"À medida que a pandemia global do antissemitismo se espalha, seu impacto se aprofunda", diz Weitzmann, ao avaliar que a situação atual dos judeus na França, cuja gravidade muitos minimizam, está levando a comunidade judaica a omitir sua identidade em público. O próprio Weitzmann admite não exibir em público sinais que revelem sua identidade judaica.
Após passar os últimos quatro anos estudando o ressurgimento do ódio aos judeus na França - tema de seu novo livro: "O ódio: o aumento do antissemitismo na França e o que isso representa" - , Weizmann está ciente do perigo potencial, e muitas vezes letal, que os judeus enfrentam em seu país natal.
"Eu tomo precauções", diz Weitzmann em entrevista ao Times of Israel. "Por exemplo, quando estou no metrô ou em um bar, tenho cuidado com o tipo de livro que carrego. Se é sobre um assunto judaico, eu evito mostrar a capa. Também evito usar uma estrela de David, tanto em Paris como em outras cidades francesas. Hoje em dia, você pode se expor a insultos e, pior, a agressões em qualquer lugar da França. Eu comecei a ter essa preocupação há cerca de 15 anos, quando as coisas começaram a mudar para os judeus na França".
Na primavera passada, o escritor francês Alain Finkielkraut disse que evitou andar por lugares de Paris por temer por sua segurança devido à sua identidade judaica e seu apoio público a Israel. Meses depois, em confronto gravado em vídeo, ele foi abordado, em fevereiro, em uma rua de Paris por um grupo de manifestantes dos coletes amarelos. Eles gritavam frases antissemitas e o cercaram, mas foram contidos pela polícia.
O incidente com Finkielkraut, amplamente divulgado na mídia francesa e internacional, não surpreendeu Weitzmann, cujo último livro "O ódio: o aumento do antissemitismo na França e o que isso representa" foi publicado em inglês em março.
"No outono passado, um mês depois de meu livro ter sido lançado, o movimento dos coletes amarelos começou e não demorou muito para que seus integrantes antissemitas aparecessem", diz Weitzmann.
Weitzmann afirma que a ligação entre o movimento Coletes Amarelos, inicialmente um protesto contra o aumento do preço do combustível, e o antissemitismo são parte de um quadro maior. No livro, ele diz que a hostilidade aos judeus - que agora está mais aberta e mais violenta - se baseia em grande parte em duas formas de populismo: um de extrema esquerda, que se apoia na defesa de projetos sociais, e outro, um ultra-conservadorismo nacionalista profundamente arraigado. "Acrescente a essas tendências o sentimento de hostilidade aos judeus e, então, temos a combinação tóxica e explosiva do antissemitismo".
"Desde a recente ascensão do populismo internacional, a situação dos judeus se tornou um problema em quase toda parte", diz Weitzmann. "Isso porque os judeus, especialmente os da diáspora, são vistos como representantes do cosmopolitismo e do globalismo. E este tem sido o alvo do movimento populista em todos os lugares. Nesse sentido, a situação dos judeus está se tornando problemática de uma maneira nunca vista desde a criação de Israel", avalia.
Se a França não detém o monopólio do antissemitismo em todas as suas manifestações vis, muitas homicidas, é assombrada por seu histórico envolvendo judeus. Em 1791, a França tornou-se o primeiro país da Europa ocidental a emancipar os judeus. Mas o país tem muitos capítulos obscuros, incluindo o caso Dreyfus, em que um capitão judeu do exército francês foi preso e injustamente condenado em 1894 por espionagem para a Alemanha, reforçando o sentimento antissemita já existente. Mais notoriamente, durante a Segunda Guerra Mundial, o regime fascista de Vichy da França colaborou ativamente com os nazistas na deportação de 75 mil judeus para campos de extermínio na década de 1940.
Hoje, diante desse histórico e do fato de a comunidade judaica ter meio milhão de franceses, sendo a segunda maior depois de Israel, o que acontece com os judeus franceses é alvo de interesse além de suas fronteiras. De fato, a mídia estrangeira há muito tempo relata sobre o antissemitismo na França.
Na verdade, o livro de Weitzmann surgiu de uma série de cinco reportagens que ele escreveu em 2014 para a revista on-line judaica americana, Tablet.
"A rejeição de aspectos antissemitas do que estava acontecendo na França na época, tanto pela mídia quanto pelas autoridades, me fez olhar para a questão e tentar entendê-la com mais profundidade", diz Weitzmann, que já escreveu para os principais jornais franceses. "Fui ao Tablet porque senti que a mídia francesa não estaria interessada em publicar o que eu queria dizer. Mesmo fora da França, não havia muitos lugares onde eu pudesse publicar um longo e profundo exame sobre esse assunto".
Weitzmann há muito se incomodava com o antissemitismo na França, especialmente com dois casos de assassinato que as autoridades francesas inicialmente recusaram tratar como crimes de ódio. Em 2006, um grupo, liderado por um muçulmano abertamente antissemita, sequestrou e matou Ilan Halimi, judeu francês de 23 anos. Em 2012, um jihadista disparou contra uma escola judaica em Toulouse, matando três crianças e um rabino. No entanto, foi a situação em Paris no início de 2014 que levou à série de Weitzmann.
"A situação dos judeus na França vinha piorando desde o início dos anos 2000", diz Weitzmann. "Sinagogas foram atacadas nos subúrbios e houve vários assassinatos antissemitas. Mas em janeiro de 2014, algo mudou. Naquele mês, ocorreu uma marcha de protesto da extrema-direita em Paris chamada Day of Wrath, onde se ouviu, pela primeira vez desde a década de 1930, pessoas gritando slogans antissemitas nas ruas de Paris. Entre as frases, estava "judeu, a França não é sua!" Daí em diante, o país passou a registrar um aumento dramático de incidentes antissemitas".