
Mas, por que os judeus?
Como os réus judeus representaram mais de 80%, segundo a
historiadora da USP, Dra. Ana Novinsky, centralizarei na pergunta: Por que os
judeus? Antes de responder a esta pergunta temos que relembrar um pouco da
história. No século XII e XIII, época da Renascença Judaica, a Espanha havia se
tornado o maior polo judaico do mundo, chegando o povo hebreu representar 25%
da população da Península Ibérica. Para se ter uma ideia desta grande
concentração de judeus naquela região, desde a época do Rei Salomão que mandava
buscar mármores e madeiras para a construção do 1o. Templo de
Jerusalém, os judeus começaram para lá imigrar. Após o exílio da Babilônia
muitos judeus foram morar nas terras ibéricas. Quando o Imperador Tito de Roma,
expulsou os judeus de Israel no ano 69 E.C., muitos judeus foram também para a
Terra de Sefarad (Espanha) juntar-se aos compatriotas que lá já moravam.
Por que perseguir os judeus então? Primeiro este
povo representava um risco para o país, pois um quarto da população era
demasiadamente alto; segundo, os judeus detinham o sistema financeiro
(primeiro sistema bancário da Europa), além de muitos trabalharem na ciência,
na astronomia, nas navegações, muitos eram médicos, oficiais do governo,
policiais, etc. Tal população exercia de certa maneira um monopólio em assuntos
estratégicos da Coroa; terceiro, a mistura de povos (vários foram
os estatutos de pureza de sangue) nesta época. Por exemplo, no ano 1215, o
Concílio de Latrão determinou que os judeus andassem com distintivos para não
serem confundidos com os cristãos); quarto, os judeus, praticantes
do judaísmo, viviam em guetos (judiarias) isolados devido às suas tradições e
práticas religiosas, como casar-se entre si, a guarda dos mandamentos,
destacando o sábado, dia no qual descansavam; não praticar a idolatria e crer
em um só D-us.
Tudo isto era um tanto estranho, divergindo da cultura e dos
costumes locais, principalmente, no que tange à idolatria tão pratica pelos
chamados católicos da época; quinto, por não serem proselitistas, o
crescimento se dava entre eles, não recebendo na maioria das vezes os chamados
gentios ( goyim ), salvo quando uma minoria inexpressiva deles
se convertiam ao judaísmo. Mas, o grande e principal motivo não dito pelos
historiadores, s foi que o antissemitismo que após o domínio de
Roma no ano 312 E.C., quando o Imperador Constantino decretou o cristianismo
(mais tarde sob a forma de catolicismo) fosse a religião do império. A grande
verdade é que desde que o sistema de Roma se desligou de suas raízes judaicas,
o povo judeu passou a ser perseguido pelos líderes cristãos, como Crisóstomo,
Marcião e outros que acusaram os judeus de “deicídio”, ou seja, assassinato de
D-us, pois mataram a Jesus Cristo, o divino filho de Pai.
Todos estes motivos se tornaram ameaças para a difusão e o
crescimento do catolicismo da época e para o próprio Vaticano, sede do controle
da fé e da doutrina católica. Aquele velho e antigo princípio de que minha
religião é certa e a de todo mundo é errada e herege, contribuiu para que a
intolerância religiosa da época não aceitasse mais os judeus em seu meio, mesmo
que se pagasse um alto preço pela sua expulsão ou pelo seu próprio
aniquilamento. A antipatia generalizada pelo puritanismo judeu e todos os
motivos enumerados acima fizeram com que os reis católicos Ferdinando Aragão e
Isabel decretassem a expulsão de todo povo hebreu daquele país no dia 30 de
março de 1492, salvo aqueles que desejassem se converter ao catolicismo, sendo
então, batizados. Incluía também todo o confisco de bens daquele povo. O
resultado disto foi que mais 280 mil judeus deixaram aquele país. A história
mostra que 100 mil judeus cruzaram a fronteira com Portugal e lá passaram a
residir em busca de sua liberdade religiosa.
Foi, então, que Pedro Álvares Cabral, com suas 13 naus, cujos capitães eram na
sua maioria de descendência judia, passaram pelo batismo e eram chamados de
cristãos-novos, descobriram o Brasil em abril de 1500. Com tanto capitães de
descendência judaica como Sancho de Tovar, Gaspar Lemos, Nicolau Coelho, Simão
de Miranda, Simão de Pinha, Diogo Dias e outros abrindo os mares e rotas para a
Índia acabam “abrindo o segundo mar vermelho” e descobrindo o Brasil, que a partir
do judeu Fernando de Noronha, amigo do rei, passou a trazer milhares e milhares
de cristãos-novos (judeus católicos, marranos ou criptojudeus) às Terras de
Santa Cruz a fim de plantarem cana de açúcar e exportar seu produto para a
Europa, enriquecendo ainda mais a coroa portuguesa.
Mas, não demorou muito a Lei da Inquisição chegou ao Brasil e
em 1591 quando o rei português envia para o Brasil o primeiro Inquisidor do
Santo Ofício, o Sr. Furtado de Mendonça que aqui começa a caça aos
cristãos-novos, marranos, criptojudeus mesmo que não praticassem o judaísmo propriamente
dito, mas que observassem ou guardassem alguma simples tradição judaica já se
enquadrava na condição de herege, implicando um processo, julgamento e até
mesmo a condenação. Bastava uma denúncia ao Santo Ofício para que se abrisse um
processo, cabendo ao réu o dever de sua própria defesa.
Segundo dezenas de livros escritos por historiadores
brasileiros de renomes, e estrangeiros, foram encontrados na Torre de Tombo em
Lisboa mais de 7 mil brasileiros processados e condenados a prisão perpétua,
sendo que mais da metade foram condenados a morte, passando pelas fogueiras na
Praça Rossio de Lisboa. A Inquisição no Brasil só acabou, oficialmente, no ano
de 1821. Na prática a discriminação e perseguição só começaram a reduzir após a
Proclamação da República. Mas, podemos ver ainda seus resquícios até nos dias
de hoje. Por quê? E onde?
Os aspectos espirituais da perseguição ao povo judeu e a
Israel, fatos que estão fora do alcance para a maioria dos historiadores, da
mídia e de muitos religiosos, tanto judeus como cristãos.
A intolerância religiosa sempre levou a humanidade a grandes
e terríveis conflitos, extermínios e morte; No caso da Inquisição brasileira,
pergunta-se: Se os feiticeiros, bruxas, magos, prostitutas e outros que foram
também queimados nas fogueiras representaram menos de 10% dos réus, será que
não houve um abuso na condenação e exterminação dos outros 90%, os judeus? Será
que somente as causas de pureza de sangue, a intolerância religiosa e o grande
patrimônio dos judeus foram as reais e verdadeiras causas da Inquisição
Luso-brasileira ter durado três séculos e meio?