“Ouça, Israel, o Senhor nosso D´us é o único Senhor.” (Deuteronômio 6.4).
“Ouça, Israel”, são as duas primeiras palavras da declaração de fé central do judaísmo, que no original hebraico é “Shemá, Israel”. Essa declaração, segundo a tradição, deve ser recitada desde a infância, conforme orienta a Palavra de D´us, que diz: “as ensinarás a teus filhos” (Deuteronômio 6.7). Ela é composta por três trechos da Torá.
Os três trechos do livro sagrado do judaísmo, que é composto por alguns livros da Bíblia, podem ser encontrados em: Deuteronômio 6.4 – 9; 11.13 – 21; e Números 15.37 – 41. E essa leitura é um mandamento que deve ser cumprido pelos judeus duas vezes ao dia: na Shacharit, oração diária feita pela manhã, e após o anoitecer, na Arvit, a oração noturna.
Desta maneira, ainda no ventre materno, as crianças judias ouvem os pais recitando a importante declaração. E, ao crescerem, os pequenos são incentivados a decorar os trechos da Torá que compõem o “Shemá”, recitando-o diariamente, pela manhã e ao anoitecer, gravando seus versos na memória.
Segundo a historiadora Yaffa Eliach, após a Segunda Guerra, um judeu americano decidiu resgatar o maior número de crianças judias que haviam sido escondidas em mosteiros e orfanatos a perseguição nazista. Ele teria ido à Europa, visitando mosteiro a mosteiro, orfanato a orfanato e, ao entrar em cada instituição, recitava o “Shemá”. As crianças judias reconheciam as palavras.
A oração diz: “Ouça, Israel, o Senhor, nosso D´us, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu D´us, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”.
Se a primeira parte chama a atenção de Israel: “Ouça, Israel”. A segunda parte da declaração, conforme lemos, é a afirmação de que “o Senhor é um”. E esta afirmação é extremamente importante, pois vai muito além da proclamação de que o judaísmo é monoteísta, transmitindo a ideia de que D´us é pleno e único em Sua essência.
Afirmar que D´us é um, significa reconhecer a Sua soberania, principalmente em referência aos atributos divinos. Ele é um porque ninguém pode ser comparado ao Senhor, que tem todo o poder, sabe de todas as coisas e está em todos os lugares. Portanto, D´us é Onipotente, Onisciente e Onipresente.
No passado, a declaração de que D´us é um poderia soar de maneira significativa, pois os povos da época em que o Senhor entregou as Leis a Moisés acreditavam em muitas divindades. No Egito, que foi de onde o povo hebreu foi retirado pelo Senhor, acreditavam que havia muitos D´uses e a declaração confrontava este pensamento.
Quando o Shemá declara que D´us é um, está fazendo também uma declaração do caráter imutável do Eterno. Por ser Único, Poderoso e Incomparável, Ele não muda, mas permanece o mesmo. Como diz as escrituras: “D´us não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Números 23.19).
Assim, se amamos a D´us “de todo o coração”, transmitiremos Seus mandamentos às gerações futuras, ensinando aos nossos filhos a importância de obedecer e reconhecer ao Todo Poderoso. Desta maneira, as crianças terão uma atitude de amor e de obediência por tudo o que D´us representa.
“E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração”, como sinal de compromisso e obediência incondicional a tudo quanto o Senhor ordenar. Desta maneira, elas deverão estar, simbolicamente, atadas a nós, expostas em nossos lares e seguras em nossas mentes.
Essa foi à missão que Jacó recebeu. Após ter desejado por muitos anos receber as bênçãos da primogenitura, tornando-se herdeiro das promessas de D´us ao seu avô, Abraão, Jacó finalmente tem um encontro glorioso com o Anjo do Senhor, no Vau de Jaboque, onde reivindica o cumprimento das promessas.
Haviam se passado vinte anos desde que Jacó deixou a casa de seus pais, quando tomou de seu irmão a bênção que Isaque concederia ao primogênito. No caminho ele havia recebido uma promessa de D´us, fez um voto com o Eterno e seguiu em frente sendo acolhido pelo seu tio em Harã.
Com o Shemá, os judeus são lembrados de que o D´us de Abraão, Isaque e Jacó foi quem os escolheu para ser “nação santa”. Eles são lembrados de que a missão deste povo é representar o Eterno diante da humanidade, ensinando as futuras gerações todos os estatutos que o Eterno ordenou.