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Ayelet Shaked quer agora o lugar de Netanyahu

Ayelet Shaked quer agora o lugar de Netanyahu
Ayelet Shaked com Matteo Salvin
      À frente de um partido fundamentalista religioso, ela defende que uma mulher pode ser primeira-ministra, mas não pode sentar-se nos bancos da frente dos ônibus. Ayelet Shaked tem todo o ar de uma mulher moderna e é assumidamente de cultura secular. 

Não encabeça uma seita de extrema-direita, com influência meramente residual: já foi ministra da Justiça no Governo de Netanyahu, rompeu com ele e aspira a ser mais do que isso no próximo. Mas, à frente de um partido fundamentalista judeu, tem a coerência de defender que as mulheres, nos ônibus, sejam proibidas de se sentarem nos bancos da frente. 

 Em resposta ao rabino Shlomo Aviner, que declarou a incapacidade das mulheres para intervirem na vida política, Shaked defendeu que "uma mulher pode fazer tudo ... mesmo liderar o país". Para já, lidera pelo menos o partido. 

 Em declarações extensamente citadas pelo diário liberal israelita Haaretz, Shaked defendeu a aplicação na Palestina de uma versão local do apartheid sul-africano, afirmando que este significava "desenvolvimento separado", mas que "segregação não é exclusão".  
Para explicar o seu apoio à proposta dos partidos judeus ortodoxos, de que as mulheres tenham de sentar-se nos bancos de trás dos ônibus, Shaked elabora: "É inapropriada a arrogância dos judeus seculares em relação à comunidade ultra-ortodoxa e a sua tentativa para [lhe] impor um estilo de vida diferente". 

 Em artigo de opinião publicado no Haaretz, a jornalista Zehava Galon lembra que lembra que meio caminho para a interdição dos bancos da frente às mulheres já está andado, num Estado israelita em que os comboios e ônibus já não circulam ao sábado, em que o ministro dos Transportes admite publicamente um Estado regido pela lei religiosa e em que os judeus não-religiosos não podem casar, divorciar-se ou ser sepultados de acordo com as suas crenças ou não-crenças. 
 Galon alerta contra a tendência cada vez mais assumida no debate público para vedar às mulheres o espaço público. Segundo ela, para os fundamentalistas religiosos, "não há nenhum problema em enviar as mulheres para a parte de trás dos autocarros, em [obrigá-las a] ver um espetáculo através de uma cortina, em [fazê-las] desaparecer da sala aulas, em impor-lhes o silêncio quando um homem está a falar". 

 E lembra que "em tempos lutamos pelo direito de uma mulher a ser piloto de combate, e agora lutamos para que os soldados não voltem as costas a uma oficial do sexo feminino quando ela lhes dirige a palavra". Conclui, finalmente, ironizando que Shaked deveria, ela própria sentar-se na parte traseira dos autocarros se entende que é esse o lugar das mulheres.



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