A reviravolta na política doméstica de Israel é fruto de um surpreendente encontro entre o centrista Yair Lapid, ex-ministro das Finanças e líder do partido Yesh Atid ("Há um futuro", em hebraico), e Naftali Bennet, o cabeça do partido ultranacionalista Yamina (ou "À direita").
O partido de Lapid foi o segundo mais votado nas eleições israelenses em março deste ano, depois do partido de direita Likud ("Consolidação"), liderado por Netanyahu.
Em 6 de abril, o presidente israelense Reuven Rivlin deu um prazo de 28 dias para que Netanyahu conseguisse construir uma coalizão para formar um novo governo. Como o atual premiê não conseguiu atrair partidos suficientes para atingir maioria no parlamento, Rivlin transmitiu a missão para o segundo colocado Lapid, que desde então vinha dialogando com diferentes grupos na tentativa de alcançar maioria, mesmo que heterogênea.
As negociações sobre a formação de um novo governo foram interrompidas em 10 de maio, quando uma nova rodada de hostilidades entre Israel e o Hamas teve início na Faixa de Gaza. No último dia 30, nove dias após o anúncio de um cessar-fogo, o direitista Bennet, ex-assessor-sênior, chefe de gabinete, ministro da Educação e da Defesa em governos recentes de Netanyahu, foi à televisão para anunciar o golpe final no governo do ex-aliado.
"Farei tudo o que for preciso para formar um governo de unidade nacional com meu amigo Yair Lapid", exclamou.O acordo entre os dois políticos, que divergem em diversos temas-chave, entre eles a possibilidade da criação de um Estado palestino, prevê que Bennet seja o primeiro-ministro pelos próximos dois anos - quando será substituído por Lapid, que governará por mais dois.
A coalizão vencedora também une opostos como Avigdor Lieberman, um polêmico nacionalista de extrema-direita que certa vez sugeriu que membros "desleais" da minoria árabe do país deveriam ser decapitados, e o pequeno partido árabe Ra'am, que busca proteção oficial a costumes conservadores muçulmanos e mais verbas para cidades de maioria árabe.
Este será o primeiro partido liderado por árabes a participar de um governo de coalizão em Israel - o que por si só requereria uma mudança na postura de Bolsonaro em relação ao país.