Diante de um eventual auge das forƧas populistas e de extrema-direita nas eleiƧƵes desta semana, a comunidade judaica da Europa expressa sua preocupaĆ§Ć£o com o resultado das eleiƧƵes, em um contexto de aumento do antissemitismo.
"Sabemos talvez melhor do que ninguĆ©m sobre o que se construiu na Europa depois do Holocausto, dos horrores da guerra", diz Ć AFP Ariella Woitchik, diretora do Congresso Judaico Europeu, pedindo votos em "um partido prĆ³-europeu".
Mais de 9 de milhƵes viviam na Europa antes da Segunda Guerra Mundial e do extermĆnio dos judeus. Atualmente, a cifra caiu abaixo dos dois milhƵes e os lĆderes da comunidade judaica temem novas marchas.
"NĆ£o se deve dar a paz como fato consumado", insiste Woitchik em Bruxelas, onde a PolĆcia continua protegendo sinagogas e lojas cinco anos depois que quatro pessoas perderam a vida no Museu Judaico nas mĆ£os de um extremista muƧulmano francĆŖs.
A preocupaĆ§Ć£o da comunidade nĆ£o Ć© exagerada. Segundo a AgĆŖncia de Direitos Fundamentais da UE, um terƧo dos 16 mil judeus consultados na Europa dizem ter sido assediados em 2018 e 3% afirmam ter sofrido ataque fĆsico.
A delegacia europeia da JustiƧa, a tcheca Vera Jourova, assegurou em janeiro que "quando os judeus abandonaram a Europa no passado, esse nunca foi um bom sinal do estado da Europa". NĆ£o sĆ£o o Ćŗnico alvo.
Recentemente, a ComissĆ£o Europeia destacou que o "anticiganismo" estĆ” em aumento e advertiu para os "discursos extremos, incluso de polĆticos, e da propagaĆ§Ć£o de discursos de Ć³dio e de notĆcias falsas on-line" contra os ciganos.
- 'Sentimento de emergĆŖncia' -
Os judeus contemplam novamente deixar a Europa. "O nĆŗmero de judeus diminuiu nos Ćŗltimos 20 anos, atĆ© 1,6 milhĆ£o", diz Ć AFP Pinchas Goldschmidt, grande rabino de Moscou e presidente dos rabinos da Europa.
Goldschmidt explica por uma "onda de atos terroristas em FranƧa, BƩlgica, Dinamarca e em outras partes" e considera importante as eleiƧƵes europeias "para transmitir aos judeus a mensagem de que continuam sendo bem-vindos na Europa".
Os partidos europeus modernos, inclusive os de extrema direita, raramente adotam abertamente um discurso antissemita, mas a recente campanha eleitoral teve um contexto preocupante para a comunidade.
Na Hungria, a comunidade judaica acusa o premiĆŖ, o populista Viktor Orban, incitar o antissemitismo com sua campanha contra o bilionĆ”rio americano de origem hĆŗngara George Soros.
E na PolĆ“nia, seu mandatĆ”rio, Mateusz Morawiecki, causou indignaĆ§Ć£o esta semana ao declarar que se VarsĆ³via pagasse uma indenizaĆ§Ć£o pelos bens roubados dos judeus durante o Holocausto, seria uma "vitĆ³ria pĆ³stuma" de Hitler.
Isto ocorreu depois que um candidato de extrema direita de Kielce interrompesse um debate televisionado para tentar colocar um quipƔ na cabeƧa de um candidato do partido governista, declarando que "se ajoelham perante os judeus".
Para o presidente dos rabinos da Europa, os excessos da campanha refletem uma tendĆŖncia mais ampla de propagaĆ§Ć£o do Ć³dio que inclusive viu extremistas alemĆ£es marchar com sĆmbolos neonazistas.
"Os polĆticos nĆ£o tĆŖm medo de recorrer ao antissemitismo quando precisam", assegura. "A Segunda Guerra Mundial estĆ” se tornando uma lembranƧa do passado e o povo estĆ” esquecendo o que era viver sem a UniĆ£o Europeia".
Os lĆderes da comunidade judaica aceitam que muitos polĆticos, embora tarde, comeƧaram a se dar conta da magnitude do problema, mas o tom do debate na Europa gerou neles nova preocupaĆ§Ć£o.
Woitchik fala assim de um "sentimento de ansiedade na comunidade judaica". "Falamos, inclusive, de um sentimento de emergĆŖncia porque se as coisas nĆ£o melhorarem, as pessoas contemplam, inclusive, abandonar a Europa".
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