque terrorista e o fracasso no resgate de reféns deixaram 11 israelenses e um policial alemão mortos.
O governo da Alemanha designou uma comissão para reexaminar o massacre que atingiu atletas e membros da equipe de Israel nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, informou nesta sexta-feira (21/04) a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, em comunicado.
"Por anos demais, houve uma falta de compreensão ou de reavaliação dos eventos, transparência sobre eles ou aceitação da responsabilidade por eles", afirmou a social-democrata.
A medida faz parte de um acordo que a Alemanha firmou com as famílias das vítimas no ano passado, incluindo uma oferta de indenização de 28 milhões de euros (cerca de R$ 155 milhões).
O acordo foi uma tentativa de trazer uma resolução aos eventos de setembro de 1972, quando os Jogos Olímpicos na cidade alemã tiveram uma reviravolta trágica – e levaram a uma amarga disputa de 50 anos entre o governo alemão e as famílias israelenses das vítimas.
O que aconteceu em 1972?
Na madrugada de 5 de setembro de 1972, terroristas palestinos da Organização Setembro Negro invadiram o alojamento da delegação israelense durante os Jogos Olímpicos de Munique e mataram um atleta imediatamente e outro horas mais tarde.
Três membros da delegação conseguiram escapar, mas nove foram tomados como reféns pelos terroristas, que exigiam um avião e a libertação de 200 palestinos das prisões em Israel. A reivindicação foi rejeitada pela então premiê israelense, Golda Meir.
As forças alemãs de segurança tentaram várias saídas, tanto financeiras quanto diplomáticas. Os terroristas não aceitaram o pagamento de um resgate nem a proposta do secretário do Interior da Baviera, que se ofereceu como refém em troca dos atletas.
Após várias tentativas fracassadas de negociação, na noite do mesmo dia, os terroristas e os reféns chegaram ao aeroporto de Fürstenfeldbruck, nos arredores da capital bávara, de onde acreditavam que levantariam voo.
Na realidade, era uma armadilha da polícia. Foram ouvidos tiros e explosões, e um helicóptero se incendiou. O então porta-voz do governo, Konrad Ahlers, divulgou erroneamente a notícia de que todos os reféns haviam sido libertados.
Apenas na madrugada de 6 de setembro ficou-se sabendo que todos os nove reféns israelenses, cinco terroristas palestinos e um policial haviam sido mortos.
O fato gerou uma crise de credibilidade em relação ao governo alemão. A opinião pública passou a duvidar da versão oficial, de que as vítimas haviam sido mortas pelos terroristas, quando vieram à tona indicações de que poderiam ter sido atingidas por balas da polícia.
O caso gerou uma profunda divisão entre a Alemanha e Israel, apenas 27 anos após o Holocausto, em que mais de 6 milhões de judeus foram mortos pelas mãos dos nazistas.
Também destruiu a esperança do governo da Alemanha Ocidental de usar o evento esportivo internacional para apresentar o país e seu povo sob uma luz nova e mais amigável.
Em Munique, as competições ficaram interrompidas por 34 horas, e os Jogos acabaram prorrogados em um dia, após uma cerimônia em memória às vítimas.
Longa espera dos familiares
Os familiares das vítimas há muito exigiam que o Estado alemão assumisse a responsabilidade pelo massacre e lhes pagasse uma indenização justa. Em 2022, a Alemanha finalmente concordou em repassar, ao todo, 28 milhões de euros às famílias.
Em uma cerimônia para marcar o 50º aniversário do ataque no ano passado, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, pediu perdão aos parentes das vítimas.
Na última década, esforços foram feitos para lembrar e confrontar o massacre – por exemplo, com a criação de um memorial no Parque Olímpico de Munique.
ek (DW, AFP, Reuters, EPD)