Os Querubim
Por Rabbi Itzjak Guinsburg
Traduzido por MaurĆ­cio Klajnberg
A InocĆŖncia SimĆ©trica na UniĆ£o
O SĆ­mbolo do Amor Completo Entre D’us e Israel
A porĆ§Ć£o da TorĆ” TerumĆ” discute os detalhes do SantuĆ”rio no qual D’us habita. O primeiro item relatado em detalhes em nossa parashĆ” Ć© a Arca da AlianƧa, sobre a qual estĆ£o os dois querubim. Enquanto a Arca Sagrada contĆ©m a TorĆ” – a sabedoria eterna de D’us – Sua voz e constantes diretrizes emanam entre as pontas das asas dos querubim que se tocam, os quais simbolizam o amor completo e prazeroso entre D’us e o povo de Israel.

Querubim – PotĆŖncias de 2
Na TorĆ”, os querubim sĆ£o inicialmente referidos como sendo 2. Cada anjo tinha 4 elementos (2 elevados ao quadrado):

  • Um corpo
  • Uma face
  • Asa direita
  • Asa esquerda
Quando aproximados pelas pontas das asas, os querubim tĆŖm um total de 8 elementos (2 elevados ao cubo).

A raiz da palavra hebraica para querub — kuf-reish-beit – tambĆ©m representa 2. O valor numĆ©rico do kuf Ć© 20, do reish Ć© 200 e do beit Ć© 2. Todos esses nĆŗmeros podem ser reduzidos a 2.

Os dois representam o perfeito estado de amor, harmonia e prazer simbolizados pelos querubim. Esse amor serve como um imĆ£ que traz a voz de D’us para falar para Israel.

Simetria Masculina e Simetria Feminina
Os dois itens no Templo que refletem a perfeita simetria sĆ£o a MenorĆ” e os querubim. A simetria da MenorĆ” Ć© relativamente masculina, enquanto a simetria dos querubim Ć© relativamente feminina.

A simetria masculina Ć© um eixo bem definido com um no meio e um nĆŗmero idĆŖntico de elementos que estĆ£o presentes em cada lado do eixo. Nesse tipo de simetria existe sempre um nĆŗmero Ć­mpar de elementos, outro sinal do estado masculino. A MenorĆ” ilustra perfeitamente esse tipo de simetria.

A simetria feminina nĆ£o tem eixo definido, mas Ć© constituĆ­da, ao invĆ©s disso, por um nĆŗmero par de elementos arranjados de uma maneira perfeitamente simĆ©trica.

No Templo, a MenorĆ” de simetria masculina estava posicionada no santuĆ”rio sagrado. Os querubim de simetria feminina estavam no Santo dos Santos. A sĆ­ntese da beleza e simetria da uniĆ£o Ć© feminina, como tambĆ©m representado pelas potĆŖncias de 2 associadas ao querubim.

Querubim no Jardim do Ɖden
O primeiro lugar em que os querubim aparecem na TorĆ” Ć© depois que AdĆ£o e Eva sĆ£o expulsos (em hebraico, a palavra para “expulsĆ£o”, guerush, Ć© a mesma que a palavra para divĆ³rcio) do Jardim do Ɖden. Os querubim assumiram um papel temĆ­vel na entrada do Jardim, junto com as espadas rotatĆ³rias flamejantes. Seu papel foi o de assegurar que AdĆ£o nĆ£o entraria novamente no Jardim para comer da Ɓrvore da Vida e eternizar o pecado original.

Nesse contexto, os querubim sĆ£o um tipo de anjo. MaimĆ“nides classifica os anjos em dez tipos. De acordo com a Cabala, esses dez tipos de anjos correspondem Ć s dez sefirot. Os nĆ­veis mais inferiores de anjos, ishim (“homens”), sĆ£o aqueles que conversam com os profetas ou pessoas imbuĆ­das com o EspĆ­rito Divino. Ishim correspondem Ć  sefirĆ” de malchut. O prĆ³ximo nĆ­vel de anjos, querubim, corresponde Ć  sefirĆ” de yessod. Eles representam o poder espiritual de uniĆ£o entre homem e mulher e simbolizam a uniĆ£o entre D’us e Israel.

Cara de BebĆŖ
Nossos SĆ”bios explicam que a palavra hebraica para cherub, kruv, vem do Aramaico e significa “como um bebĆŖ”. Os querubim tinham faces de bebĆŖs. O rosto de um bebĆŖ representa inocĆŖncia. O toque delicado dos querubim no Santo dos Santos reflete a sĆ­ntese do amor puro e inocente. Essa inocĆŖncia existe no Santo dos Santos, em um tempo que antecede o pecado original. Depois deste, os querubim passaram a tambĆ©m assumir o papel de anjos temĆ­veis.

A EssĆŖncia Interior da InocĆŖncia
Abraham Ibn Ezra, comentarista da TorĆ”, define a palavra kruv como uma matĆ©ria amorfa que pode assumir qualquer forma. Essa Ć© exatamente a propriedade dos querubim, que podem assumir a forma de anjos temĆ­veis e tambĆ©m a de amantes completos. InocĆŖncia empresta a si mesma ess estado amorfo que pode assumir formas opostas. A indefiniĆ§Ć£o de forma tambĆ©m Ć© refletida no rosto de um bebĆŖ, que assume uma forma mais definida depois que amadurece e manifesta sua capacidade de livre arbĆ­trio. Assim, essa habilidade de despir-se de uma forma e vestir-se de outra Ć© a essĆŖncia interior da inocĆŖncia.

A Prova de Ibn Ezra
Ibn Ezra baseia sua definiĆ§Ć£o de kruv como um ser amorfo nos Trabalhos da Carruagem no primeiro capĆ­tulo de Ezequiel. O profeta inicialmente descreve quatro figuras: um leĆ£o, um boi, uma Ć”guia e um homem. Depois, Yecheskel (Ezequiel) substitui o boi por uma descriĆ§Ć£o de um kruv. Ezequiel descreve todas as formas como kruvim. Ibn Ezra conclui disto que o kruv Ć© um estado amorfo que pode assumir qualquer forma.

A InocĆŖncia e AlĆ©m Dela
O estado amorfo da inocĆŖncia pode amadurecer de forma positiva, mas ele tambĆ©m tem o poder de amadurecer de maneira negativa. O estado de inocĆŖncia de AdĆ£o e Eva antes do pecado original nĆ£o se destinava a ser seu estado final. D’us tinha a intenĆ§Ć£o de que eles amadurecessem atĆ© figuras MessiĆ¢nicas. Entretanto, a inocĆŖncia deles tomou um caminho negativo. Do mesmo modo, nossos SĆ”bios dizem que EsaĆŗ e JacĆ³ eram relativamente amorfos atĆ© que receberam o atributo de daat na idade de 13 anos, permitindo a cada um fazer suas escolhas de vida. Os querubim, tambĆ©m, tiveram de ser feitos de acordo com as mais exatas instruƧƵes, a partir de uma Ćŗnica e sĆ³lida peƧa de ouro. Nossos SĆ”bios dizem que a mĆ­nima imperfeiĆ§Ć£o na forma dos querubim os transformaria em imagens para idolatria.

Nosso objetivo Ć© de despir-nos de nossa atual forma e vestirmos a nĆ³s mesmos com uma forma MessiĆ¢nica madura. Ao meditarmos sobre os querubim, poderemos retornar ao estado amorfo e inocente da simetria feminina. Este Ć© o primeiro passo em direĆ§Ć£o ao objetivo MessiĆ¢nico.