Rosh Hashaná é um feriado judaico e o Dia do Julgamento, quando Deus começa a decidir o que reserva para nós. Isso inclui um ritual importante que também dá a este dia mais um nome bíblico: Iom Teruá, o dia de soprar o shofár.
A música do shofár é a melodia de nossas vidas. Ele toca “a nossa canção” e nos faz recordar que o otimismo é mais do que uma possibilidade; é uma mitsvá ordenada pela religião.
Por que temos um “toque musical” em um dia que, logicamente, deveria ser somente devotado a palavras e orações? E por que obtemos o som de um chifre de carneiro em vez de tocarmos notas especiais de algum outro instrumento? Embora a Bíblia não explique, o simbolismo é claro para os comentadores rabínicos.
Conheça algumas das explicações mais populares que já foram oferecidas com respeito ao shofár.
* Finalmente, há um relato que explica por que deve ser um chifre de carneiro: Abrahão foi testado por Deus, que lhe ordenou tomar o filho Isaac e oferecê-lo como sacrifício ao Eterno. Abrahão sentiu que não poderia recusar uma ordem direta de Deus e preparou-se para levar adiante a ordem até que Deus o interrompeu e mostrou-lhe o objetivo real de tudo aquilo. Diferente dos deuses pagãos, para os quais os sacrifícios humanos eram comuns, o Deus de Abrahão deixou claro que Ele não perdoa o assassinato de seres humanos, mesmo que feitos em nome dos Céus. Assim que Abrahão levantou sua espada para matar o filho, Deus ordenou-lhe que parasse – e alterou para sempre a definição dos serviços Divinos permitidos.

* O shofár era usado nos tempos antigos como um chamado para a guerra. Como um toque repentino de sirene no ar, significava mobilizar as pessoas para atacar os inimigos. Em Rosh Hashaná, o shofár também serve como um chamado para a guerra, para a luta contra os nossos maus instintos; contra nossa inclinação para ficarmos passivos diante da injustiça; contra nossa relutância em atacar a tendência para buscarmos o conforto e passarmos a nos preocupar com nossos semelhantes, com o caminho fácil em vez do caminho certo. Não há dia melhor do que o Dia do Julgamento para ouvirmos um chamado que nos lembre de “fazer o que deve ser feito”.
* O shofár foi ouvido quando o povo judeu se reuniu ao pé do Monte Sinai para receber a Torá, anunciando a presença de Deus entre o povo. Em Rosh Hashaná, o toque do shofár nos faz pensar que, mesmo que estejamos distantes da montanha de Deus, jamais estaremos distantes da Sua presença. Deus sempre está entre nós, e é por isso que vivemos conscientes de sempre estarmos sendo observados por uma “autoridade superior”.
* Nos tempos bíblicos, o shofár ecoava para proclamar a coroação de um novo rei. Em Rosh Hashaná, os judeus renovam o seu comprometimento com o reinado de Deus e do Seu controle sobre o mundo inteiro.

Todavia, mais importante é compreender os limites do sacrifício aceitável aos olhos de Deus. O shofár, que carrega tantas referências simbólicas do passado, chama agora a nossa atenção para uma tradição judaica que aponta para o futuro. Quando o Messias estiver para chegar e a história da humanidade for transformada por novos tempos de paz universal, o toque do shofár será ouvido no mundo inteiro. Suas notas, que a cada ano nos inspiram para um novo recomeço, irão se transformar no som da redenção e marcarão o início de uma nova era para toda a humanidade.
“Eles estão tocando a nossa música”
Diz-se que as letras das canções vêm de homens e mulheres, mas a música vem de Deus. Enquanto as palavras falam às nossas mentes, as melodias falam às nossas almas. Ouça o toque do shofár e você estará ouvindo mais do que qualquer palavra é capaz de expressar. O toque do shofár explode nos lamentos sem palavras do povo de Israel em direção a Deus, em uma linguagem que transcende a compreensão racional.

* Tekiá – um toque longo e contínuo
* Shevarím – três toques quebrados que se assemelham ao soluçar
* Teruá – nove toques em staccato que se assemelham a um choro
A ordem em que devem ser tocados é: tekiá, shevarím, teruá, seguidos de uma tekiá final. O erudito do século 17, rabino Ieshaiahu Horowitz, autor de The Two Tablets of the Covenant (“As Duas Tábuas da Aliança”), oferece esta bela interpretação: a música é o tema de Rosh Hashaná, bem como a sua principal mensagem. Começamos com um toque forte e contínuo, como se fosse uma longa exclamação de felicidade, com plenitude e alegria. Entretanto, nem sempre a vida nos faz rir; a realidade nos força a passar por momentos de choro e pranto. Aqueles que estavam inteiros ficam alquebrados. O medo é parte integrante da vida. Apesar disso, sempre encerramos com tekiá. Quem estiver com o espírito alquebrado irá recuperar sua plenitude; quem estiver sofrendo deve acreditar que Deus irá ouvir suas orações e permitir-lhe cantar novamente.
A música do shofár é a melodia de nossas vidas. Ele toca “a nossa canção” e nos faz recordar que o otimismo é mais do que uma possibilidade; é uma mitsvá ordenada pela religião.